A única coisa que lembrava era de seguir em frente e procurar não olhar mais pra trás... Só que estava muito difícil ter que viver meus dias sozinho lembrando que aquele a quem ainda amava e muito estava próximo e ao mesmo tempo tão distante.
Os amigos da Faculdade tetavam a todo custo me animar e sempre chamavam pra sair... Só que eu não tinha clima pra nada disso. Eu era um garoto novo com um espírito velho. Minha vida sempre foi pautada em racionalismo, discernimento, seriedade e o sonho de ter um único amor pra toda vida. Meu Soldado era esse amor, só que saber de sua traição me fez notar que sonhos também acabam.
Estava no final do terceiro período de aula no final do Semestre quando meu celular avisou de uma mensagem...
" MOZÃO, NÃO TEVE UM ÚNICO DIA NESSE ÚLTIMO MÊS QUE VOCÊ NÃO TENHA OCUPADO TODOS OS ESPAÇOS DA MINHA VIDA... NÃO ACABOU, ACREDITA EM MIM... EU AMO VOCÊ, TEU SOLDADO "...
Nem preciso dizer que essa mensagem teve o efeito igualzinho a uma faca de dois gumes... Foi bom poder pensar por um momento que nada havia mudado e essa mensagem era mais uma entre as tantas outras que sempre recebia por dia... E ela doeu muito mais porque eu simplesmente não acreditava mais naquele que tinha sido apenas o homem que amaria até o último dia de vida. O dia perdeu a cor literalmente e decidi ir pra casa no início do intervalo. Quando estava de saída, um cara que nunca tinha visto na vida me parou no portão e disse:
_ Você é o João Bosco? Quer dizer, o J B? E ficou me olhando intensamente tendo os olhos escondidos pelas lentes escuras do óculos que usava.
_ Sim sou o J B sim, e você quem é? Depois que ele tirou os óculos e os repousou em cima da cabeça, notei que era um garoto bem novo apesar de ser bem forte, seguro de si, altivo e esnobe e parecia muito com um militar.
_ Eu sou o Soldado Dutra.
Imediatamente lembrei do telefonema naquele maldito domingo em que meu mundo começou a ruir...
_ Desculpa soldado Dutra mas você deseja falar comigo!!!???
_ Eu vim a pedido de um amigo. O nome Bernardo Gouveia ou apenas Sargento Gouveia, te lembra alguém?
_ Sim lembra. Disse tentando manter a firmeza na voz.
_ Ele é um sujeito fenomenal, sabia disso? E você precisa saber que foi vítima de uma armação...
_ Olha aqui seu filho da puta... Esse Sargento Gouveia ou seja lá por qual nome você o conhece, não me interessa mais, entendeu? Eu sei quem você é... Foi você que atendeu uma ligação minha num determinado domingo do mês passado confirmando o que um outro militar acabara de dizer a respeito desse Bernardo Gouveia. Se ele te mandou aqui pra tirar mais ainda a minha paz...
_ Ei garoto você pode parar e me ouvir? Quando eu falei de armação, essa é do bem. O Sargento parece um farrapo humano. O cara tá mal pra caralho. Você sabe o que é amar uma pessoa e ter que ficar longe dela por causa de pessoas que não suportam a felicidade dos outros? Pois é meu camarada, ele tá sofrendo por conta disso. Eu vim aqui por que meu namorado que é o melhor amigo do sargento Gouveia e também é Sargento...
_ O Souza, Leonardo Souza é teu namorado? Perguntei sentindo o coração acelerar...
_ Pois é rapaz, o Leonardo, meu Leo, é assim que eu o chamo, me pediu no meu dia de folga pra vir atrás de você pra poder dizer que esse afastamento de vocês teve uma causa e que nunca houve traição do Sargento Gouveia e muito menos interesse do meu Leo por você. Nós inclusive estamos unindo forças pra ver se o Capitão Lucena...
_ Esse Capitão Lucena ta de alguma forma chantageando o meu Soldado? O termo saiu sem que eu me desse conta fazendo o Sd Dutra sorrir.
_ Sinto muito mais tenho que confirmar. Agora que você já começou a entender o que mais ou menos esta acontecendo, nós, eu e o Leo, queremos que você vá hoje em nossa casa por volta das 20:00 h e eu te asseguro que você terá todas as explicações que quiser... Aceita?
_ Aceito sim. Eu tava ficando louco por conta de tudo... mas olha só, você me dá o endereço e com certeza estarei lá às 20:00 h.
Assim que peguei o endereço com o Sd Dutra, seu telefone chamou, ele se despediu e se afastou pra falar com a pessoa que lhe ligava.
Minha cabeça ficou em parafuso. As novas informações tiveram o mesmo efeito da expressão, luz no final do túnel. Fui pra casa mais leve. O percurso no ônibus foi até suportável. Quase duas horas depois de ter saído da Faculdade , cheguei em casa bem mais feliz do que nos últimos quarenta e dois dias...
Os alunos começaram a chegar em seus horário e as aulas prosseguiram até por volta das 17:30 h. Eu tentei por várias vezes manter a calma, só que lembrar que logo mais à noite eu teria respostas a tantas perguntas que me fizeram querer morrer era razão mais que suficiente pra querer que o tempo passasse o mais rapidamente possível pra que eu finalmente voltasse a sonhar? ter paz? Sinceramente não sei, só queria mesmo era poder tirar da minha mente as imagens daquele estacionamento, o som da voz do Sd Dutra do meu ouvido, o rosto sem expressão nenhuma do meu Soldado quando o questionei e ele foi totalmente evasivo, enfim na verdade eu queria voltar a viver.
Tomei um banho quente demorado, vesti a bermuda e a camiseta que mais gostava, mentira era o meu Soldado que gostava de me ver nelas e pouco depois das 19:00 h saí de casa.
No trajeto somente boas lembranças me acompanhavam...
BERNARDO FALA...
Minha vida estava um caos. Eu havia entrado num jogo pra proteger o meu Mozão e estava passando pelo pior omento de minha vida... A falta que ele me fazia era cruel. Não tínhamos culpa por nos amar e parecia que essa era a nossa maior culpa.
Muitos foram os dias em que fui de carro em plena madruga até a porta de nossa casa e lá fiquei até o dia amanhecer... Era horrível a sensação de perda e vazio que sentia por conta dos meus erros do passado. Me tornei uma sombra do que era. Não ria mais, não saia mais e o único alento que tinha, na verdade dois, eram: Ter o meu Mozão de volta e fazer com que o Lucena e todos os outros nos deixassem para sempre.
Eu, o Souza e o Dutra passamos muitas horas de nossas folgas juntos preparando nos mínimos detalhes as coisas para serem usadas no momento certo de pegar o Capitão , o Sub Tenente Nunes e quem mais estivesse no local certo, na hora certa.
Cheguei a ver o meu amor por duas vezes na saída da Faculdade. Ele era lindo. Andava com passos firmes e mantinha a cabeça sempre erguida... Só que já não estava mais assim. Doeu demais vê-lo olhando o chão enquanto andava e notar que o riso não mais fazia parte de sua vida. Deus sabe a vontade que me deu pra correr até onde ele estava e contar tudo... Só que eu tinha medo dele ou eu estarmos sendo seguidos ou vigiados pelo bando daquele maldito e que alguma coisa fosse feita a ele por minha causa. Tava paranoico com relação a isso. " Será que o Capitão e seu bando fariam realmente algo contra ele, ou contra mim? " A resposta era imediata... Lembrava da gravação que o Souza fizera no dia em que pegou os dois safados conversando e o Nunes dar a ideia de atingir quem eu mais amava... Eu não podia deixar que isso acontecesse.
No quartel eu passei a dormir no alojamento quase toda noite. Lucena ficou sabendo disso e começou a achar que eu estava solteiro e na pista outra vez. Num belo sábado eu lembro que estava pra baixo quando o Souza me ligou...
_ Fala companheiro, disse assim que atendi a ligação do meu amigo.
_ Você tem que vir pra cá imediatamente, disse o souza já me passando o endereço de uma nova boite GLS que inaugurara recentemente.
_ Não amigo, eu passo sem essa balada.
_ Nada disso Gouveia. O Capitão esta aqui e se ele te ver sozinho e se divertindo vai pensar que realmente você esta só, entendeu? Tô na espera.
Fui a tal balada e procurei ao máximo me divertir, fazendo com que o desgraçado do Lucena acreditasse que eu estava na pista novamente. Chegamos a danças próximos um do outro. Tive uma vontade insana de matar o filho da puta... Claro que me controlei...
E foi pensando em muitas coisas que havia passado que na saída do quartel o souza disse:
_ Vai ficar em casa hoje amigo, ou posso te chamar pra comer uma pizza depois de um cineminha?
_ E eu tenho cara de castiçal, Souza?
_ Então tu faz um favor? Da pra fazer umas gravações do PC para esse Pen-drive? E já foi me entregando o objeto.
_ Sem problema camarada. O Dutra sabe que você vai sair hoje?
_ Claro que sabe, ele vai junto... Piscou pra mim e rimos da tentativa de fazer com que ele ficasse com ciumes.
_ Ta ficando sério né? Perguntei.
_ Tá ficando não... É sério, disse ele.
Cada um foi em seu carro e uns dez minutos depois a moto do Sd Dutra nos fez companhia no trânsito caótico de final da tarde em plena Avenida 13 de maio.
Chegamos na casa do Souza e fui direto trocar de roupa para a academia. Ele mais uma vez lembrou da gravação do Pen-Drive e fui cumprir com minha rotina de vida solitária.
Tinha acabado de chegar em minha nova casa, na verdade do Sargento Souza, quando a campainha soou uma, duas... Antes da terceira vez abri a porta...
João Bosco de Faria Lima me olhou com um certo espanto e com a voz ja meio embargada pela emoção disse:
_ Será que era preciso a gente sofrer tanto assim?
Eu já com os olhos cheio e ao mesmo tempo sorrindo, disse:
_ Não sei se foi preciso tanto sofrimento, só sei que foi necessário...
Dei passagem para que ele entrasse e no curto espeço que havia entre nós, notei duas coisas... Seu passo em minha direção foi firme e o seu riso iluminou nossa alma...
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Meu Querido Povo do Lado Esquerdo foi com um enorme prazer que escrevi essa capítulo terminado quase ainda agora... 00:03 h.
Não é preciso sofrer tanto, pelo menos às vezes não é ...
Sabe aquele ditado que diz... Toda mão tem uma luva? Acredito que todo problema sempre terá uma solução...
Bernardo ama seu Mozão profundamente.
J B ama sem medo ou reservas... Só sei de uma coisa, pelo menos por enquanto, eles se completam...
Ótima semana para todos nós. beijos nos corações. Nando Mota.