Praticantes de MMA desvirginando o Nerd
O ano estava carregado de promessas. Todo o meu futuro parecia depender dele, ou melhor, do que fosse acontecer nele. O colégio havia ficado no passado. E, com ele, eu decidira sair daquela redoma que a classe média cria ao redor de seus filhos, sempre visando privá-los das mazelas do mundo. Como se isso fosse possível. Meus pais não fugiram a regra. Meu irmão e eu sempre éramos levados, e apanhados, de carro no colégio desde que me conheço por gente. Com a matricula num cursinho pré-vestibular numa travessa da avenida da Consolação, eu coloquei um basta nessa situação. Faria o trajeto entre a nossa casa, num bairro da zona sul de São Paulo, e o cursinho, de ônibus. Mesmo por que, o ponto final da linha não distava mais do que dez minutos do portão de casa, me deixava na Praça 14 Bis e, de lá, eu seguiria por mais uns vinte minutos até o cursinho. O único inconveniente era o fato de eu ter que madrugar para estar no cursinho às sete horas.
O ônibus já saía do ponto inicial com umas vinte a vinte e cinco pessoas, que eu fui percebendo ao longo das semanas, eram quase sempre as mesmas. Apesar de encontrarmos as mesmas caras todos os dias, estranhamente ninguém se cumprimentava. Coisas de cidade grande, eu deduzi, ou talvez, àquele horário ninguém havia acordado verdadeiramente. Bastava se acomodarem nos assentos para retomarem aquele sono que precisaram abandonar para ganhar seu sustento. Como eu ia descer poucas paradas antes do ponto final, costumava sentar no último banco nos fundos do ônibus ou, se ele estivesse todo ocupado, num dos que ficavam mais próximos.
Na primeira semana já deu para constatar que as outras pessoas também tinham seu assento predileto e, muitas vezes, se apressavam num empurra-empurra só para não perder o lugar. A mulher gorda, que vinha arrastando o filho pequeno com cara de sono, preferia o banco duplo ao lado do trocador. O senhor de meia idade, usando um paletó que nunca combinava com as calças, ocupava uma das janelas no mesmo banco que eu, e se agarrava à sua maleta, que mantinha sobre as pernas, como se transportasse algo de valioso nela. O casal que, aparentemente, ainda não encerrara a lua-de-mel, pois ficava se agarrando e trocando beijos entre olhares lânguidos, costumava ocupar o banco duplo que ficava do outro lado do corredor, onde ficava a mulher gorda com a criança. E assim, aquele recinto ambulante partia carregando em seu ventre aqueles personagens cuja história de vida eu ficava tentando adivinhar, enquanto se arrastava por mais de uma hora, como se fosse uma lagarta percorrendo uma trilha. Poucas paradas depois, ele já estava lotado, e as pessoas disputavam cada centímetro que porventura ainda estivesse livre. Um mês depois, eu conhecia cada uma daquelas pessoas, embora não soubesse nada delas, além de sua fisionomia e seus trejeitos. E, ficava me perguntando, se essa impessoalidade não era a grande geradora dos conflitos sociais que vemos por aí. Nós nos conhecíamos e, ao mesmo tempo, éramos completos estranhos.
Março havia findado com suas águas fechando o verão. A nova estação começara mais fresca que de costume, uma névoa úmida fazia a temperatura cair àquela hora da manhã, e os mais friorentos já haviam retirado os casacos dos armários. O que me pareceu um exagero. No entanto, achei esquisito quando dois sujeitos corpulentos entraram no ônibus trajando apenas uma calça normalmente só usada para a prática de esportes, e uma camiseta sem mangas que estava colada aos seus torsos maciços e musculosos. Puro exibicionismo, pensei, ao desviar o olhar da apostila que estava lendo. Afinal, não estava tão quente para eles desfilarem por aí nesses trajes. A menos que o objetivo fosse exibir os músculos torneados que pareciam querer explodir. Embarcaram três paradas depois de o ônibus ter iniciado a viagem, carregando, cada um, uma enorme mochila nas costas. Naquela altura do trajeto o veículo já estava lotado, e eles penduraram as mochilas na parte da frente do tronco para que os demais passageiros pudessem passar por eles sem arrastar as mochilas junto. Era a primeira vez que pegavam o ônibus. Trocavam poucas frases entre si, e se distraíam olhando o movimento pelas janelas. Eram dois sujeitos feios. Além da aparência truculenta que seus corpos enormes sugeriam, tinham as cartilagens das orelhas muito espessadas, e os narizes pareciam ter sido remendados, precariamente, inúmeras vezes. Deviam estar na faixa dos vinte e cinco anos, embora a expressão carrancuda de suas faces desse a impressão de serem mais velhos. No entanto, eram extremamente másculos tanto na postura quanto nos rostos angulados de queixo largo.
Ambos me encararam fixamente, por algum tempo, depois de haverem notado minha presença. E, o fizeram repetidas vezes enquanto a viagem prosseguia, só que de uma maneira mais furtiva. Eu tinha consciência de que destoava dos demais passageiros. Sabia que era um cara bonito aos quase dezoito anos, que completaria no final de maio. Muito tímido, é verdade, por isso passei a usar óculos, mesmo não havendo uma indicação profissional para tanto. Mas, de alguma forma, eu me sentia mais protegido dos olhares de cobiça, atrás daquelas lentes. Há tempos eu havia passado de um metro e oitenta, era longilíneo por que meu peso parecia estar sempre correndo atrás do meu crescimento. O que não impedia das minhas coxas e minha bunda serem bem roliças e carnudas. Costumava usar o cabelo castanho-claro, levemente ondulado, ligeiramente longo, deixando-o cair displicentemente sobre a nuca. O rosto imberbe emoldurava um par de olhos verdes muito claros e vivos, e uma boca, cujos lábios de um vermelho intenso, me pareciam indecentemente carnudos. Eu procurava escondê-los por meio de um sorriso fácil que deixava à mostra os dentes muito largos e brancos, perfeitamente alinhados. Quanto mais discreto eu procurava ser, mais eu percebia que estavam me notando e, não raro, conforme a devassidão do olhar, sentia minhas bochechas se afogueando constrangedoramente. E foi assim que me senti naquela manhã, enquanto os dois cochichavam a meu respeito.
Quando supus que aquele tormento fosse terminar, ao descer na Praça 14 Bis, notei que os dois também desceram tomando o mesmo rumo que eu. Eles podiam facilmente ter me ultrapassado, mas, eu percebi que estavam segurando o passo propositalmente, me seguindo a uma distância curta. Enquanto subia o aclive da rua Penafortes Mendes, o mais depressa que minhas pernas podiam, antes dos meus passos ligeiros se transformarem numa corrida; e ir aspirando aquele ar adocicado de tutti frutti que indicava a existência de alguma fábrica de essências, ou algo parecido, nos arredores, notei que os dois estavam a menos de dez metros de mim.
- O gatinho tem fôlego! – exclamou um deles, enquanto eu apressava ainda mais os passos temendo alguma abordagem.
- Quanto mais rápido o passo mais gostosa essa bunda se mexe. – disse o outro, fazendo meu coração quase sair pela boca.
- Psiu! Psiu! Assim você vai se cansar tesãozinho! – e ambos começaram a rir.
Ao virar a esquina na rua Frei Caneca, para em seguida rumar em direção a rua dona Antonia de Queirós, conhecidos quarteirões de inferninhos e boates gays, me deparei com dois travestis que provavelmente estavam saindo do trabalho. Os dois me encararam de cima de seus enormes saltos agulha e roupas espalhafatosas, como se estivessem vendo um espécime alienígena.
- Bicha! Dá só uma olhada nesse bofezinho! Tudo o que eu queria agora é me cobrir com esse cobertor. – Disse a que usava uma peruca loira que vinha parar na altura da sua cintura quase nua.
- Sei não amiga! Será que ele já aprendeu a usar o pintassilgo? Tem cara que acabou de sair dos cueiros. – disse, liberando uma risada estridente, que o parceiro acompanhou. – Prefiro o material que vem vindo atrás. Dá só uma sacada no tamanho das malas. – acrescentou, quando viu os dois atrás de mim.
Confesso que senti um certo alívio quando deixei de ser o foco das atenções daquelas libélulas saltitantes. Mas, me enganei ao supor que deixava de ser o centro daquele show matinal.
- Não assusta não gatinho, mas debaixo dessas fantasias é capaz de ter uma rola maior que a sua. – disse um dos rapazes, antes de voltarem a cair na risada, e adentrarem numa construção que mais parecia um galpão abandonado, desaparecendo por detrás de uma porta de chapas metálicas que se fechou ruidosamente após a passagem deles. Pintada numa tabuleta acima da porta estava a imagem de dois caras num ringue, e ao lado em letras douradas – ACADEMIA DE ARTES MARCIAIS.
Ao chegar à rua da Consolação, os músculos da minha barriga doíam daquela corrida intempestiva. Meus pulmões pareciam não conseguir ar suficiente para me manter vivo. E eu cheguei ao cursinho mais esbaforido do que um coelho fugindo da raposa, e me perguntava que manhã havia sido aquela.
Quase não consegui me concentrar nas aulas naquele dia. Ficava imaginando como seria a volta por aquelas mesmas ruas. Teria que encontrar outro caminho.
O mais estranho é que naquela noite tive um sonho com aqueles dois caras. Desde o início da adolescência eu me via admirando um ou outro colega do colégio, fosse por ele ser um gato, fosse por eu me sentir atraído por uns bíceps mais salientes nas aulas de educação física. Cheguei mesmo a sentir um amor platônico por um dos colegas de classe, cujo olhar bastava para me deixar com as pernas bambas, e que me dizia que minha pele tinha o perfume refrescante do alvorecer. Nunca passamos de umas brincadeiras de mão, umas trocas de olhares e um tesão contido. Foi um sonho tumultuado. Eu me via perdido entre músculos, barrigas saradas, braços me agarrando como se eu estivesse numa luta. O mais curioso era o tesão que eu estava sentindo durante todo aquele degladiar de corpos, embora meu instinto me dissesse que eu levaria a pior. Acordei no exato instante em que um punho fechado estava prestes a colidir com meu rosto, e soltei o ar numa expiração de alívio quando percebi que era apenas um sonho.
Na manhã seguinte, observei com inquietação as pessoas subindo na parada onde os dois haviam embarcado no dia anterior. Eles foram os últimos a subirem os degraus. Meu estômago se contorceu, e eles se postaram bem diante de mim. Havia um sorriso malicioso na cara de cada um deles, e eu afundei os olhos na apostila. As cores das roupas que usam haviam mudado, mas o traje era basicamente o mesmo do dia anterior. O ônibus estava particularmente cheio naquela manhã, como geralmente acontecia às sextas-feiras, e eu não encontrei meu assento favorito livre, tive que me contentar com um assento no banco imediatamente à frente e no corredor. Coisa que eu detestava, pois, quando o ônibus enchia, as pessoas ficavam se esfregando no seu ombro, ou as bolsas e mochilas que carregavam ficavam pairando sob as cabeças desses passageiros. Não demorou muito para que um dos caras ficasse ao meu lado. Era o mais moreno. Eu podia sentir o calor que vinha de suas coxas grossas quase tocando meu ombro direito. Uma das alças de sua mochila teimava em atingir minha orelha a cada solavanco ou freada. Perdi completamente a concentração e já nem sabia mais o que estava lendo.
- Quer que eu segure a sua mochila? – perguntei, com um sorriso acanhado.
- Pô legal, obrigado! Ela está te atrapalhando, não é? – respondeu, entregando-me aquele volume desajeitado e muito pesado.
Sem aquele trambolho entre nós, ele ficou ainda mais próximo do meu ombro e, a cada pessoa que pedia licença e passava por trás dele, sua pica resvalava em mim. Percebi que ele não se intimidava com essa atitude. Acho até que isso o divertia. Meu tesão ia aumentando, e eu ficava imaginando como seria a rola de um cara desses. Criava imagens na minha mente e, aos poucos, fui percebendo que não conseguia controlar uma ereção que estava me deixando maluco. Algumas paradas antes do nosso destino havia bem menos pessoas, e ele conseguiu se sentar ao meu lado. O banco não era suficientemente largo para acomodar seus ombros e invadiram o meu lado do assento. Acho que propositalmente ele manteve as pernas muito abertas e uma delas se encostava libidinosamente na minha. Eu me sentia mais encurralado que um gato cercado de cães ferozes. O que eu julgava ser um alívio para aquele sufoco, a proximidade da parada chegando, acabou por me trazer mais uma experiência torturante. Eu estava próximo à porta de saída, quando senti o outro cara me encoxando. Ele o fazia tão descaradamente que outros passageiros ao redor perceberam. A protuberância da minha bunda se encaixava tão perfeitamente na sua virilha que parecíamos ter sido moldados um para o outro. Assim que o motorista parou no ponto eu quase saltei para fora, disparando pela calçada como uma gazela assustada.
- Pera aí gatinho. Pra que essa pressa toda? – disse o que havia me encoxado.
- Você tá com medo da gente? Não precisa não, somos gente boa. Vamos fazer a caminhada juntos. – falou o moreno.
- Desculpe, estou atrasado. – balbuciei, numa voz que quase não saía da minha boca.
- Sua aula só começa as sete, falta meia hora, dá pra você caminhar numa boa. – sentenciou o moreno. Enquanto eu me perguntava como ele sabia do meu horário?
- A gente vai se encontrar todos os dias. Não há por que não sermos amigos. – voltou a dizer o mais atrevido.
Se eu estava a fim de deixar de ser infantil, de assumir o controle da minha vida, de sair debaixo das asas protetoras dos meus pais, precisava mostrar mais autocontrole, e não me deixar intimidar por qualquer coisa. Parei e fiquei esperando eles darem os poucos passos que nos separavam. Abri um sorriso tímido e os encarei.
- Me chamo Tiago, e vocês? – eu mesmo me espantei ao ouvir a nitidez e a firmeza da minha voz.
- Valeu gatinho! Sou o Rubens, Binho pros amigos. E esse é o José Carlos, Carlão. – disse o moreno, estendendo a mão na minha direção.
- Valeu! – respondi, sentindo minha mão se perder entre a aspereza da dele. O mesmo acontecendo com o Carlão.
- Tu não tem cara de quem está acostumado a andar de busão. – disse o Carlão.
- Eu ia para o outro colégio de carro, mas este ano comecei a não querer depender mais dos meus pais. – disse, deixando claro para um bom entendedor que estava dando os primeiros passos fora do ninho. O que somado à cena que presenciaram na véspera, ao ser alvo dos travestis, e quase entrar em pânico, os fez ver o quão ingênuo e despreparado eu era. De alguma forma eles gostaram dessa sinceridade, e eu senti, pelo sorriso expressivo de seus rostos, que uma amizade legal poderia advir dali.
A partir daquele dia, assim que eles entravam no ônibus, a gente ia conversando durante todo o trajeto. Despedíamo-nos na porta da academia, e eu seguia sozinho, os últimos quarteirões, geralmente, devaneando sobre os assuntos da nossa conversa. Poucos dias depois, numa segunda-feira, dia em que a academia só abria mais tarde, eles me convidaram a entrar e conhecer as instalações. Relutei um pouco, alegando perder a primeira aula se me demorasse; mas, especialmente desconfiado das intenções camufladas por trás daquele convite, ainda mais considerando o comportamento endiabrado do Carlão naquela manhã.
Eu havia cedido meu lugar a um senhorzinho grisalho que estava enfrentando problemas em se manter de pé no meio daqueles solavancos bruscos, que a condução inapropriada de um motorista inconsequente provocava sobre os passageiros. Tão logo meu corpo se ajeitou a sua frente, o Carlão começou a me encoxar. Ele parecia tomado de uma urgência febril, e seu olhar procurava o meu como o de um predador; mas, ao mesmo tempo, como uma forma de aquiescência. Fiquei um pouco constrangido imaginando o que as pessoas iriam pensar se nos flagrassem nessa libertinagem. No entanto, não estava nem um pouco intimidado em sentir aquele tesão que a pica dele provocava ao se insinuar entre as minhas nádegas. Era uma sensação voluptuosa que deixava meu corpo leve, mergulhado num mar de desejos inconfessáveis.
- É um instante só, não vai te arrancar pedaços. Depois você segue seu caminho e vai assistir suas aulas, cedeefezinho! – argumentou o Binho, com a ironia na voz reforçando a solicitação do amigo.
Por detrás do grande portão de ferro se escondia um galpão amplo, de pé direito alto, e um pouco sombrio, devido à tinta cinza chumbo que cobria a maioria das paredes, e só era iluminado por uma espécie de claraboia de telhas de vidro que cobriam a área exatamente acima de um ringue. Um cheiro condensado e almiscarado enchia o ar viciado do lugar. Um tablado em forma de octógono, elevado mais ou menos um metro do chão, revestido com uma espessa lona alaranjada e cercado por uma grade, deixava evidente ser aquele o ponto mais importante daquele lugar. Logo na entrada se espalhavam alguns equipamentos comuns em academias, distribuídos aleatoriamente pelo espaço. Ao fundo podiam-se avistar algumas portas que provavelmente conduziam a outros espaços, e por quase toda a extensão da parede lateral direita uma sequência de boxes abertos acomodavam tatames empilhados uns sobre os outros. Enquanto a parede lateral esquerda, pintada num tom ainda mais escuro, exibia pôsteres enormes de cenas de lutas, e uma espécie de placar, onde era possível ver nomes perfilados em linha, sempre aos pares, separados por um grande X, uma data e um escore assinalado em minutos. Meus olhos percorriam fascinados e curiosos aquele templo de barbáries, procurando se inteirar de cada detalhe, enquanto sem eu nem perceber, fui aliviado do peso da minha mochila.
- Então, o que está achando? – perguntou o Binho, que voltava de algum canto onde deixara nossas mochilas.
- Tem uma atmosfera carregada. Algo como uma grande concentração de energia refreada. – sentenciei, explicitando exatamente aquilo que estava sentindo.
- É um modo estranho de definir o lugar. Mas, acho que não deixa de ser verdadeiro. – disse o Carlão, rindo e plantando a mesma expressão na cara do Binho.
Eu gelei quando repentinamente senti a presença quente do corpo do Carlão a milímetros das minhas costas, e sua mão desabotoando os dois primeiros botões da minha camisa. Enquanto minha respiração estagnava por quase uma eternidade, a mão dele deslizava por debaixo da camisa e se alojava ao redor do meu mamilo. Algo como uma pedra de gelo percorreu toda a minha espinha, ao mesmo tempo em que o biquinho do meu mamilo se intumescia entre aqueles dedos ásperos que o apertavam. Minhas pernas começaram a tremer como se fossem feitas de algum material amorfo. Quando o ar finalmente voltou a entrar nos meus pulmões, uma torrente ardente insuflou meu peito.
- Você é um gatinho muito tesudo, sabia? – sussurrou nos meus ouvidos aquela voz grave e rouca. – Eu estou louco para comer essa bundinha empinada. – acrescentou lascivo.
- Deixa disso! Não sou dessas coisas. – gaguejei.
- Não é o que esses peitinhos estão dizendo. Eles estão me falando que você está com muita vontade de experimentar, mas está sem coragem de admitir. – falou baixinho, deixando o ar escapar entre os dentes.
- Não é nada disso. Eu tenho que ir, vou me atrasar. – as palavras saiam da minha boca como se fossem ruídos de um motor emperrado, sem nenhuma convicção, enquanto eu não conseguia me afastar dele e de sua mão invasora.
- Não precisa ter medo. Você pode experimentar a sensação mais gostosa da sua vida. E eu estou muito a fim de fazer você sentir isso comigo. – murmurou, soltando as palavras enquanto seus lábios percorriam meu pescoço.
O Binho, que até então, observava a cena a certa distância com seu olhar brilhante e voraz, se aproximou e começou a abrir minha calça, que segundos depois já estava embolada nos meus pés junto com a cueca. Duas mãos sedentas agarraram cada uma das minhas nádegas e, embora ambas deslizassem sobre a minha pele arrepiada como se fosse uma lixa, eu percebi que não eram da mesma pessoa. Difícil descrever a sensação que eu experimentava ao perceber que aqueles dois machos estavam sendo instigados pelo meu corpo. Eu sentia um poder que julgava incapaz de carregar comigo, mas que me enchia de orgulho.
Fui carregado pelos dois até o primeiro box e debruçado sobre os tatames. A lona que os revestia estava carregada daquele cheiro que flutuava pelo ar, só que muito mais denso. O Carlão tirou a rola para fora e a esfregou no meu rosto. Novos aromas sensibilizaram minhas narinas, numa mistura de nozes maduras e sabonete que vinham em eflúvios mornos daquela virilha pentelhuda.
- Chupa minha pica gatinho, chupa! – gemeu o Carlão, num pedido tão fervoroso que derrubou as últimas barreiras do meu preconceito.
A consistência primitivamente carnal, e o calor daquele pinto, fizeram meus lábios se amoldarem ao redor daquele cacete descomunal, procurando avidamente absorver aquela textura saborosa. Enquanto eu me lambuzava com seu pré-gozo abundante ele emitia sons estertorosos de prazer, sob a vigilância libidinosa do Binho e a vontade indomável de receber o mesmo tratamento.
- Engole o meu cacetão, engole gatinho! – gemia se contorcendo de prazer, enquanto eu lambia e mordiscava delicadamente aquele mastro suculento e afoito.
O Binho apartou seus glúteos e roçou o polegar sobre as minhas preguinhas rosadas. Deixei escapar um gemido permissivo e sensual, conscientizando-me de que todos os meus sentidos estavam se concentrando no meu cu. Quando eu senti o dedo penetrando meu cuzinho, um espasmo fez com que os músculos anais se contraíssem aninhando aquele dedo metediço.
- Calma um pouco, se não eu gozo na sua boca tesuda. – gemeu o Carlão, tirando brevemente o caralho da minha boca e se controlando antes de voltar a enfiá-lo na minha goela. – Deixa eu assumir esse rabinho antes de acabar gozando na boca desse moleque. – acrescentou, dirigindo-se ao Binho.
Eu vi meu brinquedinho se afastando dos meus lábios desejosos, deixando escorrer um longo e viscoso fio de pré-gozo, antes de sentir minhas preguinhas serem umedecidas pela língua sedenta do Carlão. Meus gemidos iam se tornando mais constantes e ritmados, ditados por aquela sequencia de sensações inéditas e visceralmente prazerosas. Enquanto ele enfiava e lambia desesperadamente meu cuzinho, eu não tirava os olhos gulosos da imensa jeba do Binho, que pendia a meia bomba entre suas coxas musculosas.
- Saca só a cara de gula desse safadinho na minha rola. – disse, aproximando-se de mim e pincelando a pica no meu rosto.
- Mama a caceta dele bem gostoso, como você mamou a minha, mama seu putinho! – disse o Carlão, sondando meu esfíncter anal com seu dedo experiente, em movimentos circulares que arrancaram ganidos da minha garganta.
Enquanto meu corpo era tocado e adulado por aquelas quatro mãos, virado e revirado sobre os tatames como uma massa sendo sovada pelo padeiro, uma nova sensação se concentrou no fundo do meu rego. A pica babada do Carlão deslizava entre as minhas nádegas apertadas e forçava a portinha do meu cu, obrigando minhas preguinhas a se distenderem a cada forçada que ele imprimia com o movimento de sua virilha contra a minha bunda. Minha respiração se transformou em arfadas rápidas e assustadiças. Eu parei de sugar a pica do Binho por uns instantes e me virei para encarar aquele macho enorme que me segurava pelas ancas e se preparava para me foder encapando a pica que apontava como um dardo para o teto. A excitação inicial com aquela visão foi dando lugar a um medo concreto de autopreservação. Antes que eu pudesse articular qualquer súplica, ele meteu aquilo em mim, e só então, eu tive a real dimensão daquele caralhão. Meu ganido ecoou pelo galpão vazio, reverberando pelas paredes e aumentando a lascívia e a voracidade dos dois.
- Não tenha medo, eu não vou te machucar. Deixe o cuzinho relaxar que não vai doer nada. – asseverou, esperando que o espasmo das minhas pregas ao redor de sua rola se tornasse menos opressivo. Contudo, suas palavras não foram suficientes para aplacar aquela dor pungente que parecia dilacerar minhas preguinhas como o fio afiado de uma faca. E, sem o menor controle sobre as minhas vontades, eu continuava a apertar aquele cacete com todas as forças que meu cuzinho permitia.
- Parceiro, tu não acredita como esse moleque é apertado. Nunca tinha enfiado minha rola numa grutinha tão estreita. Puta tesão do caralho! – exclamou, enquanto aguardava pacientemente eu recuperar o controle sobre meu corpo.
- Coloca minha pica na boca e continua chupando que você vai conseguir relaxar mais rápido. – disse o Binho, ansioso pela maciez dos meus lábios e pela nova habilidade da minha boca carinhosa.
Não sei se sugestionado por suas palavras, ou pelo fato de sentir aquele pré-gozo salgado e tépido inundando minha boca, o fato é que eu comecei a timidamente afrouxar meus esfíncteres anais, deixando que aquela tora me penetrasse e se alojasse no fundo das minhas entranhas, em movimentos cadenciados e contundentes.
- Tu é gostoso demais gatinho! Tá sentindo minha rola, tá? – gemeu no meu ouvido.
- Ai Carlão! – gemi, externando todo o prazer que aquele macho entranhado em mim estava me proporcionando.
- Se eu estiver te machucando me fala. Não quero que nada te assuste, só quero que você sinta o mesmo prazer que você está me dando. – balbuciou, com aquela voz rouca que agora já conseguia me fazer suspirar.
Depois de movimentos discretos de sua pelve que, no entanto, repercutiam nas minhas entranhas como estocadas, ele foi tirando lentamente a pica do meu rabo. Devo ter feito uma expressão tão desapontada que ele logo em seguida voltou a me reposicionar sobre os tatames. Desta vez minhas costas estavam apoiadas, enquanto as nádegas pendiam ligeiramente na beira da pilha de tatames, e ele abria minhas pernas colocando-as sobre seus ombros. Com o olhar fixo no meu, ele apontou a cabeçorra da rola na porta do meu cuzinho, e num golpe único e potente, tornou e meter em mim. Eu abafei meu grito em seus lábios, beijando-o com toda entrega e suavidade que me era possível. A língua dele entrou em mim e eu me senti mais pleno e preenchido do que nunca. Chupei aquela língua áspera e ávida, sorvendo a saliva máscula daquele homem, entregue à melhor sensação que já havia experimentado. Meus braços se enroscavam sensualmente ao redor daquele torso enorme, e com a ponta dos dedos, em movimentos mais delicados do que o toque de uma pena, eu rocei aquela orelha disforme e machucada, inundando o corpo dele de testosterona. Por longos instantes ele se deixou acarinhar, para depois começar a mover a pica num vaivém que fazia arder todo o meu cuzinho, num acalento morno que se espalhava pela minha pélvis.
- Ah gatinho, você é tão doce e tão carinhoso. Não consigo mais me controlar, preciso tirar essa borracha que não me deixa te ter por inteiro. – sussurrou, tirando mais uma vez o pintão do meu cu, arrancando a camisinha e voltando a mergulhar na mansidão preceptiva das minhas entranhas.
Quando os movimentos se tornaram quase desesperados, e a mucosa do meu cuzinho ardia como brasa, eu senti aquela jeba inchando dentro de mim, e em seguida um urro dele preencheu o ar, enquanto os jatos contínuos de porra enchiam minha ampola retal com o sumo viril daquele macho. A satisfação estava expressa em seu rosto afogueado e suado, e quando eu a percebi, de tão palpável que estava, duas lágrimas afloraram nos cantos dos meus olhos, e toda aquela emoção represada eclodiu como um vulcão. Ele me apertou em seus braços e me beijou com fervor e ternura. Eu estava tão feliz por ter conseguido satisfazer aquele macho que mal cabia em mim de contentamento.
O Binho, que não desgrudara os olhos da nossa evolução, manipulava sua rola tentando dar-lhe o alento que ela precisava pra não deixa-lo ensandecido. Meu sorriso cândido, dirigido a ele com o olhar cabisbaixo, incitou-o a me pegar em seus braços. Uma sensação protetora acalentou meu corpo e eu me senti pronto para uma nova entrega. Enquanto ele colocava a camisinha, meu cuzinho se contorcia num tesão esperançoso. A verga calibrosa foi abrindo caminho por entre a musculatura que parecia estar sofrendo câimbras. Só o gemido lancinante que escapou da minha garganta dava a dimensão da minha agrura, mas eu procurava não esmorecer e me mostrar o mais forte que podia.
- Cara, você tinha razão. O gatinho é muito apertado! Mesmo depois de você as lacear, essas preguinhas estão apertando meu caralho com uma firmeza que eu nunca senti. Quisera eu que a minha mina tivesse uma bucetinha tão apertada. – disse, enfiando lenta e cautelosamente seu membro rijo e pulsátil no calor receptivo do meu cuzinho.
- Eu não disse? O gatinho tem personalidade, tá dando conta de levar vara de dois machos logo na primeira vez. – confirmou o Carlão, quando voltava do banheiro que se encontrava atrás de uma daquelas portas até então fechadas, onde ele foi lavar o cacete.
- Geme gostoso pro teu macho, geme gatinho. Quero ouvir você gemendo gostoso como você gemeu pro Carlão. – sussurrou o Binho, enquanto chupava meu cangote.
Ele nem precisava pedir, pois meus gemidos brotavam sem controle, enquanto eu sentia minhas entranhas serem rasgadas pelo avanço progressivo daquela vara bruta, e eu saboreava, regalado, o caralhão e as bolas recém-lavadas do Carlão, ainda rescindindo ao cheiro de sabonete. Carinhosa e lentamente ele foi me fodendo, não havia pressa nem urgência, agora que sua rola se achava acalentada pelas minhas nádegas massudas. Eu voltei a mergulhar naquele torpor narcótico que me transportava para um paraíso de prazeres e luxúria e, tanto quanto ele, não tinha nenhuma pressa de sair desse transe. Foi como se o tempo, e tudo além daquele corpo quente que me cobria, deixasse de existir. Eu deixei aquele momento se eternizar na minha mente, afagando os músculos proeminentes do pescoço atarracado dele. O que foi me trazendo lentamente à realidade foi um incremento na dor que se espalhava cada vez com mais intensidade pelo meu baixo ventre. Eram as estocadas dele que se aceleravam com o acúmulo progressivo da energia libidinosa que se apossava de seu corpo. Uma sequencia frenética de quatro delas me fez ganir, ao mesmo tempo em que eu liberava o gozo que lambuzou minhas pernas, sem ter tocado no meu pau. Ele urrava enquanto a rola inchava no meu cuzinho, estocando minha próstata e fazendo o sacão dele bater contra meu rego espragatado. Enquanto o gozo dele enchia a camisinha, ele deixava seu peso cair sobre meu corpo exaurido. E, aquele olhar submisso que eu dirigi ao Carlão foi o estopim de uma nova e profusa gozada na minha boca. Disposto a experimentar cada nuance de sabor daquele néctar, eu engolia os jatos que ele esporrava na minha boca, sob o olhar prazeroso dos dois.
- Ah moleque, tu sabe como enlouquecer um macho. Cacete de garoto gostoso da porra! – grunhiu o Binho, enquanto eu sentia e rigidez de sua rola se amenizando dentro de mim.
Quando ele tirou o cacetão do meu cuzinho, eu juntei as coxas como que temendo que minhas vísceras se escoassem por aquela brecha que o vazio dele havia me deixado. Todo o meu corpo tremia como se tomado por uma febre. Eram os efeitos que a excitação deixara nos meus músculos tensos. Só então me dei conta de que estava completamente nu. O Carlão tirou uns lenços umedecidos de uma embalagem que estava em sua mochila, ao alcance de suas mãos.
- Deita de bruços meu gatinho corajoso. Não precisa se alarmar, mas tem um pouco de sangue nas tuas preguinhas. Abre as pernas, e deixa eu limpar o sangue do seu cabacinho. – disse, ronronando aquelas palavras com tanta serenidade que eu mais uma vez me entreguei sem nenhum receio.
Sua mão era pesada, mas seus movimentos para refrear aquele filamento rutilante que emergia das minhas pregas eram suaves e delicados. Ele abriu um grande sorriso expondo seus dentes brancos, numa sensação que me fez relaxar por inteiro.
- Obrigado! – murmurei, devolvendo um sorriso tímido e constrangido.
- Se há alguém que deve dizer obrigado, esse alguém somos nós dois. – sentenciou, ao mesmo tempo em que procurava, na expressão regozijada do Binho, que acabara de voltar do banheiro onde foi se livrar da camisinha cheia de porra, a conivência desse agradecimento. – Eu gozei como nunca. Foi a esporrada mais farta que eu já dei na vida. E gozar tão gostoso assim, é tudo para um macho. – emendou, com a mão comprimindo meu cuzinho.
- Sem dúvida, foi talvez a melhor gozada que eu dei. Tu é muito carinhoso gatinho. E tremendamente gostoso. – acrescentou o Binho, deslizando as costas dos dedos de uma mão pelo meu rosto.
- Eu sonhava com um dia assim, e vocês dois foram perfeitos. Me deram o melhor presente da minha vida. – murmurei, segurando as mãos deles entre as minhas e dando um beijo carinhoso em cada uma delas.
- Acho que você vai precisar colocar alguma coisa na sua cueca para ajudar a absorver esse sanguezinho tesudo do caralho. – sentenciou o Carlão, pressentindo que aquele filete não cessaria ao menor movimento meu.
- Deixe que eu vou na farmácia do quarteirão de trás e pego uns absorventes. – disse o Binho, deixando o Carlão e eu nos olhando numa troca mágica de sensações.
Quando ele voltou minha cabeça estava apoiada no peito peludo do Carlão, e ele afagava meus cabelos, enquanto eu brincava distraído com sua rola cabeçuda e grossa, deslizando suavemente entre meus dedos. Fixei um absorvente na cueca e terminei de me vestir. As pernas ainda não obedeciam prontamente a minha vontade, mas ensaiaram timidamente os passos que me levaram até a porta.
- Quer que a gente vá com você? – perguntou o Binho.
- Não obrigado. Eu estou legal. Vou chegar bem, obrigado. – retruquei.
- A gente se vê amanhã. Tem certeza que está tudo legal? – indagou o Carlão.
- Está. Até amanhã! – respondi, e me inclinei na direção de cada um deles e coloquei um beijo suave sobre os lábios deles.
O esforço da caminhada me fez chegar ao cursinho exausto. A turgidez pegajosa do Carlão estava mais presente do que nunca entre as minhas coxas, e eu as apertava, de vez em quando, para reforçar aquele prazer gostoso dentro de mim. Eu carregava o produto da satisfação do meu primeiro homem, e estava eufórico com essa sensação.
Leandro, o colega mais chegado do cursinho, me encarou com um olhar inquisitivo, assim que me sentei ao seu lado, pouco antes do início da terceira aula. As duas primeiras eu havia perdido.
- Você está com uma cara estranha. O que aconteceu que você perdeu as primeiras aulas? – perguntou, fixando seus olhos em mim.
- Nada. O ônibus demorou muito hoje. – respondi, sem encará-lo.
- Você está com um brilho esquisito no olhar. E isso não me parece ter nada haver com um ônibus atrasado. – disse, como se estivesse lendo através de mim.
- Bobagem. Não teve nada demais. Como eu disse, foi só o ônibus que se atrasou. – revidei, imprimindo austeridade às minhas palavras. Mesmo assim, percebi que a mentira não colou.
Aquela foi também a noite mais longa da minha vida, pois em nenhum momento eu consegui pegar no sono. Cada uma daquelas percepções que meu corpo experimentou, se reacendeu na minha memória, como que me dando uma segunda chance de desfrutá-las. Cada toque, cada chupão, cada fragmento de pele daqueles corpos viris que me tocou, havia registrado sua passagem no meu corpo até então desprovido de tantas habilidades sensoriais. Mas o que mais nitidamente me marcou, foi aquela sensação de sentir o Carlão dentro de mim primitivo e selvagem, com toda sua gana e seu desejo, enquanto nos entreolhávamos em pleno êxtase. Mal o primeiro clarão do alvorecer deitara sua luminosidade sobre a terra, eu me enfiei sob o chuveiro e comecei os preparativos para um novo dia.
O brilho no olhar dos dois também me pareceu mais vívido e feliz do que de costume e, assim que subiram no ônibus, começamos a conversar como se nos conhecêssemos a séculos.
- E aí? Como é que você está? Foi tudo bem no restante do seu dia? – perguntou o Binho, tão logo descemos do ônibus e, na privacidade da nossa caminhada, quando conseguimos levar um papo mais direto.
- Foi tudo normal. – respondi, omitindo apenas o fato de meu cuzinho ter ardido o dia inteiro.
- A gente ficou preocupado com você. Ficamos achando que deveríamos ter pego mais leve, afinal foi sua primeira vez. – disse o Carlão.
- Obrigado. Mas eu juro, vocês foram super legais, e eu adorei. – confidenciei corando.
- Vai ser um prazer repetir a dose, quando você quiser. – revidou o Carlão, ajeitando o cacete debaixo da calça.
- Segundas-feiras é o ideal, pois só ficamos nós dois no período da manhã, quando a academia não abre. – falou o Binho. – O duro vai ser controlar o malandro aqui em baixo por uma semana inteira, quando a gente está todo dia tão pertinho de você. – emendou com uma troca maliciosa de olhares com o Carlão. A ereção sob o tecido da calça dele era visível e provocante.
- Vocês estão querendo me encabular. Vamos mudar o rumo dessa conversa. – argumentei, ao sentir que o tesão começava a agitar o sangue nas minhas veias.
Eu chegava invariavelmente atrasado no cursinho todas as segundas-feiras, até o pequeno recesso de duas semanas no meio do ano. Como sempre nesses dias, minha concentração nas aulas deixava a desejar, e isso deixou o Leandro cada vez mais desconfiado. Às vezes ficava difícil explicar certas marcas e equimoses visíveis em algumas partes do corpo, que a sanha incontrolada daqueles brutamontes deixava na minha pele. Mas elas reavivavam meus desejos mais secretos, quando meus dedos as roçavam de leve, provocando um frêmito que se espalhava dentro de mim.
Depois do recesso deixei de pegar o ônibus. Minha licença provisória para dirigir, depois do exame da auto-escola, havia saído, e eu pude pegar um dos carros na garagem para ir ao cursinho. Não precisava mais madrugar, nem chegava quase no meio da tarde, cansado e faminto, antes de enfrentar outro turno de estudos entre as paredes do meu quarto e a companhia do meu beagle. Nunca mais encontrei os dois.
É estranho como, às vezes, a mão daquele que escreve o nosso destino é tão sutil que ele traça linhas quase indeléveis que nós, no cotidiano, muitas vezes nem nos apercebemos delas. Enquanto em outros momentos ele firma um pouco mais o traço e nossa percepção registra esses fatos e acontecimentos. Foi assim, no meio de leis gerais de física, substâncias anfóteras e elementos tabela periódica em química, teoremas matemáticos, leis mendelianas da biologia, regras gramaticais de português, revoluções e incidentes que mudaram os rumos da história, e mais milhares de outros assuntos que precisávamos dominar para o vestibular, que foram sendo urdidos os fios que começaram a dar suporte ao meu futuro.
Tanto o convívio no cursinho, quanto depois de termos sido aprovados na mesma faculdade de medicina em Curitiba, o que nos levou a dividir o mesmo apartamento, foram as bases sobre as quais um novo sentimento começou a ganhar força. Aquela sensação que o Carlão e o Binho me fizeram experimentar carecia do que eu comecei a nutrir pelo Leandro. Nas covinhas que se formavam do canto da sua boca quando ele sorria, nos tufinhos de pelos que cresciam nas falanges de seus dedos grossos, nos longos e demorados olhares que ele me lançava quando achava que eu não estava percebendo, fui descobrindo o amor. Ele cresceu entre nós sem que o percebêssemos, e quando eu o senti entrando em mim com sua pica indecentemente avantajada e todo seu furor de amante incontrolado, é que me dei conta de que eu e ele tínhamos um futuro a compartilhar.