... até que ele vai pra casa e eu o perco de vista...
Bruno me levou direto para casa. Nada de piadinhas nem nada. Quando me deixou no mesmo lugar da última vez (ele não sabia onde eu realmente morava) ele apenas me olhou com ar preocupado.
- Não se preocupe, isso vai sarar – eu disse pra ele.
- Eu sei que vai sarar, mas me preocupo.
- Pois não se preocupe, já passei por coisa pior nos últimos dias.
- É, eu sei...
- Como assim você sabe?
- Ah, não é nada, esquece. Posso passar para pegar você amanhã então, já que hoje você não está em condições de sair?
- Só por que você foi o amor de pessoa que foi e porque me ajudou duas vezes, eu aceito seu convite.
Então você deveria sair comigo umas três vezes para poder compensar essas “ajudas que eu te dei...
- Não abusa. Apesar de eu estar agradecido por você ter feito tudo aquilo por mim, não fui eu quem pedi sua ajuda. Eu só pedi hoje. Então “um” encontro é o suficiente.
- Ótimo. As oito então?
- Tudo bem.
Ele sorriu pra mim e depois foi embora. Eu fiquei esperando ele virar a esquina pra poder andar até em casa. Quando entrei, Alicia estava sentada à mesa com uma xicara de café ou chá, sei lá. Ela vestia uma camisa de manga longa, porque o dia estava muito frio e me olhou seriamente. Abaixou a xícara na mesa e me encarou.
- Quem é ele?
- Um amigo que eu conheci ontem.
- Um amigo? – ela disse ironicamente, como se não acreditasse no que eu estava dizendo.
- Sim, um amigo. Ele me ajudou em um probleminha – eu apontei para a mancha de sangue na minha camisa. Ela parecia não ter visto o sangue ainda e, quando percebeu, arregalou os olhos na direção dele.
- O que foi isso Dan? – ela se levantou e veio em minha direção, olhando na ferida.
- Tive um imprevisto agora a pouco. Mas eu prefiro cuidar disso primeiro e depois eu te conto tudo.
- Deixa eu limpar isso enquanto você me conta... – ela disse já se equipando com um kit de primeiros socorros meio duvidoso.
- Ok.
Ela pegou um pano com uma textura plástica e forrou o sofá para que eu me deitasse. Sentei e me encostei no braço do sofá com muita tranquilidade, sem sentir muita dor. Tirei a minha camiseta. Ela ficou olhando pra ferida se recuperando, o sangue já seco em algumas partes. Ela molhou um pedaço de algodão em soro e esfregou pela lateral do peito, tirando o excesso de sangue seco e sangue que ainda não estava seco. Depois ela se aproximou calmamente do machucado e fez movimentos circulares leves para não provocar muita dor. Depois ela deu uma rápida passada pelo meu abdômen que também estava sujo, já que eu vim pra casa sentado, o sangue escorreu pro abdômen.
- Tá malhando ou seu abdômen está se formando sozinho? – ela deu uma risada.
- Se eu bem conheço meu corpo, nem uma das opções... – eu sorri.
- Não é sério, ele tá meio sarado, é perceptível que você andou malhando.
- Mas eu não andei malhando.
- Mas ele tá bonito – ela voltou a passar próximo a ferida. Um corte de uns dois centímetros estava aberto, mas não saia sangue.
- Pode apertar, não tá doendo.
- Tem certeza?
- Tenho – e realmente não estava, nem quando ela pressionou e cima dela. Só doeu mesmo quando a Vaca subiu em mim.
- Mas me conta, como você conseguiu se cortar assim?
- É uma história meio esquisita, mas tudo bem – eu respirei e me preparei para contar – Lembra que ontem nós vimos aquela foto? – ela assentiu – Pois é. Hoje eu saí para andar mais cedo, depois que eu falei com você. Encontrei com o Bruno, o cara que é meu amigo – dei ênfase a palavra amigo – Ele me chamou para sair – ela ergueu as sobrancelhas de um modo meio “amigo?” – Sim, amigo. Eu não respondi, só andei. Ainda gosto muito do Tomás, mas é óbvio a impossibilidade de ele ficar comigo. Então sentei em um meio fio e olhei meu celular – ela fez uma cara de “já até sei...” – E parece que você já sabe né? Eu vi as fotos do Absurdo Sexo Explícito/Cara de Pau. Então me dei conta de que estava na frente da casa dele. Resolvi me desculpar com ele por ontem. Bati na porta e quando abriu, vi a vaca, quer dizer, Chris na porta, quase nua, vestindo a camiseta dele, com o pote de sorvete que ele tinha comprado pra nós tomarmos. Ela disse que tinha raiva do jeito como eu tratava as pessoas e me chamou de gay algumas vezes. Então quando eu ia responder ela me deu um mega tapa. Depois de bater nela também, ela me jogou no chão e sentou no meu peito, foi aí que o sangue escorreu. Depois ela jogou o sorvete na minha cara. Por isso estou com esse cheiro doce e todo melado.
- Uau, ela bateu em você e ele não fez nada?
- Na verdade, ele chegou na sala assim que ela saiu de cima de mim. A Chris fez charme e ele correu pra “socorrer” ela. Então eu fui embora. Ainda consegui dizer pra ele... – nesse momento fiz pra Alicia como tinha feito pra Tomás: apenas movimentei os lábios sem sair som “desculpe por ontem”.
- Nossa, que dia ein?
- Agora eu tenho que banhar. Não aguento mais esse cheiro doce. Se bem que eu sou muito doce, sabe....
- Tá gostosão, vai banhar.
Saí do sofá. Alicia até se assustou com o movimento brusco que eu fiz, mas na verdade eu não senti dor nenhuma. Eu não tinha sentido nenhuma dor na verdade e isso era muito estranho. Fui pro meu quarto e tomei um demorado banho: deixei a água escorrer por mim, me lavando e então percebi o que Ali tinha dito. Meu abdômen estava tomando forma, meus músculos do braço estavam mais rígidos, meu corpo estava se fortalecendo, mudando. E nem preciso dizer que isso me assustou, porque como é que uma pessoa fica com um corpo bonito sem fazer esforço? (Tirando Tomás, é óbvio. Ele parece que nasceu como um anjo. Um anjo perverso e louco por sexo).
Quando saí do banheiro fui direto pro quarto. Me troquei e me sentei na cama. O ferimento no meu peito já tinha criado casca. Peguei meu celular e olhei sem querer as fotos dos amassos de Tomás e Chris. Não queria ter revisto, mas acontece que quando destravei a tela, lá estava a imagem. Revivi os momentos de raiva e a briga com Chris. Quando me lembrei de como Tomás estava, foi inevitável conter uma excitação.
Ele estava com calça jeans cinza, descalço e sem camisa. Seus músculos brotando de seu corpo de um jeito irresistível. Ele me olhando com pena. Pena? Ele sentia pena de mim? Com um corpo perfeito como aquele seria impossível uma garota se controlar e não pular em seu colo. E ainda temos um jovem de 17 anos, virgem, louco por alguma garota que esteja querendo se oferecer a ele. Um final na cama é bem provável não acham?
Essa conclusão me deixou desanimado e então resolvi olhar o contato de Tomás. Nenhuma mensagem pra mim. Tudo bem, pensei, ele está sentido por eu ter brigado com ele e a culpa é minha por não ter me desculpado. Mas eu conseguiria fazer isso se não tivesse sido atacado. Eu iria fazer isso quando pudesse, estava decidido.
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(No outro dia, pela manhã...).
Os raios solares entravam pela fresta da minha janela e traçavam linhas em meu rosto. Eu sabia que se ficasse em uma mesma posição acabaria com manchas de queimaduras no rosto, por isso me movia direto na cama. Levantei não aguentando essa situação de “fugindo do Sol” e fui ao banheiro me limpar. Ainda estava dormindo um pouco. Passei pela porta do banheiro e acendi a luz. Meus olhos se fecharam rápido em um movimento de proteção e, quando se acostumaram à claridade, quase tive uma paralisação cerebral ao me olhar no espelho.
Toquei a pele do rosto com as pontas dos dedos. Minha pele estava maravilhosamente renovada: macia, firme, lisa, sem nenhuma espinha ou sinal de que já tive alguma (tinha algumas marcas), rosto branco e claro. Meu rosto estava incrível como jamais esteve. Isso era inexplicável pra mim, mas o que eu podia fazer? Reclamar? Eu acho que não. De outro modo, meu corpo também estava melhor: minha ferida já bem recuperada, braços e abdômen continuavam se formando e isso era assustador.
Eu estava muito mais bonito do que antes!
Acabei minha higiene e desci para me encontrar com Ali. Ela teve a mesma reação que eu quando me viu e eu apenas assenti. Expliquei a ela como meu corpo estava mudando e como eu não tinha a menor ideia de como isso estava acontecendo. Ela até perguntou se eu usava drogas. Qual é? Drogas?! No final não tínhamos como explicar aquilo e a situação acabou assim: ela me olhava com inveja da minha beleza e eu me olhava dividido entre ter inveja de mim e ficar alegre por mim. Era complicado kkkkkkk.
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(Pela noite...).
Meu encontro com Bruno ia ser em vinte minutos e eu já estava quase pronto, só faltava uma coisa: o perfume. Não era um perfume qualquer por mais que Bruno achasse isso. Era o perfume que me lembrava de Tomás e todo seu poder de dominação. Passei-o e esperei os minutos que restavam. Não demorou muito e desci para me encontrar com ele. Alicia já estava por dentro do meu “encontro” e Vitor estava fazendo companhia para ela. Encontrei-me com Bruno na escada da varanda da porta. Estava com uma calça azul escuro e uma camisa rosa. Seu cheiro era sufocante e forte, mas era cheiroso. Ele me levou para a festa em sua moto preta super demais.
Chegamos à festa e, enquanto ele estacionava a moto, eu esperei por ele na entrada. Logo ele chegou e entramos. Eu com os braços soltos e ele com um deles passando imperceptivelmente por minha cintura. Adentramos no saguão e caminhamos um pouco pelo salão. Ele me contou uma piada e eu sorri e acabei desviando o olhar da minha frente. Quando dei por mim, tinha esbarrado em alguém tão forte que nem chegou a se mover, já eu voltei alguns passos para trás.
- Desculpe... – Eu disse de cabeça baixa, sorrindo para disfarçar a vergonha de ter esbarrado em alguém. Levantei o meu olhar para o homem a minha frente e minha boca não se conteve e abriu-se levemente, mostrando minha surpresa – Tomás?
Continua...