... - desculpe... – Eu disse de cabeça baixa, sorrindo para disfarçar a vergonha de ter esbarrado em alguém. Levantei o meu olhar para o homem a minha frente e minha boca não se conteve e abriu-se levemente, mostrando minha surpresa – Tomás?...
Tomás.
Ele estava ali na minha frente me fitando, analisando com os olhos cerrados como alguém faz quando está com raiva de alguém. Mas não sabia dizer se era raiva, ou desapontamento por eu não ter pedido desculpas e agora eu estava em uma festa me divertindo sem ele. Ficamos parados por uns sete segundos nessa posição sem que nada acontecesse, o tempo parecia lento, as pessoas e a musica se esqueceram no plano de fundo e eu só sabia ver aqueles olhos verdes intensos me olhando de volta.
Ele me olhava como se eu fosse apenas um amigo. Eu olhava como se aquele fosse o ultimo momento de vida de minha mãe e tudo o que eu queria era me jogar nos braços dela e implorar para que ela não fosse, que não me deixasse. Mas naquele momento eu queria me jogar nos braços dele e pedir que ele não fosse, que não me deixasse.
- Tomás... – finalmente quebrei o silencio, repetindo seu nome.
Ele não respondeu. Quase que no mesmo momento em que eu disse seu nome, Bruno apareceu ao meu lado. Até o momento ele parecia que estava excluso do meu campo de visão, mas agora ele estava bem no ponto de vista de Tomás. Tom levou só os olhos em direção a Bruno ao meu lado e dois segundos depois virou o rosto na mesma direção.
Seu corpo estava de frente ao meu, mas seus olhos e seu rosto observavam Bruno como se aquele fosse seu inimigo da alma. Para a minha surpresa, Bruno olhava-o da mesma maneira. Eu era praticamente um estranho ali. “Ah meu Deus! Uma guerra de Titãs!” pensei. E realmente parecia aquilo.
- Tomás, esse é Bruno. Bruno, esse é Tomás – tentei apresenta-los, mas eles nem sequer me olharam ou moveram um músculo sequer. Tentei mais uma vez –Tomás é meu amigo – disse eu fazendo um movimento com a mão na direção de Tomás – Bruno é meu amigo – fiz o mesmo movimento para Bruno.
Quando eu pensei que conseguiria amenizar a aura instalada naquele salão, um movimento repentino me surpreendeu. “O movimento do campeão” era aquilo que ele queria dizer. Bruno passou a mão pela minha costa e a pousou na curva da minha cintura, apertando-a e me puxando para seu lado. Eu me surpreendi como já disse. Bruno, mesmo fazendo esse movimento, não tirou os olhos de Tomás nem por um segundo. E nem Tomás.
Mas não demorou muito para Tomás abaixar o olhar para a minha cintura onde estava a mão de Bruno. Esse apertou mais ainda, para mostrar que eu era posse dele. Eu segurei sua mão e tentei, em vão, tira-la de lá – Tom não podia ter ideia da minha homossexualidade. Tomás levantou o olhar para o meu rosto e me observou por mais longos cinco segundos. Depois saiu do meu campo de vista e passou pela porta de entrada, indo embora.
Depois que ele se foi, senti Bruno afrouxar a minha cintura e tirar as mãos dela. Eu olhei para onde estava a sua mão e sentia a dor do seu aperto. Virei-me para ele na intenção de perguntar o porquê de ele ter feito aquilo, mas ele sorriu largamente e aquilo parou minha ideia de ataque.
- Vamos tomar um drink? – ele perguntou tão otimista como se nada tivesse acontecido.
E como sempre eu não tinha armas para me defender. Ele passou a mão na minha cintura e me puxou para segui-lo. E eu fiz isso. Sentamos próximos a um bar e ele pediu uma bebida forte. Eu não bebo. Podem me chamar de cafona, mas eu tenho 17 anos e não tenho a menor vontade de beber. Pedi uma Coca-Cola. Ele deu uns sorrisos.
- O que foi?
- Você veio a uma festa como essa comigo e o que você vai beber é uma Coca?
- Desculpe, sr° Bebo e Não Nego, mas eu não bebo e não vou beber porque estou com você...
- É por isso que eu gosto de você. Você é independente e não segue os outros.
- Falou o cara que me envergonhou na frente do meu amigo a dez minutos atrás.
- Amigo? – ele disse em tom de deboche. Aquilo me irritou muito.
- Sim, amigo. Eu não o apresentei como um amigo? Ah é! – disse eu em tom irônico – Vocês não ouviram por que estavam ocupados demais se olhando violentamente perigosos...
- Eu ouvi você me apresentar...
- Ótimo, deveria pelo menos ter sido amigável com ele. Ou comigo, ter respondido quando eu tentava fazer vocês se distraírem.
- Desculpa, é que eu vi que ele não era um cara bom...
- Tomás? Não é um cara bom? Por favor né, Tomás é o cara mais doce que eu conheço.
- E eu?
- Não mude de assunto.
- Mesmo que ele seja doce, ele é perigoso. Sabia que pessoas fingem ser uma coisa só para conseguir outras coisas...
- Não manche a identidade do meu amigo para mim. Isso é detestável.
- Mas estou te alertando.
- Tomás é meu melhor amigo!
- É mesmo? Há quanto tempo vocês andam juntos? Alguns anos?
- Somos amigos desde a infância.
- Não. Vocês eram amigos na infância. Ele nunca mais falou com você. Apenas a alguns dias é que ele veio falar com você. Não acha estranho ele ter aparecido repentinamente assim?
- Já disse para você parar de queimar meu amigo para mim!
- E eu já disse que só estou te alertando.
- Ou você para com esse assunto ou eu vou embora agora! – um pouco de chantagem é bom às vezes.
- Tudo bem, assunto encerrado.
O tempo passava e nós estávamos na mesma mesa, conversávamos sobre nossas vidas, ou melhor, a minha vida, por que ele se recusava a contar sobre ele. E em alguns momentos riamos muito, tão alto que incomodava algumas pessoas próximas a nós. Em uma dessas risadas eu, com um sorrido estampado de orelha em orelha de tanto sorrir, olhei em direção as cadeiras do bar e vi sentado sobre uma delas, Tomás. Ele estava me olhando.
Meu sorriso largo se desfez aos poucos, me deixando com a boca entreaberta. Ele ainda me olhava. Eu mostrei um sorriso tímido com o canto da boca em pedido de desculpas e ele me lançou o mesmo sorriso em um aviso de “aceito”. Abri o sorriso um pouquinho mais. Nesse momento uma figura se mexeu próximo a ele. Chris. Ela veio por trás dele e o abraçou por trás. Mas ela não me viu. Ela puxou o rosto dele e beijou-o. Ele, ainda beijando-a, me olhou e eu desfiz o sorriso, virando o rosto na direção de Bruno. Não queria mais ver aquilo.
Voltei a dar umas risadas com Bruno, que até então tinha falado coisas que eu não estava ouvindo. Ele já estava bêbado. Perguntei se ele queria ir embora e ele fez que sim com a cabeça. Paguei as bebidas e levantei-o da cadeira. Ele cambaleava um pouco, mas eu segurava. Olhei uma última vez para Tomás e ele estava me olhando. Não tinha como eu fazer nada então apenas segui meu caminho com Bruno nos ombros.
Cheguei a sua moto e apoiei-o nela. Liguei e subi. Depois o ajudei a subir na garupa. Ele subiu e enlaçou minha cintura com as mãos, encostou a cabeça no meu ombro e me encoxou fortemente para não cair na estrada. No caminho de casa, senti sua ereção vir aos poucos, apertando minha bunda. Estranho, mas inevitável naquela situação.
Perguntei onde era sua casa, mas ele não me disse. Apenas pediu para ir para minha casa e de lá ele iria para a casa dele. Tentei argumentar dizendo que ele não podia dirigir do jeito que estava que era melhor eu leva-lo e ele disse: “ou você me deixa ir sozinho para casa, ou vou ter que dormir na sua casa essa noite”. Ele podia dormir, só estava com medo porque não o conhecia bem, mas bêbado como estava, não era capaz de fazer muita coisa.
- Você pode passar a noite lá.
- Com você, na sua cama, de concinha...
- Nem pensar, temos um sofá sabia?
- Não tem medo de que eu roube ou mate alguém?
- Você está bêbado demais para fazer algo.
- Eu ainda posso fazer muita coisa... – ele disse isso e me apertou forte por trás, o que me fez sentir seu membro louco para me possuir.
- Mas você não vai fazer nada.
- Não vou mesmo, porque vou para minha casa.
Nesse momento, estacionei a moto na frente da minha casa e me desculpei por ter mentido sobre a minha verdadeira casa, já que ele sabia, pois tinha ido me buscar naquela noite. Eu desci da moto e ele apenas se arrastou para ficar mais perto do guidom. Eu fiquei olhando ele e vi, rapidamente, seu membro marcado na calça jeans azul escuro. Ele sorriu e me puxou pra perto dele. M e beijou intensamente e eu não cedi em momento algum. Tentei me soltar dele, mas mesmo bêbado seus braços eram fortes. Ele disse ainda com a boca na minha: “assim fica difícil”. E voltou a me beijar. Finalmente me soltei dele e ele sorriu largamente. Ligou a moto e sumiu na noite escura, me deixando parado na calçada, estático.
Continua...