... Finalmente me soltei dele e ele sorriu largamente. Ligou a moto e sumiu na noite escura, me deixando parado na calçada, estático...
Depois de me recuperar do beijo, me virei e entrei em casa. Eram 01h34min da madrugada de Quarta – Feira. Alicia já dormia em seu quarto, com Vitor. Fui para o meu, tirei a roupa, tomei um banho rápido e me deitei. Levantei-me as 07h11min (não consigo levantar depois das 07h30min!). Limpei-me e, mais uma vez, meu rosto estava mais bonito do que na manhã anterior. Assim eu iria acabar mais bonito que um artista de novela.
Alicia e Vitor ainda dormiam e eu fiquei circulando na casa a manhã toda. Eles só foram levantar perto das 11h e isso não era novidade pra mim. Depois do almoço, o tempo armou para cair uma chuva fortíssima, o que geralmente acontece em minha cidade. O clima nunca é muito quente. Não demorou e a chuva desceu. Fui para meu quarto, me deitei na cama e fiquei pensando em Bruno.
Bruno.
Um cara legal, muito. Era impossível não notar a presença dele, era tão marcante quanto Tomás, mas esse, ah, esse é invencível. Bruno é amigo, mas é óbvio que quer ser mais. E eu sei que preciso dele para esquecer Tomás, mas tenho receio de quem pode ser ele. Ele me ajudou quando e precisei, quando estava mancando, quando estava sangrando, quando Tomás estava ocupado com Chris. Ele estava lá e me ajudou. Talvez eu devesse me entregar a ele e ajuda-lo a resolver o seu possível sonho: eu.
Ele era um apoio que eu precisei e é claro que ele só quer minha segurança. E algo mais. Mas ainda tinha Tomás. O cara que sempre esteve presente, pelo menos duas semanas atrás, mas que já fez mais por mim mais do que meu até o momento melhor amigo Vitor já fez. O cara que marca, que atrai, que faz você se apaixonar e ai entra em namoro com uma vaca dos peitões e não fala mais com você como antes.
Tomás.
Nesse momento eu me sinto segurando uma espada de duas laminas. Tomás e Bruno estão um na minha frente e o outro, nas minhas costas. Se eu afastar a ponta da espada de um deles, acabo acertando o outro. E vice e versa. Estava comigo agora.
Fiquei pensando e pensando e acabei me entregando ao sono.
(No outro dia, pela manhã).
Levantei-me as 06h45min e fui ao banheiro. Limpei-me e no espelho meu reflexo mostrou o rosto de ator de cinema, mas dessa vez tinha algo a mais. Meus cabelos, que há tempos não corto, estavam mais lisos, com mais movimento, mais brilhantes, mais bonitos. Meus olhos, que são pretos, estavam mais claros. Muito mais claros. Pareciam lentes. Minha pele estava clara e sem nenhuma mancha de idade. Meus cílios estavam empinados e chamativos, como se estivessem com rímel. Meu nariz estava mais pontudo e fino, não “nariz de mandão”, mas estava bonito. Minhas maçãs do rosto estavam marcadas e altas. Eu era outra pessoa, com um rosto mais bonito. Era o sonho de qualquer garota, ou garoto que quisesse ser bonito como uma.
Resolvi que naquela manhã eu iria ver Tomás e me desculpar corretamente com ele. Ainda não tinha contado-lhe a certeza que eu tinha de que meu sangue era um AB+ puro. Arrumei-me e saí na minha moto.
NARRADO PELO AUTOR
Adam chegou à casa de Tomás as 07h22min. Parou a moto e subiu as escadas e tocou a campainha. Ninguém. Ele resolveu esperar Tomás voltar de onde tinha ido. Sentou-se em um balanço/banco de madeira ao lado da porta. O dia amanheceu com um Sol muito forte. Tudo parecia mais claro, mais limpo, mais calmo. Adam recostou a cabeça no acostamento do balanço e fechou os olhos, sentindo o ar da natureza. Aquela parte da cidade era mais cheia de arvores. O carro de Tomás apareceu na esquina e estacionou silenciosamente próximo à calçada. Adam nem sentiu sua presença ou o som do motor. Estava imerso nos cheiros e na sensação do local. Tomás desceu e viu que ele estava recostado no balanço e resolveu não fazer barulho. Subiu as escadas e parou perto dele. Lembrou-se de seu primeiro encontro com ele depois de anos.
FLASHBACK
- Aaann... Por que comigo Tomás? Por que logo você? ... (Adam geme)
- É bom saber que meu nome te faz gemer... (Tomás aparece do nada)
- Tomás... O que você... tá fazendo aqui? (Adam acorda do transe assustado)
FIM DO FLASHBACK
E então a vontade de fazer aquilo de novo tomou-lhe. Ele se curvou bem perto de Adam e abriu a boca para falar. Mas ele não podia fazer aquilo de repente, sem ele se desculpar por ter sido ausente nos últimos dias. Então repensou no que iria falar. Ele se agachou e ficou olhando aquele calmo momento entre ele e Adam.
- Adam?...
Os olhos de Dan abrem-se rapidamente e Tomás observa sua pupila se encolhendo para se proteger dos raios solares. Seus olhos estavam lindos, sua pele incrivelmente atraente. A atenção de Adam passou a ser Tomás. Seu rosto virou-se para o rosto de Tomás e eles ficaram se encarando. De frente, a pele de Dan estava mais bonita.
- Tomás... – Dan disse se endireitando no banco.
As sobrancelhas de Tom se arquearam e ele fez uma cara fofa para Dan.
- Qual foi o salão em que você foi? – Tom brincou com Dan, que abriu um sorriso.
- Não fui a nenhum salão, nem me maquiei se você quer realmente saber.
- Então você encontrou a Fonte da Beleza?
- Você não quis me contar qual era o seu segredo então eu tive que descobrir – Dan brincou com Tom.
Tomás se levantou e ajudou Dan a se levantar também. Abriu a porta da frente e deu passagem para Adam passar, ficando na lateral da porta. Adam, meio tímido, passou de cabeça baixa e entrou na sala.
NARRADO POR ADAM
Desde Domingo que eu não entro nessa casa e ela parece tão grande! Tudo está do jeito como eu deixei, nenhum sinal de poeira, nenhuma mancha de sangue meu. Nada. Eu não via um só faxineiro e isso me deixava intrigado. Será que alguém rico com Tom não tinha nenhum empregado? Ele fazia tudo sozinho? Se sim, isso era um ponto atraente a mais em sua vida. Ele fechou a porta e um silencio desconfortável se estabeleceu no local. Eu não sabia se deveria me sentar e então fiquei em pé, de costas para ele. Tomás estava, até então, parado. Ele deu alguns passos e quebrou o silencio.
- Pode se sentar. Eu vou fazer alguma coisa pra você comer... – disse ele indo em direção a cozinha.
- Não estou com fome (verdade), já comi hoje (mentira).
- Mas você vai comer aqui.
- Pode fazer se quiser, mas não garanto que vou comer...
Estava disposto a não comer, mas o cheiro de alguma coisa sendo preparada me encheu de vontade. Eu iria acabar comendo e isso me deu um sentimento de que sou fraco diante Tomás. Depois de algum tempo eu me levantei e fui pela cozinha. Ele estava perto do fogão e eu me sentei na cadeira da mesa, do outro lado do balcão americano. Pensei em minhas palavras, como pediria desculpas. Foi aí que me dei conta de que não tinha como “pensar no que fazer” quando se está falando de Tomás. Ele não é bem, previsível.
- Olha, eu queria me desculpar... – eu comecei e percebi sua reação.
Ele estava cortando alguma coisa, sua cabeça estava virada para baixo, atento ao corte. Ele estava de costa pra mim. No momento em que eu falei “desculpar” ele parou de fazer qualquer movimento. Ficou estático e eu não prossegui. Ele levantou a cabeça lentamente e os raios que entravam pela janela a sua frente encheram seu rosto de luz, mesmo que eu não pudesse vê-lo.
- Desculpar? Do que você está falando? – era óbvio sobre o que eu estava falando.
- Você sabe... – respirei fundo – Sobre aquela minha raiva de Domingo que eu descontei em você...
- Aquilo não foi nada...
- Não tente tirar a minha culpa. Eu gritei com você e estava irritado a toa. Falei coisas que não deveria e ainda fui ingrato por toda a ajuda e preocupação que você teve comigo. Desculpe-me... – ele inspirou fundo assim que eu acabei de falar.
- Eu confesso que suas palavras me machucaram – ele disse e pousou a faca encima o balcão, mas ainda com a mão sobre ela. Isso me lembrou do quanto eu não sabia sobre o autocontrole que Tomás tinha ao manusear facas – Não parecia ser você naquele dia. E em vez de eu entender que você passava por uma situação difícil, uma pós-cirurgia para retirada de uma bala imaginária do tórax, eu gritei com você e saí correndo da sua casa. Por isso não se desculpe. A minha culpa é maior que a sua.
- Eu evitei contato com você por conta do meu orgulho idiota.
- E eu? Por acaso sou menos culpado? Não evitei contato também?
- Mas você se aproximou algumas vezes e eu me afastei.
- Foi você quem veio aqui em casa naquele dia e acabou ferido.
- Foi você quem correu atrás de mim para me ajudar.
- Mas não consegui.
- Mas tentou.
- Foi você quem sorriu pra mim na festa. O primeiro passo não foi meu – ele tinha voltado a cozinhar e estava acabando de fazer os sanduiches.
- Mas você não o recusou – ele voltou com os sanduiches e colocou-os na mesa, logo depois se sentou.
- Estamos quites então? – ele sorriu.
- Ainda bem que sim, não aguentava mais ficar sem falar com você... – percebi o meu erro tarde de mais. Ele sorriu mais ainda.
- E eu estava com saudades de você na minha cama... – disse com uma gargalhada.
- Olha... – disse eu em tom de alerta e logo depois mordi o sanduiche que eu não deveria morder.
Continua...
Bom, esse capítulo era a dose de animação extra de que todos estavam precisando, espero eu. Até a próxima!