... - e eu estava com saudades de você na minha cama... – disse com uma gargalhada.
- Olha... – disse eu em tom de alerta e logo depois mordi o sanduiche que eu não deveria morder...
Ficamos ali sentados e comendo. Conversamos um pouco e perdemos um tempão ali. Despois me levantei e fui lavar a louça, mesmo com toda a sua insistência em dizer “não”. Apoiei-me na pia e comecei. Ele se sentou no balcão ao lado e começamos a conversar de novo. Ele começou a falar.
- E aí, que era o seu amigo na festa?
- Eu já apresentei vocês...
- Eu sei disso. O nome dele é Bruno. Mas eu queria saber mais sobre ele... – seu tom de voz era de investigador.
- Por quê? Quer ser seu amigo também?
- Nunca – ele disse rápido e sério. Eu me virei pra ele com surpresa por ter rejeitado-o tão rápido. Ele sorriu e disse brincando – Só preciso de você.
- Mentiroso - brinquei e sorri. Era óbvio sua brincadeira.
- Mas quem é ele? Como pessoa.
- Para falar a verdade eu não sei nada dele.
- Nada?
- Absolutamente nada, além do nome e que ele me ajudou quando precisei.
- E é seu amigo?
- Eu sou seu amigo e também não sei nada sobre você...
- Você sabe mais sobre mim do que Chris ou qualquer outra pessoa sabe – ele disse seriamente e depois sorriu – Sabe como sou por dentro e especialmente como sou por fora, pelo menos nu.
- Seu tarado safado... – e joguei umas gotas de água nele.
- Não começa... Da última vez você saiu todo molhado...
- Acho que você também estava... – nós rimos e depois voltou o silencio.
- Olha, não é por nada, mas acho que você tem que tomar cuidado com esse cara. Ele parece que é perigoso.
- Engraçado, porque Terça – Feira a noite ele me disse o mesmo sobre você.
- Mas você vai confiar nele, que você conheceu Domingo ou vai confiar em mim, que você me conhece desde a infância?
- Somos amigos desde pequenos, mas não o conheço tão bem como deveria.
- Repetindo: você já me viu nu. Isso não seria intimidade o suficiente?
- Primeiro: não vi você nu. Você me forçou a olhar o “Tom Junior” porque estava drogado.
- Mas você já viu.
- E ainda acha que o conheço melhor que Chris? Vocês já andaram se “conhecendo” muito mais do que eu.
- Se “conhecendo”? Não sei que mentiras te contaram, mas você está enganado.
- Ah é? Espera ai então.
Desliguei a torneira e limpei as mãos. Peguei as fotos do seu “agarramento” com Chris e mostrei a ele. Primeiro o beijo e depois as roupas fora dos corpos. Depois os comentários.
- Primeiro: o beijo é real. Segundo: essas roupas são nossas – eu levantei as sobrancelhas em sinal de “então é mentira?”. Ele continuou – Mas não transamos, tínhamos chegado da chuva e fomos tirando as roupas, mas ela não chegou a me ver pelado e nem eu vi ela. Muito menos estive “dentro” dela.
Então mostrei os comentários: “Tom é um safado-tarado-louco-por-sexo”; “Chris deve estar gritando, sentindo a força desse cavalo/Tom”. Depois mostrei o comentário de Chris: “Vocês falam isso, mas nem sabem o quanto um cavalo perderia feio pra ele kkkkkkk”. Tomás deu umas risadas.
- Cavalo? É assim que as garotas me enxergam? – mais risadas.
- É assim que todos te enxergam Tom...
- Até você? – ele percebeu minha vergonha e sorriu mais. Então esqueci a vergonha e falei sem olhar pra ele.
- Não te enxergo assim. Eu já te vi.
- E então é verdade?
- Vai ao banheiro ver vai.
- Mais uma coisa: porque você tirou prints das conversas? – eu não esperava por aquela.
- Caso eu precisasse, como foi o caso – não fui nem um pouco convincente – Mas e como está a Chris? – por que eu perguntei isso?
- Você quer mesmo saber sobre ela?
NÃO!
- Sim...
- Bem, eu acho. Não falei com ela hoje.
- Ata... – que interesse o meu.
- Desculpa por ela ser assim com você. Ela só não gosta de você.
- Ela não gosta do meu jeito. As pessoas não gostam de pessoas que tem o jeito como o meu.
- Que jeito? – mas era óbvio.
- Jeito afeminado. Já sofri muito com preconceito, estou acostumado.
- Eu gosto do seu jeito.
- Isso porque você é um tarado e gosta de qualquer coisa.
- Você realmente acha isso? – ele tinha esse jeito de me enquadrar.
- Não, é só brincadeira.
- Mas voltando ao assunto: como você acabou sangrando?
- Ela não te contou?
- Nós sabemos que ela exagerou na história.
- Bati na porta e quando abriu, vi a Chris na porta, quase nua, vestindo a sua camiseta, com o pote de sorvete que você tinha comprado. Ela disse que tinha raiva do jeito como eu tratava as pessoas e me chamou de gay algumas vezes. Então quando eu ia responder ela me deu um tapa. Depois de bater nela também, ela me jogou no chão e sentou no meu peito, foi aí que o sangue escorreu. Depois ela jogou o sorvete na minha cara.
- Nossa... Desculpa cara.
- Não se desculpe. Não foi você quem fez aquilo.
- Mesmo assim faço isso por ela.
- Não quero que ela se desculpe e é óbvio que ela não vai fazer isso mesmo, então vamos esquecer isso ok?
Nesse momento, Chris entrou pelo corredor parou na porta, como se soubesse que eu estava lá dentro. E talvez soubesse, pois poderia ter visto minha moto. Ela olhou para mim com os óculos de Sol no rosto e era evidente a sua pele queimando de raiva. Ela levantou o braço e apontou o dedo na minha direção.
- O que ele está fazendo aqui? – perguntou ela para Tomás.
Eu engoli em seco, estava preocupado com o quanto ela poderia ser perigosa se quisesse. “Cobras são silenciosas, mas perigosas ao extremo”. Olhei Tomás e ele me olhou de volta. Seguiram-se uns cinco segundos sem nenhuma resposta. Eu me virei de volta para encara-la. Ela retirou o braço, puxou os óculos da face e reergueu o braço pra mim.
- Eu não disse que não queria que você se encontrasse mais com essa bicha?
O que?
Franzi a testa em duvida e virei o rosto para Tomás. Ele estava assustado e seus olhos se alternavam entre Chris e mim. Tomás se soltou do balcão e andou até Chris tentando contê-la. Ela fez sinal para ele parar e ele parou a meu lado. Ela voltou a perguntar.
- Eu te proibi de encontra-lo. Por que ele está aqui? – ela estava mais brava que o normal e parecia realmente perigosa.
Continua...