Meus sogros, quer dizer, os pais de Jonas estavam sentado na ampla poltrona de três lugares assistindo a TV quando ele os viu e disse:
_ Pai, mãe, esse aqui é o Grandão, quer dizer, esse é o Otávio Augusto...
_ Boa noite Sr...
_ Alvaro Fernandes, Guto. Posso chamar você assim? Aqui em casa você é mais falado que a violência da Cidade. O riso dele era o mesmo do meu Meninão.
Apertamos as mãos e ele olhando a esposa a chamou e disse:
_ Isaura esse é o rapaz que ta pegando nosso filho...
_ Pai o senhor só pode estar de brincadeira...
_ Mais filho, você é que falam desse jeito e eu estou apenas querendo ser moderno pra poder acompanhar a evolução das coisas...
_ Olha Otávio Augusto,disse a sogrinha, não liga pros dois não... Tudo bem com você? Filho, que garoto bonito é esse? Vocês se conheceram na Faculdade, foi? Agora eu sabia de onde vinha a sua curiosidade... Sorri enquanto apertava a mão que ela estendeu e disse:
_ Na verdade D. Isaura, eu o conheci numa parada de ônibus numa madrugada qualquer de nossas vidas.
_ Ah, então foi você que fez com que ele perdesse o ônibus e chegasse tão tarde em casa naquela madrugada? E ela me indicou a poltrona menor para que voltássemos a sentar na sua ampla sala.
_ Aceito a acusação D. Isaura, só que não tinha como deixá-lo la naquela parada sozinho... E se eu não tivesse insistido, também não estaria aqui...
_ Então querido Otávio seja bem vindo a nossa casa.
_ Guto, falou o sogrão, O Jonas me disse que você tem algumas coisas pra me falar... Sou todo ouvidos.
Olhei para meu Meninão e assim que ele chegou perto de mim, sentou no braço da poltrona e colocou a mão em meu ombro, eu disse:
_ Isso é verdade Sr. Alvaro. Eu voltei pra casa após dose anos fora. Eu morava no Estado Americano do Michigan desde que fui mandado por meus pais a estudar fora do País para que tivesse uma melhor formação. Voltei por conta de uma oportunidade de trabalho que não recusaria por nada no mundo e retomei ao longo dos dois primeiros meses a amizade com cinco grandes amigos. Devo dizer que um deles no passado havia sido bem mais que amigo, se é que o Senhor entende... Então durante essa retomada, vim a saber que ele estava preso por conta de crimes que cometera ao longo dos anos em que estive fora pois transformou-se num bandido muito perigoso.
_ Você soube como se deu todo esse processo? Perguntou D. Isaura.
_ Muito vagamente e pelo próprio amigo que esta preso... Roubos, sequestros, tráfico de drogas, prostituição e mortes. E quando fui vê-lo num domingo de visitação, ele de certa forma me culpou por tudo... Que com minha saída de cena ele perdeu o rumo de sua vida e o que é pior me fez ameaças...
_ Isso é bem comum desse tipo de gente, Guto... Disse o Sogrão.
_ Agora teve um fato que realmente me deixou preocupado e que envolve o meninão aqui, desculpa, envolve o Jonas.
_ E o que meu filho tem a ver com isso? Em que foi que você o envolveu, rapaz? O Sogrão engrossou o tom de voz levantando da poltrona e quando voltou da cozinha trazia na mãos uma lata de cerveja...
_ Eu não o envolvi em nada... Eu conheci seu filho numa determinada situação e desde então a gente ta sempre procurando saber um do outro porque o que sentimos Sr. Alvaro é algo muito forte. Eu aceito a sua indignação e sua raiva... Só que não posso ser culpado por amar.
_ Pai, isso tudo foi ideia minha...
_ Isso tudo o quê? E seu olhar se voltou para seu filho...
_ Ele vir aqui falar com o Senhor e a mamãe... Pai, o Grandão ta sendo sincero e o que ele falou de nós.. Bem, é verdadeiro.
_ Filho, pelo que eu entendi e olha que eu sou muito esperto, você corre risco de morte se ficar ao lado do seu amigo...
_ E eu não me importo com isso,Pai.
_ Pois devia se importar... Esse cara que tá preso, quem é?
_ O nome dele é João Carlos Barbosa da Silva. Ele no presídio é conhecido por Boca.
_ Puta que pariu rapaz... Você já era. Se esse traficante e assassino realmente te ameaçou, você já era e meu filho vai pagar o pato sem dever nada a ninguém...
_ Pelo visto o senhor o conhece...
_ Eu mesmo o prendo umas três vezes por assalto a mão armada e uma vez por tráfico de drogas. O cara é frio, apesar de que a palavra desumano seria o melhor adjetivo em se tratando dele.
_ Eu só tenho uma pergunta a fazer... Falou D. Isaura que também havia levantado da poltrona e tinha voltado da cozinha trazendo refrigerantes para nós...
_ E qual seria meu amor? Perguntou Sr. Alvaro.
_ Você pode ou não ajudar nosso filho e seu amigo?
Nós três olhamos pra ele ao mesmo tempo e esperamos sua resposta.
_ Você disse que tinha um algo a mais que te deixou preocupado... O que seria esse algo a mais?
_ Então... No dia da visita conversamos pouco e instantes antes dele sair do salão onde havia mais familiares e detentos eu falei da morte de um amigo em comum que tínhamos e ele foi irônico quando disse que sabia da morte dele e deu a entender que tinha mandado matar nosso amigo... Marcelo de Albuquerque Novaes, que havia sido assistente da acusação no julgamento que culminou com sua prisão... E além de mim, do Jonas, ele deu a entender que mais pessoas estão numa espécie de lista...
_ Isso é tudo ou ainda vem mais coisa por aí? Perguntou meu sogro olhando diretamente em meus olhos.
_ Isso é tudo. Respondi enquanto sustentava seu olhar.
_ Você tá com medo, Guto? Perguntou D. Isaura.
_ Não por mim. Só que na cabeça do João Carlos cada um de nós tem uma parcela de culpa por ele estar na situação em que se encontra. E eu enlouqueceria se alguma coisa acontecesse ao meninão aí... E olhei meu garoto lindo como se ele fosse o meu maior tesouro.
_ Rapazes a coisa é complicada... A prisão em que ele esta é apenas um lugar para dormir. Ele por ser um chefão comanda de lá todos os negócios ilícitos em que esta envolvido e mandar matar alguém é rotina...
_ Eu tava pensando em voltar lá e tentar falar com ele novamente... Só que ele disse que nunca mais quer me ver na vida.
_ E meu primeiro conselho é justamente esse, não volte lá em hipótese alguma a menos que ele mande lhe chamar. Você acatariam uma ordem minha se eu pedisse que deixassem de se ver?
_ Claro que não pai. Meu meninão voltou a colocar a mão em meu ombro.
_ Meninão, apesar de tudo o que a gente sabe que sente, seria uma maneira de ganhar tempo, entende? falei tentando fazer com que ele pelo menos pensasse por esse prisma.
_ Isso é sério, Grandão?
_ Filho, já vi que isso não será fácil... Você tem que ser racional, rapaz. Existe um grande risco em volta de vocês. Se esse cara sonhar que o Guto ta com você ...
_ Ele já sabe. Falei olhando os pais do meu Meninão.
_ Jonas, você tá vendo em que foi se meter?
_ Mãe, não se trata disso... Nós estamos aqui pra pedir ajuda. O Guto vai dar queixa contra esse Boca e a polícia terá que tomar providências...
_ Filho me escuta... nada é tão simples como você imagina. Vocês estão correndo risco e isso é sério demais. Eu vou fazer uma investigação sobre a pessoa apesar de já o conhecer de outros carnavais. Até lá por favor evitem os lugares públicos. Vocês não podem dar chances para que esse tal Boca cumpra essa ameaça. E quanto a você fazer a denúncia sobre as ameaças Guto, não fala nada agora. Me dê uns dias para que eu apure o que puder sobre o presidiário. E quanto a sua atitude filho, confesso que faria exatamente o que você esta fazendo... Eu não ficaria longe de quem me faz bem, de quem eu amo.
Saí da casa dos pais do meu Meninão por volta das 23:00 h. Ele desceu comigo e assim que me vi sozinho com ele no carro o beijei apaixonadamente... Jonas colou em meu peito e me fez sentir amado como eu nunca me senti antes...
_ Então será assim Meninão... Você não dará nenhum passo sem que eu saiba, entendeu?
_ Então que suas palavras sirvam pra você em relação a mim, beleza?
Ele não me deixou responder pois voltou a chupar minha boca cheio de vontades. Nossos corações aceleraram na mesma proporção do tesão que sempre era despertado quando estávamos juntos.
Cheguei em casa pouco depois da meia-noite. Confesso que me senti um pouco mais leve. Quando verifiquei minhas mensagens no celular um numero desconhecido estava registrado como chamada não atendida. E fazia pouco mais de dez minutos que ela tinha sido feita.
ENQUANTO ISSO, NO PRESÍDIO...
Por volta das 20:00 h João Carlos , Bill, Chinês e mais três outros presos voltaram para suas celas e antes das mesas serem fechadas, Chinês disse:
_ Boca, já esta tudo preparado... Só falta você dar a ordem que o serviço será feito.
Boca fuzilou Chinês com o olhar...
_ O que você tem que ordenar, João? Perguntou Bill.
_ Nada demais, garoto lindo. Não se preocupa com minhas coisas, beleza?
_ Posso falar com você, sozinho?
João Carlos olhou pro Chinês e os outros e com um aceno de cabeça os mandou sair da frete da cela...
_ O que você quer falar, garoto?
_ Você sabe que no máximo em dez dias eu tô saindo daqui. Já pensou se eu tivesse alguém lá fora e se essa pessoa soubesse que me apaixonei por você enquanto estive preso aqui e decidisse me matar... Você acharia justo que eu morresse? Seria justo eu morrer por amar você?
_ Onde você tá querendo chegar, garoto?
_ Eu sei que você é um cara incrível e que por baixo dessa fachada que você usa aqui, e eu juro que te entendo, eu sei que você pode parar com o que quer que esteja em andamento. Você nunca me falou daquele cara que veio te visitar naquele domingo... Eu ouvi você e o Chinês conversado num dia que adormeci aqui na tua cela e ele veio te falar sobre as paradas fora do muro... Só que eu não tava dormindo e ouvi você dizer que queria que a vaca mãe do playboy morresse. E que depois dela seria a vez do juiz que te condenou e depois um garoto que namorava o cara que você amava.
Boca começou a fechar as mão e Bill não fez nada para que a possível violência não ocorresse...
_ Eu sei que foi você que mandou alguém matar o tal Advogado que um dia foi teu amigo. João, o que eles fizeram pra que você de repente se tornasse um vingador? Para com isso, você pode parar...
Boca estava em cima do garoto novamente com os punhos fechados e com um olhar maligno.
_ Eu sei que você vai me bater ou me matar... E você sabe que se fizer isso a gente não vai poder ter um futuro. Eu não tenho medo de morrer... Eu só queria poder vir aqui no dia que você fosse sair e te levar pra casa, minha casa... É bobagem isso? Que seja, mais é o que eu gostaria que acontecesse...
Ele desceu os braços e abriu as mãos. Bill tinha algum poder sobre ele porque ele o abraçou e o estreitou o mais que pôde em seu peito. O garoto retribuiu o abraço e se manteve em seus braços até que o corpo de João terminasse de tremer... Ele com certeza chorava.
_ Eu odeio todos eles... Eu odeio, porra. O Guto me deixou aqui... Ele praticamente me condenou a viver esse inferno... Ah, meu Deus... Aaahhhhhhhhhhhh...
Bil o segurou mais fortemente ainda e lentamente foi empurrando o cara mais temido do lugar para sua cama onde ele o fez se deitar e ficou com ele deitado em seu colo até que foi mandado ir pra sua cela...
Pela primeira vez em alguns anos, João Carlos dormiu um sono tranquilo tendo por lembrança final antes de apagar, o belo rosto de Bill a lhe sorrir.
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Meus queridos e queridas... Obrigadão pelos comentários e mais ainda por me fazerem sentir cercado de amigos... Um grande abraço a todos... Nando Mota.
