... - eu te proibi de encontra-lo. Por que ele está aqui? – ela estava mais brava que o normal e parecia realmente perigosa...
- Calma Chris – Tomás ficou na minha frente e eu recuei até a pia – Ele estava machucado e eu ajudei ele.
Eu não estava machucado e isso me fez sentir que Tomás estava se arriscando por mim. Mas eu não podia deixar que ele fosse descoberto mentindo assim. Peguei a faca na pia e cortei meu braço em um corte profundo. Segurei um gemido e o sangue escorreu.
- E o que me importa que ele tenha se machucado, que morra – ela disse para mim – Aliás, me deixa ver esse machucado.
Tomás ia abrindo a boca.
- Acontece que ele... - ele começou.
- Tá aqui Chris – interrompi Tomás e entrei em sua frente mostrando o meu braço escorrendo sangue para ela ver. Senti a surpresa de Tomás, mesmo sem ver seu rosto. Ele pousou sua mão nas minhas costas eu um tom de “obrigado”.
- Nossa tudo isso? Estou impressionada mesmo. É um viado doente mesmo.
- Não fala assim dele.
- Vai ficar defendendo ele agora? O que foi que essa coisa fez para você? Maquiou-se com quilos de maquiagem especial e te fez um boquete? Qual é Tom!
Abaixei minha cabeça, estava com o peso da vergonha nas costas. Tom deslizou as mãos pela minha costa, tentando me acalmar, mas eu estava cheio de ficar ali e ouvi aquelas provocações. Andei em direção a ela e passei por ela, sumindo no corredor adentro.
- Espera Dan! – Tomás gritou.
- Você não vai sair daqui de jeito nenhum – disse Chris a ele.
Ótimo, pensei. Assim ele não vai poder me convencer a ficar. Peguei minha moto e fui pra casa. Senti que Bruno me seguia alguns metros atrás e nem me importei em desviar o caminho. Só fui para casa. Chegando lá, vi que o carro de Ali não estava na garagem. Ela tinha saído. A moto de Bruno parou atrás da minha. Descemos os dois ao mesmo tempo.
Ele veio ao meu encontro e me segurou pela cintura, prendendo meu corpo ao dele e tentou aproximar nossos rostos, mas eu barrei seu peito e virei o rosto. Ele percebeu que estava acontecendo algo e me perguntou. Eu preferi não responder e ele perguntou se ele poderia entrar na minha casa. Eu estava meio abalado e ele estava tão carinhoso que eu cedi. Abri a casa pra ele e deixei que ele entrasse.
Ele foi se sentando no sofá e ficou olhando todos os cantos da casa: foi ai que percebi que cometi um erro em tê-lo deixado entrar. Eu estava paralisado, mas por algum motivo estava feliz por ele estar ali. Olhei meu braço que estava sujo de sangue e me lembrei que tinha que limpar aquilo. Fui até a pia.
- Sua casa é bonita... – ele disse.
- Obrigado.
- Onde estão seus pais? – essa pergunta me preocupou um pouco. Abri a torneira e molhei o braço.
- Eles estão... – não prossegui com a resposta porque algo no meu braço me chamou a atenção. Ou melhor, algo que deveria estar no meu braço me chamou atenção. O corte que tinha feito alguns minutos antes tinha se fechado e no seu lugar estava uma faixa de pele mais clara que o normal. Como fica a pele quando cicatriza.
- Eles estão...? – ele insistiu.
- Estão fora da cidade. Trabalham em outra cidade – eu estava tentando entender aquilo.
- Nossa... E sua irmã?
- Saiu, eu acho... Espera! Como sabe que tenho uma irmã?
Ele me olhou friamente como um assassino. Mas abriu um sorriso que me desarmou.
- Sei muito sobre você – tinha um toque de ironia em sua voz.
- E eu não sei nada sobre você. Por que não me conta sobre sua vida? – disse eu me sentando ao seu lado no sofá.
- Você quer mesmo saber?
- Se você vai ser meu amigo preciso saber um mínimo de informações sobre você.
- Vou ser mais que seu amigo – devo ter ficado vermelho – Por que não passa esse fim de semana comigo? Eu posso lhe contar sobre mim.
- Não sei...
- Está com medo de passar alguns dias comigo? – ele se aproximou de mim e, mais uma vez, eu recuei.
- Onde é?
- Alguns quilômetros daqui. Em um sítio meu. Você topa?
- Tenho que pensar...
- Pra que pensar? Vamos agora mesmo. Eu tenho roupas lá.
- Mas eu tenho que arrumar as coisas aqui e também tenho que arrumar algumas roupas para levar...
- Você não vai precisar de roupas – meu Deus!
- Não sou nada seu, então pare com isso!
- Tudo bem, mas vamos logo. Quero ir agora, com você.
Pensei um pouco e deixei escapar o ar pelo nariz.
- Tudo bem. Deixa só eu fazer uma coisa antes.
Levantei-me e subi para meu quarto. Arrumei uma mala pequena com algumas roupas (é claro que não iria sem levar roupas) e alguns produtos de higiene. Depois escrevi um bilhete breve avisando Alicia sobre a viagem.
“Estou indo para um sítio do meu amigo Bruno. AMIGO. Não se preocupe e faça as coisas direito viu. Tome cuidado e qualquer coisa, caso o Vitor não possa ir em casa, ligue para Tomás ok? Um beijo.”
Desci e ele estava de pé no meio da cozinha. Quando ele me viu, levantou as sobrancelhas e desceu os ombros.
- Não disse que não precisava levar roupa?
- E você acha que eu confio tanto assim em você?
Nós rimos. Saímos e fechei a casa. Guardei a moto e subi na moto dele. Ele correu muito rápido e pediu para que eu me segurasse nele, mas eu recusei. Estava indo para um sítio com um “amigo”. Só nós dois por alguns dias. Eu estava enlouquecendo.
Continua...