Acordei algumas vezes na madrugada pra me livrar dos braços de Carlos enrolados em mim. Ok, era fofo que ele era afim de mim, mas já estava indo meio que longe demais. Não iria rolar nada entre a gente, por mais que eu quisesse algumas vezes. Carlos é um dos melhores caras que eu conheço, merece alguém melhor.
Quando amanheceu me levantei antes dele e fui correr em volta do quarteirão. Faço isso quando estou estressado ou querendo esquecer algumas coisas. Carlos ainda estava dormindo, então, completei a volta no bairro pela segunda vez e encontrei Christopher sentado nos degraus da minha casa.
Ah, não.
- Oi. Falei ofegante enquanto em aproximava dele.
Ele se levantou, já andando de volta para seu carro.
- Vem. Vou te levar para tomar um café decente.
Parei.
- Não posso, Carlos ainda está dormindo lá em cima. Respondi.
Ok, eu podia jurar por um segundo ele fechou a cara parecendo com raiva, mas então sua expressão ficou normal.
- Ele ainda tá dormindo aqui?
- Tá. - Foi só o que eu falei. - Te vejo depois. Eu disse já indo para dentro de casa.
- Não vai me convidar para entrar? Que tipo de irmão é você? Ele fez aquela cara sinica de ofendido e eu comecei a rir. Esse garoto tinha mesmo que entrar na minha vida. Quando ele subiu os degraus até mim, eu até mesmo lhe abracei. Confesso que quando me chamou de irmão eu senti um alívio imenso. Chega de garotos pra mim... Pelo menos por enquanto porque não sou de ferro.
Um Carlos sonolento, com a cara amassada e de cueca andava confuso pela sala quando entramos. O fato de eu querer agarrar ele bem ali me fazia um cretino? Talvez. Quando viu quem estava comigo não ficou nada feliz. O que tem de errado com esses caras?
- O que ele tá fazendo aqui tão cedo? Perguntou ele mau humorado.
- Ele é meu irmão ue, veio me ver.
- Não podia esperar você acordar não? Rebateu ele diretamente para Christopher.
- Quem estava dormindo era você. Christopher respondeu.
- Ok, se já acabou a recepção calorosa, vamos comer alguma coisa.
Peguei meu celular na mesinha de centro, havia várias mensagens de Lisa e algumas ligações. Alguma coisa havia acontecido.
Liguei para ela. Lisa atendeu no terceiro toque.
- Oi, tá tudo bem? Perguntei.
- Não! Preciso de você, tipo agora! Em quanto tempo consegue chegar aqui? Ela parecia muito nervosa.
- To indo.
Me virei para os garotos, olhei primeiro para Carlos.
- Os armários estão cheios de comida, pegue o que quiser e sinta se a vontade... Só não demais porque minha mãe vai chegar alguma hora e te ver pelado não deve ser o que ela tem em mente. - Rindo, me virei para Christopher. - Você, vem comigo.
- Vai sair com ele?
- Aonde vamos?
Os dois falaram ao mesmo tempo.
- Lisa precisa de mim. Agora. Antes de começar qualquer discussão já sai de casa correndo. Christopher me seguiu, rindo. Que ordinário.
Entramos no carro.
- Sem sorrisinho Chris, é só uma carona. Falei.
A última coisa que vi foi um Carlos meio triste me olhando pela janela.
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Christopher
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Paramos em um sinal vermelho pela segunda vez, e Gabriel suspirou. Estávamos em silêncio desde que deixamos o amiguinho idiota dele sozinho. Ele não estava emburrado, mas também não falou nada. Ele gostava daquele menino por acaso?
- O que tá pegando? Perguntei sem querer parecer desesperado, apertei bem o volante.
- Minha amiga precisa de mim. Ele respondeu pensativo.
- To falando com o ROMEU de cueca na sua sala. Eu disse, tentando conter minha irritação.
Não sabia o que tinha de errado comigo, eu nunca havia bancado o namorado ciumento, ainda mais quando nem namorado eu era. Não era nada... Quer dizer, tinha essa parada de meio-irmão.
- Somos amigos.
O sinal mudou, e nos seguimos.
- Ah corta essa, vocês ficaram em um motel no fim de semana e ele ainda tá dormindo na sua casa. Porque não quer me contar? Falei sem pensar.
- Contar o que? Chris acorda, não tá rolando nada e nem vai. Ele disse parecendo meio chateado, o que automaticamente me deixou meio bolado. Irritar ele era normal, eu até gostava, vê-lo meio pra baixo fazia com que eu me sentisse igual.
- Você tá legal? Perguntei.
- Não. Nesses últimos dias eu meio que percebi que eu sou um pé no saco na vida de quase todo mundo. Sua voz sumiu no fim da frase, e eu tremi com a possibilidade dele chorar. Puta merda, eu gostava desse garoto!
- Na minha não é não. - Respondi tentando olhar nos olhos dele, mas ele observava a rua. - Tem haver com aquele cara?
Gabriel fungou, limpando uma lágrima. Por Deus, eu senti uma dor no peito quando vi aquilo.
- Não... Quer dizer, acho que ele meio que gosta de mim, mas não vai rolar nada. Eu não mereço ficar com um menino com ele.
Eu tive que rir.
- Sem essa, o que ele tem de tão especial assim? Falei, sentindo meu rosto ficar vermelho.
- Ele é um cara legal, e eu não sou. Trai meu namorado que era ótimo, fugi de um fim de semana com meu pai e tomei todas numa festa e flertei com um cara nada a vê.
- Todo mundo pisa na bola as vezes, normal.
- Eu pareço fazer mais que todo mundo.
Voltamos a ficar em silêncio.
Não entendi muito bem o que ele disse. Gabriel era perfeito para mim, um garoto do bem, que não ligava se estavam ou não prestando atenção, sempre dizia o que pensava e tinha um a bunda... Hum! Parei, antes de ter uma ereção bem ali.
Me foquei no que eu tinha prestado atenção.
- Não entendi a parte da festa e do flerte.
Ele deu aquela risadinha gostosa que só ele tem.
- Só queria te deixar com inveja porque fui em uma festa enquanto você pescava.
Nos dois caímos no riso.
- É aquele casarão verde ali. Ele apontou e eu encostei o carro na entrada. Para minha supresa, Gabriel tirou o cinto, e se inclinou sobre mim, apoiando a cabeça no meu ombro.
- Se for para eu ter mesmo um irmão. Fico feliz que seja você. Ele disse.
O que foi bom e ruim de se ouvir. Não queria ser só irmão, mas já que ele gostava de mim, já valeu de alguma coisa. Acariciei sua cabeça.
- Eu também.
E então ele saiu.
*****
Gabriel
*****
- Preciso muito ne decidir... Preto ou Rosa? Perguntou Lisa balançando dois vestidos na minha cara.
Respirei fundo e andei até sua cama.
- Me diga que não fez correr até aqui para te ajudar a escolher um vestido...? Falei caindo na cama.
Lisa deu uma risadinha boba.
- Você é meu melhor amigo, existe pra isso. Além do mais, também precisa saber o que vai vestir amanha.
Ela se virou para o grande espelho e voltou a balançar os vestidos.
- O que tem amanha? Perguntei me sentando.
- O jantar anual dos Meus pais, você super tem que estar aqui. Preciso do apoio moral e também quero conhecer quem vai ser seu novo flerte.
Porque lisa não podia aceitar que eu queria ficar sozinho? Ok, não parecia ser verdade nem dentro dos meus próprios pensamentos.
- Não tenho ninguém, seremos só nos dois, como nos velhos tempos.
Ela se virou para mim, tirando uma mecha longa e lisa de seu cabelo castanho do rosto e fez beicinho. Sim, eu sabia exatamente o que aquilo quer dizer.
- Quem você convidou?
- Surpresa. Quem você vai chamar?
Dei de ombros e tentei esquivar do assunto. Ninguém iria querer sair comigo, ninguém que me conhecesse pelo menos. Ficamos até mais tarde conversando e comendo besteiras e a noite peguei um taxi e voltei para casa. Encontrei Carlos na porta, saindo com sua mochila nas costas. Ele não sorriu ao me ver.
- Oi. Falei todo simpático.
- TCHAUL. Ele respondeu frio.
- Ta com raiva de mim? Perguntei, mas ele não respondeu e continuou andando. Corri alguns passos e segurei seu braço. Outra coisa que eu fiz, deixei aquilo ir longe demais.
- Não entendo você. - ele praticamente gritou se virando para mim. - Num minuto estamos flertando, no outro você quase beija um desconhecido na festa, e aí dormimos juntos, e quando voltamos você larga tudo para ficar com aquele seu irmão.
Fiquei em silêncio por um minuto. Olhando por esse lado, eu parecia um safado, tirando casquinha de todos em volta e não pegando nenhum realmente.
- Você gosta de mim? Perguntou Carlos me tirando de meus pensamentos.
Segurei firme o ar dentro de meus pulmões.
- Não, desculpe. Para mim você é como um irmão. Falei, era meio verdade, meio que não era.
Carlos era um garoto ótimo e muito bonito, seria maravilhoso ficar com ele. Mas ele merecia coisa melhor e por mim tudo bem.
Ele me olhava com uma mistura de raiva, decepção, tristeza e algo mais... Magoa?
- Você já tem um irmão.
- Eu sei, olha, por que não esquecemos isso e vamos...
Ele esticou o braço, me silenciando.
- Isso mesmo, esquece isso, aproveita e esquece de mim também. E então ele saiu, me deixando triste por perder um amigo, e feliz por poupar um coração... Ou mais ou menos.