CONFISSÕES DE UMA GUEIXA

Um conto erótico de Ehros Tomasini
Categoria: Heterossexual
Contém 2449 palavras
Data: 03/07/2015 07:40:35
Assuntos: Anal, Heterossexual, Oral

PROSTITUIÇÃO MODERNA – Parte 05

Acordei ouvindo suaves acordes de um instrumento de cordas. O som harmônico vinha de uma espécie de viola oriental, parecida com um banjo, tocada pelas mãos delicadas da coroa maravilhosa com quem eu tinha passado a noite. Aliás, desde que eu me casara, nunca havia passado uma noite fora de casa. Mas não estava nem um pouco preocupado com isso. Minha esposa deve ter satisfeito seus desejos sexuais com a mocinha Carmelita, sua prima, e nem deve ter dado pela minha falta. Melhor assim. Não estava a fim de dar alguma desculpa esfarrapada.

Abri os olhos com um sorriso nos lábios, e lá estava minha amante nua, sentada com as pernas cruzadas ao meu lado, embalando meu sono com aquela música divina. Ergui-me um pouco e beijei-a suavemente nos lábios, sussurrando ao seu ouvido um bom dia. Ela deixou o instrumento de lado e deslizou a boca pelo meu pescoço, descendo pelo meu tórax e finalmente alcançando o meu sexo, que já estava ereto antes mesmo de eu despertar. Massageou meu falo com a boca, quase sem tocá-lo, dando-me uma sensação deliciosa. Colocou um dedo em meus lábios e massageou meus dentes inferiores, antes de penetrar com ele minha boca. Depois tornou a abocanhar meu cacete e, à medida que o enfiava até a goela, também adentrava com o dedo a minha boca, quase me fazendo engasgar. Mas aos poucos fui percebendo sua intenção e passei a imitar seus movimentos no meu pênis, repetindo-os no seu dedo. Houve um momento em que parecia que eu estivesse chupando meu próprio falo, pois cada lambida que eu dava em seu dedo era repetida exatamente igual no meu sexo. Fui aumentando os movimentos, e agora era ela quem me imitava. Era uma sensação incrível. E quando eu tocava com minhas mãos o seu dedinho em minha boca, ela dava o mesmo toque com suas mãos em meu pau, aumentando a impressão de que eu estava me masturbando. Até que eu finalmente gozei demoradamente. Ela continuou massageando com as duas mãos meu pênis e meu saco, além de algumas partes entre as coxas, e eu senti um torpor maravilhoso. Uma sensação de relaxamento como nunca antes havia sentido. Adormeci novamente.

Mas parece que foi apenas um rápido cochilo, o tempo calculado de ela me preparar um chá revigorante e me trazer na cama, numa pequena bandeja de madeira em estilo japonês, combinando com o quimono de seda branca que agora vestia. Serviu-me o chá num tacho de louça, à moda oriental, e esperou que eu comentasse o sabor. Estava maravilhoso, apesar de muito quente. Perguntei-lhe qual era o segredo daquele sabor e ela respondeu que estava na fervura da água. O legítimo chá tão cultuado no Japão passa por três fervuras: uma até que a água comece a soltar borbulhas grandes e intermitentes; deixa-se ela mornar e ferve-se outra vez, até que a água solte por uns instantes apenas pequenas borbulhas quando ferve. Depois de deixar a água mais uma vez em descanso, até perder seu calor, ferve-se uma última vez e ela já não solta borbulhas. Ferve serena, apenas emanando uma tênue fumaça. Então, é o momento de preparar a infusão, colocando as ervas dentro e tapando o bule, também de louça, por alguns minutos. A água fervida ao extremo, livre das impurezas, absorve melhor o sabor do que lhe for misturado.

Era um chá deveras revigorante. Num instante, eu estava pronto para tomar meu banho e ir trabalhar. Quis lhe devolver o carinho matinal, mas ela disse que naquela manhã o privilégio seria meu. Toquei seus lábios com os meus, em sinal de agradecimento, e fui me banhar. Ao sair do banho, ajudou-me a vestir o mesmo terno que eu havia saído com ela na noite anterior. Eu precisava deixar algumas roupas de trabalho no apartamento. Ainda não havia me preparado para dormir fora de casa, e não seria inteligente passar em minha residência para trocar as vestes. Enquanto eu me penteava e perfumava, ela sumiu de minha vista. Quando eu já estava indo embora, vi-a me esperando perto da porta de saída, vestida com outra indumentária típica japonesa, como se fosse uma roupa de cerimônia de despedida do marido pela manhã, por conta da sua ida ao trabalho. Sorri divertido e fiquei encantado com todo aquele cuidado que ela demonstrava para comigo.

Quando cheguei à imobiliária, todos estranharam eu estar de terno e gravata. Dei a desculpa de que iria fazer uma visita a um cliente muito importante, e queria estar vestido a caráter. Acho que acreditaram. Passei direto para a minha sala, sem perceber que um nissei me aguardava na área de espera. Anunciaram a sua presença e eu pedi que ele viesse até o meu escritório. O cara entrou agoniado, falando em japonês, fazendo várias reverências à moda oriental. Imitei-o nas reverências e pedi que ele se acalmasse e falasse em português. Percebi que ele tinha meu laptop nas mãos, o que fora levado para conserto. Ele pareceu estupefato quando percebeu que eu não entendia o seu idioma. Olhou-me realmente surpreso por um momento e voltou a fazer as reverências com mais fervor, findando por se ajoelhar no chão, encostando as palmas da mão no solo e baixando a cabeça até quase tocar o carpete. Pedia-me desculpas pelo transtorno de ter tido problemas com o programa de vigilância, e mais desculpas ainda por não saberem que eu era uma pessoa tão importante. Perguntei que história era aquela de eu ser tão importante. Pediu-me licença, ligou meu laptop e depois abriu o programa de vigilância. Baixou um arquivo e eu apareci sendo mimado pela coroa amante do meu amigo, dono da agência de automóveis. Porra, eu havia me esquecido das câmeras instaladas no meu apartamento, e agora quem tinha sido flagrado na gandaia fui eu.

Mesmo sem eu perguntar, ele disse que era preciso ser uma pessoa poderosa para ter os cuidados de uma mulher daquele calibre. Achei que ele se referia à sua beleza, mas o cara parecia estar falando de outra coisa. Eu fingi que havia entendido a que ele se referia e mudei de assunto, perguntando se tinham consertado a falha do programa e se haviam visto toda a gravação. Ele respondeu que o primeiro dia gravado tinha ficado inutilizado, mas a sua honra oriental não lhe permitia ficar espionando seus clientes, principalmente alguém tão honorável como eu. Que eu não me preocupasse, pois ninguém além dele tomara conhecimento daquelas imagens. Mesmo ele, ficou vendo as cenas apenas até reconhecer a mulher. Pediu-me mais uma vez sinceras desculpas pelo incômodo e assegurou que eu não precisaria pagar nada pelo equipamento nem pelos serviços da empresa. Eles, sim, é que estavam gratos por servir uma pessoa de tamanha importância. Depois se despediu com novas reverências, me deixando intrigado com aquela história.

Passei o dia todo pensando naquilo e cheguei á conclusão de que não era eu a pessoa a quem ele se referia como importante, e sim a coroa que aparecia na “fita”. Resolvi não dormir novamente em casa, curioso de saber quem era realmente a mulher que se hospedava em meu apartamento. Quando girei a chave na porta, ela já me esperava do outro lado vestida em uma nova indumentária oriental, como se fosse a de esperar a chegada do marido do trabalho. Perguntou-me suavemente como fora o meu dia e foi tirando minha roupa, dobrando-a com o mesmo esmero de antes. Fui direto ao assunto, perguntando quem realmente ela era. Ela ficou surpresa, fitando-me diretamente nos olhos, depois baixou a cabeça com uma expressão triste no rosto. Então, confessou-me ser uma gueixa...

Eu já tinha ouvido falar de gueixas, mas não sabia exatamente o que era. E nunca havia tido conhecimento de alguma que não fosse oriental. Perguntei-lhe se era uma espécie de prostituta de luxo. Ela sorriu tristemente e calou, me pegando pela mão e me levando em direção ao banheiro. Já havia amornado a água e colocado umas essências dentro da banheira, esperando por mim. Deu-me um banho gostoso, esfregando-me o corpo todo, menos o sexo. Uma lágrima escorria pelo seu rosto e ela permanecia em silêncio. Perguntou-me depois se eu queria comer algo, e eu respondi que queria ouvir suas explicações antes. Então ela puxou um banquinho e sentou-se ao lado da banheira, segurando aquele estranho instrumento de cordas parecido com um banjo. Tocou uns acordes tristes e só depois começou a falar, ainda tendo a lágrima escorrendo pela face:

- Sim, eu sou uma gueixa. Mas uma gueixa não é uma prostituta. Pode sim, ter sexo com o seu cliente, mas só se for do agrado dela. As gueixas estão em extinção. Antes, havia mais deem todo o Japão. Hoje, não passam de duas mil profissionais. Só quem não conhece a cultura japonesa confunde a gueixa com uma profissional do sexo. Uma gueixa é uma artista polivalente, que desde a infância é treinada nas artes do entretenimento. É, principalmente, educada para ser uma mulher perfeita, que agrade qualquer tipo de homem, e que o deixe satisfeito em desfrutar de sua companhia. Mas eu sou essencialmente uma artista. Eu canto, danço, costuro muito bem, declamo de forma impecável qualquer monólogo teatral, toco mais de cem instrumentos musicais com perfeição, conheço a história antiga de quase todos os países e falo mais de vinte idiomas com os seus devidos sotaques. Sou capaz de discorrer sobre qualquer assunto, pois leio muito e estou constantemente em novo aprendizado. Sou principalmente contratada para solucionar problemas mais complexos de empresas, pois me especializei em gestão administrativa empresarial e sou expert em economia mundial. Rodo o mundo todo evitando empresas irem à falência, ou sou chamada quando a economia de determinado país está em risco. Mas nem o meu telefone, nem endereço, está publicado em nenhum site ou jornal. Sou conhecida apenas por um pequeno grupo de pessoas especiais, que me indicam a outras que estão com problemas nas finanças de suas empresas.

Contou-me também que, quando ainda menina, perdeu os pais num acidente de avião. Os tios, ávidos por dinheiro, surrupiaram toda a sua herança e a entregaram a um orfanato. Por sua vez, o orfanato a usava para angariar fundos fazendo-a pedir esmolas ou vender flores em porta de hotéis de luxo. Um dia, estava a oferecer as tais flores quando um hóspede japonês prestou atenção nela. Ele tinha uns trinta anos e ela apenas dez. Ele acabara de herdar o conglomerado de empresas da sua família, no Japão, e viera passar uns tempos no Brasil pensando em instalar uma fábrica de eletrodomésticos aqui. Viu além do que uma simples pedinte naquela menininha e levou-a para um restaurante. Exigiu que lhe servissem tudo o que ela quisesse e pediu que ela lhe contasse a sua própria história. Ouviu-a sem interromper nem por uma vez. No final, perguntou se ela queria casar com ele. Surpresa, disse que sim. Achara interessante aquele homem de olhos puxados e fala diferente. E viu em seus olhos que era uma pergunta sincera.

Ele levou-a para o Japão e a entregou a uma escola de gueixas, onde passou mais de dez anos estudando arduamente. Os testes eram muito mais difíceis e os ensinamentos eram mais puxados para quem não fosse oriental. Ela teve que estudar primeiro a filosofia e psicologia japonesa para depois entrar no curso de gueixa propriamente dito. Deram-lhe o nome de Mariko, quando finalmente estava preparada para ser uma gueixa. Depois de anos a fio estudando, era uma artista completa. Shoburo, seu benfeitor, a visitava apenas uma vez por ano, mas acompanhava seu progresso à distância. Quando, enfim, chegou o dia de ele vir buscá-la, não acreditava que ele tinha falado sério quando a pediu em casamento ainda menina. Casaram-se numa cerimônia tradicional japonesa e vieram viver no Brasil, pois ele já havia fundado a fábrica aqui e prosperara bastante. Ela o fazia muito feliz empregando seus conhecimentos de gueixa e ele a apresentava com orgulho aos amigos empresários. Todos o invejavam e cobiçavam a jovem esposa, tão diferente de suas companheiras. Até que um dia o irmão mais novo do empresário veio visitá-lo e se apaixonou por Mariko. Em circunstâncias misteriosas, Shoburo foi encontrado morto. A polícia concluiu o caso afirmando que o marido havia sido morto pela máfia japonesa. Nesse ínterim, o irmão de Shoburo a requisitou como propriedade dele, já que herdara agora o patrimônio da família. Viveu maritalmente com o cunhado até que teve a certeza de que ele havia ordenado a morte do próprio irmão. Matou-o misturando veneno ao chá que ele apreciava e teve que fugir do Japão para não ser capturada pela polícia nem pelos integrantes da máfia.

Mariko contou-me ainda que quem a ajudou a fugir do Japão foi o meu amigo, dono da agência de automóveis, que já na época conhecia Shoburo e fazia negócios com ele. Apesar de casado, era um dos amigos do seu marido que também a cobiçava. Sem acesso à fortuna do falecido esposo, Mariko teve de usar seus dotes de consultora empresarial para sobreviver. Meu amigo passou a fazer os contatos com empresários quase falidos. Ela reergueu suas empresas e foi muito bem paga para isso. Em troca, sempre acompanhava meu amigo em suas viagens de negócios e se tornava sua amante. Até que me conheceu.

Ela parou de falar de si e começou a dedilhar as cordas do instrumento e cantar com uma voz afinadíssima uma música triste, em japonês. Eu não entendia a letra, mas era um lamento tão tristonho que me veio lágrimas aos olhos. Ela continuou repetindo a mesma melodia, várias vezes seguidas, até que me deu uma sonolência danada. Relaxei na água já fria da banheira e peguei no sono. Quando acordei, era madrugada. Levantei-me da banheira tremendo de frio. Enxuguei-me rapidamente e me meti num roupão que ela havia tirado do meu guarda-roupa e deixado pendurado perto de mim. Então, fui para o quarto, procurá-la. Ela não estava lá. Procurei-a por todo o apartamento e nem sinal dela. Também não havia mais nenhum pertence dela dentro dos aposentos. Ela havia partido enquanto eu cochilava. Só então vi um envelope deixado sob o travesseiro. Abri-o com as mãos trêmulas, pois já esperando o pior.

Num breve bilhete, ela dizia ter se apaixonado por mim por causa do meu jeito simples de ser, e principalmente por eu não saber nada sobre ela. Ao conhecer sua história, eu deixara de ser digno dela, já que só quem tem bom conhecimento da cultura nipônica sabe dar o devido valor a uma gueixa. E uma gueixa era uma artista. E como tal, prezava o mistério em torno de si e, principalmente, a própria liberdade.

FIM DA QUINTA PARTE

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 0 estrelas.
Incentive Ehros Tomasini a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Foto de perfil genérica

Longo, bem escrito, , emocionante, erótico, envolvente, detalhado... resumindo: um conto raro de se ler por aqui. Aliás, um dos melhores que já li até hoje. Parabéns e muito obrigado, Ehros.

0 0