E Alex veio me empurrando, como que brincando, quando caímos no tapete. Olhei aqueles olhos verdes e não resisti.
O beijo estava delicioso e tudo foi muito rápido, ainda que perfeito.
Acordei horas depois e ao olhar pro lado percebi: estávamos nus. Eu tinha transado com meu melhor amigo hétero. E agora?
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Não sabia o que fazer. Levantei da cama com o máximo de cuidado para não acorda-lo. Não tinha reação. Fui pra sala e andava de um lado pro outro sem conseguir organizar um pensamento. Em flashes, lembrava da gente chegando bêbado e o beijo acontecendo. Se em anos de amizade nada havia acontecido, por que logo agora? Não fazia sentido.
Tá certo que sempre tive certa atração por ele, mas agora me martirizava por ter deixado as coisas acontecerem desse jeito, possivelmente estragando tudo! Despertei dos pensamentos tristes quando o vi saindo de cueca do quarto, com uma expressão confusa. Estava me preparando pro clima ficar horrível, mas teve uma surpresa.
- Você pode me explicar o que aconteceu?
- Como assim, Alex?
- Nossa. Tô destruído. Bebemos pra caramba e eu não lembro de nada.
- Nada, nada?
- Lembro que você tava bem soltinho naquela boate enquanto eu bebia igual doido. Por que você me trouxe pra cá?
- Sei lá. Acho que eu não tava afim de dirigir até sua casa.
- Seria melhor ter pego um taxi, Lucas.
Eu não sabia como agir. Ficava pensando se puxava uma DR ou deixava pra lá. A segunda opção me pareceu mais sensata.
- Eu preciso ir pra casa.
- É... Calma. Vamos tomar café.
- Tá, vamos.
Começamos a comer na cozinha em silêncio. Era notório que havia muita coisa a ser dita, mas também muita coisa em jogo.
- Lucas, vamos parar com essa palhaçada agora. O que rolou ontem?
- É... O que... Rolou? Então...
- Acho melhor você falar logo. Não vou me lembrar e já me esforcei bastante. Saímos pra beber e no outro dia acordo pelado na sua casa, dormimos juntos. O que rolou?
- Você jura que não lembra, Alex?
- Eu suspeito.
- Você sabe muito bem o que aconteceu. Eu só não queria que nada mudasse...
- Isso não devia ter acontecido. Sabe que eu tenho namorada. Aliás, o pior nem é isso. Nós somos amigos, somos sócios. Isso foi um erro.
- Eu sei, Alex.
- Sabe? Como sabe?
Nesse momento ele já havia se levantado da cadeira e esbravejava enquanto eu tentava manter a calma. Havia inversão completa de papeis. O tímido e comedido agora se mostrava agressivo e escandaloso. Eu, sempre intempestivo e barulhento, agora me calava pensando em onde isso tudo ia chegar.
- Você não devia ter feito isso comigo. Jogando nossa amizade toda no lixo porque queria alguém pra transar?
- Espera, Alex. O que você tá falando? Não exagera.
- Exagero foi o que aconteceu. Você me usou...
- Para com essa palhaçada.
Nessa hora não aguentei!
- Eu não fiz nada sozinho. Que papo é esse? Tá parecendo que eu planejei tudo isso e abusei de um bêbado. Esforça mais e vai lembrar do que aconteceu de fato. Quem tá jogando nossa amizade no lixo é você com esse papo idiota.
- Eu não sou viado, você sabe. Você se aproveitou da bebida e...
- Que merda de amizade é essa? É desse tipo de amizade que você tá falando? Se for assim, eu não preciso disso. Vai embora, Alex. Você tá de cabeça quente.
- Você quer fingir que nada aconteceu?
- Eu quero fingir que não ouvi nada do que você disse.
Fui até a porta e a abri. Esperava que ele fosse embora. Esperava que as lembranças daquela noite também fossem.
Queria só me deitar e quando me levantasse pra ir pro restaurante tudo estaria como era antes.
- A gente ainda vai ter que falar disso. Aliás, nem sei se eu quero voltar a falar com você.
Era tudo que eu não precisava ouvir. Voltei pra cama e chorei. Não tenho vergonha de admitir que estava com medo de perder meu amigo. Que merda eu fiz! Aliás, que merda nós fizemos. Nessa confusão toda nem havia parado pra pensar no quão bom tinha sido aquela noite, ainda que o acordar demonstrou-se catastrófico. Sim, tinha adorado aquela noite. Senti Alex me abraçando, me beijando, mordendo, lambendo... Era o que sonhava há anos, precisava admitir isso pra mim mesmo. Nisso, acabei chorando mais. Será que havia me aproveitado dele, como me acusava? Talvez sim.
Que idiota eu sou.
Em meio ao choro, dormi. Acordei diversas vezes durante o dia, mas só me levantava pra comer e ir ao banheiro. Minha aparência estava horrível. Ressaca física + ressaca moral não tinha como resultar em algo bom.
O celular despertou.
18:00
Era hora de ir trabalhar.
Tentei me arrumar, olhei o celular e nenhuma mensagem dele, de ninguém. Não tinha cabeça pra dirigir e acabei indo de ônibus pro restaurante. Ao entrar, Alex sozinho na cozinha já começava a preparar os ingredientes.
- Boa noite.
Não ouvi resposta. Me troquei no banheiro e, ao retomar, os auxiliares de cozinha já haviam chegado. O restaurante abriu e trabalhamos bastante. No fim de noite, Robson, nosso garçom mais antigo da casa, surgiu na cozinha.
- Lucas, o Alex tá te esperando no escritório.
- Já vamos fechar?
- Vamos sim. Não se preocupe que eu organizo lá fora. O patrão chamou com certa urgência.
- Ok, obrigado.
Fui até o escritório que dividíamos, apesar de Alex estar utilizando o espaço com mais frequência, já que ele que lidava com as questões administrativas do restaurante. Bati na porta:
- Pediu pra me chamarem, Alex.
- Senta, Lucas.
- Estou bem de pé. Algum problema?
- Sim, claro. Mas acho que vou resolver.
- Pode falar.
- Vou vender a minha parte do restaurante. Não quero mais conviver com você aqui!
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Pessoal, muito obrigado pelas leituras e pelos comentários. É por isso que faz sentido escrever aqui. Estou no começo de uma trajetória e espero que esteja bom. Com relação ao outro conto, pretendo terminar depois, mas agora estou mais inspirado por essa ideia aqui. Estou bem com o Léo e talvez a gente possa escrever, continuar, nossa história aqui... Em breve. Espero que estejam gostando. Até mais, forte abraço!