Eu Não Queria Te Ver Nessa Guerra (parte 2, final)

Um conto erótico de Jader Scrind
Categoria: Homossexual
Contém 9190 palavras
Data: 24/07/2015 13:00:26
Assuntos: Homossexual, Gay

PARTE 2

Alinhados, soldados recém-chegados formavam pelotões no pátio do quartel desenhando quadrados verdes na calçada. Para cada pelotão, um segundo sargento, que era responsável por ensinar os códigos de guerra, manejar armas, as estratégias do país. A medida que mais e mais pelotões eram considerados preparados para a batalha eles saiam pelos portões quartel com seus sargentos para não voltarem mais: se perdessem, seus corpos seriam levados pela correnteza de um rio qualquer; se vencessem, precisariam seguir adiante até encontrar mais inimigos a serem combatidos. Por isso cada vez mais sargentos precisavam ser nomeados para ensinar os novos soldados que chegavam semanalmente e para tal, dos melhores soldados de cada pelotão o primeiro-sargento do quartel, Ivan, escolhia um que se destacasse para promove-lo logo no início, assim ele não era mandado para lutar imediatamente como os outros, mas recebia uma preparação melhor e mais tarde iria lutar sendo responsável por quarenta homens. Isso é o que havia acontecido a Ulisses cinco dias antes, enquanto corria pelos obstáculos postos no campo do quartel Ivan o observava atentamente, a maneira obstinada que se arrastava na lama, que subia os paredões de escalada, que saltava de barra em barra só com a força dos grossos braços, sem pestanejar, sem medo, sem fraqueza; aquele brilho de fogo negro nos olhos, lutava como se para salvar alguém, como se para não deixar que a guerra chegasse a alguém, como se quisesse vencê-la sozinho, explodir exércitos inimigos inteiros, matar presidentes, render primeiros-ministros, trazer a paz na ponta do rifle. E Ivan disse ao sargento responsável por Ulisses que queria aquele soldado na sua sala assim que o treinamento acabasse, e foi quando, depois de um longo discurso sobre sua bravura sua força sua determinação e todas as demais qualidades dele e que era de alguém assim que precisava, que o promoveu a segundo sargento e Ulisses saiu da sua sala já num novo posto, passou os próximos dias treinando sozinho, diferente dos soldados que vieram com ele e os viu sendo mandados a luta, mas ele ficou, semanas passavam-se e ia ganhando a admiração dos demais sargentos e inveja dos outros soldados por ser assim tão querido, tão obstinado e tão tão bonito, até que tempos depois recebeu um documento com uma lista de nomes e o aviso de que no dia seguinte um pelotão a mais chegaria e que ele seria responsável por esses homens, mas nem leu os nomes daquela lista, o que ele pensava de fato era que estava na hora de ir para além daqueles muros, onde a guerra não cessava, os inimigos que em teoria estavam com terras que eram por direito do seu país e deveriam estar regredindo venciam batalhas consecutivas e avançavam mais, mas não daqui em diante, Ulisses pensou, não quando eu sair desse lugar, porque não podem avançar mais, não podem chegar numa certa cidade esses soldados, essa guerra, numa certa floresta, numa certa pessoa. E é como chegou agora a essa manhã nublada em que ia ao encontro deles, alinhados, os soldados recém-chegados que formavam pelotões no pátio do quartel desenhando quadrados verdes na calçada e encontrava os quarenta novatos, alguns tremendo de medo, outros seguros e raivosos, dispostos perfeitamente em fileiras e colunas, e Ulisses foi até a frente deles e se apresentou andando de um lado para o outro, sem olhar diretamente pra nenhum dos rostos, explicando em voz alta as regras do quartel e as obrigações e a rotina de treinamento para então estar prestes a dizer a pior parte, que dali a cinco dias eles (inclusive ele próprio) partiriam para a guerra e certamente nem todos continuariam vivos, somente os mais preparados, os mais destemidos, e essa ultima parte ele iria dizer virado para eles, fitando seus soldados para dar a entender que não era um líder distante, que ele próprio tambem viveria ou morreria por eles assim como todos ali e ao se virar para começar a falar, parou. Abruptamente, parou. Para surpresa de todos, parou. Silêncio. Quase gaguejou quando tentou recomeçar a falar. Não conseguia. Seus olhos não deixavam. Seus olhos não acreditavam que ali no fundo do pelotão, quase na ultima fileira, lindo lindo lindo demais naquela farda que combinava tanto com a cor dos seus olhos, estava Icaro. Seu Icaro.

Ulisses tentava entender aquilo, o que ele fazia ali? Seu livro ja fora publicado, fazia sucesso no país, era comentado nos jornais, e ele deveria estar dispensado da guerra, deveria estar seguro, protegido na sua cidade, esperando o seu regresso quando tudo ali acabasse. Não, não, isso estava errado, e ele ficou com raiva não de Icaro, mas de tudo aquilo, de descobrir que todas suas suposições estavam enganadas, ele não poderia lutar sabendo que o outro não estava a salvo em casa, e queria ir até ele, nem que para isso seus largos ombros empurrassem todos os soldados daquele pelotão entre os dois; nos seus olhos Icaro via isso, que ele estava a um passo de vir na sua direção, de tirar satisfação, de gritar com ele o que que estava fazendo naquele lugar, quantas vezes precisava repetir que ele não queria, não queria, não queria ve-lo ali, naquela guerra. Mas com seus olhos Icaro tambem sabia conversar, sabia se fazer entender e suplicava para que não fizesse aquilo, não quebrasse os protocolos, não viesse ate ele, pelo menos não assim, na frente de todos, pois a ultima coisa que ele queria era que Ulisses perdesse o cargo que batalhara tanto para conseguir. E o outro entendia, cada linha do que aquele olhar de Icaro lhe falara e concordava, ele sempre concordava com aqueles olhos, que o acalmavam quando seus nervos de homem-do-norte falavam mais alto, Icaro era compreensão, Icaro era luz a guia-lo até nos mais sombrios dias de guerra.

E foi com o olhar dele que Ulisses se recompôs e saiu dali, indo diretamente para dentro do quartel, para o último corredor, para a sala de Ivan e entrando sem bater como um segundo sargento jamais deveria fazer a seu superior ele ja foi perguntando porque um escritor estava no seu pelotão, e a lei onde ficava nisso? E como ele vai lidar com isso? Para ouvir de Ivan calmamente um "Você está se preocupando a toa" porque Ivan não sabia, Ivan não tinha nem como ter ideia de que Ulisses não estava reclamando por causa da lei nem nada disso, foda-se a lei, e que ele conhecia aquele escritor, não pelo seu livro mas pela sua carne, pelo seu perfume pelo seu gemido e o amava, Ivan não tinha como saber que seu sargento mais másculo mais viril mais austero gostava de outro rapaz porque isso não era algo visível, não era um calcanhar de Aquiles, uma fraqueza como algumas pessoas pensavam, gostar de outro homem não o diminuía em nada, só o enriquecia mais.

- Por que ele está aqui? - refez a pergunta, esperando que dessa vez recebesse como resposta algo menos debochado.

- Sabe, eu nunca entendi essa lei dos artistas estarem isentos da guerra. Eu sei que o argumento do Estado é que eles vao manter a cultura do país, mas sinceramente, eu estar aqui lutando todos os dias e sabendo que todos esses pintores e escultores pervertidos estão por aí passando noites em bordéis. Não concordo com essa lei, nem nunca vou concordar.

- Mas é a lei. Não importa se você concorda.

Ivan o fitou de uma maneira repreendedora. - Olhe como fala com seu superior.

Ulisses se esforçou e muito, mas conseguiu se conter. Desculpou-se mas não se retirou, precisava daquela explicação porque não era justo nada disso. Ivan deu meio giro na sua cadeira, era um homem grande, mesmo com a cabeça raspada a máquina pela raiz se via que era ruivo, abriu sua gaveta enquanto falava - Você ja leu o livro que esse rapaz, Icaro, escreveu? - tirou um exemplar dali, pela maneira que as folhas estavam amarrotadas via-se que já havia lido e relido várias vezes pelo primeiro sargento, que se levantou para entrega-lo a Ulisses - Sinceramente, não me surpreende que o governo tenha mandado esse rapaz para cá, eles não protegeriam alguém que criticasse tanto a nossa maneira de ver a guerra. - Se aproximou mais do que era necessário para entregar o livro ao outro, recostou seu corpo ao dele, deixou o livro sobre seu peito e as mãos de Ivan se aproveitaram do movimento para tocar no tórax de Ulisses, que entendeu imediatamente o que estava acontecendo, que não era só uma mera admiração que o primeiro sargento sentia por ele, e que não era só Ulisses que escondia alguma coisa naquele quartel, muita gente sabia que amar é crime, e Ivan tentou tocar no mamilo proeminente por cima da camisa dele mas Ulisses se afastou, pegou o livro e deu um passo atras, Ivan entendeu também que ele não estava sendo rejeitado porque o outro não gostava de homens, se fosse isso brigaria em voz alta, sairia gritando pelos corredores, tentaria bater nele, Ivan sabia que estava sendo rejeitado porque Ulisses gostava de outro. E disse apenas - Os olhos do personagem, ele soube descreve-los muito bem, e são tão negros quanto os seus.

Ele sabia que era Ulisses, os nomes foram trocados mas não as características físicas, a altura, os músculos, a voz, os lábios e até o cheiro excitante de homem que Ulisses exalava era o mesmo cheiro descrito no livro. Mas Ulisses não disse mais nada, iria se retirar com o livro bem preso entre os dedos, quando, ao começar a abrir a porta ainda ouviu atras de si a voz de Ivan - Ah, e pelo visto você não leu os papéis que foram entregues a você, não é? Te aconselho a ler antes de sair para a guerra com o seu pelotão, sargento.

Não tinha o que dizer, e Ivan não esperava uma resposta da sua parte, por isso seguiu por aquele que nunca pareceu tao longo, uma tontura uma vertigem, mas não parava de andar, Ivan sabia do seu segredo, Icaro estava na guerra, dali a uma semana tinham uma missão a cumprir, poderiam estar mortos antes do próximo inverno, poderia ser o fim de uma história que Ulisses vinha querendo imaginar que duraria ainda muitos anos, duraria uma vida, aquele amor dos dois, e agora e agora... Respirou fundo para não desabar. Não era hora de perder o controle, precisava pensar, pensar, colocar tudo em ordem dentro da cabeça, a primeira coisa a se fazer era voltar ao pátio onde seus soldados esperavam, isso, depois tentaria resolver todos os outros problemas, mas agora o pátio, agora voltar a ve-lo, e isso voltou a trazer sua dose de alegria a Ulisses. Ve-lo. Saudades dele.

No pátio, enquanto terminava suas palavras do ponto onde as havia interrompido, não perdia a oportunidade de olhar para ele quando passava na fileira de Icaro, que percebia mas não podia demonstrar, todos parados, em formação, não tinha brechas para demonstrar que tambem estava com saudade dele, e nem podia falar que via ali na sua mão o livro que ele havia escrito e que a uma hora dessas, mesmo que Ulisses ainda não o tivesse lido já devia imaginar que ali dentro tinha um código, uma história que era só para ele entender e não os críticos literários nem leitores vorazes, só para ele e só ele sabia daqueles dois rapazes na floresta, só ele sabia da razão daquele titulo, e Icaro não podia falar nada naquela hora, mas se pudesse seria sincero e diria que sentiu a cada dia que passou mais e mais falta dele e do toque dele e da fala dele e do cheiro dele e do jeito dele e dos lábios dele e do gozo dele mas nada disso podia dizer e as apresentações terminaram e Ulisses fez com que o acompanhassem e mostrou a eles o banheiro onde todo o pelotão tomaria banho junto e no mesmo horário, seis da manhã, um pouco antes do começo do treinamento, e eles, inexperientes que eram, se entreolharam envergonhados ao ver aqueles chuveiros todos assim lado a lado sem divisória nem privacidade; depois foi a vez do dormitório e cada um ficou com uma cama que seria a sua pela próxima semana enquanto Ulisses dizia para lembrarem da sensação de se dormir numa cama já que quando eles partissem para a missão ficariam sem isso por sabe-se lá quanto tempo. Dessa vez sim ele conseguiu dizer tudo sem gaguejar, sem deixar que aquele frio na barriga por estar vendo Icaro outra vez o fizesse parar, lutando para ignorar aquela leve coceira no saco e o pau meio duro na calça verde. Respira. Respira fundo e não deixa endurecer por completo. A bunda dele está ainda mais linda agora. A nuca dele mais bonita e parece mais macia agora. Respira, Ulisses, concentra. Para de olhar para ele. Para de pensar em foder ele. Para de lembrar dele chupando seu pau. Dele fazendo você gozar com aquele cuzinho quente e apertado. Para. Ele dizia a si mesmo em pensamento quando estava quase terminando o protocolo, mas seus pensamentos eram rebeldes e sua cabeça se enchia de imagens, ele e aquele outro, nus, juntos. Saudade dele, demais. Saudade dele, não cabia mais, no peito, na calça, não cabia mais, seu pau, duro, rocha. Não aguento mais.

- Os treinamentos começarão nessa tarde, um de vocês será o responsável por me informar tudo o que for importante sobre o pelotão... Você. - fingia tão mal que foi um milagre ninguém notar que ele escolheu Icaro mas que de jeito nenhum foi uma escolha aleatória. - Você será o responsável, venha comigo, soldado.

E eles ainda não paravam de atuar mesmo no corredor vazio quando andavam lado a lado, ainda não podiam parar de se fingir estranhos. Ainda. Mas podiam ouvir uma contagem regressiva nas suas cabeças. Ainda, mas falta tão pouco. Ainda, mas tremiam de tesão e continuavam sem dizer nada apressados, quando um outro segundo-sargento cruzou com eles e cumprimentou Ulisses que ficou nervoso, não podia parar para conversar, não podia adiar mais, apenas cumprimentou-o e continuou andando. E Icaro o seguindo, e nenhum dos dois se importava que aquele outro sargento desconfiasse de alguma coisa, o que realmente importava era o que veio depois, a porta de Ulisses finalmente chegando e eles entrando e depois trancando e finalmente finalmente o beijo e os corpos se chocaram com tanta força com tanta fome com tanto fogo que Icaro foi para trás com o grande corpo de Ulisses o pressionando contra a parede, forte, truculento, e o beijo seguia por dentro desse abraço apertado, o beijo prosseguia com os braços de Icaro enlaçando os ombros de Ulisses e as suas mãos na cabeça dele, o cabelo dos dois fora cortado, mas crescia outra vez, macio mas ao mesmo tempo espinhoso como aqueles corpos, macios e duros, musculosos, tesudos e o beijo prosseguia e ja não cabiam palavras e ja não nasciam diálogos porque nada podia separar aquelas bocas e as mãos de Icaro tentando abaixar as calças de Ulisses sem olhar, sem abrir os olhos naquele beijo tao intenso, aquela língua contra a sua, obstinada, mas não conseguia, o cinto preto de couro dificultava, mais uma barreira, que eles não deixariam que os impedisse, nada os impedia de ficarem juntos e Ulisses o ajudou e tirou o cinto e jogou longe e abaixou a própria calça e a cueca e tirou tambem a camisa e tirou a calça do outro e ia tirar sua camisa mas não deu tempo, o beijo precisava voltar e os lábios se agarraram outra vez, paus duros espalhando seus cheiros de testosterona pelo quarto e Ulisses sentiu outra vez aquela sensação que ja sentia falta, as unhas de Icaro arranhando suas costas, quase podia ouvir o som da camada mais externa de pele sendo rasgada e a dor que ele gostava, gostava de sentir aquela dor na hora do prazer, porque Icaro não era fácil, ter Icaro por inteiro era se dar a Icaro por inteiro e permitir que ele fizesse o que quisesse do seu corpo assim como Ulisses podia fazer com o dele e ele fazia e ele virou o outro de costas e se abaixou e mergulhou naquela bunda, matando a sede que sentia daquela carne, que mordeu primeiro, apertou com os lábios, com as duas mãos, e lambeu e provocou e desbravou, bandeirante em terras que encontra e agora são suas, só suas, e Icaro la em cima gemia e pedia implorava por favor Ulisses me fode, não aguento esperar mais, e não dava tempo de mais nada, nem de respirar nem de comentar que Icaro estava feliz por ve-lo como sargento, que Ulisses estava feliz por saber do sucesso do seu livro, e Ulisses se levantou e enquanto seu rosto se enganchou no cangote do seu moleque-delicado-do-sul-de-olhos-claros-e-bunda-tesuda o pau urgente procurou lá embaixo seu caminho e entrou em Icaro e o cu se abriu para recebe-lo tão grande tão grosso Ulisses tão maior que ele, os braços de Ulisses poderosos ao redor dele, no pescoço dele, apertando de leve enquanto o pau procurava o mais fundo, o mais seguro recôndito espaço do corpo dele e no seu ouvido a boca de Ulisses gemendo satisfeito por estar finalmente onde deveria estar, onde mais queria estar, dentro dele. E quando estava todo dentro e as coxas grudadas Icaro então por um momento não queria que ele tirasse mais, ficasse assim, preenchido, um músculo carnudo incendiando seus poros e arrepiando seus pensamentos, mas logo queria sentir mais, mas logo queria foder, ser fodido por aquilo tudo e ele mesmo começou a rebolar, a ir e voltar para senti-lo saindo e entrando, lutando sempre aquela cabeça para passar pela entrada que nunca alargava o bastante, doía sempre um pouquinho, a cada nova investida, mas ele aguentava, ele sentia o cheiro de Ulisses a voz grossa de Ulisses, os braços e o peito de Ulisses e agüentava e pediria mais se conseguisse formular palavras. E Ulisses afastou seu rosto para olhar a beleza daquela bunda sendo sua, sendo oferecida de bom grado a ele e permitindo que seu pau viajasse por ali, aproveitasse aquilo tudo ali dentro, aquele corpo, e segurou a camisa de Icaro como se fossem alças e começou a fode-lo mais forte, a meter até sentir o pau esquentando no atrito das paredes daquela bunda maravilhosa, no calor la de dentro, fechando os olhos podia imaginar como era lá dentro, seu pau la dentro, e Icaro gemendo ele gostava de escutar, os gemidos arfantes, os urros selvagens, os grunhidos vorazes, Icaro se tocava e sua bunda se abria mais mesmo a foda sendo tão intensa, não tinha medo de se machucar, nunca teve medo, nunca sentiu medo de nada, e Ulisses o admirava por isso e o amava e o comia e o abria e o provava e o queria ainda mais mais mais... Até que já não conteve o grito em voz grossa quando seu pau precisava gozar e seu braço apertou outra vez aquele pescoço e puxou a cabeça de Icaro para tras, para junto da sua e ele beijou a orelha de Icaro, a bochecha de Icaro os lábios de Icaro enquanto la embaixo o pau gozava, cada jato um sensação de expurgo deliciosa, seu desejo virando liquido, seu amor virando matéria e saindo do seu corpo para ir para o outro, lá dentro, brancura lá dentro do corpo dele. E Icaro se masturbava forte enquanto o pau de Ulisses continuava nele, sem sinal de amolecer, agora se mexendo mais lentamente, mais macio e ele gemia e Ulisses continuava beijando sua bochecha, cheirando seu cabelo os rostos lado a lado e pos a sua mao no pau de Icaro e os dois se olharam e Icaro soltou a própria mão e deixou que Ulisses fizesse, Ulisses o tocasse e era mais gostoso saber que era ele, que o rapaz que não queria nem beija-lo no começo de tudo agora estava masturbando-o, estava com o pau ainda duro dentro dele mesmo depois de gozar e Icaro agora com as mãos livres tocava no corpo dele ali atrás, o peito dele ainda mais avantajado que meses antes, os mamilos redondos e pareciam saborosos, mas nessa posição não dava para prova-los, teria que esperar para fazer isso, talvez a próxima transa dos dois porque agora o gozo vindo avassalador, seu pau parecia latejar inteiro na última hora quando a porra atravessava a extensão do pênis e saia na ponta, contra a parede esparramando, rendendo mais um gemido de Ulisses no seu ouvido por ve-lo assim sentindo a mesma coisa que ele sentira há pouco e depois sim um outro beijo, mais calmo, finalmente o fim daquela saudade, estavam juntos outra vez, juntos. E nada mais. Nem os outros soldados. Nem Ivan. Nem a guerra. Nem o medo de morrer.

Nada.

Mais.

Importava.

E depois relaxaram e Icaro a contragosto tinha que dizer que precisava voltar mas ouviu de resposta de Ulisses um "ainda não" e lentamente sentiu os dedos do outro puxando sua camisa para cima e a tirou, mesmo que não fossem transar outra vez Ulisses ainda não tinha a mínima vontade de se vestir e gostava de ver o outro assim sem usar nada também. Disse para Icaro ficar a vontade no quarto, e enquanto ele deitava na cama, mais tranquilo, mais contente e observava divertido a curiosidade de Icaro pelos seus pertences, uma foto da família, uns halteres que Icaro nem se arriscaria a tentar levantar, roupas, papéis, mapas, jornais.

- Eu soube que o governo não aceitou seu livro, é uma pena. Mas eles devem estar furiosos com o sucesso dele, não é? Ouvi dizer que o presidente quer começar fogueiras para queima-lo nas praças mas os leitores o escondem em casa para não abrir mão dele.

Icaro se juntou ao outro na cama, beijou seu peito, aninhando-se ao seu corpo, e depois de agradecer o comentário, perguntou:

- Você está lendo?

- Vou começar hoje. Mas tenho certeza que vou gostar...

Icaro aquecia as mãos no peito de Ulisses, com sua camada fina de pelos que se tornavam menos comuns na barriga, e não existiam nas costelas destacando muito sua musculatura.

- Como vai ser daqui pra frente, cara? O que a gente vai fazer?

- Vencer a guerra. Nós dois. Vencer a nossa guerra e irmos juntos para um lugar melhor - as mãos de Ulisses deslizavam suaves pela maciez do corpo dele enquanto os olhos dos dois se queimavam um no outro. - E só pra esclarecer, você vai tomar banho aqui no meu quarto sempre, não quero os outros te vendo se banhar. - passeando pela barriga e peitoral de Icaro, as pontas dos seus dedos ameaçaram arranha-lo também, mas ele não faria isso, ele o tratava com mais carinho, mais delicadeza, porque o outro gostava assim, exatamente da mesma maneira que Ulisses gostava de ser tratado com arranhões, esses segredos íntimos que só alguém que te ama pode saber.

- Ciumento.

- Nós somos assim no norte. Brutos e ciumentos.

- E parece que adoram alguém delicado...

- Isso é verdade - se jogou em cima dele, agora seu corpo no alto, pressionando o dele, ralando no dele. - E sabe o que mais nós adoramos? - a ponta dos dedos acariciando aqueles lábios vermelhos e carnudos, que beijou, mordiscou, e sugou, depois olhando nos olhos de Icaro, continuou tocando dois dedos naqueles macios lábios dele.

E adivinhando sem dificuldade o que aquilo queria dizer, Icaro pegou la embaixo o pau dele, já a caminho de endurecer completamente outra vez. Forte como quando fez 100 abdominais jogou Ulisses para baixo na cama de novo, feito uma luta pegada de judô ou greco-romana ou qualquer outra dessas de corpos e suor, Icaro finalmente provou daqueles mamilos com vontade como ja queria desde tão antes. Ulisses só gemia, aquele garoto sabia a força certa de sugar seus mamilos sem machucar, de provar dos músculos proeminentes do seu corpo que desde que se viram pela primeira vez e se gostaram e se uniram e se amaram pela primeira vez ele vinha sempre malhando e pensando em Icaro, em manter aquele corpo, em deixar seu peitoral sempre maior para ser provado por Icaro, e valia a pena. Saltou para o mamilo esquerdo, outra vez um gemido seu escapando, a língua, aquela língua desbravando o gosto da pontinha do mamilo, e os dentes de leve se aproveitando da dureza dos músculos, e as mãos de Icaro uma na sua barriga uma no seu pau, Ulisses fechava os olhos e se enchia com todas aquelas sensações, se deixasse gozaria assim, certeza, certeza.

Mas Icaro prosseguia descendo, judiando dele, beijando seus pelos, levantando suas coxas e lambendo seu saco, quem, Quem lambe o saco antes de chupar o pau e não está querendo acabar com você de tanto tesão? - Por favor cara, põe na boca, põe logo... - Mas Icaro, só porque ele disse isso, se levantou e falou - fica aqui quietinho, ja volto e saiu rápido da cama, se abaixando pelo quarto a procura de algo no chão, parecia fazer de propósito, quando se abaixava assim sua seu rego se revelava melhor, o cuzinho vermelhinho entre as náfegas brancas, e Ulisses levantava e abaixava a pele do seu pau se deliciando com aquela visão - Volta pra cama, Icaro, - abriu um pequeno sorriso - tô precisando de você aqui, sabia?

E quando ele finalmente achou o que vinha procurando os olhos de Ulisses faiscaram. O cinto em sua mão anunciava que Icaro continuava o mesmo rapaz incapaz de se tornar um passivinho obediente. Quanto tempo estavam naquele quarto? E quanto tempo ainda ficariam?

- Você deixa eu te amarrar?

- Eu deixo você fazer o que quiser comigo.

- Tentador...

Levantou suas duas mãos e as pressionou contra os ferros da parte superior da cama, beijando os músculos todos daqueles braços pelo caminho, cheirou a axila, Ulisses havia tomado banho pouco antes de sair para encontra-los no pátio e agora cheirava a ele outra vez, depois de foderem, o cheiro dele, puro, intenso. E assim Icaro sentado em cima da barriga dele, os dois sem nenhuma roupa, corpos em contato e a mão direita de Icaro segurando o rosto de Ulisses pelo maxilar - Eu te amo tanto, cara. Nem sei como explicar.

- Você pode demonstrar - Ulisses provocou. - Lá embaixo.

E Icaro segurou com força as suas bochechas com a mao direita, faze do que a boca dele formasse um biquinho, e ainda assim ele ficava másculo - Ainda não - beijou aquele biquinho, beijou o queixo o pescoço. Lá embaixo suas coxas deslizavam sobre as coxas de Ulisses, sua barriga logo acima do pau de Ulisses e ele ia descendo, fazendo com que o pescoço do seu sargento ate doesse para que ele pudesse ver, para que vislumbrasse o momento exato em que, olhando nos seus olhos, Icaro pos seu pau na boca. E chupou. E engoliu, mais e mais, sua umidade, sua baba, o sal da sua baba. O gosto mais secreto do seu corpo. E ele gostava, na sua expressão a certeza de que ele gostava de cada sabor que Ulisses tivesse, aveitava cada mistério que o corpo de Ulisses tentasse esconder, e brincava com ele, e descia ao redor do pau e beijava suas coxas, o iniciozinho da bunda, mas não ia além, pelo menos não naquela vez, um dia talvez tentasse inverter as coisas com Ulisses, mas naquela manhã o que ele queria era satisfaze-lo, era satisfazer-se vendo o prazer dele e voltou a chupar o pau, até o fundo, até a garganta soltar sons meio guturais meio adoráveis do seu engasgo, até os pelos no seu nariz provando dos cheiros de Ulisses, suas texturas. Os músculos de Ulisses todos reagiam a aquele toque, a aquela boca e fremiam se contorcendo por dentro. Icaro: penhascos, feras, explosões. Icaro: desejo, insensatez, fúria. Icaro: para sempre.

E quando fechou os olhos prestes a gozar, sentiu que ele havia parado de chupa-lo, somente sua mão segurando o pau e massageando bem lentamente, mas foi por poucos segundos assim e Ulisses sem precisar abrir os olhos entendeu o porque disso, sentiu o outro sentando nele, encaixando sua bunda precisamente nele, e abriu os olhos porque isso ele precisava ver, o momento em que seu pau entrou tão harmoniosamente naquela bunda, e se abrigou naquele cuzinho e só seu saco ficou do lado de foras, as duas bolas grandes e bem visíveis por baixo da pele, e olhou para cima, para os olhos de Icaro, que entreabria os lábios com um pouco de dor, mas continuava, e olhando para ele, e segurando no seu peitoral para poder quicar naquele pau, as pernas abertas como uma lótus no verão, subindo e descendo nele, e sorrindo, e Ulisses queria agarra-lo queria tomar o controle e segurar seu rosto e afundar num beijo mas com as mãos amarradas ele não podia, ele era do outro. Todo. Ele todo do outro. E olhando assim para Icaro, tesão no olhar, tesão no pau, ele mexia o quadril para enfiar mais fundo e Icaro gemia mais fundo e a cama rangia mais fundo porque Icaro tambem era dele, todo dele. E gozou la dentro, olhando para ele, devorando ele com aquele olhar compenetrado de "aqui teu macho gozando em você, teu macho mesmo amarrado se estoura de tesão por você, estraçalho você por dentro com minha porra toda." e Icaro não aguentava aquele olhar, não assim, não agora ele com aquela cara de mau, sabia que ficava mais bonito com cara de mal, mais irresistível com cara de mal e foi olhando praquela cara, sob o olhar daquela cara que ele não aguentou de vez e gozou, de novo, deveria ser mais fraco agora sua segunda gozada mas foi forte, mas foi todo, a porra no peito de Ulisses, nos pelos de Ulisses, e caiu sobre ele, deitado em cima do seu sargento que ainda estava amarrado mas já nem ligava, deixou-se ser abraçado assim mesmo pelo outro.

E queriam que ficasse mais ali Icaro, matando a saudade, mas era verdade teria que voltar para junto do pelotão e Ulisses o levou e explicou a ele algumas coisas que ele precisava dizer aos outros, algumas regras, alguns horários, algumas punições para quem descumprisse ordens. Mas antes de abrir a porta do dormitório onde os outros ja deviam ter se alojado ele piscou pro outro, e disse "só você não precisa ser obediente aqui.", para ouvir de Icaro "Você sabe que eu não seria, de qualquer forma."

E ele não era. Ele atiçava Ulisses, nos treinamentos se destacava dos demais nas corridas para quando terminasse tirar a camisa gritando. Nas abdominais não escondia seu olhar para o seu sargento, e alguns poucos soldados comentavam que no livro que ele escrevera havia uma cena de abdominais lá no começo. E Ulisses precisava se concentrar, precisava ser mais forte que as provocações cruéis do outro se não saltaria em cima dele ali mesmo, o jogaria no chão e o comeria inteiro, frango assado ao ar livre diante da roda de soldados, sonhava com isso as vezes, mas tinha que se aguentar, tinha que esperar ate anoitecer e chamar Icaro na sua sala para lhe contar as coisas novas do pelotão, então sim virava o jogo, descontava toda a sedução que Icaro fizera no dia, e as vezes não dava tempo nem de chegar na cama e era no chão mesmo que o pegava, as vezes na beira da cama, na mesa de trabalho, para depois leva-lo de volta ao dormitório, contudo sabendo que sentiria sua falta, entao lia seu livro, aqueles dois na mata, aquele amor tão puro, a maneira que um deles provocava o outro, e o outro era mais calado, mais focado em se exercitar, em se preparar, queria muito saber ate onde aquele livro ia, acabava no momento em que um deles é convocado para a guerra e o outro fica para trás, na floresta, com cinzas caindo do ceu? Não, Ulisses ja havia chegado nessa parte e ainda estava na metade do livro, Icaro escreveu mais, imaginou um final para eles, qual seria? Mas os dias passavam e eram só seis de treinamento, não daria tempo de ler o romance todo, suas horas livres eram poucas, dali a dois dias o prazo acabava, fizera o máximo que pudera, preparou os seus soldados fisicamente, psicologicamente, estrategicamente, ensinou-lhes tudo o que o tempo permitiu e estavam prestes a seguir. Noticias não paravam de chegar, batalhas perdidas se acumulando, soldados perfilados, os inimigos próximos de chegar ao fim da guerra, e eles seriam presos, e eles seriam separados se a guerra acabasse e perdessem. E pensava essas coisas deitado na cama, olhando para o teto com Icaro dormindo ao seu lado, nos seus braços. Sabia que não era uma boa ideia ele dormir ali, os outros ja deviam desconfiar, por que Icaro não tomava banho com eles? Por que o sargento parecia tão mais preocupado com ele que com os demais nos treinamentos? Por que daquela cena quando um soldado que, na noite anterior, no meio da madrugada foi ate a cama de Icaro e sussurrou posso deitar aqui com você? Mas Icaro dormia e só acordou quando esse outro soldado deitou-se ali e apalpou a sua bunda e Icaro se levantou apressado e ordenou que saísse dali e outros soldados acordaram e as luzes foram acesas e Ulisses surgiu escancarando as portas sabendo apenas o pouco que ouvia do que os outros soldados falavam ao redor chegou ate o outro soldado e o socou e o derrubou com seu soco, a força descomunal de um homem como Ulisses e o nariz sangrou daquele homem mas os olhos de Ulisses não se acalmaram e continuaria batendo destruindo não fosse Icaro se por na sua frente a mão no seu peito que ventilava o ar com força bruta. Só por Icaro ele se acalmou e levou o outro soldado para conversar lá fora mesmo sabendo que todos devem ter percebido sua fúria, seu ciúme. Mas já não importa, eles iriam para a guerra dali a dois dias, ninguém se preocuparia com nada disso. Icaro se moveu levemente por dentro do sono, mas dormia tranquilo assim nos seus braços. Mas Ulisses precisou se levantar da cama, estava adiando essa hora, mas não dava mais, caminhou nu até sua mesa e encontrou os papéis que especificavam os detalhes da sua missão com o seu pelotão. Sentou-se para estudar melhor aqueles papéis.

A alguns quilômetros ao sul dali uma pequena vila da fronteira do país fora tomada pelos inimigos, era a primeira cidade a ter sido conquistada na guerra, embora não a única nem a maior, ainda assim tinha um valor simbólico ja que era a única produtora de trigo a ser reconhecida internacionalmente, um orgulho nacional. E a tropa de Ulisses partiria para reconquista-la e assim levantar a moral do restante do exército. Seriam mandados em caminhões pelo sul da cidade a fim de não levantar suspeitas, desceriam do outro lado do rio e esgueirando-se atravessariam suas águas e o campo de trigo para pegarem os inimigos desprevenidos.

A partir daí, naqueles documentos, seguia-se uma série de observações que ele precisava seguir:

Primeiro: Se preciso for, mate todas as pessoas do vilarejo, não importa se forem mulheres ou crianças; o importante é não perder tempo separando aliados de inimigos.

Segundo: Assim que reconquistar a cidade, hasteie a bandeira nacional outra vez nos mastros da prefeitura e da praça central, como símbolo da vitória.

Terceiro: Um dos seus soldados, de nome Icaro, através de uma ficção perniciosa, desrespeitou muito a honra do país, e por isso ele deve estar na linha de frente na batalha. Trate para que esse soldado morra em combate.

Ulisses nem pode acreditar. Queriam que Icaro morresse, preferiam perde-lo a permitir que ele ajudasse a vencer a guerra. Isso explicava porque Ivan queria tanto que ele lesse esses papéis o quanto antes. Isso explicava porque os outros sargentos perguntavam como ia o escritor e depois riam debochados. Todos deviam saber, todos ja deviam ter lido aqueles papeis antes dele. Uma corrente fria lhe arrepiou o corpo. Por que insistiam em tentar separar ele daquele rapaz ali deitado na sua cama? Podia ve-lo dali, podia admirar o seu sono, Icaro era tão frágil na aparência, tão delicado e Ulisses lembrava de sentir na primeira vez que o viu uma necessidade de protege-lo de qualquer coisa que tentasse destruí-lo, mas Icaro se mostrava mais forte do que parecia. Uma força não só física, mas também uma coragem, nunca baixou a cabeça, nunca se negou a dizer o que pensava. Agora seu próprio país queria ve-lo morrer, e queriam que Ulisses fosse o agente para que isso acontecesse. Se levantou, caminhou na sua direção, em pé ao lado da cama. Como seria ele capaz fazer uma coisa dessas? Deixar morrer alguém que o libertou dos seus medos, o fez provar pela primeira vez a liberdade/felicidade, o fez amar. Quando teria coragem de coloca-lo na linha de frente para levar no rosto um tiro de canhão ou rifle ou espingarda, justo ele que ja recebera no rosto o seu gozo e o lambera e o provara feliz por ter feito Ulisses gozar com sua chupada deliciosa? Icaro despertou suavemente, entreabriu os olhos, sorriu para Ulisses, "eu peguei no sono aqui no seu quarto?" sussurrou, e o outro só fez que sim com a cabeça. "Quer que eu volte pro dormitório?" no que Ulisses tocou no seu rosto com carinho, se deitou ao lado dele, seu corpo junto ao dele, encaixando-se - Não, dorme aqui hoje, dorme comigo, amor.

E Ulisses só conseguiu pegar no sono quando o tinha bem junto, bem preso, bem apertado ao seu corpo.

Não importava uma linha do que estava escrito naqueles papéis: Nunca lhe faria nenhum mal.

***

A primeira imagem da guerra que tiveram assim que saíram do quartel e entraram nos caminhões que os levariam para a batalha, foi a de um pais em ruinas, escombros, civis maltrapilhos crianças magras, destruição por onde quer que olhassem. Icaro que era mais sensível ver aquela tristeza toda, por isso sempre foi contra a guerra, o preço da vitória era alto demais, interesses de lideres que desconsideravam a população. Mas ainda assim ali estava ele, obrigado a lutar, numa caminhonete com um rifle na mão. Ulisses ia em pé lá na frente do pelotão, não demonstrava reação alguma com o que aparecia lá fora, mas porque não podia, era um sargento, um superior, precisava estar sempre no controle, e explicava a missão aos seus soldados, a cidade que estava sob domínio inimigo, podiam ter dezenas centenas de soldados adversários lá, e eles eram só quarenta, mas estavam bem preparados e teriam uma estratégia a seguir: alcançar o mais rápido possível todas as torres edificações altas da cidade e de la ter uma visão mais clara para atacar os inimigos. Uma parte era muito importante, eles sairiam em grupos de cinco soldados cada um na direção de uma dessas torres, não haveria linha de frente e ninguém ferido seria deixado para trás. Eram uma família, muito mais que uma equipe. E olhou para seus homens, e para Icaro, principalmente. Ninguém será deixado para morrer.

Pelas horas de viagem, um silêncio meditativo. Aqueles homens todos de repente se viam na obrigação de lembrar de suas mães e pais e parentes que ficaram nas suas cidades e contavam com a vitoria deles nessa batalha, nessa guerra. O país era muito mais que um presidente estrupido, o país era toda aquela diversidade de gente, cada um com seu próprio rosto, dna, interesse, orientação. Todos buscando algo melhor. Se perdessem, tudo isso iria por agua abaixo, todas as pessoas que ja conheceram podiam ser mortas pelo inimigo. Se perdessem, não haveria futuro para nenhum deles, e não podiam deixar acontecer. Precisavam viver ainda muitos anos, com alguém do lado, ser feliz, enfim.

E o caminhão parou do outro lado do rio, e desceram e nadaram e deitados no chão, com apenas Ulisses a frente deles, se esgueirando, o binóculo preso ao pescoço, e chovia para enlamear suas roupas mas isso era o que menos importava, atravessavam invisíveis por baixo do dourado pálido dos trigais, até chegarem bem próximos do destino final e o sargento fazer um sinal com a mão para que ficassem imóveis, pelo binóculo analisou a situação, todos distraídos os soldados no vilarejo, certamente não esperavam um contra-ataque assim de repente, vestiam trajes marrons e não verdes, o que facilitaria pra distinguir amigos de inimigos. E Ulisses respirou fundo, deu uma olhada para trás, no rosto dos seus homens, no rosto do seu homem, e fez outro sinal com a mão, para que avançassem.

E foi tudo tão rápido como num filme, os soldados do seu pelotão saindo de debaixo da plantação de trigo, atirando com uma mira que ele mesmo ensinou, balas no peito de soldados despreparados e caíram mortos na mesma hora tendo suas feridas lavadas pela chuva; mas o efeito surpresa não durou muito e logo eles já tinha carregado suas armas e atiravam nos soldados de verde tambem. Na sua frente Ulisses viu dois dos seus soldados mais dedicados sendo baleados, na barriga, na cabeça por armas de calibre tao alto que atravessaram seus corpos. E ele gritava Vai Vai Vai pra que cada pequeno grupo seguisse para sua torre, e pegou Icaro pelo braço "Você vem comigo" e mais um rapaz também na direção da maior de todas as torres, a da igreja central da cidade os três, Ulisses atirando sem parar, sempre tiros certeiros sempre derrubando inimigos na mesma hora e abrindo espaço, enquanto uma chuva de balas e morte se misturava a chuva de água que caía do céu. Cheiro de pólvora. Sangue diluído na lama das ruas. Quando chegaram na torre, com o cano do rifle destruíram o cadeado e iam entrando não fosse um disparo certeiro vindo de tras que atingiu um deles pelas costas. Ulisses ouviu o grunhido de dor e por um momento seu mundo se descosturou fibra a fibra, não foi ele que levou aquele tiro. Não podia ser Icaro. Por favor, que Icaro estivesse bem, por favor, por favor... Olhou para o lado e encontrou seu companheiro de joelhos no chão, segurando o outro soldado que estava deitado e sangrando demais. Ulisses agradeceu a tudo que pudesse por não ter sido ele, não ter sido seu amor, e mirou a sua arma com precisão no inimigo que atirara no seu soldado, estourando-lhe a cabeça.

- Vem, põe ele nos meus ombros, temos que subir, aqui não é seguro.

Icaro pegou o outro pelos braços para fazer o que Ulisses pedira, mas o próprio soldado ferido pedia para que não fizessem aquilo, não iria melhorar, o tiro foi no pulmão, leva-lo dali só iria atrasa-los e que deviam deixa-lo para trás.

- Ninguém é deixado para trás no meu pelotão, soldado.

E conseguiu o por nas costas enfim, e subir assim as escadas longas enquanto Icaro lhe dava cobertura, e do lado de fora ja se ouvia das outras torres vindo tiros, sinal de que outros grupos já haviam conseguido subir e eles também estavam prestes a conseguir, agora se viam diante da porta trancada no alto da escada. E Ulisses a chutou e a arrombou o cadeado e eles entraram e deixaram o soldado ferido no chão, e enquanto Ulisses corria para a janela atirar em inimigos la embaixo para ajudar os companheiros, Icaro foi prestar atendimento ao soldado, mas quando se ajoelhou diante dele ja não havia o que fazer, e ele chamou Ulisses baixinho ao se virar o sargento sabia o queria dizer aquela expressão de Icaro, de desesperança e desamparo. Entao é isso, em um segundo a gente morre e não há mais o que se possa fazer. Ulisses viu o momento em que o outro fechou com cuidado as pálpebras do soldado morto, descanse em paz, soldado, ele sussurrou, e depois se levantou e fechou a porta para que não fossem pegos de surpresa, empurrando um pesado móvel a frente dela. E depois foi até a janela, ao lado de Ulisses e seguiram atirando nos soldados de marrom, pensando em ajudar seus companheiros, suas famílias lá longe, que contavam com eles. Até que ja não viam mais nenhum soldado inimigo la embaixo, e pararam de atirar. De todas as outras torres todas as outras armas pararam de atirar. Depois do silencio, o gosto da vitória. Gritos da população que estava sendo mantida prisioneira anunciavam o fim da batalha, e Icaro afastou os olhos da mira da arma, surpreso por ter conseguido chegar ao fim, e se virou para Ulisses que sorria para ele, de braços abertos "Acabou, cara. Nos vencemos!" para correr até seus braços e apertado abraça-lo, apertando as roupas de Ulisses naquele abraço, afundando seu nariz na nuca de Ulisses naquele abraço, nós dois estamos vivos, nós dois vamos seguir juntos nessa guerra. E Ulisses tambem a apertou junto a si, um amor mais forte que os rifles e o napalm, mais forte que o medo de morrer e o medo de as outras pessoas não aceitarem. Por ora, não valia a pena pensar que aquela foi só a primeira das batalhas que eles travariam, não valia a pena que a guerra prosseguiria talvez por anos implacável e devastadora. Agora, só queriam lembrar que essa foi a primeira vitória do seu país, e eles ajudaram a acontecer.

- Vem, vamos sair daqui.

E Ulisses removeu o pesado móvel da frente da porta indo primeiro na direção das escadas para entao ser surpreendido por alguém que estava escondido do outro lado, com uma faca na mão, só esperando os dois saírem para atacar e de surpresa avançou e enfiou a faca no ombro dele, afundando a lamina inteira enquanto gritava o nome do seu país, do país inimigo, e Icaro tambem gritou mas por ver seu sargento, seu querido, ferido e com um tiro de rifle atingiu aquele soldado traiçoeiro que foi atingido e rolou escada a baixo vindo a morrer so lá no chão. Mas não importa. O que importa era Ulisses que olhava para o cabo da faca toda enfiada nele e Icaro veio a seu encontro e o sentou no chão repetindo "não não não não" sem saber articular direito os seus pensamentos, que não podia morrer ali seu amor, seu Ulisses, que não podia ter atingido uma artéria aquela faca e tirou a farda dele para ver melhor o ferimento olhando nos seus olhos : "Voce vai ficar bem, voce vai ficar" beijando seus lábios para acalma-lo "voce vai ficar bem, Ulisses. Medico! Algum médico! Aqui!" mas ninguém os ouviria, estavam alto demais para isso. Lágrimas no seu rosto, mas Icaro não perdia o controle, enquanto Ulisses respirava compassado, tentando não se mover muito pra que a faca não cortasse ainda mais coisa lá dentro dele. Tentou tirar sua camisa mas para isso precisaria que ele levantasse os braços, e não podia, entao Icaro rasgou o tecido branco, a camisa de meio a meio, o dorso nu de Ulisses com dois fartos filetes de sangue que iam do ombro ao umbigo. Não podia ser uma artéria. Não podia ser nada grave. Médico! Tentou outra vez mas sem sucesso.

Ulisses, com sua outra mão, tocou no rosto dele e fez com que olhasse nos seus olhos - Mantenha a calma, Icaro, eu estou bem, não deve ter atingido nada importante, se não ja estaria morto. Me escuta, ei, me escuta. Eu não vou morrer aqui. Vou ficar com você, vou ficar com voce ate o final, mas agora eu preciso que voce desça essas escadas e encontre o Wes, ele foi treinado para ser o médico do pelotão, traga-o aqui e ele vai saber o que fazer.

- Não cara, eu não vou te deixar sozinho, não, não me pede isso.

A mão de Ulisses que estava no seu rosto foi para seu cabelo, por trás da cabeça, segurando-o como um homem segura a a cabeça de outro homem, firme mas carinhoso. Nos seus olhos a verdade do que dizia. Nos seus olhos, mesmo ferido, Ulisses transmitia tranquilidade. - Me diz uma coisa, como acaba seu livro? Eu morro no fim? Eu levo uma facada e morro?

- Não, eu nunca escreveria isso, nós ficamos juntos no fim. No fim da guerra.

- Então eu não vou morrer, tá entendendo, menino delicado? Eu-não-vou-morrer - e com aquela mao na parte de tras da cabeça de Icaro ele o puxou para um beijo profundo e salgado das lagrimas do menino do sul, mas ainda delicioso macio e excitante do jeito que sempre era quando suas se uniam assim e suas línguas duelavam e eram sugadas pela boca do outro, arrepiando a alma. - Agora vai.

E Icaro se levantou e desceu as escadas correndo e pulou por cima do soldado inimigo no chão do fim das escadas e correu pelo vilarejo gritando o nome do soldado, por baixo da chuva por baixo da alegria dos outros soldados sua tristeza ao chamar pelo soldado Wes vendo os prisioneiros sendo soltos e podendo voltar para suas casas que aquela batalha acabou mas não para Icaro que terá perdido a guerra se algo acontecer a Ulisses, e nada mais importa e ele gritava chorando mas suas lágrimas sumiam com a chuva ate que do alto de uma das torres uma voz em resposta: - O soldado Wes esta aqui. - e logo depois foi a próprio soldado que apareceu na janela da torre, e ouviu de Icaro - O sargento foi ferido, precisamos da sua ajuda e ele desceu as pressas e acompanhou correndo Icaro, todos ali respeitavam demais seu sargento, e gostavam dele e o admiravam e sabiam que foi dele o plano que os levou a vitoria, sem linha de frente como o Estado queria. E ao chegar nele Ulisses ainda estava sentado no mesmo lugar, consciente, e enquanto Wes se preparava para por gazes no ferimento depois que retirasse a faca, Ulisses só olhava para Icaro e Icaro para Ulisses, os dois muito próximos, Icaro ajoelhado ao lado dele na altura dele. - sargento, eu vou tirar a faca e isso vai doer, depois vou pressionar o ferimento e se não tiver atingido nenhuma arteria logo ele vai parar de sangrar e eu vou poder dar pontos.

- Pode fazer, não importa a dor.

Segurou a mão de Icaro ao lado da sua na hora. Wes viu, mas não se importava. A faca saiu. E o sangue começou a sair mais fartamente, Icaro não podia ver, não podia ser arteria, se não seria o fim. - Se acalme, soldado, ele vai ficar bem - Wes falou para acalma-lo - Não foi grave, e o sargento é forte.

Pressionou o ferimento com os gazes úmidos por alguns minutos, depois os retirou e começou a dar pontos. Sempre a mão livre dele segurando a de Icaro. E quando estava pronto ainda enfaixou aquele ferimento para que se curasse mais depressa e não infeccionasse - Se o senhor não forçar muito o braço, isso vai cicatrizar em uns tres dias.

- Não prometo nada. Esse é o meu braço de atirar.

Wes riu. - Agora vou deixar vocês a sós, preciso voltar ao meu posto, um dos nossos foi baleado na coxa. - e saiu dali.

A sós, Ulisses falou a Icaro que tinha dito que ficaria bem, mas a resposta não veio com palavras, Icaro só se aproximou e se aninhou nele, com cuidado para não tocar seu braço ferido. - Nós precisamos ir embora, Ulisses. Essa guerra não vai acabar, e eu não quero nem vou perder você pro campo de batalha.

- Você sabe que não podemos, amor. É o nosso país, deserção seria muito errado.

Olhando para ele, queimando nos olhos dele. Icaro, precisam de nós, dizia com aqueles olhos, e eu queria pensar em mim primeiro, que eu só preciso de você

comigo

Eu só preciso do teu corpo do teu jeito da tua voz pra ser feliz, mas e o resto? Mas e os outros? Mas e o país, voce me entende? A gente tem a missão de salvar a todos para depois ainda ouvir alguém dizer "É heroi de guerra, mas vive com outro homem" como se isso nos diminuísse. "É empresário, mas é gay" "É doutor mas gosta de dar a bunda" e é assim que as coisas são e não é culpa de ninguém mais, ja não lembra mais quando foi que começou essa batalha, essa grande guerra maior que a enfrentamos agora, a guerra para ter direito a ser voce mesmo, sem medo, sem vergonha, sem temor. Nossa guerra tem suas vitimas, nossa guerra tem seus heróis e seus vilões e suas vitorias e suas derrotas. E tao longe de acabar também tao longe de ter fim essa nossa guerra tambem que eu me sinto culpado só por querer ter você

comigo.

- Você quer mesmo? - perguntou baixo, a chuva não dava trégua la fora, seus soldados esperavam lá embaixo da torre que os dois descessem e que o sargento desse as novas instruções. Wes na frente do grupo. Não deixava que ninguém entrasse para interromper a conversa dos dois.

- Você quer saber qual é a última cena do meu livro? - o silêncio parecia um aliado, sua voz uma melodia. O ferimento já não latejava. - Nós dois, juntos num lugar tão distante do resto do mundo que ninguém saberia dizer de que país nós éramos, e éramos felizes assim.

Ulisses tocou seu rosto. Como podia ainda se espantar com a beleza de Icaro? Como podia ainda ama-lo cada vez mais. Ao passar o dedo pelos seus lábios ele murmurou:

- Você é o meu país agora.

- Voce é o meu país agora - Icaro devolveu as palavras.

E depois o ajudou a se erguer e a descer as escadas e lá embaixo Ulisses falou a sós com Wes e explicou que estava indo embora e que o deixava no comando e que confiava na sua capacidade e não iria decepcionar e explicou onde ficava o próximo campo de batalha e como venceriam-no tambem. Depois falou com todo o pelotão, que ele e Icaro não continuariam a jornada, e parabenizou a todos e elogiou a bravura daqueles homens e disse que esperava o melhor pra todos eles, e foi embora dando as costas ele e Icaro, com um automóvel dali foram embora sendo aplaudidos pelos outros lá atrás, foram embora para a cidade vizinha onde pegariam um trem, já com outras roupas, já como civis, ja com um segredo lado a lado na cabine do trem, de mãos dadas enquanto da janela a paisagem ficava para trás, cada vez mais, cada vez mais, cada vez mais o trem investia para longe, rumo a algum lugar sem nome, sem pátria, sem preconceitos, algum lugar onde pudessem nadar nus outra vez.

Icaro pegou no sono e dormitou a cabeça no seu ombro enquanto o trem mergulhava na escuridão de um túnel, e quando a luz voltou e o túnel acabou Ulisses o abraçava com o braço todo, seu queixo sobre a cabeça dele, protegendo com o próprio corpo o seu menino delicado de tudo que pudesse lhe acontecer. E Ulisses nunca antes se sentiu tão homem e tão corajosoFim.

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Comentários

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Maravilhoso. Jader você esta de parabéns escreve contos com excelência.

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Amei com todas as forças essa historia. Parabens

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Lindo! lindo! seu conto nos faz viajar em outros tempos!

Amei esse final,!! Vc realmente tem uma imaginação maravilhosa! Parabéns!

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Linda história cara. Maravilhosa mesmo. Você escreve muito bem. Conseguiu unir erotismo e romance e o final foi perfeito. Que bom que não matou um deles. Não gosto de histórias tristes. rsrsrs Volte mais vezes com histórias lindas como essa. Você é um dos melhores escritores da casa. Abraços!!!

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Cara,todos os seus contos sao lindos demais, meu favorito é laranjas empatado com esse aqui, quem dera eu com 19 anos escrevendo come vc escreve, se nem hoje eu consigo kkk 10 pra voce e certeza que logo vai ta publicando livros por aí

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Maravilhosa historia. Poetica e otimista. Textos ricos assim devem ser valorizados. Esta de parabens, meu caro :)

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