Acordei no dia seguinte com uma dor insuportável na cabeça. Havia chorado a maior parte da madrugada e meu rosto estava inchado, eu podia sentir. A festa desastrosa dos pais de Lisa vai ficar para historia.
- Ai.
Só de pensar em tudo de novo minha cabeça doía. Joguei os cobertores de lado e fui até o quarto de minha mãe. Cama feita e vazia. Otimo.
Desci as escadas com pressa, precisava de um remédio logo. Parei no último degrau, quando vi um par de pernas masculinas para fora do sofá. O cara ainda estava usando sapatos.
Devagar, andei até o sofá pra ver quem era.
- Deixe ele dormir querido, esteve acordado à noite toda. Falou minha mãe quase me arrancando um grito.
Estiquei o pescoço e vi uma imagem que partiu meu coração. Um Christopher apagado, enrolado com um coberto velho meu é um meio sorriso no rosto sonhador.
- Ele ficou aqui? Sussurrei.
- Você não parava de chorar e parecia nervoso então ele preferiu ficar e esperar, mas como já era tarde, eu ofereci o sofá. Agora vem, comer alguma coisa.
Segui minha mãe para a cozinha ainda com o coração na mão. Esse garoto não existe mesmo.
Minha mãe estava preparando as coisas do café em silêncio, e geralmente essa era sua hora de contar os pontos altos do evento de ontem, porém, dessa vez eu era um dos pontos e o outro estava deitado na nossa sala de estar.
- Ta brava comigo? Perguntei me sentando na mesa.
Minha mãe me lançou um olhar que eu não reconheci.
- Porque? Porque estragar o evento dos pais de sua amiga? Porque estar tendo um caso com seu meio-irmão?
- Ok, quando a senhora fala dessa forma... Comecei.
- O que houve com Lucas de qualquer forma? Perguntou ela.
- Lembra que terminamos? Pois bem, terminamos porque eu o havia traído com Christopher, mas LUCAS não sabia que era ele, então quando descobriu ele meio que surtou como a senhora viu.
Minha mãe me encarava chocada, não esperava que ela me julgasse, mas sabia que ela ficaria desapontada. Ela gostava muito de Lucas.
- Oh, querido, você está bem? Ela perguntou me surpreendendo e então veio e me abraçou.
- Não. Respondi.
- Agora entendi porque Lucas apareceu com aquela garota, no início achei que fosse só para machucar você. Ela falou.
- Falando nisso, porque deixou Christopher no sofá? Podia ter colocado no quarto de hóspedes.
- E correr o risco de ele entrar no seu quarto no meio da noite? Não exatamente uma fã dele no momento.
Comecei a rir e apertei mais um pouco. A campainha tocou e nos soltamos.
- Vou atender a porta e você vá lavar esse rosto.
Então eu fui para o banheiro fazer meu ritual de higiene matinal. Minutos depois, desci para sala para ver a cena mais estranha da minha vida.
O pai (que também era o meu) de Christopher estava parado num canto com sua mulher, o outro pai dele (que não era meu) estava sentado no sofá, minha mãe estava com os braços cruzados perto da porta. Não parecia feliz.
Desci as escadas devagar. Propositalmente, pulei no último degrau, fazendo todos se virarem para mim.
- O que está acontecendo? Perguntei.
- Oi filho. Disse meu vindo de braços aberto. Eu o encarei inexpressivo.
- Sério? E então ele parou e abaixou os braços.
Christopher deu uma risadinha, vendo a cena. Minha mãe também sorria. Que pessoas malvadas.
Me virei para Christopher.
- Estavam preocupados porque eu não voltei para casa. - Ele respondeu. - Ah, e esse aqui é o meu...
- Pai biológico. TO sabendo, achei que fosse do Canadá. Respondi.
- E eu sou, - respondeu o homem com uma voz grave. - Robin, prazer.
Comecei a rir e todos me encararam.
- O que? Ouviram o nome dele? Falei entre risos. Eu podia ser um babaca as vezes.
- Enfim, vamos para casa. Falou meu pai.
- Não, eu vou...
- Você vai entrar no carro e vir com a gente. Disse a mãe dele friamente.
- Na verdade, - minha mãe tomou a frente.
- Acho melhor se sentarem. Tem algo que precisamos discutir.
- Tudo bem, não é da nossa conta, te esperamos no carro Tom. Falou a mãe dele novamente.
- É da conta de todos nós, na verdade. Rebateu minha mãe. E então todos sentaram-se. Meu coração acelerou. Íamos mesmo contar a todos que Chris e eu estamos juntos?
- Querem começar? Falou ela para mim e então pra Christopher.
Ele se virou para mim e piscou, fofo. Ele se levantou e contornou o sofá, ficando de frente para todos. Suspirei e me juntei a ele. A única pessoa com quem eu realmente me importava ali era minha mãe, então não eu precisava ficar nervoso. Já a mão do Chris estava pingando suor quando a segurei. A mãe dele foi a primeira a se manifestar.
- Isso quer dizer... Não, não pode... Se não você seria... E você não é... É? Perguntou ela ficando de pé e me olhando de um jeito estranho.
O pai dele ainda olhava confuso. Nosso pai, bem, era que quase parecia estar normal.
- Vou jogar a real, - disse Christopher apertando a minha mão. - eu gosto do Gabriel e ele gosta de mim, ou pelo menos eu quero que goste e estamos juntos. Vocês aprovando ou não.
Um flash atingiu a minha mente. Eu já tinha visto essa mesma cena antes, mas aonde... Oh, quando Lucas decidiu contar para os pais dele sobre nós. Foi uma confusão enorme, o pai dele avançou para cima de mim tipo umas mil vezes.
- Mas... Isso não... Tom, faça alguma coisa. Gritou a mulher quase histérica.
Meu pai olhou calmo para ela.
- Fazer o que? Os garotos se gostam e eles não são parentes então...
- Você tá apoiando isso? - Berrou ela. - Olha só o que o seu bastardo fez com meu filho!
- Ei, sua louca, você está na minha casa, e se insultar o meu filho novamente educou fazer você engolir cada palavra! Falou minha mãe ficado de pé também, fuzilando a mãe de Christopher.
Senti outra pontada. Não era para isso estar acontecendo. Eu estava tentando ficar longe de problemas e isso não estava ajudando em nada. Mas eu não podia e não iria abrir mão de Christopher, quer dizer, eu gosto dele demais para isso.
- Isso não está certo. - Falou o pai dele baixo e calmo. - Vocês são quase irmãos.
- Mas não somos parentes. Não tem problema...
- Filho você não vê isso agora, não tenho problema com você ser gay, você sabe disso, mas ficar com o filho do seu padrasto... É demais. Não posso aceitar isso.
- O que isso quer dizer? Choramingou Christopher me surpreendendo. Não achei que ele e o pai fossem tão próximos.
- Que você vai para casa fazer suas malas e pegaremos o voo depois de amanhã para o Canadá.
- O que? - Eu quase gritei de susto. Esse homem não podia levá-lo embora assim. - Chris o que tá acontecendo?
- Vamos nos acalmar e conversar... Disse minha mãe tentando recuperar o senso de todo mundo.
- Não tem mais o que conversar. Disse o pai-idiota-canadense se virando e saindo da minha casa. Meu pai arrastou sua mulher louca logo atras. Christopher pegou seu palito no sofá indo atrás deles.
- A gente se fala depois. Disse ele me dando um beijo no rosto e saindo porta a fora.
Eu desabei no sofá, tentando entender o que havia acabado de acontecer na minha sala. Minha mãe se sentou em silêncio ao meu lado e me abraçou. A campainha tocou e eu corri para a porta, Christopher podia ter voltado, mas então dei de cara com Lucas, usando as mesmas roupas de ontem, lábio inchado e olhos assustados.
- Preciso da sua ajuda.