As coisas caíram tudo no chão; a mochila não fora fechada direito. Sem paciência, sentou-se não chão e colocava tudo de volta na mochila. O estúdio já estava vazio; nove e meia da noite: ele era o último a estar voltando para casa.
A faixa e a castanhola caíram distantes, ele cambaleou até elas e as juntou. Levantou-se então encarando o espelho, sorriu e virou-se para ir embora.
A castanhola tocou.
Ele ouvira o som mais conhecido de sua vida, desde sua infância as aulas de dança lhe eram um presente dado pela mãe. Assustado pelo fato ele pensou quem mais poderia estar ali além dele. Mas a castanhola o impediu de pensar: ela tocou novamente.
Ele virou rapidamente e lá estava o fato: ele as tocava, o homem parado em sua frente: ele tocava as tais castanholas. Batera então os pés, aquilo era um convite para dançar; ele rapidamente jogou a mochila no chão e rápido a revirou a procura das castanhas: instalou-as nas mãos e seus pés bateram. Ouviu-se então o som ensurdecedor que não parava um minuto. Os homens adentraram numa dança compartilhada:
A sensualidade lhes expirava uma face voltada de desejo e de transparência lúcida. Palmas foram ouvidas, e as pernas entrelaçavam-se. A transpiração estava excessiva e o cheiro da excitação que estavam sentindo ardia-os o nariz, revelando uma louca vontade de dançar ainda mais e mais.
Os olhos estavam ligados, o verde no verde, e o som era eterno responsável por aquela movimentação brava que agora atingia o seu ápice: a dança estiver tão cálida que eles cada vez mais necessitavam daquele calor, o calor dos corpos, aproximaram-se... aproximaram-se... e os lábios se tocaram. O gosto de beijo era intenso e salgado: resultado do suor que lhes escorria a testa, a face e o corpo inteiro. O arranhar da barba era revigorante, machucava, pelos grossos e fortes. O calor era tanto que não resistiram em tirar a roupa:
Degustavam do corpo salgado. Do gosto único, da excentricidade nata. Estavam só naquele lugar trepido; penetraram se vorazes, e em meio a gemidos: as castanholas também tomavam a cena. Os cabelos molhados eram puxados como deveriam ser e eles provavam com todo o prazer essencial cada centímetro do que possuíam. As mãos tatevam: elas os estalavam a pele, seguido de um voraz gemido e um pedido de continuação; provaram do mel. O mel que os invadiu a boca e os fez calar, o sabor irreconhecível agora os tomara conta e eles desfalecidos contavam e busca da volta pelo fôlego.
Num minuto ele levantou. Olhou ao redor e vira que estava só e que sempre estivera. Não fora “eles”, mas sim um simples “ele”. Ele é quem estava lá e ele é quem sempre estivera. Não acabara de provar de um prazer a dois e sim de um prazer solitário, ou como melhor se diz: provara de um prazer com seu reflexo no espelho que tomara conta de toda uma parede do estúdio. O reflexo do homem fora seu companheiro e juntos eles tiraram um ao outro da solidão. Em suma, ele próprio tirou-se da solidão: gozou como nunca houvera feito. Sua cabeça rodava e ele pensava: que homem maravilhoso eu sou.
Era hora de ir para casa.