Cap.1
Em toda a minha vida nunca tive nada fácil. Sempre tive que ralar pra conseguir. Minha família era bem humilde, as vezes nem o que comer tínhamos. Por isso comecei a trabalhar. Precisava de um emprego, uma forma de ajudar em casa. Meus pais não tinham escolaridade, logo não conseguiam bons empregos. Restava eu ajuda-los. Assim, logo quando terminei o ensino médio procurei um emprego.
- Candidato Lucas, pode entrar ! - dizia o homem que iria me entrevistar. Estava nervoso, nunca havia estado numa entrevista na vida
- Bom dia Senhor !
- Bom dia, Candidato. Me Chamo Jorge, eu sou gerente do hotel.
- Muito prazer !
- O prazer e meu... Bem, você está em busca de qualquer vaga que aparecer, é verdade ?
- Sim, é verdade, eu preciso bastante trabalhar.
- Entendo. Seu currículo é mais bem recheado que o dos outros candidatos que por aqui passaram. Mas tenho uma notícia pra te dar, restou apenas uma vaga. Faxineiro !
E foi assim que consegui um emprego naquele hotel. Ficava numa área nobre da cidade,muito bem frequentado, cheio de pessoas ricas e famosas. Enquanto uma a uma elas iam e voltavam, eu continuava fazendo meu serviço sem me importar com nada nem com ninguém. Me chamo Lucas Reis. Tenho 17 anos. Sou um garoto como qualquer outro, cheio de sonhos e vontades, mas infelizmente a vida foi um pouco injusta comigo e eu não conseguia alcança-los. Não sou feio, mas também não sou uma beleza rara. Sou branco, tenho cabelos castanhos, um corpo definido, alto. Diria que essas são minhas principais características. Como disse, abri mão de boa parte dos meus sonhos e vontades para ajudar em casa. Meus pais já estavam envelhecendo, a força não era a mesma, eu tinha que ajuda-los ! Por isso buscava manter aquele emprego o máximo que conseguia. Precisava não ser demitido. Precisava daquele emprego !
TEMPO DEPOIS
Depois de um ano limpando e arrumando os quartos, eu já tinha visto e ouvido de tudo. Camisinhas jogadas pelo quarto, sangue espalhado pelo banheiro, roupa suja com coisas estranhas, enfim... Era estranho, mas eu tinha que continuar trabalhando, sempre com o maior sorriso do rosto. Vez ou outra algum famoso aparece na nossa cidade e, obviamente vem para o nosso hotel. Eu geralmente era encarregado de cuidar dos quartos, por ser o mais antigo. Não reclamava. Só não esperava que o próximo hospedado seria tão marcante assim.
TEMPO DEPOIS
Ouvia cochichos para todo lado, como se o mundo fosse acabar em cinco minutos.
- Do que estão falando ? - perguntei, me aproximando de um grupo.
- Estão dizendo que uma famosa banda vai se hospedar aqui.
- Sério ? Mas quem ?
- Ninguém sabe, tá todo mundo tentando descobrir - foi essa correria até vermos aquele homem cruzar a porta principal. Foi paralisante o seu olhar. Principalmente porquê eu era seu maior fã. Joaquim Lopes, ele adentrava o hotel. Nada mais era do que o cantor que eu mais escutava. Eclético, cantava desde rock até MPB. Me encantava com suas interpretações carregadas de emoções e sua voz tecida por anjos. Nunca acreditei que o veria tão de perto como estou vendo. Ele era lindo. Branco, cabelos lisos, olhos azuis, corpo malhado... O sonho de consumo de todos. E estava ali no hotel.
- Lucas, não está me ouvindo ?
- Ah... senhor, o que houve ? - meu gerente me olhava intrigado, mas sem falar nada.
- Você vai ficar responsável pelo quarto do Joaquim ? - arregalei os olhos.
- Sim. Você já está habituado, vai ser o melhor pra todos.
- Mas...
- Boa sorte ! - e agora... Como seria entrar no quarto dele ?
TEMPO DEPOIS
Durante anos, eu sempre fantasiei vê-lo uma vez. E agora estava tão perto. Sempre foi tão presente na minha memória, um sonho de consumo. Eu queria muito esse sonho de consumo pra mim ! Tantas vezes que perdi horas na TV apenas pra ve-lo,dinheiro gasto em revistas mesmo passando necessidades, e agora ele está a metros de mim. Era inacreditável !
TEMPO DEPOIS
Ele saiu do quarto para tomar café. Era o momento de eu entrar. Não nego, estava nervoso somente de ficar perto das coisas dele. Mas era necessário. Eu ainda estava precisando do emprego. Entrei no quarto sorrateiramente, mesmo sabendo que estava vazio. Quando entrei, uma bagunça arrumada. Algumas roupas jogadas, um violão, algumas notas. Sim, eu olhei. Arrumei a cama, como sempre fazia em todos os quartos. Aspirei o pó, troquei as toalhas, e deixei por último para guardar as suas coisas. Neste momento, bateu o meu ponto fraco. Algo que eu deveria fazer rapidamente, acabei demorando. Admirei suas coisas. Eram lindas. Eram do astro que eu mais assistia. Era quase que inacreditável !
- Gostou das minhas coisas ?
Continua
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