2 O Primeiro Olhar
Ainda estava envolto naquela euforia de novo universitário. Sei que pode parecer uma alegria idiota, mas ser aprovado no terceiro curso mais concorrido daqui, em um vestibular tradicional de discursivas e em uma federal é gratificante. Os 80 aprovados do meu curso foram divididos em duas turmas, a /1 iniciaria as aulas em março e a /2 em agosto. Fiquei na /2, por ter 6 meses de “férias” aproveitei esse tempo para começar a tirar carteira, alem de minhas aulas de violão, livros e algumas saídas nos finais de semana.
Uma semana depois da matrícula fui adicionado num grupo fechado do Facebook, era da minha nova turma, e todos estavam sendo convidados a participarem para nos conhecermos melhor e sermos uma turma mais unida. Achei o máximo à iniciativa e dei a ideia de cada um escrever e postar um pequeno texto se apresentando, todos gostaram e começaram a postar as auto-apresentações. Todos pareceram bem legais, era uma mistura de pessoas caseiras e pessoas da vida noturna de festas, alguns não eram daqui e ainda estavam correndo atrás de repúblicas ou apartamentos para morar.
Na minha vez de postar falei um pouco sobre mim e sobre meus objetivos, pensei bem antes de falar sobre eu ser gay, mas resolvi falar de uma vez, não queria passar cinco anos da minha vida escondendo quem sou, e como todos pareciam tão mente aberta então inclui essa informação. Todos curtiram minha postagem e dentre um dos comentários amigáveis um me chamou a atenção, nele estava escrito: “Po John gostei muito da sua apresentação”.
Por mais simples que aquela mensagem parecia algo me causou estranheza, não era nada demais, mas quis saber melhor quem era, abri o perfil e comecei a ver o que havia sobre ele. O nome dele era Nicholas, morava em um bairro nobre daqui, pelo que vi ele gostava de esportes apesar de não ter um porte físico condizente. Ele era branco, cabelo castanho claro cortado curto, magro sem aparentar músculos, eu confesso ele era bonitinho, mas nada que fizesse alguém enlouquecer, como não vi nada demais deixei pra lá minha estranheza e voltei ao grupo.
Larissa, uma das garotas da minha sala, criou um grupo no celular para conversamos todos melhor. Passamos nossos números para ela e fomos adicionados, realmente a conversa rendeu muito mais, parecíamos tão amigos como se estudássemos juntos desde o fundamental. Como muitos eram daqui ou de cidades vizinhas eu dei a ideia de marcar de sairmos, após muito planejamento, e reclamação dos que não moravam por perto daqui, marcamos uma sexta-feira de ir para a Rua da Lama.
A Rua da Lama é uma rua cheia de bares e restaurantes, bem badalada e bem frequentada, ficava de frente a universidade, começando em um posto de gasolina na Avenida da Ufes e terminava umas quadras pra dentro do bairro. Marcamos as 21h00min na frente de um bar conhecido de todos onde já havíamos planejado de ficar, cheguei meia hora atrasado, e encontrei facilmente eles. Procuramos uma mesa e nos aconchegamos, estávamos em seis (quatro garotos e duas garotas), elas não iam beber, então pedimos uma cerveja e elas ficaram no suco mesmo.
O tempo foi correndo e entre muitas cervejas e um papo maravilhoso sobre tantas coisas chegou alguém, reconheci quase de imediato quem era: Nicholas. Ele estava com uma roupa simples, mas um sorriso irradiante no rosto, ele, cumprimentando a todos, se sentou na extremidade oposta a minha na mesa. Apesar de já saber que o álcool estava começando a fazer efeito precisava me controlar, pois de tempos em tempos me pegava olhando pra ele. Eu estava conversando com os outros garotos sobre questões de política e recursos financeiros (nem me lembro de onde surgiu esse assunto), ele estava conversando com as garotas sobre algo, não conseguia entender o que, pois o bar estava cheio e o barulho de conversas, musica e da luta que passava nas TVs me impediam de ouvir, mas vi que ele já as conhecia.
Depois de algumas horas de bebedeira já havia passado da meia noite e as garotas resolveram ir embora. Aproveitando o momento eu disse que não queria ir embora, mas reparei que eles já estavam cansados, até que Pedro (um dos garotos) disse:
- Eu vou pra boate hoje encontrar com minha namorada John, se quiser ir então partiu.
- ah então vamos logo. – Eu disse rindo.
- Ah já que vocês vão então vou também, ir pra casa dormir nem rola. – Disse Nicholas já animado com a ideia.
Eu sorri pra ele, nos despedimos do resto do pessoal e fomos andando pra boate que ficava no mesmo bairro. Estava meio tonto já, mas nada que alterasse meu eu normal, fomos andando e conversando coisas aleatórias. Mas algo me dizia que a noite só estava começando.
-continua-
Espero que estejam gostando e por favor comentem para saber se estou indo bem. obg a todos.