Como Não Me Apaixonar ep. 03

Um conto erótico de John
Categoria: Homossexual
Contém 1946 palavras
Data: 06/07/2015 23:46:20
Última revisão: 14/10/2017 23:27:46

3  Quando Se Esquece do Mundo

Fomos conversando durante a caminhada em direção à boate, Pedro falava sobre sua namorada, enquanto Nicholas andava uns três passos a nossa frente. Pedro era muito branco, cabelos negros curtos e espetados, era da minha altura e seus lábios vermelhos contrastavam com sua pele. Reparei que apesar de conversar comigo ele olhava muito para Nicholas, mas como Nicholas andava a nossa frente eu deduzi que ele apenas olhava o caminho. A conversa continuou, reparava o silêncio de Nicholas, mas nada disse, até que, minutos depois, chegarmos à boate.

Era quase 01h00min da madrugada, havia uma pequena fila na frente da porta, paramos nela, que andava tranquilamente, e em seguida entramos sem demora. Essa boate funciona em um casarão, na entrada há um gramado para quem quisesse conversar ou dar uma pausa das pistas de dança, no andar de baixo havia uma pista de dança climatizada, o local de bebida e os caixas de pagamento, no segundo andar era uma lanchonete, e nos fundos havia uma segunda pista de dança em um grande deck com uma piscina ao centro, o fundo do lugar é as margens do canal que limita a ilha. Ainda no gramado Nicholas nos chamou:

– Hoje está meio cheio, vamos evitar se separar pra não nos perdermos, não quero terminar a noite procurando bêbado. – disse Nicholas rindo.

– Relaxa, pois se depender de mim você jamais ficará. – eu falei depois pensando bem na bandeira que eu dei, imediatamente tentei concertar o que eu disse. – Daqui a pouco Pedro encontrará a namorada e irá se esquecer de nós e eu quero um parceiro pra beber. – disse rindo, mas acho que piorei as coisas.

– Lógico que não vou abandonar vocês, hoje vamos curtir partiu! – disse Pedro nos puxando para dentro da pista de dança.

Estava bem cheia a boate, andamos em todos os ambientes primeiro para ver o movimento, o som alto me fazia ir dançando abrindo o caminho entre a multidão, Naquele momento tocava “Capital Cities - Safe and Sound”. Os chamei para começarmos a beber, comecei com uma tequila, eles foram de cachaça, eu disse:

– Um brinde pela nossa vitória no vestibular!

Pegamos as doses, sal, limão e jogamos para dentro, depois veio aquela careta, rimos muito, pegamos umas cervejas e fomos para a pista interna.

Rolava um karaokê, achei muito massa, das vezes que já tinha ido nunca dei a sorte de ter. Nicholas e Pedro ficaram mega animados pra cantar algo e me arrastaram pra escolhermos uma música. Depois de muita discussão escolhi Moves Like Jagger do Maroon 5 e eles concordaram. Bebi a minha cerveja de uma vez quando chegou nossa vez. Subimos no palco e começamos a cantar, foi incrível, a galera começou a gritar quando ouviram a música e nos acompanharam em coro, não sabia se me sentia como um artista em um show ao vivo ou se me identificava com a Sarah Jessica Parker em Sexy and the City 2 quando ela e suas amigas cantam em um karaokê em Abu Dhabi, mas a nossa performance foi perfeita, na hora do refrão eu tirei a camisa e fiz uma dança doida, a galera dançou muito, quando a musica terminou falamos juntos:

– Valeu galera! Uhu! A engenharia é diferente!

Saímos da área interna rindo muito, estávamos indo pegar mais bebida, eu no meio e os dois em cada lado, joguei meus braços em cima deles e os puxei para meu corpo.

– Fomos incríveis, nós arrasamos. – Disse em estado eufórico.

– Fomos mesmo, mas agora precisamos beber mais. – disse Nicholas.

No caminho vem uma garota e abraça Pedro, pela intimidade sabíamos quem era:

– Gente essa é Clarisse, minha namorada.

– Prazer. – dissemos juntos eu e Nicholas.

– O prazer é todo meu. – disse ela – Onde estavam indo?

– Íamos beber alguma coisa, mas já parei por hoje. – disse Pedro.

– Eu quero tequila, mas eles estão devagar. – eu falei rindo.

– Não seja por isso, te acompanho nessa. - ela disse já pegando no meu braço e me puxando para o balcão.

– Duas tequilas – Falei.

– Três! – Disse Nicholas se apertando conosco, confesso que gostei da atitude.

Enquanto o cara servia as doses eu recolocava a camisa, Pedro estava atrás da namorada enquanto bebíamos, peguei mais uma cerveja e Nicholas também. Olhávamos os dois se beijando e ficou um clima meio estranho, chato, para não dizer outra coisa.

– Pedro enquanto você aproveita ai eu vou dançar – falei já puxando Nicholas para a multidão.

Entre empurrões e apertos conseguimos um espaço no meio da pista, estava tocando um eletrônico sem letra, eu dançava sem me preocupar com nada, mas percebi-o sem jeito pra dançar, naqueles passos um pra lá e pra cá, dava pra entender, tem muito hétero que não sabe dançar. Segurei seus braços e comecei a balançá-lo no ritmo da música, ele sorriu.

– É assim que se dança. – eu disse rindo sem parar de mexer ele – aproveita o momento, assim é quando se esquece do mundo. – ele sorriu mais ainda e começou a dançar por conta própria.

Ele estava se soltando quando Pedro apareceu sozinho agora, olhou Nicholas dançando de olhos fechados num ritmo próprio. Pedro olhou para mim com uma cara de “que porra é essa? Ele tomou alguma coisa alem de álcool?” e eu apenas ri.

– Hein, Clarisse precisa ir embora, problemas com uma amiga dela – Disse Pedro meio cansado já. Entendia o cansaço dele afinal já eram 05h00min da manhã.

– Vamos lá ver como elas estão. – Eu falei em tom de preocupação. Chamamos Nicholas, o acordando de seu estado viajante, e fomos para o gramado ver como estava a amiga de Clarisse.

Ao chegarmos vimos a Clarisse rindo segurando a amiga que estava em um estado deplorável, extremamente bêbada. Conversamos um pouco e um tempo depois nos despedimos. Carregando a amiga, elas pegaram um taxi e foram embora. Estava visível a cara de chateado de Pedro e era compreensível, ele recebeu pouquíssima atenção dela. Logo tratei de animá-lo, do gramado ouvimos que já estava chegando ao fim da festa, pois de eletrônico começou a tocar musicas retrôs que caracterizam o fim do rock. Imediatamente puxei os dois para a pista de novo, tocava “Bonde do Tigrão” e eles riam muito, pois eu sabia dançar a coreografia, tratei de ensiná-los e eles já estavam me acompanhando nos movimentos. As musicas foram passando e por fim tocou a ultima música, “Beirut - Elephant Gun”, eu adorava essa música e fui dançar sozinho no meio da pista, a maioria já havia ido embora salvo uns ou outros caídos pelas paredes. Os dois ficaram me observando, enquanto para eles eu parecia um doido rodando e rindo sozinho, para mim eu me sentia livre, feliz, tão bem com tudo e comigo mesmo.

– Vem vamos embora, já acabou a música. – Disse Nicholas rindo, mas chateado por ter que me tirar da minha diversão.

– Que horas já são? – Perguntei meio perdido e suado pela noite exaustiva.

– 6 horas já, e estou morto, só quero minha cama. – disse Pedro com uma cara de cansado.

– Vamos então – disse.

– Da pra pegar um taxi e rachar - disse Pedro.

– Lógico que não gente, vocês moram aqui perto, vamos andando mesmo – insistindo muito até que eles aceitaram.

Estávamos no bairro Jardim da Penha, Pedro morava no bairro Praia do canto, no outro lado do canal, e Nicholas morava na Mata da Praia, bairro vizinho de onde estávamos, mas na direção oposta a Praia do Canto. Fiz uma logística rápida e combinamos de deixar Pedro em casa, depois ia com Nicholas ate a casa dele e por ultimo eu ia para a minha, eles concordaram.

Saímos da boate e começamos nossa caminhada, ainda estávamos rindo pela noite divertida que tivemos. Pedro já reclamava de cansaço quando passávamos pela ponte para o bairro dele, mas a conversa estava boa e nos distraiu da exaustão. Umas quadras depois chegamos ao prédio de Pedro, nos despedimos, ele entrou e eu e Nicholas retomamos nossa caminhada para a casa dele agora, o papo estava tranquilo, atravessamos de volta a ponte e seguimos em direção ao bairro dele.

– Fiquei surpreso pelo seu desempenho como dançarino – disse ele rindo.

– Você não viu nada ainda, sei dançar de tudo um pouco, sorte sua que não tocou um funk pesado, tenho que te ensinar muita coisa pelo visto.

– Sou bom com luta, você me ensina a dançar e eu te ensino a se defender.

– Sou o dobro do seu tamanho, e você não parece alguém que luta. – falei em tom de duvida, apesar de ser mais forte e mais alto sempre fui indefeso, minha personalidade sempre foi mais sentimental apesar de ser mais bruto por fora.

– Eu trabalho minha agilidade e não se engane sou mais forte que pensa.

– Medo agora, mas ok – falei sorrindo.

– Posso perguntar uma coisa? – Disse ele num tom pensativo.

– Claro – falei.

– Você é mesmo gay? Quero dizer, sei lá, é que você não parece. – disse ele olhando para o chão.

- Sou sim. Olha, cada gay tem sua personalidade, nossa sociedade tem uma necessidade de classificar e agrupar as pessoas, e a vida não é assim, cada um é único. Sou mais na minha mesmo, mas isso não significa que me escondo ou coisa do tipo. Sou apenas eu mesmo, esse que você vê por fora e por dentro. Sou feliz assim e até hoje nunca incomodei ninguém, talvez por eu levar na naturalidade e não como um problema ou castigo divino. – falei tranquilamente olhando em seus olhos.

– Entendi... Bacana... – disse ele meio pensativo e sem saber o que dizer.

– Apesar de que eu amo assistir Titanic e isso soa bem gay, mas relaxa, não é por que eu sou gay que eu saio dando em cima de qualquer um. – falei rindo para ele se confortar de novo.

– Acredita que eu nunca assisti a esse filme?

– Você está falando sério? Que tipo de ser humano é você? – Falei rindo, mas num tom revoltado.

– Ah sei lá, gosto mais de clássicos como O Poderoso Chefão.

– Agora sou eu quem diz: nunca vi esse.

– Você está falando sério? Que tipo de ser humano é você? – ele disse rindo ironicamente.

– Vamos marcar de assistir com certeza, tenho Titanic no meu note.

– Vamos sim, e eu tenho O Poderoso Chefão no pen drive.

Chegamos à frente do prédio dele, ele perguntou se eu queria subir, mas disse que estava tudo bem, pois meu ônibus passaria logo e havia uma linha que passava a uma quadra dali.

– Fiz meu papel, te trouxe são e salvo em casa, agora já vou, e espero uma nova saída – disse andando de costas olhando para ele.

– Pode deixar que nós vamos sair sim, tchau – disse ele.

Passou uns segundos e ele entrou na portaria do prédio, segui meu caminho ate o ponto, com um sorriso no rosto pela divertida noite que tive. Enquanto esperava o ônibus fiquei pensando em tudo que ocorreu no dia. Nicholas era muito bacana, mas ao mesmo tempo muito introspectivo e isso me causava certa curiosidade de conhecê-lo melhor, mas ele era hetero, não podia querer vê-lo de uma forma diferente se não como amigo. Apesar de o convite para subir ter sido tentador, não queria confundir as coisas, já me magoei duas vezes por cometer esse erro e nessa nova fase da minha vida iria fazer tudo certo. Minutos depois veio meu ônibus, cheguei em casa, bebi uma água e gastei minha ultima energia tirando a roupa e caindo na cama. Apaguei num sono profundo.

- Continua -

Muito obrigado pelos comentários nos dois primeiros contos, me incentivaram a continuar. Esse capitulo ficou mais longo pois precisava dessa riqueza de detalhes, prefiro pecar pelo excesso do que escrever algo direto e sem graça kkkk mas a partir daqui a historia desenrola :D até amanhã.

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Comentários

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Cara parabéns mesmo Amo os detalhes e vc não poupa eles, se escreve bem é fácil entender o seu objetivo, ta de parabéns, comentando meio atrasado mas só agora encontrei esse conto

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Muito bom o seu conto, quanto maior melhor! Queria te parabenizar por ter passado no vestibular da federal daí pq fiz a prova em dezembro e tava bem foda, você realmente deve ser nerd haha

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Ameiii! detalhes fazem toda a diferença, continue assim está perfeito e, estou amando seu conto, parabéns você tem muito talento. Um abraço!!!

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Muito bom seu conto, pode ter certeza que contos ricos em detalhes cativam mais o público. Abracos man...

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