Cauê acelerou o carro antes que o policial pudesse dizer qualquer coisa. Logo se arrependeu do que estava fazendo:
- Cauê, o que você foi fazer? - Cauê sussurrava para si mesmo. - Bom, agora vou ter que ir até o fim.
Corria como um profissional quando alcançou um caminhão enorme que estava na sua frente. A mão contrária estava limpa. Cauê resolveu podar o caminhão.
Quando estava quase terminando, faltava pouco para conseguir voltar para a mão certa, um carro na sua direção contrária apareceu:
- NÃO! De onde esse carro apareceu? - disse virando com tudo o volante quando:
PÁH!
***
- Como vocês têm coragem de aparecer aqui juntos? - Abel estava possesso.
- Podemos ir a onde nós quisermos, Abel. - disse Leonardo se aproximando de Antônio.
- Vocês me enojam. Fiquem sabendo que vou entrar na justiça pra tirar o Lélio de vocês. Não quero que meu irmão se contamine.
- Você cuidar do Lélio? Por favor, né, Abel? Eu é quem não quero que ele fique perto de você. Vai que ele tem o mesmo fim da sua avó? - disse Leonardo.
- Cala a boca! Seu viado de merda! Você não sabe de nada! - gritou Abel esmurrando o pai.
Todos no velório ficaram perplexos. Antônio ajudou Leonardo a se levantar e disse:
- A sua avó estava desesperada. Ligou pro seu pai pedindo ajuda porque estava pressentindo que algo ruim iria acontecer.
- E esse idiota nem apareceu. Mandou a putinha dele.
- Eu não quis vir porque você nunca me escuta ou quer me ver. - Leonardo limpava o sangue da boca.
- Uma porcaria de pai, você. Espero que você saiba que o culpado de tudo isso é você. A morte da minha mãe, agora a da minha avó.
- Cresce, Abel! Arque com as consequências dos seus atos. - revidou Leonardo.
- Se eu tivesse tido um pai de verdade, talvez eu não fosse assim. - Abel saiu.
No meio de toda aquela gente de preto um homem discou alguns números no celular. Alguém atendeu do outro lado:
- Mangalô, o nosso alvo está bem vulnerável.
- Ótimo! Escolha o ponto mais fraco que ele tiver e ataque sem pestanejar... Comigo é olho por olho e dente por dente.
- Sim, senhor. - o homem desligou o celular e voltou para o velório.
***
Cauê conseguiu passar entre o caminhão e o carro que vinha na sua direção. Apenas parte do para-choque traseiro foi danificada pelo carro que vinha na direção contrária:
- Ufa! Essa foi por pouco. Mas, quer saber? Até que foi divertido! - continuou em alta velocidade até que conseguiu despistar a polícia chegando à cidade.
Desceu do carro e usou uma fita para alterar a placa e distrair a polícia.
***
Abel caminhava por entre os túmulos do cemitério quando avistou o de sua mãe junto da qual, logo mais, sua avó seria enterrada:
- Desculpa, mãe! Me perdoa... - ajoelhou-se.
- Abel... - uma voz lhe chamou.
Abel virou-se e viu Felipe:
- Você... Quer o quê aqui? Se você não sabe a minha avó...
- Eu sei o que aconteceu com a sua avó. É por isso que estou aqui. Eu também tenho culpa.
- Do que você está falando? - Abel levantou-se.
- Quando você me soltou no meio do nada ontem eu encontrei um cara, um tal de Antônio que estava vindo pra sua casa. Ele disse que você corria perigo e eu estava tão cego de ódio que ensinei um caminho errado só para me vingar de você. Quando ele finalmente chegou toda a tragédia já havia acontecido. Eu me arrependo muito.
Abel estava sério. Fechou a mão com força e veio na direção de Felipe que fechou os olhos eRecebeu um abraço de Abel:
- Nunca mais se culpe por algo que eu fiz. Se vocês tivessem chegado mais cedo talvez nós estivessemos velando três corpos.
- Então você não está bravo? - perguntou Felipe.
- Não. Eu fui horrível com você. Justo você que sempre gostou de mim, que disse que eu era especial... Nunca me esqueci disso. Sabe todas aquelas cartas que você me mandava?
- Sim... - Felipe estava sem graça.
- Antes de jogá-las fora eu lia várias vezes. Lembro cada palavra de cada uma.
- Uau! Eu não imaginava isso.
- Precisava dizer. Não sei o que pode me acontecer. Não queria morrer antes de te dizer obrigado. Obrigado e me perdoe por tudo o que eu fiz.
- Como assim? Abel, você precisa parar com essa sede de vingança. Isso vai acabar te destruindo.
- Pode até ser, mas até me destruir eu vou ter feito um grande estrago.
- Você não pode morrer.
- Ninguém vai sentir falta.
- Eu vou. Eu, a Janaína e principalmente...
- Principalmente quem?
- A Janaína está grávida. Eu fiz as contas e não acho que o Joaquim seja o pai. Você é.
- Como assim?
- Aquele dia que vocês fizeram sexo no banheiro do mercado. Eu vi. Não faz muito tempo.
- Meu Deus... - Abel estava pensativo. - Essa criança pode muito bem ser minha.
- Talvez seja a sua chance de corrigir o erro do seu pai.
O mesmo homem que falava com Mangalô no velório estava agora atrás de um dos túmulos e ouvira tudo:
- Achei seu ponto fraco, Abel...
***
- Mãe, só tô ligando pra dizer que eu tô bem. Tá... Tá, mãe. Quando eu chegar a gente conversa. Tchau. Beijo. - Cauê desligou o celular. Estava em frente a um parque aquático.
- Então é aqui que você trabalha, Joaquim!
Entrou mas não sabia o que Joaquim realmente fazia. Procurou por todo o lado e não o viu no meio de tanta gente. Tentava passar entre eles, mas estava quase impossível. Viu um espaço bem na beira da piscina e não pensou duas vezes. Porém, quando estava passando alguém acidentalmente o empurrou e ele caiu na piscina. Começou a se debater:
- Socorro! Eu não sei nadar! - Cauê estava engolindo muita água, a piscina era funda.
***
Janaína, que ainda estava no velório, recebeu uma ligação e foi para uma sala vazia para poder conversar melhor:
- Alô? Oi, mãe! O quê? Meu carro foi roubado? Eu emprestei ele pra uma amiga... O quê? Uma perseguição com a polícia? Tá, tô indo pra casa! – desligou o celular. – Cauê, o que você fez?
***
Uma senhora, ao ver quatro homens saírem do velório carregando um caixão perguntou:
- De quem é o corpo?
- Ninguém, senhora! Estamos indo trocar o caixão que está vazio...
- E Precisa de quatro homens pra carregar um caixão vazio?
A curiosa senhora ficou sem resposta, os homens já estavam do lado de fora colocando o caixão no carro.
- Alô, chefe! Estamos levando a encomenda. - disse um deles que estava no celular.
***
Cauê sentiu um braço forte lhe puxar e o tirar da piscina. Estava tudo muito embaçado, se sentia sufocado com a água que havia engolido. De repente sentiu lábios tocarem os seus, alguém estava lhe fazendo respiração boca-a-boca. Podia jurar que aqueles lábios eram...
- COF! COF! – Cauê estava vomitando toda a água que havia engolido. Apertou os olhos e conseguiu reconhecer o seu salvador:
- Joaquim?
***
A avó de Abel havia acabado de ser enterrada e todos já estavam voltando do cemitério quando alguém muito depressa entregou um envelope grande a Abel e sumiu na multidão. Dentro do envelope havia um celular que estava tocando. Abel atendeu:
- Oi, Abel!
- Mangalô! – Abel estava com os dentes cerrados.
- Que bom que já me conhece, assim me poupo das apresentações.
- O que você quer?
- O que eu quero? - Mangalô riu. – O que você quer, Abel?
- Não tô entendendo.
- Estou com duas pessoas aqui que muito te interessam.
Abel ouviu gritos no fundo:
- Janaína? Deixa ela em paz! O seu problema é comigo.
- Claro! Então venha buscá-la e poderemos acertar as nossas contas.
- Onde te encontro?
- Você vai fazer exatamente o que eu mandar.