depois me entreguei ao cansaço. Dormi e não vi mais nada. Só via o paraíso.
Tomás me esperava no fim de um túnel escuro com um foco de luz clara atrás dele. Era o meu caminho até o outro lado da vida...
O lado bom...
Nota do escritor: talvez alguns não gostem e fica a critério de vocês querer ou não ouvi-la, mas recomendo escutar a música Dreamer – Uh Huh Her durante todo esse capítulo.
NARRADO PELO AUTOR
(Minutos antes de Adam entrar na cirurgia)
--- Casa de Adam ---
Alicia estava sentada na cadeira da cozinha, com os cotovelos apoiados sobre a mesa e a mão esquerda massageava a testa: pensava na situação de seu irmão. Ela já sabia que ele havia acordado. Vitor acabara de sair do banheiro e entrava na cozinha. Ver sua amada daquele jeito partia-lhe o coração, ainda mais por que seu melhor amigo estava em um estado tão péssimo.
Ele se aproximou dela e acolheu-a em seus braços. Ela deixou-se levar por seu envolvimento e aninhou-se nele. Seu cheiro estava ótimo, uma mistura de pele limpa, sabonete e água. A combinação perfeita. Vitor tentou acalmá-la como pode, mas sabia que só havia uma pessoa que conseguia resolver tudo.
Adam.
Adam era o centro. Ele conseguia achar uma solução para tudo e isso era uma de suas qualidades mais perfeitas.
Ainda nos braços de Vitor, Alicia relaxou o bastante para retomar sua respiração calma novamente. Seus olhos estavam escuros por ter lamentado todas as coisas ruins que acontecera a seu irmão. Seus pais ainda não estavam a par da situação, pois estavam muito ocupados. Mas também, Alicia bem sabia que, se fosse Adam a resolver a situação, ele nunca preocuparia seus pais. Ele nunca preocuparia ou incomodaria ninguém.
O telefone sobre a bancada da cozinha toca e seu soar preenche todo o estabelecimento.
- Tenho que atender – disse Vitor a Alicia – Fique aqui um pouco.
- Ok... – ela confirmou e ele a largou.
Ela se apoiou na cadeira sentindo a falta do peito do amado para confortá-la. Ele se dirigiu até a bancada e, antes de atender, olhou a descrição da chamada. Olhou para Alicia e disse calmamente:
- É do Hospital Regional Particular...
Os olhos de Alicia apenas se fecharam e ficou evidente seus cílios molhando-se com lágrimas, mas nenhuma escorreu das pálpebras. Não podendo ignorar o chamado, Vitor atendeu o telefone.
- Alô? – disse ele.
- Vitor? É o Tom.
- Oi Tom – disse ele e olhou para Alicia. Essa abriu os olhos e mostrou um sinal de esperança no olhar.
- Tenho uma péssima notícia para dar a Alicia...
Era claro sobre o que ele estava falando.
- Não acho que seja uma boa ideia... – tentou alertar, mas Alicia veio por de trás dele e pegou o telefone de sua mão. Nada forçado e sim muito carinhoso.
- Pode falar Tom.
- Ali... – ele fez uma pausa – O Adam tomou uma decisão. Minha mãe está definitivamente morrendo e ele resolveu doar seu sangue a ela.
- O que? – ela disse incrédula.
- Eu tentei pará-lo, mas você sabe como é o Dan. Ele se recusou a me ouvir. Ele entrará em transfusão de sangue daqui a pouco. Acho bom você vir aqui.
- Estou chegando. Impeça ao máximo essa cirurgia de acontecer. Eu já estou chegando.
FIM DA CONVERSA
Vitor mau perguntou o que tinha acontecido e Alicia forçou ele a entrar dentro do carro. Os dois partiram rapidamente para o Hospital.
--- HRP ---
Tomás desligou o celular e entrou na sala onde Adam já estava deitado esperando o início da cirurgia. Ele se aproximou de Adam e começou uma conversa com ele (conversa do capítulo anterior). Depois de alguns minutos saiu da sala e trancou a porta. A partir daquele momento não havia volta. Nesse momento Alicia chega e parece que já tinha entendido tudo: Dan iria mesmo fazer aquela loucura.
Ela correu até a sala das pessoas que podiam assistir a toda ação dentro da sala de cirurgia e encontrou Adam em uma maca olhando para ela. Ela tentou entrar, passar pela aquela barreira de vidro, mas não tinha como, ela até era a prova de som. Adam fez um movimento com a boca:
> Eu te amo...
Então ela simulou sua fala, mas sem falar nada, apenas com o moimentos dos lábios:
> Não faz isso...
Mas não tinha jeito. Adam tinha se decidido. A máquina começou a funcionar e o sangue dos dois (Adam e Bárbara) saiu de suas veias e passaram por ela. Uma veia levava o sangue de volta para Bárbara e Adam não recebia nada. Só doava. Com um tempo seus olhos se fecharam e ele pareceu dormir.
Todo esse tempo Tomás estava assistindo sentado ao lado de Alicia, que estava em pé. Ela então se sentou e ficou entre Vitor e Tomás. Passou a mão na mão de Vitor e então agarrou a de Tomás, entrelaçando os dedos nos dele. Ele olhou para ela com os olhos marejados e sorriu pequenamente. O clima ficou assim por alguns minutos.
NARRADO POR ADAM
Senti um frio muito forte e uma névoa escura parecia cobrir meus olhos. Até que consigo abrir os olhos e ver uma sala escura com as luzes apagadas. Havia uma janela de vidro por onde era possível ver médicos e enfermeiros passando de um lado pro outro, apressados. Forcei a minha cabeça pra cima, tentando sentar. Levantei-me e fiquei de pé. Estava vestido numa fina roupa azul de paciente, aberta nas laterais até a altura da cintura, onde se fechava para não mostrar meu corpo. Caminhei, cambaleando pela tontura, até a porta e peguei na maçaneta, girando-a.
Puxei a porta e a luz do lado de fora invadiu o quarto, queimando meus olhos. Instintivamente levei as mãos e os braços para proteger minha visão. Alguns segundos depois conseguia ver sem precisar me proteger, mas om muita dificuldade. Só então percebi que as pessoas que andavam pelo corredor paravam e ficavam me olhando com uma cara inacreditável. Uma mulher veio correndo do lado esquerdo e entrou no contingente de pessoas que estavam ao meu redor. Ela parou a alguns metros de mim e disse um assustado “Meu Deus...”. Fiquei sem entender.
- Alguém poderia me dizer – disse eu com a voz rouca e seca – Onde fica o banheiro?
Alguns homens riram e outras mulheres franziram o cenho. Mais passos cortaram o corredor do lado esquerdo e um homem virou na entrada dele. Parou assim que me viu e abriu a boca assim como todos os outros. Ele nem precisou entrar no meio de toda aquela gente.
- Você está vivo... – ele disse isso.
Eu conseguia me lembrar de seu rosto. Era o Dr. Diego. Dei alguns passos em sua direção e as pessoas abriam caminho para que eu passasse: parecia a volta de Jesus, mas só que dessa vez ninguém queria me tocar.
- Eu morri? – perguntei a ele.
- Pelo o que eu estou vendo não. Você está vivo.
Eu não estava entendendo muito bem aquela situação. Outros passos invadiram os ouvidos de todos. Dessa vez eram sons de saltos batendo no piso do corredor. Só que diferente dos outros, ela (pelo som ser de tamancos, imaginei ser mulher) não veio correndo, veio calmamente como se andasse. Eu estava de costas para ela. Quando fui me virando para ver quem se aproximava, uma dor forte me arrebatou a cabeça e a tontura parecia insuportável. Senti minhas pernas fraquejarem e então meu corpo desabava sobre elas. Mas antes de cair no chão, acabei passando por uma situação constrangedora. Meu rosto foi de encontro com os seios de uma mulher. A mesma mulher que estava andando em minha direção, supus. Ela segurou meus ombros para que eu não caísse e acariciou minha cabeça como se eu fosse seu filho. Abri os olhos e vi, sobre minha cabeça, além dos peitos dela, um rosto conservado, saudável, cabelos loiros e olhos verdes magníficos.
- Eu conheço você... – disse eu sussurrando.
- Claro que conhece – disse ela - Meu herói...
Capitulo abri os olhos e vi, sobre minha cabeça, além dos peitos dela, um rosto conservado, saudável, cabelos loiros e olhos verdes magníficos.
- Eu conheço você... – disse eu sussurrando.
- Claro que conhece, meu herói – disse ela...
Acordei na mesma cama de Hospital em que acordei quando levei um tiro. Pelo menos acho que era a mesma cama, o mesmo quarto. Dessa vez não tinha ninguém lá. Tentei sentar-me na cama, mas estava muito fraco, até que vi o controle automático e consegui inclinar-me. Fiquei lá me acostumando com algumas poucas dores no corpo e uma forte dor de cabeça. Até que a porta se abre e um homem vestido de preto entra.
Aquele estilo gótico era o mesmo estilo que eu me lembrava. Era Bruno. Ele sorriu ao me ver, não um sorriso de “ainda bem que você está vivo”, mas um sorriso de “estou louco pra ter você na minha cama”. Ele veio em minha direção e, sentando-se no banco próximo a mim, inclinou-se e me beijou. Um beijo forte, não muito sensível, mas muito vivo. Do tipo que “eu estava na seca esse tempo todo, não me venha com esse papo de que está doente”. É, ele é meio bruto mesmo.
Eu parei o beijo como consegui, não tinha muita força na hora. Olhei pra ele e ele só sorriu.
- Estou bem, obrigado – disse eu ironicamente.
- Foi mal, eu queria muito te ver. Sabia que eu não beijava a muitos dias?
- Você podia ter beijado quem quisesse. Não estamos namorando.
- Não é por falta de vontade minha... – ele disse e começou a passar a mão no meu peitoral agora definido – Sabia que você está me excitando?
- Eu não estou fazendo nada...
- Não precisa... – ele disse e se levantou, começou a me beijar de novo e a cheirar meu pescoço.
- Não faz isso Bruno, alguém pode ver....
- Podem ver o quanto quiser...
- Não... – eu não conseguia me livrar dele.
A porta do quarto se abre e Chris entra, esbanjando todo o seu poder financeiro. Por incrível que pareça ela ia me visitar mais que meus melhores amigos. Ela entrou sorrateiramente, impedindo de Bruno vê-la, mas eu vi, só que não consegui avisá-lo a tempo. Ele subiu e me beijou na boca e, nesse momento, Chris pega o celular e tira a foto da vitória, a que me acabaria se caísse em mãos erradas, só que ela já estava.
- Bruno! – disse eu e como se ele soubesse o que estava acontecendo, se virou e olhou pra ela com uma cara de assustado.
- Não, continuem, não parem por minha causa – disse ela ironicamente.
- O que você veio fazer aqui? – eu estava tentando parecer inteiro, coisa que eu não estava, mas estava me saindo bem no disfarce.
- Eu vim ver se você está bem, não é óbvio? – ela sorriu e balançou o celular – Mas acabei conseguindo algo muito melhor.
- Por favor... Eu faço qualquer coisa, só não espalhes essa foto – pedi.
- Saia! – ela rosnou para Bruno. Esse saiu como se recebesse ordens de sua senhora e isso me decepcionou muito – Você sabe muito bem o que eu quero – disse ela assim que ficamos a sós.
- Eu faço – sim, eu sabia – Mas me dê essa foto.
- Você parece uma criancinha... É claro que não vou dar essa foto a você até que eu ache que você fez o que eu quero.
Ela tinha razão.
- Certo, tudo bem.
- É assim que eu gosto, submisso – disse ela, me deu um tapa forte e caminhou para a saída – Que fique avisado.
Saiu. Meu rosto estava ardendo e nem precisava ver para saber que estava vermelho. Alguns passos de tamanco ressoaram pelo piso e uma perna bonita saiu por de trás de uma armação que só os médicos tem acesso. A mulher loira de olhos verdes mostrou-se mais bonita do que eu vira e veio em minha direção. Eu estava assustado por alguém ter visto toda a cena.
- Você está bem? – ela disse docilmente.
- Sim... – eu estava com os olhos bem abertos de nervosismo.
- Não precisa se preocupar com o que aconteceu aqui. Se eu ouvi? Sim. Se eu vi? Sim. Mas não vou contar nada a ninguém.
Eu estava olhando atonitamente para ela. Não sabia o que dizer.
- Você se lembra de mim, não é?
- Sim... – disse fraco e depois continuei num tom mais plausível – Como esquecer a Senhora Saúde? – perguntei retoricamente.
- Obrigada. Por tudo o que você fez. Você foi idiota, é verdade, ao tentar se suicidar pela mãe de seu amigo, mas contando que foi uma boa ação, você é bem visto por todos agora.
- Obrigado.
- Eu sei que parece estranho a mãe de seu amigo saber a verdade sobre você. Mas você pode contar comigo. Sei de toda sua história com Chris e, se tem uma coisa que eu não quero, é tê-la como nora. Prefiro que meu filho ande mais com você.
Isso me surpreendeu.
- Escute aqui meu jovem: todos nós sabemos que meu filho é um rapaz lindo, muito mais que o normal. Por esse motivo, muitas mulheres estão andando atrás dele feito loucas, loucas por uma noite com ele. E eu sei que muitos homens também querem isso – ela falava calmamente e carinhosamente – Não quero que Tomás se meta com Chris. Eu sei que você gosta dele. Muito mais do que aparenta – ela continuava me surpreendendo – Você ama meu filho como poucas pessoas podem amá-lo: verdadeiramente.
- Desculpe...
- Não se desculpe. Eu não sou contra o seu amor. Muito pelo contrário. Se não fosse por você eu não estaria viva, meu filho estaria perdido. Eu também sei que é você quem protege seus amigos. Eu ando muito bem informada – ela sorriu – Quero que você ande mais com ele. Cuide dele, mesmo que ele não ame você como você o ama. Eu sei que é pedir demais, mas meu filho precisa de você.
- Olha, eu faria isso com muito prazer, mas eu acabei de ganhar um novo problema. Chris tem uma foto minha muito comprometedora. Não posso chegar perto de Tomás, é isso que ela me pediu.
- Não ligue pra ela. O que uma patricinha tem de poder sobre você?
- Dinheiro...
- Dinheiro não é a essência do mundo Dan. O que move o mundo é a vontade, o amor. E isso você tem de sobra. Aliás, posso dar um jeito nessa foto. Considere isto como uma pequena gratificação por me salvar.
- Tudo bem – eu enfim aceitei – Eu vou ficar de olho nele. Mas e a senhora?
- Eu não trabalho aqui. Eu vou para onde está meu marido. Tomás voltará a ficar sozinho.
- Mas acabou de passar por uma cirurgia, como pode ir trabalhar?
- Você doou seu sangue a três dias atrás – tudo isso? – Você é especial Dan, tem um dom que poucos tem. Aproveite bem ele.
O que ela queria dizer com aquilo? Era a segunda vez que eu ouvia isso, a primeira foi com Caíque, dentro do seu carro. Mas o que era aquilo?
- Foi ótimo rever você. Desde seus quatro anos que não o vejo. Você está forte e bonito. Tão bonito como meu filho. Fico feliz por você. Fico feliz por ele, por ele ter você – ela passou a mão em meu rosto – Adeus – se virou e foi indo até a porta. Antes de fechá-la, virou-se mais uma vez e disse-me – Obrigada, mais uma vez. Nos vemos por ai – e fechou a porta.
Fiquei ali, deitado e processando tudo o que havia acontecido. Não demorou muito e a porta se abriu novamente. Dessa vez era Tomás. Ele estava com uma cara de “eu não posso acreditar, é verdade!”. Veio em minha direção e me abraçou forte. Forte como nunca antes. Ficou naquela posição por um bom tempo e tocou seus lábios no meu pescoço (não sei se de propósito), o que me fez recuperar setenta por cento da vitalidade kkk.
- Ainda bem que você está vivo... – disse ele – Eu pensei que estivesse acabado.
- Eu sou duro na queda... – sorri.
- Você ainda está com humor.... É incrível te ver assim.
- Onde está a Alicia? Quero vê-la.
- Ela não sabe ainda. Eu mesmo fiquei sabendo a cinco minutos atrás que você tinha acabado de acordar. Tínhamos até colocado você no quarto dos corpos que não tem chance de recuperação.
- Uau...
- Mas não se preocupe, você vai vê-la já já.
- Vai demorar para ela chegar aqui?
- Não. Mas vai demorar um pouco até você chegar em casa.
- Eu vou pra casa?
- Vai sim. Assim que Diego me contou sobre você, ele acrescentou que eu podia leva-lo. Ele já sabe quando quero tirar um paciente do hospital. Ele disse que você já está em um quadro estável.
- Bom saber disso...
- Espere só um pouco, vou arrumar tudo. Saímos em dez minutos no máximo.
Disse e saiu do quarto. Ele estava inegavelmente diferente. Seus olhos estavam mais vivos, mais alegres. Seu rosto estava mais cheio de sorriso e suas expressões mais brincalhonas. Ele voltara ao normal. Agora ele tinha sido abençoado, tinha sido atendido por Deus e tinha recebido as duas coisas que ele mais queria no momento: sua mãe e seu melhor amigo.
Pouco mais de cinco minutos, ele vem e pouco a pouco me leva até seu carro. Saímos do Hospital e fomos por aquele caminho que eu já conhecia. Estávamos indo para minha casa.
Continua...