Nunca acreditei em histórias de amor inacabáveis...Mas o tempo nos mostra que existem em nossas vidas pessoas inesquecíveis, que no fundo podemos chamar de grandes amores...
Com André não foi diferente...
Como sabem, meu nome é Cesar, atualmente tenho 23 anos de idade, mas quando vivi essa história tinha uns 17 anos.
Conheci André desde que entrei na escola, e sempre fomos amigos ao ponto de um frequentar a casa do outro e chamarmos nossos pais de tios e tias. Na 7ª série ele recebeu uma bolsa de estudos num colégio particular bem renomado numa cidade bem distante da nossa.
A família de André resolveu manda-lo para a casa da tia que morava na cidade do tal colégio, e ele se foi.
Eramos muito amigos, mas acabamos perdendo o contato. A família de André continuou a morar na nossa cidade mesmo.
Nem podia imaginar que meu amigo voltaria à pequena cidade antes mesmo que eu esperasse.
Eu estava no último ano do colegial quando vou ao barzinho da cidade onde os jovens se reuniam e dou de cara com Júlio, irmão de André, que estava bebendo todas e aparentava estar muito mal. Perguntei se estava tudo bem, no que ele me responde que sua mãe havia falecido... fiquei muito mal, pois ela sempre me tratara tão bem e era uma pessoa muito amável com André. Ele sempre me dizia que tinha problemas com o pai e o irmão, mas enfim, perguntei se precisavam de alguma coisa, no que Júlio pede que apenas o deixe em paz.
Júlio sempre foi grosseiro, uma característica totalmente inversa a de André que sempre fora gentil com quem seja que fosse.
Nessa época eu namorava Mariana, que tinha minha idade, e estávamos bem naquela fase adolescente de melação pra lá e pra cá, e não nos separávamos pra nada.
No outro dia pela manhã, fomos ao funeral eu, Mariana e minha mãe. Ficamos ao longe olhando o sepultamento, pois essa é uma coisa que não gosto nem um pouco, mas em respeito e apoio aos amigos acho válido comparecer pra dar uma força.
Logo que terminou o sepultamento, e eu já estava saindo do cemitério, sinto uma mão me tocar nos ombros...
- Muito obrigado pela sua presença César...- disse uma voz conhecida atrás de mim.
Ao virar me deparo com ele.. André!!
- Oi André, sinto muito!!- respondi.
Nos abraçamos fortemente ali, e André começou a chorar muito. A dor que ele sentia, parecia doer em mim... Eu apenas o abraçava com força para que ele soubesse que eu estava ali pra apoiá-lo. Mariana veio e nos abraçou também...
-Essa é minha namorada Mariana – eu disse
-Muito prazer em conhece-lo André, meus sentimentos pela sua perda... ouvi falar muito bem de você.
-Obrigado. – disse ele sem ter muito o que dizer, pois não era um bom momento para sentir “ prazer em conhecer alguém”.
Minha mãe nos interrompeu:
- Vamos filho, vamos pra casa. André, gostaria de almoçar conosco? Não é bom ficar sozinho nessas horas...
André olhou meio que procurando alguém, e vi que seu pai nos observava.
- Obrigado dona Marcia, mas tenho que pedir autorização ao meu pai. A senhora sabe como ele é...
Ele foi até seu pai, que balançava a cabeça negativamente, deixando claro sua resposta.
- Meu pai acha melhor irmos pra casa e descansarmos dona Marcia, vamos deixar pra um outro dia ok? César foi muito bom te rever amigo..
- Olha André, eu esperava te rever em circunstancias melhores, mas espero poder te ver em breve...
- Pode ficar sossegado, que irei ficar aqui esse ano, pois acabei perdendo a prova de renovação da bolsa de estudos, e terei que estudar por aqui mesmo.
- Que bom.. quer dizer... bom que vai ficar e ruim que perdeu a bolsa...
- Não, tudo bem... Agora vou pra casa que meu pai e meu irmão estão com pressa.
Nos próximos dias não vi mais André... e resolvi ir ao barzinho pra ver se achava alguém por lá...
Claro que Mariana foi junto. Eu não a amava, mas tínhamos um lance legal...
Chegando no barzinho encontrei Julio, mais uma vez meio chapado...
- E ai cara. – eu disse ao me aproximar dele
- Cai fora moleque!- respondeu grossamente
- Só queria perguntar do André... Ele está bem?
- Aquele verme está lá em casa... Inutil, otário! Me deixa vai... se quer saber dele vai lá!
Eu não suportava a forma dele falar... nossa que cara escroto!! Mas resolvi seguir seu conselho e fui até a casa deles.
Toquei a campainha, no que fui recebido pelo seu pai, outro insuportável...
- Fala garoto!
- Boa noite seu Valdir, o André está?
- Tá sim, mas ele está ocupado fazendo o jantar... o que vocês querem?
- Bom, eu vim ver como estão as coisas, se ele precisa de algo...
- Não precisamos da sua ajuda garoto! E o André tem que aprender a ser forte...
- tudo bem então seu Valdir, posso falar com ele?
- Acho que não é propício, vocês vão atrapalhar ele e não quero comida queimada!
Ficamos meio sem jeito, mas insisti...
- Só gostaria de convidá-lo pra passar o fim de semana na chácara da minha família... se o senhor permitir, é claro.
-Quer saber, deixo ele ir sim, assim a casa fica livre pra mim, porque o Julio vai viajar esse fim de semana...
Achei um pouco estranho ele ter aceitado, mas imaginei que houvessem segundas intenções em ter a casa vazia para ele. Por fim eu disse que passaríamos na sexta a tardinha pra pegar ele, o pai assentiu e bateu a porta em nossa cara!
- Credo César, ele nem sequer deixou falarmos com ele... -disse mariana.
- E é daí pra pior amor, você não viu nada ainda. Não sei como o André aguenta esses dois. Antes a mãe o defendia, mas agora nem ela ele tem.... Ele deve estar precisando de amigos.
Na sexta ao entardecer fomos buscar André. Mariana era mais velha que eu e já tinha carta de motorista, e tinha um gol quadrado azul...
Toquei a campainha, e André atende.
- Oi César.. pera aí que vou pegar a mochila!
André entrou rapidamente e saiu de lá com a mochila nas costas e um travesseiro.
Entramos no carro e seguimos rumo à chácara.
Chegando lá mostrei um quarto pra ele ficar e fomos os três juntos preparar o jantar.
Era mês de fevereiro e estava muito calor, e André estava de camiseta de manga longa, no que o repreendi...
-Tá doido cara, com esse calor que tá fazendo, você está de blusa?
André riu e disse que estava bem assim...
Eu numa brincadeira... fui pra cima dele, e comecei a força-lo pra tirar a camiseta...
- Vai cara, deixa disso, só estamos nós aqui mesmo e eu não tenho ciúme de você ficar sem camisa perto da Mariana... Pode ficar sossegado..
Forcei a camisa dele pra cima, e vi que ele estava incomodado e puxando pra baixo com força, quando reparei as marcas no seu corpo...
- O que é isso André? Vai dizer que aqueles monstros estão te machucando desse jeito?
André claramente ficou constrangido, e o silencio pairou na cozinha... Ele me olhava nos olhos, e respirava forte...Estava na cara que o pai ou o irmão estavam espancando ele, e ele estava sendo ameaçado..
- André... somos amigos... me fala, o que é que está acontecendo?
- NADA. César... eu apenas caí... estava limpando a casa, passei pano e escorreguei na escada... por isso estou marcado desse jeito.
Era obvio que ele estava mentindo, mas eu não quis forçar a barra... Na hora certa eu voltaria a tocar nesse assunto.
- O jantar está pronto, vamos comer.- disse Mariana quebrando o ar tenso do local...
Voltamos a rir de outras coisas, falar de outros assuntos, beber umas doses de jurupinga e de cuba, e um clima bem descontraído ficou entre nós.
Passamos a noite em claro batendo papo e contando histórias que vivenciamos ao longo desse tempo que passamos separados...
Olhamos no relógio, eram 6h da manha, resolvemos descansar um pouco...
Acordamos por volta do meio dia, nos vestimos e fomos a cachoeira... nos divertimos muito.
Passamos o fim de semana rindo muito... Foi tudo muito bom... Voltamos pra casa no domingo a noite.
Era na terça feira quando a campainha da minha casa toca... abri o portão e dei de cara com André, branco como se tivesse visto um fantasma...
- Posso ficar aqui essa noite? Por favor!- Disse ele nervoso e entrando rapidamente.
- Claro que pode, mas primeiro me conta... o que aconteceu?
- Meu irmão quer me matar!
- Como assim, se acalma!
- Eu vou morrer, eu sei... ele vai me matar...
- Mas porque disso André... você está exagerando, ele não faria isso...
André me abraçou, forte, desesperado...
- Por favor, me protege... eu preciso de você!
CONTINUO???