— Cara me empresta teu trabalho pra eu copiar – meu amigo Carlos me pediu
— Empresto Carlos, mas na prova tu não vai poder colar de mim – respondi entregando a folhas pra ele.
— Eu sei a matéria, mas não tenho tempo de fazer esses malditos trabalhos – disse ele copiando o que eu havia escrito, com uma caligrafia que do ponto de vista que eu estava parecia ilegível.
O fato era que Carlos realmente não tinha tempo de fazer os trabalhos, o pai havia abandonado a mãe, e a coitada estava com pneumonia, então Carlos tinha que sustentar a casa e estudar, e apesar de não ter tempo de fazer os trabalhos ou estudar, Carlos seria um ótimo fisioterapeuta.
<<PASSADO>>
Como fui parar naquela faculdade? Bem, depois que o pardal saiu da escola, os trigêmeos procuraram outra vitima para encher o saco, e escolherem um chinês que havia acabado de chegar em nossa sala, mas o cara era faixa preta em karate, e deixou os três com um olho roxo, eles foram motivo de zoação da escola um bom tempo e de certa forma eles mereciam isso, passar porque eles haviam feito o pardal passar. Amanda nunca mais olhou na minha cara depois daquele dia que a deixei no portão da escola para ir à casa do pardal, e sinceramente não senti falta.
Depois de dois anos, quando eu estava me formando no ensino médio, minha mãe sofreu um grave acidente de carro, e meu pai que sofre de Alzheimer não tinha condições de trabalhar, então tive que arrumar um emprego e adiar minha faculdade, e hoje de certa forma agradeço por isso pois aprendi o significado de ter responsabilidades. Consegui um emprego de recepcionista em uma clinica de fisioterapia, no começo só pensava naquele lugar como uma forma de ganhar dinheiro, mas depois de um tempo comecei a ver um futuro ali, era incrível ver as pessoas chegarem mancando e depois de algum tempo, vê-las andando normalmente, dentre outros casos que passaram por la. Quando minha mãe se recuperou do acidente, pude me dedicar ao vestibular, sai da clinica prometendo um dia voltar a trabalhar la como fisioterapeuta, e no final do ano consegui passar em uma faculdade federal de fisioterapia.
Não fui ao primeiro dia porque eram os trotes e sinceramente acho aquilo ridículo. No primeiro dia de aula realmente, me sentei na frente para poder prestar atenção em tudo o que os professores diziam, e no meio da primeira aula, um cara ruivo, todo desgrenhado, com uniforme de supermercado, entra correndo na sala e se senta na minha frente.
— Me empresta seu caderno pra eu poder copiar o que o professor disse? – Disse o ruivo a minha frente, o rosto salpicado por varias sardas.
— Claro – eu disse
— Prazer, sou Carlos – disse ele
— Otavio – e assim começou minha amizade com Carlos.
<< \\ PASSADO>>
— Cara, tu viu o monitor que vai ficar no laboratório?O professor o apresentou ontem – Me perguntou Carlos depois de copiar o trabalho.
— Não seu ruivo bobão, sabe que faltei ontem – nos tínhamos essas liberdades de chama um ao outro de bobão, besta, idiota...
— Mas você poder ter visto ele nos corredores seu idiota – disse ele
—Sim, mas como eu saberia que ele era o monitor?
— Eu sei la, muito lindo ele cara – Carlos já havia me dito que era homossexual, e isso não afetou de forma alguma nosso relacionamento.
— Você diz isso de qualquer um – respondi
Começamos uma discussão que terminou com nos dois argumentando sobre os sonetos de Shakespeare, quando uma pessoa parou em frente ao meu amigo ruivo e disse com uma voz grave e melodiosa que parecia dançar aos meus ouvidos:
— Carlos? Sou o monitor se lembra? Você me pediu ajuda e ficamos de marcar pra estudar.
— Claro que me lembro – disse Carlos olhando para cima com um sorriso enorme.
Baixei o rosto e comecei a rir baixinho, pois sabia que Carlos não precisava de ajuda alguma, mas quando olhei para cima, e vi um homem moreno, de olhos azuis me encarando, alguma coisa me dizia que ele era familiar, então lembrei, e meu mundo caiu, o ar ficou pesado, era ele, depois de todo aquele tempo, a pessoa que eu mais fizeram mal em minha vida, Pardal.
Na verdade não sei como o reconheci, não me lembrava de ele ter um rosto tão anguloso e perfeito, espera eu chamei o rosto de um cara de perfeito? Os olhos azuis eram enormes bolas da cor do céu pintadas em um fundo branco, e os cílios longos poderia muito bem ser as nuvens desse céu, ele vestia uma blusa de moletom, calça jeans escura e all stars, o corpo definido e sarado se percebia mesmo sobre a roupa.
— Ei cara, ele ta te cumprimentado – disse Carlos dando um tapa na minha cabeça.
Só então percebi que estava feito um idiota encarando o Pardal e que ele estava com a mão estendida na minha direção.
— Acho que você não ouviu da primeira vez – disse ele rindo, e mostrando dentes perfeitos, que não demonstravam sinal que um dia eram errados – prazer, sou o Arthur.
— Prazer, Otavio – disse apertando sua mão, e me ocorreu à curiosidade de saber se seus cabelos continuavam um ninho de pardal, e como que se de algum modo ele lesse meus pensamentos, Arthur tirou o gorro de tricô da cabeça e mostrou seus cachos perfeitamente alinhados e as laterais raspadas um pouco mais baixas que em cima, criando um contraste perfeito entre os cachos em cima, e o cabelo liso em cima nas laterais.
—Então Otavio, precisando de qualquer coisa, pode me procurar – ele disse
— Arthur, depois da aula, vamos ter uma partida de futebol, ta a fim de ir? – perguntou Carlos
— Claro, vou rápido em casa trocar de roupa e já venho, obrigado pelo convite – ele disse e saiu.
— Merda, chamei ele só pra poder velo trocar de roupa no vestiário – disse Carlos rindo, mas eu não ri, passei todas as aulas nervoso, será que ele tinha me reconhecido? Será que ele sabia que fui quem o empurrara da escada?
Mal me concentrei durante o jogo, em partes pela tensão, e em partes porque o corpo do Arthur estava lindo, todo definido, em nada lembrava aquele menino franzino. Que belo hetero eu sou, reparando corpo de outro macho, pensei comigo mesmo.
No final do jogo, em que nosso time ganhou de 5x0, todos os gols sendo do Arthur, e mais uma vez não me recordava que ele era tão bom no futebol, ao ir embora estávamos eu, ele e Carlos conversando sobre o jogo quando sem querer falo:
— Não me lembrava de você ser tão bom em futebol - e imediatamente desejei poder devorar as palavras de volta antes que chegassem aos ouvidos dele.
— Sempre fui bom – ele começou – vocês que nunca me escolhiam pra jogar.
Essas palavras foram como um soco no estomago pra mim, fiquei tonto, me faltou ar, não sabia onde enfiar meu rosto. Antes que eu conseguisse formular uma resposta, ele disse:
— Então Carlos, sua casa fica no caminho da minha, quer carona?
— Claro – respondeu o ruivo com uma pressa exagerada – ate mais Otavio, e os dois se encaminharam ao estacionamento, e somente quando me sentei no banco no ponto de ônibus que percebi que estava prendendo a respiração, soltei o ar preso e me obriguei a respirar, tinha muito que pensar, muito mesmo.
Vlw pelos comentarios galera, quem quiser bater um papo comigo pode me mandar um email : octavius125@hotmail.com, vlw galera