Amados leitores, me perdoem por não ter postado nada este final de semana. Tive mil coisas para fazer, acabei me atrapalhando e fiquei sem tempo, e infelizmente essa semana será cheia, mas farei o possível para postar diariamente. Muito obrigado pelos comentários, e sempre comentem por favor, são vocês que me incentivam cada vez mais a continuar, e qualquer dúvida só falar. Boa leitura.
OBS: Estou retomando o conto então a todos os novos leitores e aos que ja leram, sejam bem vindos. e comentem haha.
7 A vida Segue
Um minuto, uma hora, um dia. Cada interminável momento sem nenhuma noticia dele era um martírio. Os dias foram passando e nenhum sinal de vida de Nicholas. Eu ia todos os dias na portaria do prédio dele na esperança dele ter voltado, mas sem sinal dele ou da mãe. No começo eu dormia chorando. Com o tempo tudo se tornou uma dor no peito, uma mistura de angustia e saudade. E assim comecei a seguir minha vida. Não o esqueci, mas precisava ocupar minha mente, se eu continuasse naquele ritmo eu entraria num poço sem fundo ao qual não sairia mais.
Resolvi focar na autoescola, pois não poderia reprovar nas provas. Apesar de ainda sentar-me isolado na última carteira, sem querer muito contato com as pessoas, Bernardo começou a se aproximar mais. Ele via o quanto eu estava mal, mas não perguntava o motivo, apenas puxava assunto, conversava, tentava me animar, e isso ajudou a me sentir um pouco melhor.
Um tempo depois chegou meu aniversário, 18 de abril. Caiu num final de semana. O sonho de qualquer um é o aniversário cair sexta, sábado ou domingo, mas eu não estava com clima nenhum para aproveitar. Passei o final de semana em casa assistindo filmes. Meio solitário, porém era minha realidade naquele momento. Eu tinha meus amigos, mas não era mais como ante. Com o tempo, as pessoas seguem seus caminhos e tendem a se separar. Quem não tem aquele amigo de infância que parecia ser eterno e hoje em dia passa por ti como se fosse um estranho? Pois é, ainda não estava nesse nível, mas minhas antigas amizades estavam caminhando para tal.
Após algumas ligações, inúmeras mensagens de parabéns e um pequeno bolo que minha mãe fizera só para nós de casa, o final de semana ia acabando. Porém antes de dormir recebi uma ligação que, particularmente, preferia não ter recebido. Marcos. Meu “melhor amigo” me ligou desejando feliz aniversário. Como eu queria ter ele novamente para desabafar e contar tudo o que havia acontecido em minha vida. Marcos foi o grande responsável por eu ser quem sou hoje, ainda mais depois de sua ajuda quando sofria com aquele relacionamento.
Apesar de todos os problemas que tivemos, nós sempre ligávamos um para o outro em aniversários, natal e ano novo. Quase como uma espécie de pacto e nunca quebramos isso. A motivação de tudo é uma história para outra ocasião. Foi um dia complicado, não parava de pensar em Nick e onde ele poderia estar, por fim adormeci.
No outro dia, acordei sem disposição nenhuma, como sempre, para a aula. Arrumei-me, e sai. Cheguei um pouco mais cedo e vi Bernardo escorado na porta da sala.
– Por que está aqui tão cedo? Você mora aqui perto... – disse passando por ele e caminhando para o meu lugar.
– Bom. Você sempre chega primeiro, e queria te dar os parabéns. Mesmo que atrasado. – disse ele caminhando logo atrás de mim.
– Ah, relaxa. Não precisa... – disse baixo.
– Lógico que sim. – disse ele já me puxando para um abraço. – Parabéns e tudo de bom, você merece John.
– Muito obrigado. – falei enquanto cedia ao abraço.
Confesso que o abraço dele era muito bom, mas nada comparado ao que o Nick me fazia sentir.
– Agora chega, está muito gay isso aqui. – falei sorrindo enquanto o empurrava.
– Está mesmo, vou sentar contigo hoje, ok?
– Por quê?
– Nossa. Você é desconfiado assim sempre? – disse ele rindo.
– Ok, sente-se. – falei dando de ombros para ele.
– Me conta como foi o aniversário? Bebeu muito? – disse ele curioso.
– Nada, fiquei em casa mesmo.
– Como assim? Um aniversário em pleno final de semana, e tu ficastes em casa? Por quê? – disse ele em tom de surpresa.
– Só não estava no clima para comemorar.
– Ah não, então vamos fazer algo hoje! Vamos almoçar juntos. O que acha? Não aceito um “não” como resposta. – disse ele decidido.
– Melhor não.
- Já disse que você vai e pronto. – insistiu ele.
– É sério cara, não to no clima. – Falei sem animo nenhum na voz.
– Você só estará dispensado então se me disser qual o menor osso do corpo humano. Então? Diga-me qual é.
– Ah, está bem. Eu vou! – sou uma total negação em biologia então nem me arrisquei em chutar uma resposta. – mas só porque você faz medicina. – completei minha fala sorrindo, pois reparei que ele não gostava de gente assim.
– Aff... Ok. – disse ele emburrado, mas contente.
A aula passou mais rápida que o normal, eu acredito que por eu não estar mais sozinho. Saímos da sala conversando sobre o medo de reprovar na prova prática, ao chegarmos à rua perguntei:
– Então Bernardo, onde quer me levar?
– Tem um restaurante muito bom aqui perto, vamos lá.
Caminhamos algumas quadras até chegarmos ao restaurante. Era muito bonito e bem decorado, e o cheio era maravilhosamente convidativo. Sentamos em uma mesa mais reservada no local, entre uma janela e uma parede. Fizemos o pedido, e começamos a conversar.
– Pelo menos alguma comemoração você deveria ter. Gosto da comida daqui e tu irás gostar também. – disse ele com um sorriso envolto de uma barba aparada.
– Até agora estou gostando sim, mas por que me convidou?
– Por que é seu aniversário ora.
– Não Bernardo, por que eu? Não entendi por que se aproximou de mim.
– Por que você é diferente dos outros. Todos sempre se aproximam de mim pela minha aparência, pelo meu dinheiro, por eu fazer medicina... Sempre há um interesse, e você fez exatamente o contrário, e isso me deixou feliz, saber que há pessoas boas por ai.
– Eu confesso que acho tudo isso uma tremenda idiotice das pessoas. Julgar ou escolher alguém por coisas tão superficiais, somos muito mais que isso. Mas infelizmente ainda impera o padrão rico, branco e de olhos azuis. Nada contra. – terminei a fala sorrindo, pois ele se encaixava no que eu disse.
– Viu? Eu tinha razão, você é bem bacana.
O garçom interrompeu a nossa conversa nos servindo os pratos. Eu olhava para tudo como uma criança olha para um parque de diversões, enquanto Bernardo apenas observava a mim e a meus gestos. Antes de começarmos a comer, Bernardo começou a cantar parabéns baixinho, só para nós mesmos, comecei a rir muito, era engraçado a cena.
O almoço estava maravilhoso. Após terminarmos de comer, ele fazia questão de pagar, mas depois de muita insistência minha nós rachamos a conta, assim caminhamos para a saída.
– Bom agora vamos caminhando até sua casa, te deixo lá e depois vou para a minha. - falei enquanto terminava de comer um pé de moleque. – É o mínimo que posso fazer depois desse ótimo almoço.
– Por mim está ótimo. – disse ele com um sorriso. – John, eu posso perguntar uma coisa?
– Pode sim. – disse distraído com meu pé de moleque.
– Você é gay? – disse ele tranquilamente.
– Eh... Eh... Bem... – comecei a gaguejar, pois não esperava esse assunto. – Olha... Bernardo, eu sou...
– Calma John. Desculpa eu falar tão direto assim. Ainda não sou muito bom com palavras, estou aprendendo a lidar melhor com as pessoas. Mas relaxa, apenas queria saber.
– E isso é um problema para você? – disse meio triste.
– Claro que não, e fico feliz que não tenha mentido para mim. – disse ele com um sorriso.
– E por que está aprendendo a lidar com as pessoas? Como assim?
– É que sempre tive tudo o que eu queria, e quem é educado assim acaba não sabendo tratar corretamente as pessoas. Mas estou mudando meu jeito e aprendendo a ser uma pessoa melhor, não se preocupe.
– Fico feliz em ouvir isso. – disse pensativo, mas com um sorriso igual ao dele.
– Posso te perguntar outra coisa? – disse ele mais sério.
– Acho que já sei o que é...
– Por que anda tão triste esses dias?
Fiquei uns segundos em silêncio pensando em tudo. Por fim achei que Bernardo poderia ser de confiança.
– É o que acontece quando se tem o coração partido...
Andamos bem devagar por mais uns 15 minutos. Enquanto caminhávamos contei a ele toda a minha situação com Nicholas e tudo o que passamos. Ele apenas ouvia, ora ou outra acenando com a cabeça para concordar com o que eu dizia ou apenas para mostrar-se interessado. Acabei de contar toda a história quando chegamos à portaria de um prédio bem luxuoso no Barro Vermelho, um dos bairros mais nobres da cidade. Ele parou e ficou me olhando por uns segundos. Pela primeira vez eu vi o quão bonito ele era. Então ele se aproximou e me abraçou.
– Eu sinto muito por tudo o que está passando. – disse enquanto me abraçava.
– Não se preocupe, vai ficar tudo bem. – falei enquanto meus olhos marejavam.
– Qualquer coisa que você precisar você me liga? É sério! Qualquer coisa. – disse ele enquanto anotava seu numero em um papel. – Me manda mensagem para eu salvar o seu. Agora fica bem.
– Obrigado mesmo Bernardo. – Nos despedimos e eu fui embora.
Os dias foram passando, enquanto a minha dor adormecia a minha amizade com Bernardo crescia. Eu o via como meu anjo da guarda. Ele me ajudou muito neste momento difícil, e sempre que eu ficava mal ao me lembrar do Nick eu podia contar com ele, qualquer hora. Enquanto ele me via como o seu melhor amigo, aquele que ele confiava e que não havia interesse no que ele tinha e sim por quem ele era.
Os dias viraram meses. Passamos por pouco nos exames de direção, saiamos mais e mais, comecei a fazer parte da vida dele e ele da minha.
Bernardo morava com o pai, a mãe falecera há uns anos em um acidente de carro. Ele era filho único e parecia ter a vida que muitos sonham. O apartamento em que os dois moravam era uma cobertura bem luxuosa, com uma decoração digna de revista.
Comecei frequentar muito a casa dele e ele começou a vir na minha. Inicialmente o choque de realidades foi grande, mas a minha família era muito bacana com ele e o pai dele (diferente da mãe do Nick) sempre me tratou muito bem e fazia eu me sentir a vontade, por isso a adaptação foi tranquila.
Eu comecei a ensinar ele a tocar violão, e em troca ele me ensinava a andar de skate. Tudo isso entre os dedos dele e meus joelhos machucados íamos nos divertindo e nos unindo cada vez mais.
Parecia que foi ontem quando li meu nome na lista de aprovados no vestibular. O tempo passou. Oito meses para ser exato e agora é o primeiro dia de aula, 3 de agosto. Acordei com uma disposição que eu nunca havia sentido. Fiz minha higiene matinal e sai rumo a UFES. Não costumo tomar café da manha muito cedo, e como passo o dia fora então fico sem. Eu deveria estar às 7h no colegiado do meu curso para pegar meu horário individual. No ônibus recebo uma mensagem de Bernardo.
“Parabéns Calouro, um ótimo primeiro dia de aula pra você, e antes de dormir eu ligarei para saber como foi”.
“E para você, um ótimo começo de período, veterano.” – Respondi.
Cheguei um pouco em cima da hora, correndo peguei meu horário, dali eu teria aula de Cálculo 1. Andei uns minutos, mas consegui encontrar facilmente minha sala de aula. Entrei tranquilamente, mas eu congelei no mesmo instante. Não acreditava no que eu via. Era Nicholas.
– Continua –