(Mil e uma desculpas pela demora para postar esse aqui, viajei e voltei hoje, e corri e postei, desculpa mesmo)
Revirei os olhos e fingi que não tinha escutado aquilo. O que me fez lembrar da noite em que Lucas disse que me amava e eu não consegui... Tá, eu não quis dizer de volta porque não é como eu me sinto. Christopher parece o tipo de garoto que tem tudo. Pode ter dito apenas pra conseguir dormir comigo, mas mesmo assim não consegui conter o frio na barriga.
- Você não precisar ficar corado.
- Eu não To. É o fogo.
Mas eu realmente estava fervendo. O sorriso safado na cara dele me causava arrepios. Mas e se eu dormisse com Christopher outra vez? O que isso diria de mim? O olhar magoado de lucas brotou na minha mente. Eu não sabia que se conseguiria me conter, mas eu sabia que não queria causar aquele olhar em mais ninguém.
- Sabe, eu tinha um namorado.
Christopher me olhou curioso.
- E o que aconteceu?
- Eu dancei com você. Falei dando uma risada falsa. Talvez fosse bom que eu me sentia mal sobre o que eu fiz, talvez eu não fosse uma pessoa tão ruim afinal. Só um idiota que errou.
Christopher encarava as chamas sem dizer nada.
- Como ele descobriu o que rolo com a gente?
- Eu contei.
Christopher se virou para mim.
- Porque fez isso?
- Trair já foi ruim o bastante, mentir também ia além dos meus limites. Respondi.
- Você também queria naquela noite, certo? Quer dizer, eu não forcei...
- Calma, eu fiz porque eu quis, e foi bom. Só que...
- Tá se sentindo um lixo ne? Sei como é. Vem cá.
Ele se aproximou e passou os braços, e acho que pela primeira vez o choro já não me incomodava tanto. Chorar nos braços de alguém era melhor do que encharcar o meu travesseiro. Christopher e eu ficamos abraços por um bom tempo, em silêncio, apenas assistindo o fogo consumir a madeira.
- Até que seu colo é gostoso. Eu falei me aconchegando mais um pouco nele. Claro que ele deu aquela risadinha sinica.
- Você já conferiu.
- Se contar por aí que eu admiti eu nego. Mas então, você tem alguém? Perguntei.
- Hum, eu tinha. Mas ela término comigo.
- Você tinha uma namorada?
- Ue, tinha, porque o espanto?
Fiquei calado por um momento. O lance da boate aconteceu mesmo, certo? Eu não To tipo ficando louco ou algo assim.
- Bom, você deu em cima de mim naquela noite. Falei esperando que fosse o bastante pra ele entender.
Christopher abaixou a cabeça para olhar dentro dos meus olhos.
- Nem eu sei explicar aquela noite. Nunca tinha feito aquilo.
- Transado na primeira vez?
- Transado com um cara. Ele falou e seu rosto ficou vermelho na hora. Isso era, tipo, sério mesmo?
Eu comecei a rir.
- Ah claro.
- É sério Gabriel. Você foi o primeiro.
Eu sai de seu colo e fiquei de frente para ele. Tudo que eu ouvia em sua voz agora era culpa, culpa, culpa e... Sim, culpa.
- O que? Ele perguntou.
- Conta. Porque?
- Eu tinha sido dispensado naquela tarde. Tinha bebido um pouco e não tava me lixando para nada. Fiquei encostado no bar por horas, vendo você rir a noite toda com aquela garota, vi que seu jeito era... Diferente. E ai, quando você começou a dançar, eu resolvi chegar em você e o resto você já sabe.
Fiquei encarando o vazio sem saber o que dizer. Talvez, alguma parte desconhecia (e bizarra) do cérebro de Christopher sabia que íamos nos encontrar e ai o forçou a vir falar comigo.
Ouvi o barulho de buzina lá fora e me levantei. Chegaram rápido.
- Vou ajudar meu pai... Falou ele saindo da sala. Me virei e voltei pra o quarto. Aquela noite já estava estranha demais.
* * * *
- Biel? Posso entrar? Chamou a voz atrás da porta. Murmurei um sim e Christopher entrou no quarto, com vários pacotes de guloseimas nas mãos. Ele estava usando apenas uma cueca samba canção azul. As luzes do quarto estavam apagadas e somente a luz da tv iluminava o peitoral e abdômen malhados dele. Droga de menino gostoso.
Ele pulou na cama ao meu lado.
- O que é tudo isso? Perguntei.
- Ah, qual é, você sabe que não existe nada melhor para superar alguém do que se empanturrar de besteira.
- E o que você sabe de superação?
- Tá brincando? Eu sou O Garoto Superação!
Então ele começou a cantar Miss Movin On e eu não consegui conter a gargalhada. Christopher estava se saindo melhor do que encomenda. Talvez, fosse até legal ter um irmão.
Carlos entrou no quarto rapidamente e então ficou parado na porta, encarando a cena sem dizer nada.
- O que é isso?
- Vem. Falei, arredando para o meio da cama. Meio relutante, ele acabou vindo e se sentando ao meu lado. Eu não fazia ideia de onde poderia estar o homem que se dizia meu pai, mas ele não fazia falta ali. Ficamos assistindo TV até bem tarde, e ai eu cochilei com a cabeça no peito de Carlos, e MEUS pés entrelaçados nos de Christopher. Era confuso eu sei, mas estava confortável demais para me mexer.
- Hum, então, vocês estão ficando? Perguntou a voz um pouco rouca e sexy de Christopher. Carlos meio que tossiu e passou a mão nos Meus cabelos.
- Acho que não. Foi a resposta dele.
Christopher deu aquela risadinha que quase me fez rir, mas segurei o riso e permaneci de olhos fechados.
- Você acha?
- É que ainda não tivemos nenhum momento sozinhos. Respondeu Carlos.
- Cara, vocês ficaram no lago a manhã toda, se fosse eu, já teria arrastado ele pro mato e mandado ver.
Houve um breve silêncio.
- Você é doente cara, ele é seu irmão.
- Não de verdade, o pai dele é meu pai por criação.
- Então tá afim dele também? Perguntou Carlos em um tom sério.
Meu estômago gelou. Eu não tinha muita certeza se queria ouvir a reposta. As coisas já eram complicadas demais. Felizmente, meu pai bateu na porta.
- Garotos?
Ouvi a porta se abrir e presumi que ele entrou, mas nenhum dos meninos se mexeu ou se afastou. Imagine só o que meu querido pai deve ter pensado de mim.
- Vocês querem alguma coisa para comer? Ele perguntou.
- Não, na verdade, estamos indo dormir também.
Ouvi os passos de meu pai saindo do quarto e o silêncio voltou a reinar. Eu sabia que nenhum daqueles dois sairiam se eu não desse o meu jeito. Então, me esforçando o máximo para parecer natural, eu gemi baixinho, e me encolhe, saindo assim de cima de Carlos e tirando meus pés para longe de Christopher. Enrolei o cobertor em volta de mim e suspirei, dramaticamente.
Felizmente, eles se cumprimentaram e saíram do quarto. Sorri, indo dormir satisfeito pela primeira vez naquele fim de semana.
* * * *
- Seu cretino! Falei quando Christopher jogou um balão d'Água em mim. Christopher, Carlos e eu estávamos brincando como crianças no jardim por horas. Eu particularmente estava cansado, mas era muito bom rir sem me preocupar com nada por um tempo. Peguei um balão no balde e estourei na cabeça de Carlos, que começou a correr atrás de mim.
Era dia de domingo, nós iríamos embora mais tarde. Até que fim de semana havia sido agradável. Nos três ficamos fazendo jogos e brincadeiras no rio e na piscina, os meninos não agiam estranho por causa da conversa que eu supostamente não participei no sábado.
Ok, Christopher e Carlos pareciam um pouco mais tocáveis depois disso. Tudo que fazíamos acabava em um toque. No fundo, eu estava adorando.
- O almoço está quase pronto. Fi... Chris, você pode olhar as panelas por favor?- Ele pegou uma toalha que estava jogada na grama perto de nós, e correu para dentro. - E você pode trazer mais lenha Carlos?
E de repente, só estamos nos dois ali. Meu pai desceu da varanda.
- Podemos conversar? Ele pediu, sem dizer nada, concordei e o segui. Caminhamos em silêncio até o jardim dos fundos. Era lindo aliás. Meu pai se virou para mim.
- Vejo que você e Christopher se deram bem.
- Ele é um cara legal. Respondi.
- Carlos também. É seu namorado?
Olhei assustado para ele. Espera, eu ouvi certo? Ele disse Namorado?
Meu pai soltou uma gargalhada.
- Sua mãe já me contou, nada que eu não soubesse aliás. E esta tudo bem por mim. Saberia disso se tivesse atendido a alguma de Minhas ligações.
Cruzei os braços e fechei a cara. Bem criança mimada, eu sei.
- E você ligou o que? Tipo, duas vezes? E eu era pequeno demais para saber dessas coisas.
Desta vez, ele abaixou o olhar.
- Eu sei que fui uma merda como pai. Sei também que você e sua mãe se viraram bem sem mim. Mas o que eu quero...
- Esse é o problema. - eu falei já quase chorando. - Você me procurou quando você quis. Eu quis conhecer meu pai, saber dele, ouvir conselhos dele a vida toda. Aonde você estava quando EU quis? E não diga que foi por falta de procura.
- Quando sua mãe me ligou dizendo que você queria me ver eu... Entrei em pânico. Tinha acabado de conhecer ** e não queria envolvê-la no meu drama familiar.
- Então é isso? Eu sou seu drama familiar? Agora entendi.
- Entendeu o que?
- O porque de você sumir. Quem quer carregar um drama como eu quando pode ter a vida perfeita?
Ele não respondeu e eu já chorava muito. Aquilo estava mesmo acontecendo. Meu pai não me queria, nunca quis, só estava enteado com a própria vida e por isso me procurou. Uma lembrança atingiu minha cabeça, e mesmo sabendo que iria doer mais em mim do que nele, tive que trazer à tona.
- Lembra do livro de viagens que fizemos uma usando eu tinha 5 anos? Falamos dos lugares que você me levaria e dos sorvetes que eu iria tomar até congelar o cérebro?
- Sim, sei. Ele respondeu ainda sem me olhar.
- Você fez com Christopher não foi?
Meu pai acenou positivamente. E no nosso silêncio, meu coração se partiu. Pela primeira vez eu realmente queria morrer ou sumir do mapa. Como alguém pode ser tão cruel a esse ponto? Sem dizer, me virei de volta para a casa. Eu ia dar o fora daquele lugar.