- Meu Deus, aonde estamos? Perguntou Carlos quando descemos de um ônibus qualquer em um lugar mais qualquer ainda. Era uma estrada interminável, eu pelo menos não via o fim dela. Havia um motel de bera de estrada a poucos metros de nós. Ajeitando a mochila no ombro, comecei a andar até a entrada.
- Tá brincando ne, Gabriel? Não vou ficar nesse lugar. Reclamou ele.
- E por que não? Deixa de ser mulherzinha e vamos lá.
Eu o puxei pela mão até entramos. O hall não era nada mais que uma velha e empoeirada bancada de madeira, algumas revistas de um zilhão de anos atrás jogadas sobre ele, uma tv minúscula e preto e branco. Parecia abandonado.
Toquei a campainha.
- Ah cara, seio, você não assiste filmes de terro não? Isso aqui pode ser um matadouro. Vamos achar um mundo de carros de famílias que passaram aqui lá trás e então...
- Corta essa ceifador, não vamos morrer aqui. Falei meio seco.
Um homem velho, usando uma camisa xadrez azul muito parecida com a minha (que era vermelha), apareceu por trás da bancada com um sorriso desdentado é sinistro no rosto. Ok, talvez eu devesse ter assistido alguns filmes...
- Boa tarde meus caros. - Falou ele. - Querem um mapa?
- Um quarto, por favor? Eu pedi.
O velho pareceu surpreso.
- Querem mesmo ficar?
Carlos sussurrou um "não" atrás de mim, mas ignorei e acenei positivamente. O homem pegou uma chave e jogou para mim.
- Quarto 16, no fim do corredor, vocês pagam na saída.
- Podemos trocar por um quarto na frente? Perguntei.
O velho deu outro sorriso banguela. Eca.
- Fim de semana universitário, lugar cheio.
Dei de ombros e me virei. Cara esquisito.
Empurrei um Carlos emburrado até o quarto, embora eu tinha que admitir, que agora sabendo que ele era afim de mim, ir com ele para um quarto de motel parecia excitante até demais.
Foi então que entendi o que o homem quis dizer. O corredor estava uma verdadeira zona. Garotos bonitos e sem camisa correndo de um lado para o outro, meninas em trajes minúsculos bebendo e seguindo eles.
Carlos, que já não parecia mais tão aborrecido, caminhou por dentro daquela festa comigo até que um cara até bonitinho parou na frente. Ele estava de cueca, todo molhado, metade do rosto coberto por espuma. Eu nem quero pensar no que ele estava fazendo na banheira.
- Calouro? Vai ter que ser punido por aparecer sem ser convidado.
- O que?
- Vou te ensinar o que calouros curiosos ganham...
Ele segurou meu braço, mas eu puxei de volta para mim. Garoto folgado.
- Escuta aqui, idiota, eu não estudo com vocês. To só hospedado.
- Com ele? O ensaboado apontou para Carlos.
O sínico sorriu de maneira sacana e saiu andando. O que ele pensou que nós fôssemos fazer ali? Transar? Hum, eu pensei isso a poucos minutos atras. Entramos no quarto finalmente.
- Cara, que massa...
Me virei para ele, cruzando os braços.
- Sério? Agora você quer ficar?
- A ideia foi sua. - ele sorriu e pulou na cama. - Enfim, vai ligar para alguém?
- Pra que?
- Pra avisar que estamos aqui.
- Não. Respondi.
- Cara, seu pai e aquele cara ainda devem pensar que estamos no quarto.
- Melhor assim.
Depois da conversa dolorosa com meu pai, e depois de chorar muito nos ombros de Carlos, eu o convenci a fugir comigo daquele lugar. Não faria falta nenhuma mesmo.
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Christopher
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- Pai, o que aconteceu? Perguntei ao meu velho quando o vi na varanda, com os olhos cheios d'Água.
Ele se virou para mim.
- Seu irmão me odeia e eu não sei o que fazer para concertar isso. Meu pai fungou é uma lágrima escapou. Por um lado, eu estava furioso com Gabriel por fazer ele passar por isso, meu pai é o cara mais legal que já conheci na vida. Por outro, ser abandonado e depois substituído deve doer demais. Meu pai está sofrendo agora, mas ele sofreu a vida toda com a ausência.
- Onde ele está? Perguntei. Talvez, eu conseguisse colocar um pouco de senso naquele cabeça dura...
- No quarto, com Carlos. Por muito tempo eu acho.
Me virei de volta para casa e corri escada acima para os quartos. Não que eu me importasse, mas aquele cara estava louco por um momento sozinho com Gabriel o fim de semana todo, aposto que ia querer se aproveitar desse momento de fraqueza para tentar uma coisa.
Abri a porta do quarto sem bater, e só encontrei silêncio. As mochilas deles haviam sumido, me virei e fui até o quarto aonde Carlos estava e também não havia nada. Puta que pariu! Aquele merdinha sumiu com Gabriel?
Desci correndo até meu pai.
- Pai, vamo bora, Gabriel fugiu.
Meu pai me olhou pensativo por um momento e depois deu de ombros.
- Deve ter ido para casa.
- Ou talvez não, ele não conhece a região, tenho que ter certeza de que ele tá legal. Quer dizer, nós temos que saber se ele chegou bem. Falei tentando ao máximo segurar meu desespero. De jeito nenhum que aquele filho da mãe ia ficar sozinho com o Gabriel em algum lugar afastado.
- Você vem? Perguntei, e ele nem se mexeu. Dessa vez, comecei a pensar em como isso seria para o Gabriel. Talvez ele tinha razão esse tempo todo.
- Que se dane. Falei correndo até o carro.
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Gabriel
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Duas horas depois, eu estava sentado no sofá de um quarto, vendo Carlos dançar de cueca com duas garotas magricelas em cima da mesa no centro do cômodo. Depois de tanto insistir, resolvi participar da festinha com os caras da faculdade, eles até que eram divertidos.
- Olha quem apareceu. Falou o garoto do rosto de espuma se sentando ao meu lado. Sem a espuma ele era ainda mais bonito. Também estava usando uma cueca azul justa e molhada. Preciso muito descobrir que faculdade é essa...
- Não resisti. Respondi erguendo a mão com um copo de bebida.
- Estava me procurando ne? Já me acho.
Ele passou o braço em volta do meu ombro. Ok, talvez fosse o álcool, mas meu corpo tremeu todo quando ele encostou seu joelhos nu no meu. Suas pernas tinha poucos pelos e suas cochas grossas pareciam tão... Apetitosas.
Ele veio me beijar, mas desviei o rosto. O garoto veio de novo, e desta vez beijou meu pescoço.
- Acho melhor não fazer isso. Falei.
- Porque? Perguntou sussurrando, acho que ele queria que fosse sexy... Passou longe.
Olhei para ele e cheguei o rosto tão perto que poderia beijá-lo se eu quisesse.
- Porque você está com mal hálito e tá me dando enjoou. Falei e comecei a rir. O garoto segurou meu pescoço e tentou novamente me dar um beijo.
- Ei, otário, sai de perto dele! Gritou Carlos pulando da mesa e vindo até nos. Meu corpo estava meio mole por causa da bebida, então não arrisquei me mexer. O Garoto Espuma se levantou.
- Isso é uma festa idiota, não estamos fazendo nada que não queremos.
- Ele não quer ficar com você. Falou Carlos. Que fofo, ele lê minha mente. Um sorriso maluco surgiu no meu rosto.
- Bom, com você também não, se não vocês não estariam aqui.
E então meu estômago revirou, e eu não consegui prestas atenção em mais nada. Eu precisava chegar ao banheiro. Me levantei, meio grogue e andei até o corredor, a confusão ainda parecia rolar quando alguém me segurou pelo braço e me puxou. Tudo girou rápido demais e eu perdi todo o controle e... Foi tarde demais. Vomitei tudo o que havia no meu estômago. O Garoto Espuma soltou um berro.
Um Carlos não tão bêbado aplaudiu e riu alto passando por ele.
- Desculpe. Sussurrei, enquanto ele corria coberto de vomito. Vários outros caras tiravam fotos com o celular e alguns já estavam digitando, provavelmente já mandando para alguém. Coitado.
Carlos me apoiou em seus ombros e me levou de volta para o quarto.
- Você é meu herói. Falei caindo na cama.
- Claro, agora vamos, você tem que tirar essa roupa.
Me sentei e tirei a camisa e a bermuda, ficando apenas de cueca. Minha cabeça ainda rodava.
- Vem. Falei puxando ele pra a cama. Sem protestar, ele se deitou de conchinha comigo e me abraçou forte. Se eu não estivesse meio fora de mim, aquilo teria me excitado.
- Você é o melhor, sabia? Eu murmurei em agradecimento.
- Isso porque eu te amo. Ele falou, mas eu já estava apagando.