“Amor verdadeiro é aquele que o vento não leva e a distância não separa.”
Três meses já fazia três meses que eu havia recebido alta e estava em casa sobre os cuidados do meu pai e de um enfermeiro. Três meses que minha felicidade deu lugar para a raiva e o estresse. Não sorria mais, não achava graça e nem felicidade nas coisas que via. Eu morri por dentro. Depois da dura escolha que tive que fazer naquele maldito quarto de hospital, eu perdi a minha felicidade quando a vi saindo pela porta.
Octavio- filho? Você tem comer alguma coisa.
Meu pai entrou no meu quarto com uma bandeja de comida e eu continuei olhando a paisagem pela varanda do meu quarto. Ficava observando as pessoas correndo, brincando, namorando no parque. Coisas que eu costumava fazer.
-deixa ai que eu como depois pai.
Ele deixou a bandeja e ficou do meu lado na varanda.
Octavio- eu fui ao hospital hoje. E os médicos me disseram que você já pode usar próteses.
-não quero. Já disse isso mil vezes.
Octavio- mas eu quero. Eu quero ver o meu filho. Aquele Aroldo feliz, brincalhão de novo. E não uma pele morta e sem vida aqui na minha casa.
-como é pai? Eu sou uma pele morta e sem vida?
Octavio- já se olhou no espelho? Já viu o estado que você esta?
-isso é culpa dessa cadeira. Ou esqueceu que não tenho mais um pedaço das pernas.
Octavio- eu não esqueci desse detalhe. [meu pai se ajoelhou em minha frente e ficou olhando nos meus olhos]. –eu só me esqueci que o meu filho era tão fraco assim, deixar uma coisa boba dessas acabar com sua vida. Fazer ele acabar um lindo romance, e esquecer que esta machucando todos a sua volta com essa birra idiota.
-não é birra.
Octavio- filho, você pode voltar a andar com as próteses. Você não vai ser uma aberração. Longe disso. Você será o ser humano que sempre foi. O que vale é o seu ser interior meu pequeno. Isso ai por fora não vale de nada quando o seu ser interior e mais forte que isso. Quantas pessoas não aprenderam a viver mesmo com algo lhe impedindo de andar ou falar ou ver. Filho nesta vida sempre vai existir obstáculos a serem enfrentados. Cabe a você decidir se quer vencer ou perder.
-eu já decidi. [falei olhando para o chão]. –há três meses atrás.
Octavio- decidiu ser fraco. Decidiu morrer para o mundo. [meu pai suspirou e se levantou]. –a comida esta ai na cama. Coma se quiser, se não quiser deixe ai e simplesmente morra aos poucos. Coisa que você fez com o Ariel.
-como é?
Octavio- isso não sou eu que tenho que explicar a você. Afinal agora você esta ai em uma redoma de vidro e não deixa os seus sentimentos tomarem conta de você. Você prendeu tudo que foi de bom em algum lugar ai no seu peito e não quer mais libertá-los.
Meu pai saiu do meu quarto e me deixou ali pensando nas coisas que ele acabou de dizer.
Eu não aprisionei meus sentimentos. Eu só não estou mais querendo sentir tudo aquilo de novo. Não queria voltar a sentir tudo aquilo e de repente algo ruim acontecer. Não queria sentir pois sei que magoei muito o Ariel e sei que não teria mais o seu amor.
Ainda existia um sentimento dentro de mim que tomou conta do meu corpo. A raiva. Sentimento forte que me fazia lembrar-se de como eu estava ali incapacitado. O sentimento que era mais forte que todos os outros dentro de mim.
Estava vivendo com uma armadura de vidro construída ao meu redor. Forte e impenetrável, que eu acho que nunca vai ser destruída.
Eu poderia voltar a ter minha vida de volta com as próteses. Minha vida, como se voltasse a ser tudo como era antes. Poderia voltar a malhar, lutar, correr, nadar, surfar... mas amar? E o amor onde fica nessa historia? Fiz a pior escolha da minha vida, e estou colhendo o que plantei.
-queria poder voltar no tempo e fazer tudo diferente. [disse fechando os olhos e vendo e revendo tudo que passei ao lado do Ariel]. – como dói.
“dói ne? Posso imaginar”.
Ouvi alguém dizendo isso no meu quarto e quando me virei tive uma surpresa.
-Grazi. Nossa que surpresa.
Grazi- oi meu lindão. [ela me abraçou forte e beijou na bochecha]. –como esta?
-na mesma ne. Nem melhor nem pior. E você?
Grazi- como Pode ver estou ótima como você. E também tenho uma noticia para você.
-pois diga.
Grazi- estou namorando serio com o Erick.
-nossa que ótimo. Faço votos que dure muitos anos ate o casamento.
Grazi- deus lhe ouça amigo.
Ela ficou pensativa por um tempo olhando para o celular. E foi ali que ela tinha algo para me falar, só não queria.
-anda desembucha logo.
Grazi- eu queria lhe falar sobre o Ariel.
-não precisa dar noticias. [olhei para a janela]. –sei que ele esta melhor que eu.
Grazi- que droga Aroldo, como você é teimoso viu. Ele não esta melhor que você. Ele esta ate pior que você.
-pior que eu? Hahaha que piada.
Grazi- pare de pensar nas pernas porra. Isso ai é reversível usando próteses. Que droga Aroldo pense no amor que você esta matando dentro de você. Não existe próteses para um coração destruído.
-como é?
Grazi- ouvi muito bem você falando de dor. Amar dói Aroldo. Prender o amor no peito e não deixar ele cumprir o seu papei fazendo dois corações apaixonados viverem juntos, faz doer mais que mil facas. Você esta sofrendo, Ariel esta sofrendo. Por favor amigo não perca mais tempo aqui trancado.
-eu falei coisas horríveis a ele. Ele saiu com ódio de mim. Sei que não tem mais volta.
Grazi- ele esta com um coração de pedra agora Aroldo. Da mesma forma fria que você esta, ele esta pior. [ela ficou em minha frente de joelhos]. –vai atrás do seu amor, amoleca esses dois corações juntos. Amor, um sentimento que nos machuca, e nos fere por dentro, porém sem ele, não podemos viver.
-eu vivo sem amor. Isso é muito fácil.
Grazi- estou vendo. Você ai se definhando nesse quarto, olhando para o céu e pensando no Ariel. O peito dói pelo amor querendo sair e gritar ao mundo o nome do seu amado. Mas você sendo idiota e teimoso não quer enxergar o tempo que esta perdendo.
Suspirei e fiquei olhando a paisagem pela janela. Não queria ficar discutindo uma coisa que não iria levar a lugar algum. Não poderia voltar no tempo e concertar a merda que fiz. Agora é aguentar as conseqüências.
Grazi- ele chora quase todo dia olhando as fotos de vocês dois. Ele sempre passa um tempinho olhando a aliança no seu dedo. Ele sempre canta photograph de olhos fechados, as vezes ate vejo uma lagrima cair.
-como sabe de tudo isso? Ele lhe mandou vir contar?
Grazi- nada disso. Eu sei porque ele sempre deixa a porta do quarto aberta, ele não se esconde dentro do quarto e ele não deixa os sentimentos presos. Ele solta tudo em um único grito desesperado. Coisa que você faz ao contrario ne.
-que droga Grazi, se veio aqui me dizer essas coisas. Então pode ir embora.
Enxuguei uma lagrima que teimava em cair. Fiquei olhando para o chão e sabendo que tudo que ela falava era verdade.
Grazi- lembra de como veria que fosse o nosso casamento? [ela foi ate o moral de fotos que tinha no nosso quarto e ficou olhando sorrindo]. –na praia, com todos os nossos amigos e familiares. Em um dia de sol e com todos de branco celebrando a paz. O mar de paisagem mais que perfeita e o céu de testemunha do nosso amor.
-lembro sim. Por que esta lembrando disso?
Grazi- por que um dia. [ela se ajoelhou e ficou em minha frente]. –eu quero ver o seu casamento com Ariel, em uma praia linda, todos de branco e eu chorando muito sendo madrinha de vocês dois. Vocês se amam Aroldo, isso esta mais que esclarecido. Por favor não prenda mais esse amor. Peça desculpa a ele, o beije. Vocês se amam e isso é mais forte que palavras vazias.
Ela me disse isso e foi ate a bolsa que ela estava usando, pegou um envelope grande e me entregou.
–o que é isso?
Grazi- abre quando eu for embora. Por favor.
-e o que é?
Grazi- algo que eu guardei por mais de um mês. E so agora conseguir entregar. Por favor veja e pense bem.
Ela me deu um beijo e me abraçou forte. Depois saiu e me deixou ali no quarto olhando aquilo. Fui ate a cômoda do notebook e coloquei o envelope em cima.
Fiz o Ariel sofrer por palavras minhas. Fiquei sofrendo por culpa minha. Fiz uma das piores escolhas da minha vida e eu teria que concertar isso.
Peguei o bilhete que ela me entregou e quando abrir foi como se a minha armadura se quebrasse em milhões de pedaços. Meu peito faltou ar e meu coração a bater mais forte.
Eram cinco fotos minhas com o Ariel. E em cada uma tinha algo escrito atrás.
A primeira foto era nossa no parque sorrindo com um sorvete de casquinha nas mãos. E atrás estava escrito: “Eu sem você sou só desamor. Um barco sem mar, um campo sem flor. Tristeza que vai, tristeza que vem. Sem você, meu amor, eu não sou ninguém?”
A segunda foto estava eu e ele em casa tomando sorvete e com as caras meladas. Sorriamos feito duas crianças que acabou de fazer bagunça. Já não conseguia contar a dor no peito do meus sentimentos querendo sair. Deixei uma lagrima cair quando li: “O amor é isso. Não prende, não aperta, não sufoca. Porque quando vira nó, já deixou de ser laço.”
A terceira era de nos dois no seu aniversario abraçados na parte da piscina. E nela dizia: “Foi muito lindo te ver pela primeira vez e pensar, sem palavras: eu quero.”
A quarta era da arvore onde ele colocou as nossas inicias e ali ficou gravado o nosso amor para sempre. Nessa foto tinha: “Quero que todos os dias do ano, todos os dias da vida, de meia em meia hora, de cinco em cinco minutos me digas: eu te amo.”
E a ultima foto era a do nosso beijo embaixo da arvore. O beijo que ate hoje cinto os seus lábios aos meus, o seu cheiro o seu sorriso na minha frente e a sua voz dizendo eu te amo. Foi o bastante para meu amor explodir dentro de mim e uma falta de ar invadir os meus pulmões. Meu coração parecia que iria sair de tão acelerado que estava, meus olhos não conseguia enxergar nada pois as lagrimas que tanto guardei foram soltar com força. E atrás da foto tinha um trecho, da nossa musica.
-Nós mantemos este amor numa fotografia. Nós fizemos estas memórias para nós mesmos. Onde nossos olhos nunca se fecham. Nossos corações nunca estiveram partidos. E o tempo está congelado para sempre.
Chorei muito. Não conseguiria viver longe dele. Do Ariel. Meu amor. A minha vida.
Octavio- filho tenho uma noticia para te dar... Esta chorando amor?
-eu perdi o Ariel, não suporto mais ficar longe dele.
Octavio- e vai fazer o que a respeito disso?
-vou começar a usar as próteses e gritar para o mundo que eu o amo mais que tudo nessa vida. E o senhor o que tinha para me dizer?
Octavio- que eu arrumei uma grande promoção. [vi ele ficar meio tenso com a noticia] – só que tem um problema.
-qual?
Octavio- se eu aceitar essa promoção, teremos que ir morar no Canadá.
----Continua----
aguardem os próximos capítulos. bom fim de semana para todos.