Olhei para o Théo. Ele não respondeu. Ele me olhou com os olhos de dúvida. Ele não estava nervoso, não estava com raiva. Ele estava perdido. Eu podia sentir isso. Vendo o silencio dele, falei:
- Bom, está tarde. Estou indo dormir. Dorme no meu quarto. A cama já está arrumada, tem pijama no meu guarda roupa. Boa noite – Théo continuou me olhando em silencio.
Fui para o quarto que eram dos meus pais e deitei na cama, só de cueca. Não sei por que, mas eu chorei. Chorei muito em silencio. Chorei até cair no sono.
Acordei no outro dia quase na hora do almoço. Théo ainda dormia na minha cama. Sorri, vendo ele dormir ali, todo fofinho enrolado na minha coberta.
Fui até a cozinha e fiz ovos com bacon para mim. Eu estava sem muita fome, então deixei o almoço para depois. Quando eu estava terminando de fazer meus ovos, o Théo apareceu na cozinha.
- Te acordei? – Perguntei, curioso e ao mesmo tempo preocupado.
- Não, na verdade. Eu já estava acordado, mas esse cheiro de bacon me fez vir aqui na cozinha – Eu ri. Coloquei as coisas em um prato e entreguei para ele. Ele olhou para o prato e eu fui até a geladeira:
- Suco de laranja ou leite? – Antes de ele responder, eu falei:
- Claro, suco de laranja – Tirei a garrafa de suco de laranja e servi um copo para ele. Théo me olhou incrédulo.
- Como você sabia? – Dei de ombros. Ele entendeu, acho. Sentou na mesa e comeu tudo. Eu me limitei a um copo de leite com toddy.
- Estava muito bom cara – Ele falou, no fim.
- É só ovos e bacon. Não tem como ficar ruim
- É por que você não viu o que eu faço. Nem o Thor come aquela merda! – Eu ri. Depois disso, o Theo foi embora. Ele precisava dar comida para o Thor e fazer outras coisas.
Assim que ele saiu eu liguei para a Marina e contei tudo o que aconteceu.
- O BOY DORMIU NA SUA CAMA E VOCÊ NÃO FEZ NADA? – Ela gritou incredula.
- Não. Você queria que eu fizesse o que? Pulasse em cima dele?
- É verdade, não dava para fazer nada mesmo. Mas já um avanço isso. Ele aceitou que você ama ele. E não foi embora.
- Faz sentido. Bom, agora é deixar rolar.
- Sim. Mas estou orgulhosa do seu desenpenho hoje.
Depois disso eu e Marina conversamos um tempinho no telefone.
Durante o resto do dia eu fiquei basicamente deitado na minha cama, respirando aquele cheiro perfeito que ele havia deixado no meu colchão.
Na semana que se seguiu o clima entre eu e Théo melhorou bastante. A gente conversava mais, se cumprimentava pelo menos. Algumas pessoas até notaram isso, mas nem comentaram nada.
A semana correu tranquila. Todos os dias eu conversava com a Marina e ela me ajudava a conversar e como lidar com o Théo. E estava funcionando. E já dando spoiler, funcionou melhor que o esperado.
Vamos parar a enrolação e vamos direto aonde importa.
Lembra do titulo? Amor de oficina? Então. É por causa desse dia. Desse momento especifico.
Eu estava na oficina, trabalhando, terminando de soldar algumas coisas da estrutura do carro. Estavam vários membros, mas a madrugada foi chegando e eu fiquei sozinho. Ou melhor, eu achava isso.
Num determinado instante eu parei para trocar a musica. Foi nesse momento que eu vi que o Théo estava sentado numa mesa, me observando. A principio eu assutei. Eu não sabia que ele estava ali.
A gente estava sozinho, o silencio reinava naquele local.
- Nossa, não sabia que você estava ai.
- Pois eh, eu percebi! – Ele riu. Mas não apenas riu, ele sorriu para mim.
- Por que você ficou? Achei que tivesse ido embora pra casa... – Ele ficou em silencio. Respirou fundo. Respirou mais. Respirou denovo. Fiquei observando ele.
- É que... eu queria... conversar com você... – Ele me falou, meio timido. Eu tirei a proteção que eu usava para soldar e sentei perto dele.
- Diga, aconteceu algo? – Ele respirou fundo e respondeu:
- Não, não aconteceu nada... – Olhei aqueles olhos tristes, que queriam dizer algo, mas não diziam nada.
- Pode falar cara! O que aconteceu? – Perguntei, preocupado. Mil coisas passavam na minha mente.
- É besteira... Você tem que terminar de soldar né? – Ele falou. EU entendi o recado.
Levantei e voltei a soldar. Mas não em silencio mais. Nós ficamos o tempo todo conversando e a gente ria muito. Ria pra caralho. Ele contava piada, eu contava piada e a gente só ria naquela oficina.
Enquanto eu soldava uma parte mais complicada, ele soltou do nada:
- Eu acho que estou apaixonado por você, Fer.
Nesse momento meu cerebro parou. Eu estourei a solda que eu fazia, engasguei com a minha saliva e não consegui responder.
Tirei a mascara de solda e o Théo estava do meu lado.
- Co-como assim? – Falei gagueijando. Ele colocou as duas mãos no meu ombro. E olhou no fundo dos meus olhos.
- Simples. Eu acho que te amo – Ele não estava zoando. Eu via seriedade naqueles olhos. Eu via... amor...
Algo dentro de mim me dizia que aquilo era um sonho. Que aquilo era irreal. Que aquilo era brincadeira apenas. Em algum momento iam aparecer mil pessoas pulando me chamando de otario por ter acreditado.
Mas não. Não aconteceu isso. Sem falar mais nada Théo me beijou.
Nesse momento. Nesse exato momento criou-se uma singularidade na minha vida. O tempo parou, o som ficou mudo, eu senti um estalo no meu corpo, todos os meus pelos se arrepiaram...
Depois desse beijo mais que perfeito e sensacional, Théo me abraçou. Ficamos ali.. Eu respirando aquele perfume dele... Ele me abraçando. Ele colou a testa dele na minha e me abraçou forte.
- Eu não sei o que você fez comigo cara. Mas toda vez que eu olho pra você, eu penso em fazer isso – Ele falou.
- Eu não sei como reagir a isso... Ter você parecia tão... utopico que...
- Só me beija
E beijei ele mais uma vez. God que perfeito. Seu abraço era tão... Firme, aconchegante, quente e reconfortante...
Tirei a roupa de solda, guardei tudo e eu e o Théo fomos embora. Eu tremia no volante. Eu não sabia o que falar.
Paramos na porta da minha casa.
- Quer entrar?
- Vamos
Eu e o Théo já entramos em casa nos pegando forte. A gente se beijava muito forte, do jeito que eu gostava.
Subimos até o meu quarto e deitamos na minha cama. A gente se beijava muito. Ele deitou do meu lado e passou a mão no meu cabelo. E só olhava para ele. Eu não acreditava... Não fazia sentido para mim isso tudo.
- Fer... Eu não sei se estou preparado para... Isso é tudo muito novo para mim...
- Não se preocupe cara... Só fique comigo. Isso já é o suficiente.
E assim foi a primeira de muitas noites que eu dormi com o Théo.