Oi gente, como eu tinha dito que voltaria essa semana, estou aqui! Este capítulo é bem grande, espero que gostem, tem mais papo no finalSábado de manhã sempre tinha aquela sensação de conforto. Nenhuma obrigação a ser feita. Somente descanso. Ray quase sempre passava o dia lendo ou vendo alguma série. E claro, na companhia de Senhorita Florence. Sua fiel amiga.
Mas esse sábado era diferente. Quando Ray acordou e olhou no relógio que tinha no criado mudo, viu que eram nove e meia da manhã. Ele levantou pesaroso e se espreguiçou com um ar felino. Estalou o pescoço. O céu estava cinza. Gotas escorriam pela janela. Chuva não era novidade.
Ele notou um perfume no ar. Identificou como café sendo coado. Havia esquecido por um momento que havia um novo morador na casa. Provavelmente o culpado pelo delicioso cheiro de café da manhã era Matt. Ray cuidou de sua higiene matinal e desceu para o andar de baixo com seu pijama mesmo. Um que a camiseta tinha o desenho de uma vaca tomando café enquanto lia o jornal, e a calça era branca com manchas pretas irregulares. Fazendo imitação da pelagem de uma vaca.
Ele foi até a cozinha e viu Matt no fogão fritando algo. Ele usava uma calça de moletom cinza e camiseta azul marinho. Ray notou que ele estava descalço. O rádio estava ligado e tocava alguma música dos anos 80. Ele logo reconheceu por David Bowie.
-Não devia estar descalço -Ray falou se sentando na bancada.
-Tá bom mãe -Matt respondeu rindo e mexendo o que parecia ser bacon. Ele abaixou o fogo e se afastou do fogão. Colocou um pouco de café em uma xícara e pôs na frente de Ray.
-É sério o chão daqui é muito gelado -ele comentou rindo do sarcásmo do outro.
-Eu já estou acostumado a ficar descalço.
-Você que sabe.
Ray bebericou um pouco do café. Estava muito bom, provavelmente Matt havia feito do modo manual e não na cafeteira.
-Você gosta da gema mole ou dura? -Matt perguntou voltando a mexer a frigideira.
-Mole. Não precisava fazer o café.
-Não esquenta. Esse é meu modo de agradecer a forma como está sendo tão legal comigo -ele falou, se virando para Ray e sorrindo.
Ele definitivamente tinha um sorriso arrematador.
-Não acostuma não. Ainda vou pegar muito no seu pé, ainda mais lá na livraria - Ray falou tentando parecer sério.
-Acho que agora estou com medo -Matt disse colocando dois pratos no balcão e dividindo o conteúdo da frigideira entre os dois, em seguida passou um dos pratos para o outro.
-Obrigado -agradeceu Ray. -E como foi a noite? Dormiu bem?
-Sim, muito bem, aliás. Nas primeiras noites no hotel, eu achei estranho e não consegui dormir. Mas aqui dormi muito bem.
-Eu também acho estranho dormir em lugares diferentes.
Matt assentiu e disse:
-Eu queria sair pra conhecer a cidade um pouco mais.
-Não é boa ideia. Quer dizer, se tratando do fato de que hoje é sábado e está chovendo muito. As pessoas daqui adoram desculpas para não trabalharem dia de sábado. Domingo então, não se vê uma alma na rua.
-Então acho que vou ficar aqui mesmo -falou Matt de boca cheia.
-Podemos assistir um filme ou sei lá.
-Boa ideia.
Eles terminaram e ao perceber que o outro havia acabado, Ray levantou e pegou sua xícara e prato e disse:
-Eu lavo a louça -e foi em direção a pia.
-Tudo bem, eu posso te ajudar -falou Matt ficando a seu lado.
-Não precisa, você já fez o café. E esse é o meu modo agradecer por você ter o feito -disse Ray colocando detergente na bucha.
-Então tá. Posso assistir televisão?
-Precisa perguntar?
-É que sou novo aqui. Não quero parecer intrometido mexendo nas suas coisas.
-Você mora aqui agora. A casa também é sua.
Matt balançou a cabeça e foi para a sala.
Depois de lavar a louça, Ray foi para a lavanderia colocar algumas roupas na máquina. Isso também fazia parte de sua rotina. Dia de sábado era dia de lavar a roupa e procrastinar.
A verdade é que Ray sempre foi muito organizado com sua rotina e afazeres. Aprendeu isso com a mãe -que sempre foi muito organizada-. Até para sair da rotina e fazer algo diferente, ele sempre se organizava. Às vezes ele achava que era neurótico. Detestava quando as coisas saiam do controle e não tinha nada ao seu alcance.
* * *
Os dois passaram o dia sem fazer nada. Na hora do almoço decidiram pedir comida tailândesa, depois que Ray se chocou com o fato de Matt nunca ter comido. Assistiram metade de uma série do Netflix e era Ray que tinha os comentários mais sarcásticos. O que fazia com que Matt risse o tempo todo. E depois de se cansarem acabaram dormindo no sofá.
Já era oito da noite quando Ray acordou com seu celular vibrando. Era Emily ligando para confirmar se eles iam mesmo sair aquela noite. E depois de muita manipulação banhada de drama ela o convenceu a sair.
Ele desligou o telefone e olhou pela sala. A televisão estava ligada passando algum filme que o Netflix selecionara aleatoriamente. Matt estava deitado no sofá, em uma posição relaxada, e claro, com Senhorita Florence em seu peito. Ela definitivamente havia aceitado o novato.
Ray pensou se deveria acordar Matt ou não. Ele não queria sair sem convidá-lo; a seu ver seria grosseiro -E de fato seria.
Então ele levantou, foi andando até o sofá onde o outro estava e se inclinou um pouco sobre ele. Com a ponta do dedo indicador ele o cutucou delicadamente.
-Ei -Ray falou sussurrando. Vendo que ele não respondia ele repetiu o ato.
-Hã... Já vou tia Elise -Matt disse despertando confuso. Ele olhou para Ray piscando um pouco para ver se situava um pouco mais. -Sim alteza?
-O que...? -Ray riu.
-O que foi? -o outro perguntou se sentando lentamente, deixando claro que ainda estava sonolento.
-Você me chamou de alteza! -exclamou Ray ainda rindo.
-Sério? Então provavelmente tinha algo naquela comida -comentou Matt um pouco sem graça. -Me sinto grogue...
-Era comida tailandesa, não uma garrafa de saquê -Ray comentou -Enfim, minha amiga me chamou para sair e não está mais chovendo. Você quer ir?
-Acho que sim. Onde vamos?
-Nós vamos em uma balada Gay, tem problema pra você?
-Não, claro que não.
-Então levanta. Eu vou tomar banho -Ray falou indo em direção ao banheiro. Depois voltou subindo as escadas. -Esqueci a roupa... -quando ele desceu de novo já com as roupas nas mãos e viu que Matt estava cochilando sentado -Hey! Não dorme! -ele exclamou.
-Tá... -ele ouviu Matt responder sonolento.
Ray tomou um banho rápido. Até porque havia combinado com Emily de se encontrar na frente do clube ás nove e meia. Então ele vestiu a roupa; estava usando uma calça preta justa, uma camisa xadrez azul e preta e botas marrom. Penteou o cabelo para trás com gel e passou perfume.
-Sua vez -ele falou saindo do banheiro.
Matt se levantou e foi até o banheiro.
Ele esperou o outro se arrumar sentado no sofá. Matt desceu as escadas; usava uma calça jeans azul, camiseta de manga longa, jaqueta de couro preta com um capuz de moletom cinza e o seu All Star.
-Você se arrumar rápido -comentou Ray.
-Sou bem prático -Matt o lançou um sorriso convencido.
-Vamos?
O outro balançou a cabeça. Eles foram para o carro e seguiram para o centro. Ray pediu para que o outro escolhesse uma rádio. Matt ficou mudando de rádio até achar uma que tocava um rock alternativo.
Ao chegar no clube, Emily já estava à espera.
Ray desceu do carro e pode ver melhor os trajes da garota. Ela vestia um vestido com estampa de onça muito curto e saltos vermelhos, segurava seu Iphone exibindo suas unhas compridas e pintadas de rosa, a maquiagem era pesada, é claro. Qualquer um que visse um garota vestida do jeito que Emily estava vestida, diria que ela era vulgar, mas Ray estava tão acostumado com a personalidade da garota que não dava a mínima. Eles se conheciam desde os 12 anos, e Ray havia acompanhado toda a mudança da garota. Desde uma garota sem graça à uma mulher sensual.
Ele apresentou Matt a Emily, que cumprimentou o rapaz com um beijo exagerado na bochecha. Deixando uma marca rosa de batom da bochecha dele.
-Ah! Me desculpa! -Emily exclamou limpando a bochecha do rapaz com o polegar.
-Sem problemas -Matt respondeu sincero.
Quando Emily notou a beleza do rapaz apertou o pulso de Ray como se quisesse dizer "Puta que eu pariu ele é muito gato!!!". E se ele pudesse ler a mente da garota, seria exatamente isso que ela diria. Ele apenas sorriu forçado para a garota, dizendo com o olhar "Controle-se".
-Vamos entrar? -perguntou Ray.
-Claro -Emily segurou no braço de Ray e Matt e os guiou até a porta do clube e falou: -Eu já confirmei nossos nomes na lista, então não precisamos ficar na fila. E nem você vai precisar mostrar sua identidade falsa Raymond. Você é de maior né? -Emily perguntou a Matt, que assentiu. Então a garota adicionou: -Que pergunta idiota, é claro que é! Você não parece ter menos de dezoito.
Matt sorriu um pouco se jeito.
De fato não precisaram ficar na fila, nem Ray teve que mostrar a identidade falsa. Logo após o segurança de quase dois metros de altura checar os nomes, eles já estavam dentro. A lei era que só é permitido maiores de vinte e um anos podiam entrar em locais com bebida alcoólica, mas essa lei era pouco respeitada, pois raramente pediam a identidade.
Os três foram direto para o balcão do bar. Ray se sentou em uma daquelas cadeiras altas e giratórias e olhou melhor o lugar. Pessoas seguravam drinques com luzes piscando, outros dançavam ao som da música alta, e alguns caras estavam sem camisa exibindo os músculos. Havia mais homens que mulheres no lugar. Por algum motivo algumas pessoas se sentiam a vontade para ir fantasiadas. Geralmente com fantasias que eram sempre fetiches, como: Policial,bombeiro, marinheiro, médico e etc... Uma vez Ray viu um cara fantasiado de chapeleiro maluco, só que de sunga e com o peitoral definido a mostra.
Ray pediu uma taça de vinho. Matt o acompanhou, só que com whisky. Emily foi direto de tequila, e depois da segunda dose ela não falou nada e foi correndo para a pista de dança onde Ray a perdeu de vista. Matt olhava na direção onde Emily havia sumido, ele ria.
-Acho que sua amiga é louca -ele comentou se aproximando de Ray usando um tom mais alto por causa da música.
-Você acha? Eu sempre tive certeza! -exclamou Ray.
Matt riu e falou:
-Talvez tenhamos que carregá-la para casa depois.
-Quer apostar quanto que nem veremos mais ela?
-Aposto vinte -ele estendeu a mão para Ray que a apertou e disse:
-Apostado.
Ray olhou em volta e viu pessoas de beijando de um modo extremamente escrachado e vulgar. Ele sentiu incomodado, temia que Matt pudesse pensar que ele frequentava esses lugares porque era assim também, ou pensar que ele era só mais um que ficava com todos e não tinha a mínima noção de auto preservação.
As vezes Ray se achava muito chato e moralista, mas seus pais sempre o criara para ser educado, reservado e com postura impecável. Eles sempre pegara no pé dele em relação a isso, mas nunca fizeram isso com a irmã. Isso era algo que ele sempre questionava.
Ao notar que Matt olhava um casal de garotas seminuas praticamente engolindo a cabeça uma da outra perto do bar, Ray comentou chegando mais perto dele:
-Acho que esse não foi um bom lugar para te trazer logo de primeira.
-Relaxa -respondeu Matt se voltando para ele e sorrindo. -Se você está se referindo ao casal apaixonado. Eu não ligo. Acho que as pessoas tem a liberdade de fazer o que quiserem, quando quiserem. Mas também saber que haverá consequências.
-O que você quer dizer com consequências?... -Ray perguntou com medo de que a resposta fosse algo homofóbico sobre ir para o inferno por ser gay.
-Por exemplo. As duas garotas ali -Matt apontou discretamente. -Estão...Vamos dizer se beijando calorosamente. Elas devem estar cientes de que deveriam estar fazendo isso entre quatro paredes, mas fazem aqui por que se amam -ou não-, elas já são julgadas pelo que são e o que fazem de qualquer modo, então provavelmente deixaram de ligar para o que pensam delas há muito tempo. E estão certas. Afinal, ninguém tem nada haver com o amor alheio. Não é?
Ray concordou, respirando aliviado e sentindo um certo orgulho por Matt ter dito aquilo.
-Isso foi o máximo Matt... -ele falou bebendo o vinho.
-Eu sempre vi o mundo de forma diferente Ray, o mundo é mais do que os limites que a sociedade nos impõe. Algumas regras são desnecessárias, e só existem porque certas situações foram mal interpretadas. Não é preciso amar isso ou aquilo. Só é preciso amar. Não deveria existir a regra só pode homem amar mulher porque dá frutos, deveria existir a regra ame quem te faz bem. E sobre procriar: quem disse que o mundo precisa de mais pessoas? -Matt disse todas a palavras olhando nos olhos de Ray e sorrindo.
-Eu não sei o que dizer -falou Ray olhando para o nada, estarrecido. -Você colocou em palavras tudo o que eu pensei a minha vida toda... Você daria um bom escritor.
Matt levantou o copo dele e propôs: -Um brinde ao amor!
-Isso foi um pouco hippie, não acha? -Ray comentou aceitando o brinde.
Os dois riram e beberam seus drinques.
Eles ficaram no bar por mais ou menos três horas. Ray decidiu procurar Emily e não a encontrou. Tentou ligar para ela, mas só dava caixa de mensagens. Então ele chamou Matt para ir lá fora tomar um ar. O segurança havia dado pulseiras para que eles pudessem sair e entrar, mas eles pagaram o que haviam consumido e saíram.
-Eu disse que perderíamos ela -falou Ray abrindo a porta do clube.
-Te devo 20 dólares então -respondeu Matt rindo.
-Pode deixar que vou cobrar. Que tal nós darmos uma volta? Estou com vontade de tomar um café. Vamos em um Starbucks vinte e quatro horas que tem aqui perto?
-Pode ser.
-Vamos andando. Depois a gente volta e pega o carro.
-Ok.
Eles foram caminhando lentamente pelas ruas vazias da cidade. Havia poucas pessoas se aventurando a andar pela noite. Apesar de o índice de crimes na cidade ser bem pequeno, as pessoas preferiam ficar em casa no fim de semana.
-Me fale mais sobre você -perguntou Matt enfiando as mãos nos bolsos da calça.
-Sobre mim? O que quer saber de mim? -Ray riu da pergunta. -Não sou nada interessante.
-Sei lá. Me fale sobre a sua vida.
-Bem, eu cresci aqui, faço faculdade de literatura e escrita, meu sonho é ser escritor, tenho uma irmã que mora em New York, prefiro a noite ao dia e detesto comida mexicana. Isso é o básico.
-Uau! Isso foi bem específico! -exclamou Matt.
-Você quer mais?
-Não! Está ótimo.
-Agora me fale sobre você Matt. O que você já viveu até aqui?
-Hã... Por onde começar? -Matt falou olhando pensativo para o próprio tênis. -Minha mãe morreu quando eu tinha cinco anos, então fui criado pela minha tia, porque meu pai sempre trabalhou muito. Eu gosto muito de música, adoro animais, sou uma muito ciumento com as pessoas que amo, gosto de ver o pôr do sol, e prefiro o dia... E acho que só.
-Nossa, me sinto humilhado pela sua auto descrição. Eu não falei quase nada!
-Como você havia dito anteriormente, foi o básico.
-Eu acho engraçado como você fala... - disse Ray parando em frente ao estabelecimento e olhando para Matt.
-Como assim? -perguntou Matt abrindo a porta para Ray. Eles entraram e estava mais cheio do que pensavam.
-Não sei explicar, mas você fala de um jeito formal.
-Coisa de britânico.
-Vocês são pontuais, formais e educados. Parece até que o pais inteiro é da realeza! -exclamou Ray fazendo uma entonação boba com as mãos.
Matt riu daquilo.
Os dois foram até o balcão. Ray pediu um Capuccino e Matt pediu um café normal com açucar. Na hora de pagar, Matt interferiu: -Eu pago. Até porquê te devo 20 dólares.
-Tá bom -respondeu Ray revirando os olhos.
Quando a atendente chamou seus nomes, eles pegaram o café e foram para o andar de cima da loja. Sentaram em uma daquelas mesas que tem uma espécie de sofá dos dois lados.
-Seus pais moram perto? -perguntou Matt.
-Mais ou menos. Só dá pra ir de carro -respondeu Ray pegando o açucareiro e adicionado um pouco mais á bebida.
-Sua relação com eles é boa?
-Sim. Mas minha mãe é muito controladora e isso sempre me irritou.
-Então foi por isso que foi morar com sua avó?
-Por isso também... -Ray murmurou concentrado em mexer o canudo dentro do copo. -Do que seu pai trabalha?
-Ele tem uma empresa de segurança.
-Segurança virtual ou de caras grandes que vestem ternos e óculos pretos?
-De caras grandes que vestem terno e óculos preto -respondeu Matt achando graça da pergunta do outro.
-Isso é legal -Ray comentou.
-É sim, eu já trabalhei com ele um tempo.
-E você gostava?
-Mais ou menos.
-Eu não sei se gostaria de trabalhar parecendo um agente de MIB -falou Ray. Ele ergueu os olhos para olhar para Matt e notou uma figura conhecida sentada em outra mesa a poucos metros dele. -MEU DEUS!!! -ele se abaixou rápido ficando com a cabeça embaixo da mesa. Deixando Matt sem entender nada, que olhou em volta e se abaixou também para ver se o outro estava bem. Ele perguntou: -Está tudo bem? Tá passando mal, ou algo do tipo?
-Não, eu estou bem. Mas é que meu ex namorado está ali atrás e eu realmente não quero que ele me veja! -Ray exclamou olhando para Matt que riu da situação.
-Você quer ir embora?
-Não, só não quero que ele me veja.
-Troca de lugar comigo então, assim você vai ficar de costas pra ele.
-Isso! Ótima ideia!
Matt levantou para se sentar onde o outro estava. Enquanto Ray se rastejou por baixo da mesa e sentou colocando a mão direita sobre a face para que o ex não o reconhecesse caso o visse. Então Matt tirou a jaqueta e passou pra ele falando: -Toma veste isso! E coloca a toca.
-O quê? Não você vai ficar com frio!
-Aqui tá bem quente. Veste logo!
Ray colocou a jaqueta de Matt que ficou um pouco grande nas mangas, mas ele as puxou para trás. Em seguida ele colocou a toca fazendo com ela escondesse bem o seu rosto.
-Obrigado -ele murmurou para o outro
-De nada. Mas por que tudo isso? -Matt perguntou se inclinado um pouco mais para a frente.
-Longa história... -respondeu Ray suspirando. -Mas resumindo: esse cara é um babaca pervertido que não aceita quando as pessoas dizem não para ele. Eu dei um pé na bunda dele e ele ficou me perseguindo por uma eternidade.Acho que ele é um psicopata! -ele sussurrou para Matt.
-E por que você não o denunciou? Ser Stalker é crime.
-Eu não tive coragem. Apesar dos pesares não queria ferrar com a vida dele.
-Você devia ter denunciado -falou Matt olhando sério para ele.
Ray deu de ombros.
Os dois conversaram por mais um tempo e depois de terminarem suas bebidas, eles decidiram ir embora. Mas como a escada de saída ficava bem ao lado da mesa onde o ex psicopata estava, Matt foi na frente e Ray se escondeu atrás dele. Ele realmente não queria ter mais nenhum contato com aquele cara.
Os dois foram para o estacionamento do clube pegar o carro. Matt se ofereceu para dirigir, Ray cedeu e o guiou pela cidade.
Ao chegar em casa os dois se jogaram no sofá.
-Tem certeza de que sua amiga vai ficar bem? -perguntou Matt.
-Sim. Já fui abandonado por ela na balada mil vezes. No começo eu me irritava. Mas agora não ligo mais. Emily é a pessoa mais volátil do mundo. Uma hora ela quer algo e depois não quer mais -Ray revirou os olhos.
-Não consigo ver como essa amizade dá certo. Você é tão organizado e metódico e ela tão solta e incosequente.
-Eu sempre me pergunto como isso funcionou até agora -Ray disse suspirando e se levantou. -Eu vou dormir, boa noite.
-Eu já estou indo deitar também -o outro respondeu.
Ray estava indo em direção as escadas quando se lembrou de que ainda vestia a jaqueta do mais velho.
-Ah, quase me esqueci! -ele falou a tirando. -Obrigado de verdade. Te devo uma -ele se aproximou de Matt e colocou a jaqueta em seu colo.
-De nada. Eu que agradeço pela noite.
-Acho que podia ter sido melhor -Ray falou subindo as escadas.
Mas não podia.
* * *
No dia seguinte Ray levantou tarde, e quando desceu Matt ainda não havia acordado. Ele mesmo preparou o café. Pensou que o cheiro despertaria o outro, mas não o fez. Ele esperou para ver se Matt acordava para que eles comessem juntos, mas não aconteceu também. Então ele decidiu tomar café sozinho.
Ray pensava que ia acordar com dor de cabeça,por causa da bebida alcoólica -ele nunca fora uma pessoa forte para ela-, mas não sentia nada. Provavelmente foi a cafeína do cappuccino que quebrou uma possível ressaca.
Depois de tomar café ele decidiu gastar mais um dia assistindo Tv. Ele escolheu um filme de comédia adolescente qualquer. Que no fim se mostrou previsível demais -como sempre. Quando ele olhou no relógio já era quatro e meia da tarde. Pensou em fazer o almoço, apesar de não estar com fome. Mas resolveu se adiantar.
Resolveu preparar frango frito, purê de batata e alguns legumes. Enquanto cozinhava ele ficou preocupado com Matt. Imaginou se o garoto estava bem. Talvez ele estivesse de ressaca, ou simplesmente estivesse com muito sono. Ficou ponderando se deveria avaliá-lo, mas pensou que seria imprudente. Depois pensou novamente: Foda-se a imprudência!!!
Deixou as panelas em fogo baixo e subiu as escadas lentamente. Quando parou na porta do quarto do outro ele avaliou se seria certo, então por um momento desistiu e deu meia volta, mas logo em seguida retornou para a porta. Ele ensaiou as batidinhas na porta. Tomou coragem e bateu delicadamente. Ouviu o mais velho responder de dentro do cômodo com uma voz meio embargada:
-Pode entrar!
Ray girou a maçaneta e entrou. O quarto estava gelado, e as cortinas fechadas. Ele espiou no escuro, mas sem sucesso. -Está tudo bem? Já são cinco da tarde, fiquei preocupado.
-Não me sinto muito bem, por isso não levantei -Matt disse com a voz estranha e trêmula.
Ray se aproximou da cama e ascendeu o abajur fazendo o outro piscar os olhos; por um momento pensou estar sendo intrometido demais.
-Está de ressaca? -ele perguntou.
-Minha cabeça tá doendo um pouco, mas o meu corpo também e aqui tá muito frio -Matt respondeu trêmulo como se tivesse tendo calafrios.
-Com licença -avisou Ray antes de colocar a mão na testa do outro. -Hmm você está com febre. E aqui está muito gelado mesmo.
Matt balançou a cabeça enquanto se deitava lado.
-Você devia ter dito que estava doente -comentou Ray pousando a mão no braço do outro de modo acolhedor.
-Não queria incomodar -protestou Matt suspirando.
-E ia ficar aqui dentro para morrer ou algo do tipo? -Ray revirou os olhos.
-Se piorasse eu diria, morrer não está nos meus planos -Matt argumentou sorrindo fraco.
-Você está assim por causa do frio. Não está acostumado -disse Ray se levantando. -Eu vou pegar o anti térmico e fazer um chá quente. E você, vem deitar no meu quarto. Lá é mais quente. O aquecedor não funciona bem, aqui.
-Não precisa, aqui tá bom.
-Isso não é um pedido, é uma ordem -Ray falou tirando as cobertas de Matt e puxando sua mão. -Venha.
-Eu já disse que você parece uma mãe chata e autoritária? -Matt brincou se levantando da cama.
-Olha ele esta fazendo piadinhas, acho que já está melhor.
Ray o guiou até o seu quarto e o acomodou em sua cama. Pegou mais duas cobertas, logo em seguida cobriu Matt.
Ele desceu as escadas e pegou o antitérmico. Depois foi para a cozinha.Ficou em dúvida sobre qual chá faria, acabou escolhendo camomila. Afinal, quem não gosta de chá de camomila?
Enquanto esperava a água esquentar no micro ondas, ele checou as panelas e desligou o fogo. Se decepcionou pelo fato do frango ter queimado um pouco. Ele era perfeccionista em relação a comida -mentira, era em relação a tudo.
Ouviu o bipe de aviso do micro-ondas, colocou o sachê de chá dentro da caneca, adicionou duas colheres cheia de açúcar, colocou o chá e o antitérmico em uma bandeja e retornou ao quarto.
Quando entrou no cômodo avistou Matt todo enrolado nos cobertores, só com o rosto de fora. Ele riu daquilo.
-Prontinho -Ray pousou a bandeja no colo de Matt que se ajeitava.
-Eu disse que você está sendo muito legal comigo. Quem mais cuidaria de um estranho doente como você está fazendo comigo? -murmurou Matt.
-Você já não é um estranho. Minha vó costumava dizer que esse era um dom meu. Sempre cuidar das pessoas -Ray disse olhando para o chão, divagando sobre as lembranças de Cece.
-Acho que você tem o dom da bondade. Isso é raro no mundo de hoje.
-Todos podem ser bons -falou Ray se sentando na beira da cama, colocando a colher dentro do chá e mexendo. -Se quiserem -ele adicionou.
-Sim, mas alguns já nascem sendo bons -Matt comentou.
-Enfim... -Ray mudou de assunto, pois estava sem graça. -Tome o comprimido e tome o chá -ele se levantou e foi em direção a porta. -Você provavelmente vai dormir até amanhã. O remédio dá sono, mais o chá então. Estarei lá embaixo, qualquer coisa me chame -ele olhou para Matt que bebia o chá.
-Obrigado -agradeceu Matt.
-De nada -Ray piscou para ele e saiu fechando a portaE aí, gostaram? Por enquanto as coisas estão andando lentamente, mas nós próximo capítulo vai ter uma passagem de tempo de três meses, para que eu não tenha que ficar enchendo linguiça e as coisas finalmente acontecerem...
Se preparem e comentem falando sobre o que acharam!
Até o próximo!
Música do capítulo: Carly Rae Jenpsen - I Really Like You.