Silêncio. Inércia. Susto.
E quando finalmente a tela do celular resolveu me tranquilizar e avisou que ele estava digitando, o mundo pareceu voltar a rodar em seu ritmo natural, ponteiros voltaram a girar, estrelas voltaram a piscar, eu respirei fundo, nem tinha percebido que prendera a respiração esse tempo todo. "Você não devia fazer isso, cara, ela é tua namorada"
"Mas eu não gosto mais dela. Eu gosto de você."
"Tiago, tu tá indo rápido demais. Eu gosto de você tambem, de verdade, mas nao me vejo entrando num relacionamento, contando pra todo mundo sobre nós, e acho que você está querendo algo que eu nao sei se vai rolar."
"Eu só nao quero ficar enganando ela, namorando com ela só por aparência. Eu entendo o que você está dizendo, mas acho que vai ser melhor assim"
Ele hesitou um pouco antes de responder, podia dizer o que quisesse, podia fingir com todas as suas forças, mas eu sabia que no fundo ele adorou a noticia. "Se é assim, você que sabe. Eu queria muito ter falado mais com voce, cara, mas na faculdade é tanta coisa uma atras da outra que nao tenho tempo nem de pegar no celular. Raiva não termos horários que batem, não pensa que eu esqueci da divida que voce tem comigo!"
Claro que ele nao ia esquecer do que eu disse naquele banheiro, tambem ficava contando os favores que me fazia para cobrar depois, e agora que ja tínhamos nos chupado, eu teria que ir além como havia prometido, e mesmo que ainda não quisesse abrir mão de fazer ele de passivo primeiro, também sabia que se não aceitasse algumas concessões nós dois nao iríamos para frente. E eu queria ir, eu queria tudo com ele. Se esse era o preço, talvez fosse eu que tivesse que fazer a Grande Concessão primeiro, nao sabia dizer se aquilo me excitava, ter Wiliam dentro de mim parecia uma imagem estranha aos meus olhos e eu imaginava que nao iria gostar, mas como imaginei a mesma coisa com relação a chupar ele e estava redondamente enganado, então o que eu sei?
"No fim de semana eu to livre, Se voce estiver tambem, pode vir aqui dormir na minha casa."
"Isso quer dizer o que exatamente? Voce vai... Quero dizer... Ahhh cara, voce me entendeu"
"Isso quer dizer que eu estou subindo pelas paredes de saudade de voce aqui. E quando a gente voltar a se ver, quem sabe..." Eu faria ele sofrer tambem, gostava da sensação de saber que Wiliam estava ardendo de desejo assim como eu, a cada frase escrita ou lida meu pau babava, eu olhava pra aquela foto dele e lembrava daquele cara sem roupa nenhuma, tomando banho comigo, dormindo comigo, nao havia nada que nao me interessasse no corpo dele, e eu tinha que ter coragem, era mais velho, começava a tomar decisões antes dele. Meu pau ainda se divertiria muito naquela bunda, isso com certeza, Wiliam seria meu, eu não dormiria tranquilo enquanto ele nao fosse meu, e se um dos obstáculos para isso era o fato de eu ser passivo primeiro, entao tudo bem, a maior cidade da nação dentro de mim ficava bem no epicentro do terremoto-Wiliam e estava a beira de ser engolida por uma fenda no chão "Com uma condição: Na mesma noite voce vai ser meu, nada de deixar como divida, vai ser tudo de uma vez. Voce primeiro e depois eu."
E para minha surpresa, sem pestanejar, sua resposta incendiou a tela do meu celular: "Feito." Meu tesao foi tao grande na hora que não consegui ficar só acariciando de leve meu pau, comecei a masturbar com força, rápido, firme, olhando pra foto dele, lembrando do gosto dele, do jeito dele, do beijo dele, ate a voz dele me deixava fora de mim. Demorei a responder porque nao conseguia me concentrar nas teclas da tela, e só com a mao esquerda era ruim de digitar. Arfava alto, mordia o lábio fingindo que era sua boca me mordiscando como ele costumava fazer, me movia com a intensidade que ele me masturbou naquela primeira vez que me fez gozar e agora de novo o fim foi grandioso, com jatos intensos causados pela quente lembrança de Wiliam. "Ahh gozei gostoso aqui.". Nada, nada, nada ficava mais de secreto em mim, sentia que tudo podia ser compartilhado com ele, sentia que a gente se deu tão bem, minhas letras, suas musicas, que passávamos e longe da amizade para um elo mais estreito, mais intimo. "Tu tambem tá se punhetando aí? Eu to quase chegando lá, se voce tivesse aqui seria melhor!" ele que começou mais timidozinho, passou a se mostrar agora, o Wiliam que eu conheci no tempo que ficamos sozinhos na sua casa, o Wiliam por quem me a-pai-xo-nei.
Meu corpo todo se recuperando, um relaxamento que fez o meu colchão se transformar em uma corrente de ar, e eu nao estava deitado, estava voando nessa corrente, aproveitando o curto-circuito do meu corpo todo. Pensando nele. E ele do outro lado tambem gozava, uma longa mensagem esticando a palavra "gozei". Pensando em mim. Estas coisas de se perceber amando, amado.
Depois, os assuntos fugiram do intenso erotismo em que parecia se resumir as nossas vidas nesses últimos dias, ele dizendo que precisava arrumar um emprego, ter estabilidade, eu explicando que as vezes nao sabia aonde me levaria essas coisas que escrevo, viraria escritor? Professor de literatura? E ele me dizendo que eu nao mostrei nada do que tinha escrito, enviei um pequeno texto, que nao me agradava completamente nada do que escrevia me agradava completamente, faltava ir mais longe, nao importava o quão alto eu ja estivesse, era pouco, mas ele gostou do texto, disse que gostava do meu jeito de escrever, gostava de varias coisas em mim, eu nele. E aos poucos, naturalmente os assuntos voltariam ao erótico desejo de nós dois. Mesmo sem estar vendo-o pessoalmente, era ele e só saber que era ele que teclava do outro lado ja era motivo para eu inteiro reagir, corpo, mente, vida. Mas perceba que eu disse "voltariam", e nao "voltaram", porque bem nessa hora eu ouvi meu portao sendo aberto, e so tive tempo de lhe mandar um audio avisando que ja ja voltava a falar com ele enquanto me levantei e abri a janela, o vento frio esvaindo um pouco do meu cheiro espalhado pelo quarto, vesti uma calça jeans ouvindo a porta da frente abrir - sem arrombar, e isso ja tirava o mistério de quem havia chegado ali assim de repente, só uma pessoa tinha a chave da minha casa: Marina.
E ela aparentemente só lembrou como é que se bate nas portas quando chegou no meu quarto (e isso porque tentou entrar e estava trancada).
- Tiago, abre essa porta! - com aquelas batidas logo nao seria nem preciso abrir, a Marina daria um jeito de entrar quando abrisse um buraco no meio da madeira, feito o Jack de O Iluminado. Fui ate la, abri a porta, foi entrando irada e ja gritando: - Cadê? Cadê essa puta? Onde foi que voce escondeu ela, han?
- Marina, não tem ninguém aqui - falei, tao calmo que minha voz se contrastou com os gritos histéricos dela, fazendo com que Marina parecesse uma desiquilibrada de porta de manicômio. Mas claro, que eu tomei cuidado com as palavras, nao disse que nao estava traindo ela, até porque isso seria mentir. Tão estranho, nao parecia uma traição ficar com ele, eram coisas diferentes, opostas talvez, mas que mesmo assim eram insustentáveis juntas. A conversa agendada para amanhã teria que acontecer doze horas adiantada, nesse instante, porque enquanto ela falava algo como"mas entao porque voce esta assim? Parece que foge de mim, parece que..." parou seu discurso e seus olhos ameaçaram me derreter se fossem de laser, estava prestes a dizer que exagerara e se acalmar, quando, andando nervosa de um lado para o outro no quarto ela parou, e viu a marca de chupao no meu pescoço: "Mas Que Merda É Essa Tiago!!!" e tudo correu feito um desmoronamento de morro causado pela chuva, palavrões, fúria, interrogatórios, choro, acusações, ameaças, drama, enfim. Ela descobriu tudo antes de eu ter a chance de explicar com calma, e eu sabia que nao adiantaria tentar explicar de qualquer forma, como dizer "Voce esta entendendo errado, essa marca foi um homem que fez"? Entao me calava, entao esperava apenas que tudo aquilo jorrasse de dentro de Marina. Era horrível, mas eu sabia que era o melhor. Mesmo que ela sofresse muito agora, isso só se acumularia se eu adiasse, como aquele amigo que voce nao visita ha meses e quer visitar, mas ao mesmo, a cada dia que passa isso se torna mais difícil, os assuntos morrem, as afinidades desbotam, e só piora.
- Vai pelo menos dizer quem é a puta? Eu conheço?
- Marina, você só vai fazer isso piorar assim...
- É isso que voce tem a me dizer? Serio mesmo que essa é a sua resposta?!
Me sentia na mais deslocada das situações, era culpa minha, nao tirava a razão dela, nem argumentos conseguia catar pelo chão, de repente eu parecia me tornado um tipo de pessoa que mais detestava, e odiei a mim mesmo por isso. Não respondi. O que dizer? Somente imóvel observei enquanto ela tirava o anel de compromisso e o jogava no chão com toda a sua força, soltando um ultimo e sonoro xingamento antes de sair do meu quarto. E entao um silencio seco e carregado de culpa. Claro, eu sabia que era o melhor para todo mundo, ficava repetindo isso para tentar me sentir menos devastado, mas nao adiantava nada... No celular, Wiliam disse que tudo bem e avisou que ja estava indo dormir, eu respondi o seu boa noite com um idêntico mesmo sabendo que ele só iria le-lo amanhã.
Ao me deitar, o sono era um cão que fugia tao depressa e desesperado de mim que eu me senti um sem caráter e miserável.
***
Mas com o passar dos dias aquela sensação de ser um traidor foi passando, bem lentamente, ao contrario do ódio que Marina passou a sentir de mim e que não diminuiu nem um grama aquele tempo todo, na faculdade ela sempre me fuzilava para suas amigas assim que eu passava por alguma delas, e eu nao dizia nada porque ela estava no seu direito. E falava com Wiliam todos os dias, agora ele arranjava mais tempo para me responder, no almoço, nas saídas entre uma sala e outra da sua faculdade, e principalmente a noite, porque eu nem ligava de usar o celular na sala e ele estava livre em casa e podíamos conversar mais. Contávamos os dias, sábado ele iria para minha casa, e na quinta feira eu precisava ir a tarde para a faculdade por isso aproveitei uma folga no trabalho e ja que estava lá mandei uma mensagem avisando que eu estava ali. Ele me respondeu com um "Espera aí" e segundos depois apareceu no corredor, sorrindo, apertou minha mao e ja saltou para um abraço, apertado. Amigos. Saudade.
- E aí o que te traz pra esse lugar funesto nesse dia tao belo, meu caro? - ironizou, nas costas da minha camisa vinha escrito que cursava Letras.
- Pesquisas e mais pesquisas...
- Ual, pensei que vocês só fumassem maconha e vendessem sua arte na beira da praia...
- Isso é bacharelado - eu emendei sua brincadeira. Esse povo de exatas sempre se achando superior.
- Tava sentindo saudade de te ver já, cara, parece que faz dez anos aquele fim de semana - ele disse, o sorriso safado, conquistador, puto estampado naquela sua cara de homem serio que me dava tanto tesão.
- Nem me fale, por isso eu ja aproveitei que vinha aqui e te trouxe um presente: a minha companhia.
Ele riu gostoso, aquela risada de quem esta muito feliz por te ter por perto: - E eu que sou convencido? Vai nessa.
Depois ele me olhou de baixo a cima: - Tu ta bem bonito, hein. Se arrumou assim pra me ver?
Isso respondia a sua pergunta: sim, ele era o convencido de nós dois, e tambem o atrevido, que veio puxar assunto primeiro, que armou aquilo para eu dormir na sua casa, que me puxou para o nosso primeiro beijo la no seu banheiro, iria propor uma segunda dose ali no banheiro da faculdade, mas preferi nao arriscar tanto assim, ainda mais porque esse desejo todo que estava se acumulando entre nós dois seria muito mais prazeroso quando fossemos passar mais um fim de semana juntos, e provavelmente seria esse desejo de querer demais voltar a ficar com ele que me daria a coragem necessária para que eu pagasse minha divida na nossa primeira vez.
- Você fala como se nao fôssemos só bons amigos - minha vez de provocar, ele nao disse que eramos amigos? que nao queria nada oficial por enquanto? que estava confuso se era mesmo capaz de um dia admitir que talvez a resposta fosse que nós dois eramos um pouco mais que heteros? Então, por que dizia que eu estava bonito? entrava nessas contradições sem saber que isso só provava que ele ja estava desde o começo comigo, no mesmo barquinho rumo as incertezas, desde a primeira vez que nos vimos lá atras, naquela quadra de futsal.
- Touche.
Eu ri - Bom, mas agora eu tenho que ir, só vim te dar um abraço mesmo, a minha arte nao vai se vender sozinha na beira da praia. Tchau, cara, ate sábado.
- Mal posso esperar - ele disse e me abraçou outra vez, mas um aluno surgiu no corredor quando a sua mao estava a caminho do sul do meu corpo, e ele se afastou mais que depressa. Ainda tinha medo, coisa que eu ja superara. Mas calma, ele ainda chegaria lá.
E quando o fim de semana chegou eu ja media pela quantidade de mensagens provocativas que mandávamos que nós estávamos tão abstinentes que eu ja imaginava que seria daquele jeito mesmo, sem folego nem tempo, seu carro estacionando, eu o esperando no portão ele me abraçando eu entrando e ja no quintal recebendo um beijo dele na bochecha, eu trancando o portao, nós dois entrando na casa e a porta sendo batida com força quando eu o joguei de costas contra ela e o agarrei para um beijo assombroso, matando minha sede antes que ela me consumisse por inteiro e nao restasse nada de mim fora de Wiliam.
Mas aí, como uma fotonovela italiana igual aquelas com capítulos de cinco fotografias:
1° foto - Eu tirei sua camisa, ele a minha.
2° foto - Eu o empurrei para o sofá, caiu deitado, deve ter machucado a cabeça, mas nao reclamou, sorriu, e abriu os braços para me receber inteiro quando fui para cima dele.
3° foto - Eu segurei na borda da sua calça, difícil tira-la, estava presa com cinto; ele tirou a minha primeiro, que era uma calça leve e sua mao foi rápida pra minha bunda.
4° foto - Eu aspirando o ar do seu pescoço e ele mordendo meu ombro, ate que senti WIliam me apertando mais forte, assustado com alguma coisa, e tentando se desvencilhar, mas era tarde.
5° foto - Nós dois naquele sofá e num plano de fundo, Marina, que ainda tinha a chave do meu portão e deve ter visto o carro dele la fora e agora entrara para saber por quem eu a trocara nos via ali, pegando-nos na situação mais auto-explicativa da história.
Como uma fotonovela italiana, o leitor teria que esperar o próximo capitulo para saber o que aconteceria a partir daíContinua...