Cap.11
Biel olhou pra mim com um olhar triste, um olhar sofrido.
- Algo horrível vai acontecer ! - falou, me assustando.
- O que vai acontecer ? - ele ficou em silêncio - fala, o que vai acontecer ?
- Ricardo... Ele... - respirou fundo.
- Não me diga que algo ruim vai acontecer com ele...
- Ele está com uma doença incurável... Júnior - doeu em mim ouvir aquilo. Ricardo era um amigo muito bom, alguém que não dava pra esquecer de forma alguma.
- Não...
- É sim... O médico deu 3 meses de vida pra ele, no máximo 4. A família dele já gastou um dinheirão, buscando achar um tratamento mas não tem, em lugar nenhum. O jeito é esperar a morte vir...
- Não, não pode ser ! - fiquei tão emocionado que uma lágrima escorreu.
- Ele não quer que mais ninguém saiba. Ele quer que todos pensem que está tudo bem, que nada vai acontecer. Assim ele não vai ter que sofrer com a pena que as outras pessoas vão sentir, ou o sofrimento adiantado.
- Entendo... - ele se virou e olhou pra mim.
- Você promete que não vai dizer nada a ninguém - foi tão rápido que eu me espantei.
- Prometo sim, prometo ! - ele estava muito abalado.
- Ele é um amigo muito importante pra mim, eu não quero que ele vá - falou, com a voz embargada.
- Não vamos nos lamentar agora - falei, tentando acalma-lo - temos que dar força a ele. Imagine o que ele está sentindo, sabendo que tem dia marcado pra morrer - ficamos abraçados por alguns minutos.
- É, você tem razão ! Temos que apoia-lo, ele precisa de nos - esboçou um sorriso típico daqueles que tanto me encantavam - aquele bobo. Nunca se declararia se eu não tivesse tentado os juntar - rimos juntos.
- O que será que eles estão fazendo nesse momento ?
NARRADO EM TERCEIRA PESSOA
Depois do cinema, os dois ficaram com vergonha de falar um com o outro. Estavam pensando um no outro a cada momento, mas faltava coragem pra mandar uma mensagem. Até que Lauro decidiu superar essa vergonha e mandou.
"- Oi
- Oi, tá tudo bem ?
- Melhor agora..."
Os dois calculavam bem, pensavam muito bem o que iriam escrever, com medo de causar má impressão. Mal sabiam que estavam apaixonados um pelo outro e não tinham coragem de assumir. Ricardo continuava enfrentando sua doença, que causava dores fortes e enrijecia seus músculos. Era esperada uma parada cardíaca, que seria provavelmente fulminante. O mesmo já havia pensado bastante sobre isso. E decidiu curtir os 90 dias que ainda lhe restavam. Seus país estavam tristes, se lamentando. Mas ele estava lá, tentando manter a felicidade para morrer em paz. Mas pensava que iria morrer com uma frustração. Morrer sem namorar. Pensava... Na escola, assim que os dois cruzaram o olhar no corredor, se observaram atentamente. Lauro estava com um olhar diferente. Parecia ligeiramente cabisbaixo. Se aproximou de Ricardo, e para a surpresa dele e de todos que estavam perto, deu um forte abraço no mesmo.
- Quero conversar com você.
- O-ok - dizia, nervoso.
NARRADO POR JUNIOR
Ainda não havia caído a ficha pra ele. Era impossível que alguém que mostrava ser tão saudável estivesse a beira da morte.
- Ainda não consigo crer - falava, tomando um sorvete de chocolate.
- Mas é a verdade !
- Parece tão surreal... Eu não... Consigo acreditar - Carlos tentava não mostrar a tristeza mas estava bem triste, com a iminente perda do amigo.
- Sabe... Já tenho pensado nisso a dias, e a cada dia fico pior. Queria parar de pensar nisso.
- Poxa amor... Eu queria poder te ajudar ! - os dois continuavam tão cúmplices quanto antes.
- Você pode...
- Como ?
- Toparia dormir lá em casa hoje ? A gente pode ver filmes, comer besteiras. Ao menos estar com você me faria esquecer um pouco disso - Júnior via o quanto ele estava realmente sofrendo com a morte do amigo. Sabia que seria bombardeado de perguntas quando chegasse em casa, mas como sua mãe conhecia Carlos e sabia aonde ele morava não teria bronca.
- Tá bom Carlos, eu vou pra sua casa, a gente faz um monte de coisas legais e se diverte - ele sorriu.
- Valeu...
NARRADO EM TERCEIRA PESSOA
Enquanto o casal JuCa tomava sorvete, Ricardo e Lauro se sentavam no mesmo jardim aonde Carlos falou com Júnior meses atrás.
- O que foi aquilo no corredor ? - perguntou Ricardo, ainda atônito depois de ter recebido um abraço daquele que era seu sonho de consumo.
- Eh... - pela primeira vez Lauro demostrava nervosismo - eu não consigo explicar - falou, vermelho.
- Eu gostei muito do seu abraço.
- Gostou ?
- Gostei... - os dois sorriram um pro outro. Tinham tanta vergonha que não conseguiam dizer o que sentiam um pelo outro.
- Eu também... Na verdade sempre quis fazer isso...
- Sério ?
- Eh... Ricardo - Lauro novamente olhou para o seu sonho de consumo. Foi quando decidiu dizer o que queria em um ato. Um beijo.
NARRADO POR JUNIOR
O quarto de Carlos era sempre bem arrumado. Nunca soube se ele arrumava ou alguém arrumava. Mas estava arrumado.
- Que bom que você veio, ao menos não vou me sentir sozinho essa noite - disse Carlos.
- Você sabe que sempre pode... - parei de falar quando vi aquilo. O corpo de Carlos...
Continua
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E ai