- Desculpe, mas o horário de visitas terminou a dez minutos. Informou a enfermeira para Lucas e eu quando chegamos no balcão do hospital. O horário de visita terminava as cinco e já passava das seis horas da tarde quando chegamos lá.
- Você não entende, eu preciso vê-lo. Lucas implorou.
A mulher não pareceu oferecer nenhuma resistência, sabia que não adiantaria muito implorar. Então agarrei a mão de Lucas.
- Ele é meu pai. E eu não consigo suportar a ideia de que eu não estou aqui para ele quando isso tudo aconteceu. Me ajude por favor, me deixa ver ele. Prometo que vai ser rápido. Pedi ja quase chorando. Claro que eu estava pensando em Christopher, é isso que aprendemos no curso de teatro, a canalizar nossas emoções para usá-las a nosso favor. Era incrivelmente mais fácil do que eu imaginava.
A expressão da mulher suavizou e logo ela deu um pequeno sorriso.
- Tudo bem, cinco minutos, nada mais. Ela falou.
Minutos depois, estávamos seguindo por um longo corredor, passando por quartos de portas fechadas e um cheiro enjoativo só aumentando. Paramos em uma porta dupla.
- Tudo bem, estou esperando aqui - falou a mulher baixinha para mim. - cinco minutos. Repetiu.
Lucas e eu nós viramos para entrar e ela segurou o braço dele.
- Apenas familiares. Ela disse com firmeza.
Me virei suplicante para ela, o que era difícil com meu coração martelando cada vez mais.
- Ele é...
- Quer ver seu pai ou não? Vai logo.
Lancei para Lucas um olhar de "desculpe" e entrei. Eu poderia ver se estava tudo bem com o homem e diria a ele, certo? Era simples, eu podia fazer isso.
Ao passar pela porta dei um longo suspiro. Era um quarto grande e longo, devia haver mais de seis pacientes em macas ali. Ok, Lucas o acertou na cabeça, isso diminuía o número de possíveis Joe's para quatro. Era um desses homens com curativos na cabeça. Estes eram apenas três.
Me aproximei do primeiro. Um homem pálido e coberto até o nariz. A faixa que circulava sua cabeça parecia apertada. Um pouco relutante, puxei um pouco o cobertor. Eu podia jurar que aquele cara estava sorrindo. Provavelmente tendo algum sonho erótico aonde se dava bem.
Me virei até o segundo, um homem moreno e alto, acima do peso. Seu ferimento na cabeça não parecia ser sério, mas alguns em suas pernas sim. Fui ate o último. O homem de meia idade, cabelos longos, uma tatuagem de arame farpado no braço. Esse definitivamente era o cara que Lucas acertara na cabeça. Parece um belo de machucado, o curativo tinha um pouco de sangue, mas no restante ele parecia bem. Respirando fundo, eu sai daquele quarto e luz florescente do corredor queimou Meus olhos brevemente.
Lucas veio até mim, segurando meus braços, e então me abraçou.
- Como foi? Ele está bem? O que você...
- Calma, eu vi ele. Parece que está tudo bem, os ferimentos não foram tão graves então parece que vai ficar tudo bem.
Ele soltou uma lufada de ar e me apertou ainda mais. Fazia tempos que não sentia um abraço tão sincero como o dele. Christopher e minha mãe não contavam.
- Olha, desculpa por tudo Lucas. Sei que foi errado o que aconteceu com o Christopher e agora...
Ele me soltou, me olhando nos olhos.
- Deixa pra lá. Eu fiquei irritado porque você está com ele. Não sei o que deu em mim, eu estava bem com isso, só que, caramba, ele é o cara que tirou você de mim e não só por uma noite.
- Isso não é verdade. Não namoramos, mas eu ainda To aqui pra você. Olha em volta...
E então começamos a rir. Finalmente ele estava sorrindo novamente.
*****
Mais tarde, eu estava recolhendo Meus materiais da mesa e coloquei tudo na mochila. Não sabia nem mesmo o motivo real de eu ter vindo na faculdade hoje, quer dizer, além de querer saber os boatos que estavam circulando. Até agora soube que eu estava fazendo dois caras brigarem por mim, também que eu era um garoto promíscuo e estava namorando os dois ao mesmo tempo. Hà! Tipo isso. Todo os alunos já estavam saindo da sala e logo estávamos só Lisa e eu dentro da sala.
- Ah, por favor, não fica com essa cara. Falou Lisa toda dengosa do meu lado. Desde a minha briga com Christopher, eu estava meio mal, não por ele ter dito o que disse, mas por saber que era verdade.
- Eu To legal. Resmunguei.
- Não, não ta, e eu sinto muito por não poder fazer nada. Quer dizer, topa brigadeiro e Drew Barrymore?
Dei uma risadinha. Com tantos problemas ultimamente mal tinha tido tempo para minha melhor amiga, e aqui estava ela, pronta para largar tudo e ficar na fossa comigo.
- Lisa, será que pode... Era a voz de Carlos entrando na sala. Ele parou quando me viu ali.
Respirei fundo e limpei algumas lágrimas que vinham rapidamente. Lisa se virou pra ele.
- Sim...?
- Me emprestar anotações da semana passada? Quero saber se perdi muita coisa. Continuou ele, ainda tentando não olhar para mim.
Carlos havia sido outra vítima na minha frente. Caramba, se nem eu estava conseguindo ficar do meu lado quer dizer que a coisa está mesmo muito ruim.
- Oi, Carlos. Falei dando um aceno. Ele olhou para mim, a boca em linha reta, e o rosto inexpressivo, como se nem estivesse me vendo.
- Lisa? Ele voltou a olhar somente para ela.
Ok, talvez eu merecesse isso. Lisa me olhou rapidamente, e suspirou. Pegou um caderno da sua bolsa e o entregou.
- Preciso dele para depois de amanha, ta?
- Você é a melhor. Falou Carlos a abraçando e beijando sua bochecha. Aquilo me deu uma pontada de... Saudades talvez? Claro que sim, éramos amigos e eu gostava dele independente de qualquer coisa.
- Vai mesmo ficar bravo comigo pra sempre? Perguntei e desta vez ele se virou mesmo para mim. Porém, sua expressão não era boa. - Poxa, eu vacilei, mas To me desculpando, e não sei, de repente parece que todo mundo tá indo embora da minha vida...
- Talvez se você uma pessoa melhor isso não iria acontecer.
Aquelas palavras bateram várias vezes antes de machucarem. Outra coisa horrível que alguém me dizia, ou outra verdade sobre mim que eu conhecia. As lágrimas já vinham e eu quase pensei ele iria se desculpar ou algo assim, mas ele simplesmente saiu da sala como se eu realmente não existisse mais.
***
- Vai ser rápido. Falei para Lisa mais tarde naquela noite, quando saltei de seu carro e bati campainha na casa de meu pai. A mulher dele atendeu a porta, obviamente não estava nada contente em me ver.
- Sim? Perguntou ela.
- O Chris está?
- Não. Ele foi embora com o pai dele. Você tem que esquecê-lo e seguir...
- Quer parar? Falou voz do próprio aparecendo atras dela na porta. Por um segundo só eu quase morri. O alívio foi tanto em vê-lo que minhas pernas tremeram.
A mulher revirou os olhos e saiu pisando duro para dentro de casa. Christopher saiu e fechou a porta.
- Gabriel, olha eu sinto...
- Não, eu vim até aqui então eu vou falar. - Eu o cortei. - Eu entendi o que quis dizer mais cedo, e por mais que me doa você não está errado. Sim, eu trai meu antigo namorado. Foi uma coisa impensada e estupida, e eu não posso voltar e desfazer, mas se quer mesmo estar comigo, você tem que pelo menos me dar o benefício da dúvida. Caramba, eu gosto de você, muito, e de jeito nenhum que eu quero que o temos acabe por...
Não consegui mais falar com a língua dele invadindo minha boca. Me derreti e cada minuto do beijo. Pelo menos isso havia sido reparado... Por enquanto.
- Entendeu ou quer que eu desenhe? Perguntou ele respirando ofegante.
- Quero.
E voltamos a nos beijar.
