(Vontades não saciadas).
Anna-Lú abriu a maleta de maquiagem e passou os dedos por cada um dos batons que tinha, enfileirados com ordem, protegidos por suas capinhas. Pegou um deles, rosa fantasia, dizia a embalagem e o jogou sobre a cama, escolheu ainda blush, base, pó, corretivo, pincéis, um quarteto de sombras e lápis. Começou sua maquiagem e por um instante, ficou absorta refletindo sobre a decisão do pai, por mais que tentasse não conseguia concordar. “Ele não podia fazer isso, não comigo, não sem antes me consultar”, era o que ela repetia insistentemente em seu pensamento, julgava a decisão do pai como desonesta e no fim de tudo fora obrigada a aceitar com uma chantagem sutil.
Anna-Lú bufou. Depois sentou-se em frente ao espelho e continuou a fazer a maquiagem, precisava concentrar-se a noite era de grande importância para sua carreira e principalmente poderia esfregar o prêmio na cara do pai, pensou ela e sorriu maquiavelicamente com o cantinho da boca. Já pronta em seu longo vestido cor de vinho, Anna-Lú contempla-se, verificando os últimos detalhes antes de sair, quando Caio chegou tagarelando como sempre.
UAU! Estás divina hein! – exclamou Caio entusiasmado.
Obrigada bicha, eu sei – disse Anna-Lú esbanjando convencimento – E você também não está nada mal meu caro – continuou Anna-Lú elogiando Caio que assentiu com leve mexer de cabeça, ele vestido num terninho cinza bem moderninho com golas estreitas e claro uma gravata também estreita e cor de rosa, pra não perder o hábito.
Então já escreveu o discurso da vitória? Porque eu tenho aqui ótimas ideias – falou Caio dando risinhos e tirando um pedaço de papel do bolso de seu terno.
Sei bem que tipos de ideias você deve ter tido, mas obrigada eu já sei muito bem o que vou dizer e creio que a Mari jamais concordaria com as tuas ideias, ela já não concorda com as minhas e aposto que deve ter um discurso prontinho para mim – respondeu Anna-Lú sorrindo.
Negativo, a Mari tem ciúmes de mim com você, por isso, ela não aceita minhas ideias, para ela sou o opróbrio em você e as suas ela não aceita porque você é petulante e muito teimosa – Caio riu, fazendo seu corpo sacudi.
Anna-Lú revirou os olhos e deu de ombros para as piadinhas de seu fiel amigo. Alguns minutos depois, Anna-Lú e Caio chegaram ao centro de convenções, logo os fotógrafos estavam subindo como numa nuvem na frente do carro enquanto paravam. Desceram e Caio entregou as chaves ao manobrista. Os dois olhavam ao redor, acenavam e sorriam, mas Anna-Lú estava diferente e Caio pode ver a ansiedade acrescer no rosto de sua amiga. Anna-Lú entrou na frente e Caio a seguiu, temia que a amiga, naquela festa, pudesse aprontar todas, afinal sabia muito bem que Anna-Lú estava furiosa com o pai e num piscar de olhos, levaria tudo a perder ou a outro escândalo só pra afrontar o pai.
Percorreu o lugar com os olhos e logo avistou Mari que veio ao encontro dos dois, Mari cumprimentou Caio com um sorriso alegre, depois Anna-Lú inclinando a cabeça para dar dois beijinhos na amiga. Anna-Lú retribuiu o gesto como quem diz, “já estou aqui, fique tranquila”, ela sabia o quanto Mari preocupava-se com ela muito mais do quê Relações Publicas, Mari cuidava de Anna-Lú como quem cuida de uma criança, mas isso já não incomodava mais Anna-Lú, com o tempo acostumou-se com o jeito superprotetor de Mari, que além de tudo já tinha livrado Anna-Lú de muitas roubadas.
Que bom que vocês chegaram! – disse Mari aliviada.
Como prometi – respondeu Caio sorrindo.
E eu agradeço Caio, só você pra ficar de olho nela pra mim! – falou Mari sorrindo.
Ei! Eu ainda estou aqui sabiam?! – protestou Anna-Lú – Parem de tratar-me como se eu fosse criança, ok!
Pois então, trate de se comportar como adulta, ok?! – respondeu Mari – Vamos indo que o tio Edu quer falar com você e quer te apresentar para a senhorita Vandré – disse Mari já puxando Anna-Lú pelo braço.
Opa! Eu acho que desta vez não, Mari – parou Anna-Lú abruptamente.
Como assim, não?! – questionou Mari alarmada, pois sabia que a negativa de Anna-Lú não significava boa coisa.
Não, simples assim. Não vou falar com meu pai e também não quero conhecer a “talzinha” da senhorita Vandré! – respondeu Anna-Lú enfática.
Não seja criança Anna-Lú! Eles estão logo ali, é só jogar um sorriso nesse seu lindo rostinho e tentar ser simpática – Mari bufou estreitando os olhos. Anna-Lú fez uma careta.
Não me olha assim, Mari. Pensa comigo... – começou cautelosa. – Você não vai querer que eu faça escândalos, não é? Então, é melhor eu não falar como o senhor Eduardo Garcia agora, certo? – tentava convencer Mari.
Certo – respondeu soltando o braço de Anna-Lú e revirando os olhos – Ai, Anna-Lú! Às vezes, você é impossível viu.
Anna-Lú deixou-se acalmar, porque não fazia o menor sentido começar a discutir com a melhor amiga e Reações Publicas em meio a uma festa. Enquanto isso, Caio apenas escutava a pequena discussão, em seguida Anna-Lú pegou o braço de Caio e decidiu que o melhor era ir para direção oposta ao pai e a “senhorita-sei-lá-o-quê” olhou de relance para onde o pai estava e encontrou um par de lindos olhos azuis, límpidos como o céu e por segundos sentiu àquela sensação de intensa doçura e ao mesmo tempo uma pontinha de desejo, definitivamente eu preciso transar, pensou e riu-se do pensamento inconsequente e nenhum pouco pudico que teve.
Certamente seu pensamento refletiu em um sorrisinho malicioso, tivera certeza disso porque os olhos azuis baixaram e se desviaram submergidos e restou a Anna-Lú voltar seu olhar para o pai e novamente ficar furiosa com ele. Seguiu com caio até a mesa e assentou-se, a solenidade de premiação iniciou e Anna-Lú começou a dar goles cada vez maiores em sua bebida, esvaziando em poucos segundos sua taça e a do amigo também. Esse comportamento logo chamou atenção de Caio. “Lá vamos nós de novo” pensou.
Hey! Vai com calma ai amore, isso não é água não mocinha! – tentou alertar Caio que já demostrava preocupação como o que estava por vir.
Não esquenta bicha e para de bancar a babá, por favor! – respondeu Anna-Lú irritada.
Ok! Não está mais aqui quem falou – respondeu Caio contrariado.
A cerimonia de premiação transcorria com sucesso e devagar os prêmios iam sendo entregues, e Anna-Lú continuou a pedir mais drinques aos garçons. Devagar a bebida foi deixando-a cada vez mais altinha a cada minuto que passava toda aquela excessiva quantidade de álcool era mais do quê seu sangue de “filinha de papai” poderia suportar.
E então chegou finalmente o grande momento havia chegado, e não foi surpresa alguma ouvir o nome Anna Luiza Garcia como a vencedora do prêmio. Bem no momento em que Caio ia ver se ela estava em condições de subir à plenária, ouviu o som da cadeira ao ser arrastada, ergueu os olhos e viu Anna-Lú trôpega levantar-se e sair sem que nada pudesse fazer para impedi-la. De onde estava o senhor Eduardo pode ver o estado de embriaguez em que Anna-Lú se encontrava, olhou para Marina, alarmado, como quem “O que está acontecendo?” Marina piscou rapidamente incapaz de explicar. Anna-Lú subiu as escadas e recebeu o troféu e depois se virou na direção onde o senhor Eduardo estava sentindo os olhos de todos os convidados sobre ela.
Esse troféu eu dedico ao senhor Eduardo Garcia! – falou Anna-Lú em alto e bom tom e depois continuou – Nunca consegui agradá-lo, não é papai? Por isso ele contratou uma substituta para mim! Mas não sintam pena da Anna-Lú...coitadinha...que se esforçou tanto para ser notada. É não sintam pena, porque afinal, parei de tentar agradá-lo. E não o culpem, pois ele sempre fora um homem absorto demais em seus negócios! Então esse prêmio é pro Senhor...querido pa-pa-i...aplausos para ele pessoal – terminou Anna-Lú já com Caio e Mari a puxando pelo braço e pedindo desculpas.
Abrindo caminho entre as pessoas, os dois conduziram Anna-Lú por um corredor decorado com papel de parede caro, algo que parecia camurça, depois subiu por uma escada acarpetada e, enfim, chegaram a um amplo salão.
Senta aí, não sabe mesmo participar de algo importante sem transformar tudo em vexame...não é???!!! – disse Mari bem irritada.
Não grita comigo Marizinhaaa – choramingou Anna-Lú completamente jogada com as pernas descobertas em dos sofás que havia ali.
Logo em seguida, aparece o senhor Eduardo, completamente alterado seguido de Carol e Miguel.
Está feliz com o showzinho que deu Anna-Lú?! Olha o estado em que você está minha filha??!! – vociferou o senhor Eduardo balançando a cabeça em reprovação.
Calma, tio não adianta falar nada com ela agora – tentou amenizar Marina.
A senhorita Monteiro tem razão senhor Garcia, deixe pra conversar com ela amanhã – concordou Carol.
Desculpe por tudo isso senhorita Vandré – respondeu o senhor Eduardo.
Não há o que desculpar, mas se me dão licença, acho que por hoje já deu, vou indo e nos vemos amanhã na agencia despediu-se de todos e saiu com Miguel para procurar Alicia. Mas, que garota irresponsável,
Tio não se preocupe, deixa que nós levamos ela para casa e amanhã vocês resolvem tudo com mais calma – Marina tentou tranquiliza-lo e o senhor Eduardo apenas assentiu com a cabeça deu dois beijinhos em Marina, apertou a mão de Caio e saiu.
Algum tempo depois, Anna-Lú já se encontrava em seu quarto, envolta em seus lençóis. Despertou com leves batidas em sua porta, o sol nascera e já estava alto, e brisa fresca esvoaçava as cortinas na janela. Ela levantou-se e foi até a porta, destrancou e não pode negar que seu coração exultou de alegria, ao abrira a porta.
Você?! – exclamou sendo surpreendida.
Achei que abriria os olhos para um bom dia – respondeu Carol sorrindo.
Nós?! Quer dizer...o que está fazendo aqui? – Anna-Lú embaraçou-se um pouco.
Passei pra ver como você estava – respondeu Carol.
Mas...mas..como...
Seu amigo Caio me deixou entrar – completou Carol como se lê-se os pensamentos de Anna-Lú.
Puxou o blusão que vestia para baixo, sem jeito. Nem se lembrava de ter se trocado.
Você está linda, não se preocupe – disse Carol ao perceber o gesto de Anna-Lú e os olhos de Carol cruzaram com os dela por um breve desconfortável momento.
Aquilo pareceu um pouco demais para Anna-Lú, de repente, as duas sozinhas em seu quarto quase se beijando, era realmente um pouco demais.
Se você veio porque está com pena do meu estado lastimável de ontem, saiba que não preciso de sua pena – disse Anna-Lú tentando parecer indiferente.
E você espera que eu aja como se estivesse com pena? – questionou Carol inclinando a cabeça, com maior cara de pau, na opinião de Anna-Lú e continuou – Porque eu não estou – e antes que Anna-Lú pudesse protestar, Carol inclinou ainda mais o rosto par frente e...
Subitamente Anna-Lú acorda sobressaltada e inundada com aquela forte sensação de um quase beijo da mulher, que por mais que Anna-Lú tentasse reprimir, invadia seus pensamentos e agora até seus sonhos.