Eu levei um susto, mal pude acreditar, o cara que tinha tentado me estuprar era policial e agora tava morto, que fim trágico. Não pude deixar de pensar em Machado, poderia ter sido ele, embora ele tivesse me magoado eu ainda o amava e desde que eu voltei pro Rio ele não havia me procurado. Devia estar ocupado com seu novo amante. Estava saindo do prédio, já estava atrasado pra faculdade, de repente eu vejo aquele carro, meu coração gela, ele está bem ali, parado em frente ao meu prédio, o vidro do carro se abaixa e ele me olha, seu olhar vai fundo em meus olhos e é como se ele pudesse enxergar a minha alma, eu atravesso e vou em sua direção.
-Nossa! Que prédio ein! Disse Machado.
-Veio fazer o que aqui Machado?
-Entra no carro! Vamos conversar. Ele continuava autoritário.
-Eu não posso, to atrasado pra faculdade.
-Entra no carro, por favor?
Eu entrei no carro, começamos a andar um pouco e paramos num ponto da praia mais afastado e mais deserto. Nós descemos e sentamos num banco.
-Então, o que você veio fazer aqui? Eu estava sendo bem seco com ele.
-Vim atrás de você. Ele não me encarava, parecia que tinha vergonha de alguma coisa.
-Pra quê? Tudo que tinha que ser dito ou feito já foi. Nós não temos nada pra conversar Machado. Então ele me olhou.
-Eu te amo Diego, eu sinto sua falta,quero você de volta. Seu modo de falar me dava pena, mas eu não voltaria atrás.
-Não dá mais Machado, não podemos continuar assim, não vou viver a minha vida inteira sendo seu amante, eu não posso, não posso fazer comigo, nem com você e nem com a sua esposa. Acabou.
-Essa é sua última palavra? Ele se levantou e me encarou.
-Sim! É a minha última palavra. Acabou.
-Eu sabia, você é um playboyzinho mimado, não serve pra um homem de verdade como eu.
-Se você já terminou o seu discurso pode ir embora. Eu me levantei e fui saindo.
-Tudo bem, eu já vou, mas eu não vou desistir de você. E foi embora. Nesse dia eu nem fui pra faculdade fiquei vagando pela rua, pensando em tudo o que me havia acontecido. A semana passou voando, na verdade os meses passaram voando, e Machado sempre me procurando, as vezes vinha até o Rio me ver, e sempre com a mesma história de que me amava e não ia desistir de mim. As férias haviam chegado e eu tinha resolvido fazer um curso de fotografia em Monte Carlo, Leda e Rodrigo iriam comigo e em algumas semanas embarcamos. O curso estava ótimo e nós curtiamos bastante. Eu uma manhã de domingo eu estava sentado sozinho na praia quando sinto uma mão em meu ombro, eu me viro e vejo ele sorrindo pra mim. Seu sorriso parecia iluminar o mundo e seu olhar era encantador, dessa vez eu não ia resistir e estava disposto a me entregar, estava disposto a deixar o paaassado pra trás.
-O que você tá fazendo aqui?
-Eu disse que não ia desistir de você! Sempre com seu tom autoritário.
-Machado você é louco? E sua mulher? Seu trabalho? E como você me achou aqui?
-Não interessa, nada disso importa. Garoto, você sabe que não sou bom nas palavras, que eu não gosto dessas frescuras de sentimentalismo, mas eu gosto de você, eu te amo. Ninguém nunca mexeu assim comigo como você mexeu.
Eu estava incrédulo, não podia acreditar que aquele brucutu tinha ido atrás de mim e estava me dizendo todas essas coisas, e é claro que naquele momento eu já estava me acabando de chorar.
-Não me importa o que vai acontecer daqui pra frente, o que importa é que eu preciso de você, do meu lado. Volta comigo? Volta comigo agora?
Não tinha palavras, não conseguia falar, só fiz que sim com a cabeça e o abracei. Eu sabia que aquele homem nunca iria se separarar, sabia que eu seria pra sempre seu amante, mas não me importava, eu o amava, amava tanto que não pensava nessas coisas não conseguia mais ficar sem ele. Fomos para o Hotel onde eu estava hospedado e transamos, transamos como dois animais. Transamos como se fosse nossa última vez. Passamos a noite ali e no outro dia pegamos o avião de volta, viemos diretamente pra São Paulo.
Entrar no meu antigo apartamento depois de tanto tempo foi muito estranho, nada havia mudado mas mesmo assim era como se fosse a primeira vez em que eu estava ali. Meus pais relutaram bastante em aceitar minha volta para São Paulo, só aceitaram com a condição de que fosse vê-los duas vezes ao mês. O tempo foi passando e minha vida com Machado foi voltando ao normal, só que ele passava a vir me ver com menos frequência e quando vinha se portava de maneira estranha, sempre muito distante. Numa certa noite chuvosa minha campainha toca eu corro em direção a porta achando que era o Machado, mas a pessoa que estava ali mudaria tudo para sempre.
-Posso ajuda-la? Era uma mulher que estava em minha porta, e devo confessar que ela a negra mais linda que eu já tinha visto em toda minha vida, muito bem vestida entrou sem ser convidada.
-Prazer, Fabiana Machado! Ela me olhava com um ar olhar superior, eu não podia acreditar, aquela era a mulher dele? Como ela tinha descoberto tudo? Como ele sabia onde eu morava? Aquilo tudo ia acabar mal, muito mal.
-Em que posso ajuda-la? Tentava não demonstrar meu nervosismo, em vão.
-Não finja que não sabe quem eu sou, pode nunca ter me visto, mas reconheceu meu sobrenome, não vim aqui pra brigar e nem pra humilha-lo, até porque sei que você não é nenhum pobre coitado. Só vim avisa-lo de que você e meu marido não se verão mais, o que existia entre vocês acaba hoje, e eu fiz questão de ciente contar pessoalmente. Seu olhar agora era de deboche, de ódio, fúria. Mas eu não ia deixar barato, não deixar ela achar que tinha vencido, não ainda.
-E o que faz você pensar que ele não vai querer mais me ver? O que faz você pensar que ele não vai estar aqui na minha cama essa noite? Porque de você ele não gosta. Só está por conveniência. Não ia deixar barato, eu ia lutar pelo homem que amava.
-É por essa conveniência que eu tenho a certeza de que ele nunca mais vai voltar aqui. Ele pode até gostar de você criança, mas o que ele mais preza nessa vida é o dinheiro e isso ele tem comigo. Minha família é muito poderosa garoto e tudo que o Machado tem ele deve a mim e a ela, e você pode ter certeza que ele não vai abrir mão disso tudo, tanto que hoje mesmo estamos partindo pra Goiânia, papai conseguiu uma transferência pra ele, e hoje mesmo estamos indo pra lá. Tá vendo, ele te ama tanto que nem se deu ao trabalho de vir aqui te contar pessoalmente. Supera bebê, você foi só um capricho, um passa tempo. Ela foi andando em direção a porta.
-Você sabe que ele não te ama, não sabe? Soltei antes dela sair.
-Sei, ele me falou isso ontem a noite depois que nós transamos. Mas não se preocupe, isso é só um detalhe. Saiu e fechou a porta.
Mais uma vez eu estava ali, no chão daquele apartamento, sentado chorando, um choro silencioso, melancólico, triste. Eu não queria aceitar o que ela tinha me dito, mas as circunstâncias só me mostravam que aquilo tudo era verdade. Passaram-se três meses, e os três meses eu passei naquele apartamento o esperando, em vão. Já não tinha jeito, ele realmente não ia voltar, tudo tinha ficado pra trás e agora só restavam as lembranças. Tudo que eu podia fazer agora era voltar pra casa, para o meu lar, o lugar que eu sabia que podia voltar e recomeçar quantas vezes fosse necessário.
Algumas semanas já tinham se passado desde que eu tinha voltado pra casa, me numa vida começava a fluir normalmente, e claro que eu sentia falta do Machado, mas eu tinha que seguir em frente. Não podia sofrer por um homem que mais uma vez tinha dado provas de que eu era só um passa tempo, uma diversão. Numa manhã de terça, eu vejo uma carta em cima dá mesa, a carta era pra mim. Ao ler aquela carta eu tive uma das maiores surpresas dá minha vida.
"Diego, eu sei que você deve tá puto comigo, mas eu não tive escolhas, ela descobriu tudo e podia me ferrar. Não tem um dia sequer que eu não pense em você. Junto dessa carta tem uma passagem, já ajeitei tudo, você vem pra cá e tudo volta a ser como antes. Machado."
Se eu disser que não me senti tentado era mentira, claro que minha vontade era de ir correndo atrás daquele homem, mas não podia, não podia e não o faria. Eu rasgeui a carta e a passagem e fui pra faculdade. No caminho fui refletindo sobre tudo que havia me acontecido, e cheguei a conclusão de que tudo isso tinha sido culpa minha, eu me permiti estar naquela situação e só eu podia sair dela. Meu maior erro foi sempre me preocupar com a felicidade e o bem estar dos outros, e me esquecer do mais importante, eu. Com o vento batendo no meu rosto eu decidi que a partir de agora nada mais importava, eu devo aprender que não é certo depositar em outra pessoa a obrigação de me fazer feliz, eu mesmo tinha essa capacidade. Agora eu ia em rumo do que realmente me importava, as minha paz interior, eu ia viver por alguém que realmente vale a pena, alguém que realmente merece toda minha atenção e meu zelo, eu ia viver por mim. Agora era somente eu!