Sua mão foi afrouxando aos poucos. A emoção me impossibilitou de prestar atenção com clareza mas o barulho do maquinário me tirou do transe. A esperança se soterrou. O coração de minha mãe parou e era oficial, eu era órfão de pai e mãe.
Deitei na cama, sobre o corpo de minha mãe. Tristeza? claro. Esperança? Talvez... Abraçando dona Lucélia, me perdi em pensamentos... E fui esquecendo de tudo, apenas as lembranças de papai e mamãe me vinham a cabeça... Me toquei da situação quando o médico responsável chegou ao quarto:
- Com licença, o senhor é...
- Filho. Sou filho dela.
- Sinto muito por sua perda srº...
- Ralph... Ralph Castro
- Sei que é um momento difícil mas temos que encaminhá-la para...
- Eu entendi, doutor.
Ao olhar o médico, olho no olho, lembrei de um porta-retrato na estante do antigo apê de Pedro... Tive a sensação de já tê-lo visto... Devia ser a mistura de sentimentos.
Me levantei da maca e fui à porta, onde o doutor me observava.
- Lamento sua perda, rapaz. Fizemos o possível para que não acontecesse...
- Tudo bem, doutor - Olhei em seu jaleco - Luiz.
- Luiz? Oh mierda... Desculpa... Peguei o jaleco do Luiz na confusão toda... Enfim sou Carlos... Meus pêsames
- Tudo bem. - Disse saindo do quarto e indo rumo ao corredor.
Encarei o Drº Carlos com estranheza... Ele parecia um tanto quanto inquieto... Parecia que havia se drogado... Ou apenas fazendo sexo com o tal doutor Luiz... Achei engraçado esse meu pensamento, uma pena não ser hora para piada.
Entrei em um táxi, pensei por alguns segundos, para onde ir. Não queria enterros... Amava meus pais demais para me sujeitar à falsidade aleia... Meu sentimento era de saudade... De alguém especial.
Ring! Ring! A porta abriu-se liberando o cheiro que minhas narinas clamavam fazia tempo.
- Ralph
- Pedro
Parado na porta, eu e Pedro nos entreolhamos... O momento foi mágico e longo. Até que uns 2, 3 minutos depois, quebrei o silêncio.
- Posso entrar?
- Esperei por isso todo esse tempo. A casa é sua.
Abracei Pedro com força, correspondida á mesma medida. Pedro passou a mão por toda a extensão da minha coluna. O beijo foi inevitável. Claro, que dei uns perdidos em Alyne, já que nunca nem nos beijamos, e peguei uns carinhas em NY, mas nenhum se comparava a Pedro.
As peles suaram e repousava no peitoral de Pedro em sua cama, quando começamos a conversar... Eram 2 anos de papo pra botar em dia. Em todo esse tempo, nunca tinha falado com Pedro, estava morrendo de saudades de conversar com Pedro. 2 anos atrás, no Brasil, ele foi meu porto seguro.
Havia comprido minha promessa á Tay, cuidei de sua namorada e de sua filha por 2 anos. Casei, sustentei com tudo do bom e do melhor. Contudo, sem meus pais não havia mais ninguém a quem eu devesse algo. Era minha hora de me libertar e ser feliz, estava livre pra ser quem eu realmente era. Enquanto pensava nisso, olhei os olhos de Pedro. Achei que ele estava dormindo, mas não, ele me observava em silêncio, seu olhar para mim me reconfortou. Era o certo a ser feito.
- Pedro
- Sim, Ralph.
- Eu... Te... Amo.
- Eu também, Ralph. Mais que qualquer outro.
Nos beijamos e resolvi perguntar:
- Namora comigo?
- Claro, meu lindo.
Passei 4 dias exilado na casa de Pedro, sem lembrar que havia um mundo lá fora.
Mas a realidade quando não bate a porta, toca o telefone:
- Alô... Alyne... Não, escuta... Eu não quero saber sobre a nova coleção de botas... Não, para de falar de bolsas... Alyne, me... Alyne, me escuta... Não - Pedro se sentou a minha frente na cama, bebendo café. - Alyne... Alyne, quero me divorciar de você. - Finalmente ela se calou. Segundos depois começou a gritar. - Você não tem que voltar ao Brasil... Não, eu te banco... Meus advogados mandam a papelada, é só assinar... Isso... Abraços.
- Sua esposa?
- Ex-esposa. - Ri um pouco da situação - Ex-esposa
Pedro riu e chegou mais perto de mim, me abraçou.
- Como se livrou dela?
- Ela é movida a verdinhas... Não ao amor. - Joguei Pedro na cama e fui pra cima dele.
No dia seguinte, acordei com uma bandeja de café-da-manhã com uma caixinha ao lado de uma xícara. "Para o meu príncipe" dizia o manuscrito ao lado da caixinha. Abri e dentro li em um bilhetinho: "Casa Comigo?". Pedro entrou no quarto com uma polaroid e duas alianças na mão, tirou foto da minha expressão facial surpresa e perguntou:
- E aí?
- Como assim?
- Não perdi a esperança desde que você foi embora. - Olhou em meus olhos, se sentou em minha frente e perguntou: - Ralph Sullivan Castro, você aceita se casar comigo?
Meus olhos marejaram e não tive outra resposta:
- É tudo que eu mais quero.
Pedro colocou a aliança em minha mão, subiu em cima de mim e me encheu de carinho.
Continua...