Mais um capítulo, e no final uma conversa séria!A vida é sempre algo extremamente imprevisível. Às vezes a coisas acontecem de forma que nós jamais esperávamos. Ray estava em um momento crítico de sua vida, as coisas que ele fazia davam voltas e acabavam parando no mesmo lugar. E ao se ver correndo sem sair do lugar, ele decidiu brincar de ser irresponsável -algo que ele nunca havia sido. Ia para festas e ficava bêbado, beijava pessoas cujo ele nem sabia o nome, procrastinava os trabalhos de escola... A questão era que mesmo saindo de seu padrão, ele ainda não sentia nada. Estava cansado das mesmas pessoas, mesmos costumes, mesmo clima, mesmo trabalho, mesmo tudo. Chegou à achar que estava entrando em depressão, pois havia dias que nada fazia sentido, nada o fazia sorrir, nada o tocava de alguma maneira. Até que as coisas tomaram um rumo diferente.
* * *
Os meses se passaram tão rápido desde que Matt chegara. Ray passou a entender algumas coisas de outra forma. Ele nunca tivera um amigo como Matt, nunca conhecera alguém que tivesse tanto a lhe oferecer. Às vezes sobre a bancada da cozinha enquanto conversavam, Ray apoiava a cabeça nas mãos e ouvia o mais velho falar sobre o que ele pensava do mundo e o que ele faria para mudá-lo. O mais novo achava o outro tão sábio para a idade dele. Quer dizer, vinte dois anos ainda era fase de errar, não saber das coisas e negligenciar o máximo que podia, era naquela idade em as pessoas começavam a moldar suas vidas, elas descobriam quem eram e o que queriam, mas Matt era tão seguro de quem era. Apesar de parecer tão claro, ainda sim havia um grande mistério por trás do mais velho. Ele sempre evitava falar de sua vida, cedia apenas coisas superficiais, então, depois de um tempo Ray se acostumara com isso e aceitou que talvez isso fosse parte da personalidade dele.
Setembro
Ray tentara explicar para Matt que se ele ja sofria com o frio do Alasca no verão, imagina no outono e inverno. Ele fazia o que podia para situar o mais velho de como as coisas funcionavam ali, e que roupas eram sempre valiosas no frio. Tanto que quem era esperto comprava as melhores roupas de inverno no verão, pois quando chegava as estações mais frias, tudo ficava à preços exorbitantes.
No trabalho, Ray mostrara tudo o que outro podia saber, até que ele não precisasse mais de sua ajuda para nada. Nos fins de semana ele parou de ir à festas onde só havia bebidas e más companhias e começou a mostrar a cidade e os lugares que ele mais gostava para Matt.
Em casa eles dividiam as tarefas, menos cozinhar. Ray descobrira que o outro na cozinha não dava muito certo, a não ser quando fosse preparar o café. Ele jurou nunca mais colocar o frango cozido de Matt na boca, e descobriu que não devia fazer isso da pior forma...
Outubro
Em pleno outono o mês foi dividido em duas partes. Na primeira quinzena chovia praticamente todos os dias, na outra, a neve começara a cair bem pouco, e o frio aumentara consideravelmente.
Certo dia quando Ray levantou de manhã e olhou pela a janela -que dava vista para a parte de trás da casa, onde havia a entrada de um bosque-, viu Matt andando para lá e para cá na neve. Ele vestiu sua roupa e suas botas especiais para inverno e desceu para ver o que estava acontecendo. Quando ele foi encontro ao mais velho, viu que ele segurava algo com as mãos fechadas em concha, usava uma luva verde.
-Hey, o que você está fazendo aqui fora nesse frio? -gritou Ray de longe, sem se afastar muito da casa.
Ele abraçava o próprio corpo na tentativa de se esquentar.Devia ter colocado um casaco mais quente.
Matt olhou para Ray sorrindo e respondeu gritando de longe.
-Eu confesso...Queria brincar com a neve, então achei um amigo que precisa de ajuda.
Ray se aproximou dele. Quando chegou perto o bastante viu um passarinho marrom com alguns detalhes pretos nas penas, ele estava aninhado nas mãos do outro e estava com uma asa esticada.
-Ele está com asa quebrada?
-Creio que sim.
Matt segurou o pássaro com uma mão só e alisou sua cabeça com o indicador. Aparentemente ele gostou daquilo.
-Acha que podemos fazer alguma coisa? -Ray questionou se inclinando um pouco mais para examinar a ave.
-Sim, já cuidei de vários passarinhos com a asa quebrada. A recuperação é um pouco lenta, mas funciona. Precisamos de uma caixa de sapato e ele pode ficar no meu quarto.
-Você sabe que não é confiável manter um pássaro e um gato na mesma casa, não é?
-Eu deixarei a porta fechada. Senhorita Florence nem vai vê-lo.
-Ok, você que sabe. Traga ele para dentro, eu vou arrumar uma caixa -Ray falou seguindo para casa.
Ele seguiu para o seu quarto e só conseguiu encontrar uma caixa de sapatos que ele costumava guardar fotos e algumas recordações. Nunca fora uma pessoa acumuladora então aquela era a única que havia no recinto. Levou a caixa para o quarto de Matt que já estava lá esperando. Ele acomodou a ave em um canto, ao lado do criado mudo. Ray improvisou um potinho com água e mais tarde iria na cidade comprar sementes, ou seja lá o que passarinhos comiam.
Os dois se ajoelharam perto da caixa onde havia se tornado a casa da pequena ave. Eles observavam seu comportamento no novo ambiente.
Ray olhava para Matt e via como ele tratava o passarinho de modo tão cuidadoso, como ele era dedicado em relação ao bichinho. Isso só mostrava o quão bondoso e humano ele era.
A recuperação do pássaro foi ótima, em duas semanas ele já mexia a asa confortavelmente, e na seguinte Matt acordou com ele em cima de sua cama, piando e voando pra lá e pra cá. Foi aí que decidiu que era hora de deixá-lo ir.
Novembro
A partir dali o inverno orquestrava sua chegada, sem culpa a neve caía cobrindo completamente o chão. As cidades tornavam-se desertas, o estabelecimentos paravam de funcionar e a casa era o lugar mais seguro que alguém podia encontrar.
Apesar de já ter se acostumado com a presença do outro, Ray começava a questionar alguns fatos sobre Matt. Ele se mostrava apenas o necessário, de alguma forma era misterioso e sabia contornar situações. Quando seu telefone tocava ele ia para a varanda falar com alguém, mas nunca dizia quem era. Ray também nunca perguntou, apesar da enorme curiosidade, sabia que não devia.
Ao mesmo tempo em Matt se tornara uma figura densa e misteriosa, Ray também descobrira coisas importantes sobre ele, como seu maior ponto fraco: bolo de chocolate.
Era quinta de manhã. Os dois estavam sem trabalhar já por duas semanas. Senhor Robbinson havia fechado a livraria porquê não tinha movimento nenhum quando a neve tomava conta da cidade. Ray descobriu que era aniversário de Matt, resolveu fazer uma surpresa, e com as coisas que ele tinha em casa -e nenhuma chance de ir à cidade com as estradas interditadas, por causa da neve-, ele decidira fazer um bolo para o amigo. Ele havia descoberto que chocolate era o favorito dele. Então, acordou cedo, fez o bolo como se fosse um missão extra secreta, tentando não fazer nenhum barulho para evitar que o mais velho acordasse antes da hora e estragasse tudo. Ele fez um bolo com direito à cobertura e recheio -Quem seria ele sem cacau em pó?
Ray colocou oito velas em volta do bolo, não tinha nada haver com a idade de Matt, era apenas o que ele havia achado nas gavetas da cozinha. Ele subiu as escadas com o bolo nas mãos de modo furtivo, ao parar na frente da porta do quarto do outro ele decidiu não bater, apenas entrou. O cômodo estava claro, Matt havia dormido com o abajur ligado. Ray se aproximou do lado da cama em que o outro dormia e começou a cantar parabéns.
Aos poucos Matt foi acordando e olhando na direção de Ray um pouco confuso, mas logo ao perceber do que se tratava, um sorriso tomara seus lábios. Ele se sentou passando a mão nos cabelos e olhou para Ray cantando e sorriu um pouco constrangido. Quando Ray parou de cantar ele falou: -Eu realmente não esperava por isso.
-Sou uma pessoa imprevisível -Ray disse colocando o bolo sobre o colo de Matt e sentando ao seu lado. -Agora faça um pedido e sopre as velas.
Matt fechou os olhos por alguns segundos e soprou as velas. Em seguida ele passou o dedo na cobertura e levou à boca.
-Seria interessante usar um garfo ou uma colher -comentou Ray rindo.
-Não me julgue, hoje é meu aniversário -defendeu-se Matt
Ray se aproximou dele lhe deu um abraço apertado seguido de um rápido beijo na bochecha, fazendo o mais velho corar.
-Feliz aniversário idiota. O café está pronto -falou Ray se levantando da cama.
-Hmmm... Acho que vou ficar aqui com meu bolo o dia todo.
-Não vai me dar nenhum pedaço?
-Não! Meu precioso... -Matt fizera uma imitação exagerada de Smigol.
-Boa imitação, garoto possessivo. Estarei te esperando lá embaixo.
-Ok -respondeu Matt.
Ray se virou e saiu do quarto.
Os dois passaram o dia no sofá, comendo o bolo e criticando pessoas de reality shows. Até mesmo Senhorita Florence tivera sua parcela de bolo. Afinal, quem seria louco de sair de casa quando o estado inteiro estava coberto por neve, e o frio congelava até dentro de casa?
Dezembro
-Me diz que você vai fazer o bolo de chocolate.
Matt estava sobre a bancada da cozinha vendo Ray ler um livro de receitas antigo que era de Cece.
-Eu deveria fazer outra coisa -comentou Ray, concentrado.
-Mas todo mundo adora seu bolo de chocolate. Eu, por exemplo, sou o maior fã! -exclamou Matt arracando o livro das mãos do mais novo.
Ray suspirou e olhou com um semblante sério para o outro.
-Eu já fiz o bolo de chocolate no dia de ação de graças, lembra? Ficaria repetitivo.
-E todos adoraram. Não acho que iriam reclamar se você repetisse a dose.
-Eu não sei...
-Por favor? Esse será seu presente de natal para mim!
-OK Matt! Deus, como você é persuasivo!
Matt comemorou o feito.
Era véspera de natal, ambos iam para a ceia que os pais de Ray dariam essa noite. Ele havia passado o dia de ação de graça na dos pais também, e levou Matt, seu pai achou que ele era o mais novo namorado de Ray, que negou um pouco envergonhado. Desde então Matt já havia sido convidado para o Natal também, porque todos o adoraram.
Ray fez o bolo, se arrumou, e foi para a casa dos pais, acompanhado de Matt. Ao chegar a mãe logo o arrastou para a cozinha para terminar de fazer alguns pratos.
-Mia não virá de novo, não é? -perguntou Ray, enquanto olhava uma panela com arroz.
-Não querido, ela anda muito ocupada em New York -Sally falou desanimada.
-Sinto saudades dela, já tem quase um ano que não a vejo.
-Aposto que quando ela se formar terá tempo para vir nos visitar.
-Espero que sim.
A mãe se movia pela cozinha com um andar lento, sua expressão demonstrava que ela estava distante.
Ray se aproximou dela, apertou seu ombro de modo carinhoso e questionou preocupado:
-Mamãe você está bem?
-Ah, sim querido. Estou ótima, só um pouco cansada, não dormi bem essa noite -ela respondeu concentrada no que fazia.
-Então tá.
Ele continuou observando a mãe e seu semblante desanimado. Ela parecia muito estranha, e não só ela, seu pai também parecia distante e um pouco frio. Até mesmo Matt andava estranho no último mês, mas Ray não perguntou o porquê.
* * *
Ás dez eles jantaram, ainda sobre um silêncio constrangedor, aquilo estava enlouquecendo Ray, quando ele perguntava à alguém qual o motivo, sempre respondiam algo superficial e sem fundamento.
Quando deu meia-noite todos trocaram abraços e feliz natal. Todos se sentaram nos sofás da sala de estar, a lareira que crepitava sobre o silêncio. Então Ray já cansado daquilo quebrou o silêncio sugerindo a troca de presentes. Para a mãe, ele comprara um perfume. Para o pai, uma camiseta autografada de um time de hóquei que gostava. E por fim, para Matt, ele dera um cd que o mais velho havia comentado que gostava muito e um livro que gostaria que o outro lesse.
Ray ganhou um suéter vermelho e preto da mãe, do pai uma edição de luxo de Orgulho e Preconceito, e de Matt uma correntinha prateada com um pingente de um livro. Achou o último amável e logo o colocou.
-Tem uma última coisa. Não é bem um presente, mas é algo importante -Matt falou enquanto se levantada e pigarreava.
-Espere Matthew, antes de você dar a carta quero contar a ele a verdade - o pai falou em um tom sério.
O fogo da lareira bruxuleava e formava sombras sobre os rostos de todos.
-OK... Agora as coisas realmente ficaram estranhas -disse Ray de modo cauteloso. -Que carta, e que verdade?
Ele lançou um olhar para todos, eles estavam com uma expressão distante, igualmente a da mãe mais cedo. Por alguns segundos o silêncio tomou conta do cômodo, quem o quebrou foi Matt.
-Err... sei que talvez essa não seja a melhor hora, mas não dá pra esperar mais.
-Pelo de Deus, pare com essa enrolação e digam logo. Primeiro vocês agem de um jeito bizarro, como se fossem zumbis, agora ficam aí evitando dizer sei lá o quê! -sibilou Ray se levantando do sofá e batendo o pé.
Milhões de coisas se passaram por sua cabeça: Mia havia morrido, alguém estava doente e a doença não havia cura, o mundo ia acabar no dia seguinte e etc...
O pai se levantou e se sentou ao lado de Sally, segurando sua mão e olhando nos olhos dela.
-Ok, eu começo. Quero que você fique o mais calmo possível tudo bem? -ele perguntou virando sua atenção para Ray, que assentiu impaciente. -Raymond eu e Sally não somos seus pais biológicos.
Ray sentiu um baque sobre o corpo e sua mente se desligou.
-O quê... -ele murmurou.
-Nós criamos vocês por um motivo. Matthew entregue a carta á ele -o pai continuou. -Leia e você entenderá.
Matt se aproximou do mais novo, tirou um envelope do bolso interno da jaqueta e lhe entregou com um olhar preocupado e até mesmo pena...
Ray segurou o envelope e viu que havia um selo feito por cera vermelha selando a carta, no selo havia um símbolo que entendeu ser um brasão, que era um dragão e uma rosa. Ele levou os dedos sobre o envelope e rompeu a cera, se sentou na poltrona que havia ao lado e suspirou devagar. Abriu um envelope e tirou de dentro uma folha dobrada, ele a desdobrou, a folha estava composta por linhas com palavras escritas de modo delicado.
Então ele começou á ler:
"Querido Raymond, sei que neste momento, em sua cabeça deve estar se passando um milhão de coisas.
Meu nome é Audrey, sua mãe biológica. Escrevo esta carta para lhe contar sobre quem você realmente é -Infelizmente seu pai faleceu e só resta eu e sua avó Eleanor de sua família.
Moro em Garnies, o país em que você nasceu. Logo após eu dar a luz à você, eu e seu pai tivemos que fazer uma escolha difícil, pois nosso país estava em guerra e tudo era muito perigoso, então mandamos você com o Capitão Jonathan -alguém em quem nós sempre pudemos confiar- para o Alasca ,ele havia se oferecido para cuidar de você por aqueles tempos de escuridão. Eu e seu pai decidimos que você ficaria escondido até completar dezoito anos, então retornaria para ser o herdeiro de Garnies. Chegamos a um acordo de que você só retornaria se o país se reergue-se; vencemos a guerra e o país se curou dos traumas.
Sei que é difícil processar tudo isso, mas iremos te ajudar. Todos estamos do seu lado.
Agora é hora de você voltar minha criança, você é o herdeiro do trono, futuro rei de Garnies, você é Príncipe Raymond Alexander Kendrick Othais Chamberlain.
E apesar de ter convivido com você por pouquíssimos dias, eu sempre te amei mais que tudo, e estou esperando para ter conhecer.
Com amor, mamãe...
Ps: enviamos Matthew para te ajudar a entender sua história e algumas coisas à mais."Oi gente, gostaram? Espero que sim. Sei que isso é chato, mas realmente peço para que comentem as estória, todos os capítulos só tem dois comentários, tô começando a acreditar que estou escrevendo para as paredes ou que vocês não gostaram da estória. Agradeço de verdade os pouquíssimos que comentaram, mas se continuar com tão pouca "audiência", vou parar de postar... Realmente espero que as coisas mudem.
Enfim, foi isso, obrigado e talvez até o próximo...
Música: Death Cab For Cutie - You Are a Tourist