Depois que meu padrasto foi embora fui direto pra classe e graças a Deus ele ainda não havia chegado. Talvez nem fosse à aula, pensava eu, até que ele entra na sala.
Ele vem timidamente até onde estou e fala com a voz um pouco embargada.
Xande – A gente pode conversar?
Eu – Acho que tudo já foi dito Alexandre.
Falo sem serio, sem olhar pra ele.
Xande – Não me chama assim Luke.
Lucas – ...
Permaneço calado.
Ele olha minha mão enfaixada e fala:
Xande – O que foi isso com a sua mão?
Fala a segurando.
Eu - Foi... Foi um acidente. Eu, eu vou... pra lá.
Puxo minha mão bruscamente e vou sentar na primeira fila. Não queria dizer a ele que tinha feito aquilo de propósito.
Xande – Luke...
Deixo-o lá me chamando.
Durante a aula, às vezes me virava para olhar pra ele e sempre o pegava me olhando também.
Na hora do intervalo peguei minhas coisas e fui embora. Precisava de um tempo só, precisava pensar e não conseguiria fazer isso se ficasse perto do Xande.
Já que meu pai, o de verdade, estava viajando e a casa dele estava sozinha, decidi passar uns dias por lá. “Uns dias” que me refiro é o fim de semana. A casa dele é do outro lado da cidade, fica ruim de vim pra faculdade de lá. Então passo em casa rapidamente, faço minha mala bem rápido, só com o básico e alguns livros, porque já tenho coisas lá, falo com minha mãe e saio.
Durante o caminho Alexandre me liga várias vezes, mas não o atendo.
Finalmente chego à casa do meu pai. Eu, desastre em pessoa, consigo fazer a proeza de tropeça e derrubar os livros que estava em minha mão. Logo um rapaz vem até mim e começa a recolher as coisas do chão.
- Lucas23...
Esse é o nome que uso no App.
Eu – Eye Candy...
“Eye Candy”, nada pretensioso, né? Mas ele pode, realmente ele é um “colírio para os olhos”.
- Há quanto tempo Lucas.
Eu – Oi Eric.
Como devem imaginar, Eric era um dos meus peguetes do App, mas deixei de ter contato com ele depois que comecei a namorar o Xande.
Eric – Fazendo o que por aqui? Tá perdido?
Eu – Não. Meu pai mora aqui.
Eric – Quer dizer que somos vizinhos agora?
Ele diz animado.
Porra, vizinhos?!Maldita sorte essa minha.
Eu – Não, só vim passar o fim de semana.
Eric – Que pena... Mas você não tá afim de fazer alguma coisa mais tarde? Tipo, encontrar com você aqui... Acho que não deveríamos desperdiçar essa chance...
Eu – Não, não to muito afim, não. Eu... Vou entrar. Tchau!
Entro rapidamente.
Minha cota de namorar vizinhos já estourou.
Vou direto pro meu quarto e acabo dormindo.
Acordo já pela noite e vou fazer o clássico “pós-fim de namoro”, que é: sofrer, escutar todos os álbuns da Taylor Swift e abrir um vinho barato.
Porque como disse Tove Lo, “I’ve gotta stay high all my life to forget I’m miss you”. E é exato o que vou fazer, me “chapar” pra esquecer que sinto a falta do Alexandre. E fui. Comecei por Tim McGraw, passei por Love Story, por Teardrops On My Guitar, depois Picture to Burn, por I Knew You Were Trouble...
Eu – “Ohh, ohh, trouble, trouble, trouble…”
Eu cantava/gritava/chorava enquanto socava a parede.
Chegando a Blank Space eu já estava jogado no chão.
Alguém toca a campainha.
Levanto-me do chão, muito a contra gosto, e vou ver quem é.
Eu – Espero que não seja ninguém pra me atormentar. Do jeito que estou hoje, pra eu deixar um “espaço em branco” na cara de um, é questão de segundos.
Digo ligeiramente bêbado.
Abro a porta.
Eric – Opa rapaz, tudo bem?
Eu – Melhor impossível. O que você quer?
Eric – Eu ouvi batidas na parede, pensei que estivesse acontecendo algo errado.
Eu – Não, tudo esta perfeito, não poderia está melhor...
Eric – Tem certeza? E essa mão toda ensangüentada?
Meus olhos enchem d’água.
Eric – Quer conversar?
Balanço a cabeça de forma afirmativa e ele entra.
Conto a ele, superficialmente, o que aconteceu enquanto ele cuida da minha mão ferida, agora, mãos feridas.
Eric – Lucas, não vale à pena ficar assim por causa de cara nenhum. Muito menos se machucar dessa forma.
Eu – Eu sei, eu sei. Eu to agindo feito idiota.
Eric – Eu já passei por isso, por um fim de relacionamento conturbado, mas no final você vai superar e vai ficar bem. Você só tem que “Shake it off, Shake it off”.
Ele canta com a voz fina, tentando imitar a Taylor.
Eu sorrio.
Eric – Aí! Consegui um sorriso finalmente.
Eu -...
Eric – Que tal você deixar eu te ajudar a superar esse cara?
Eu – Na...
Ele me beija de surpresa, mas eu logo o empurro.
Eu – Não! Eu não vou fazer isso... É errado. Com você, com o Xande e comigo.
Eric – Você pode me usar a vontade, eu não ligo.
Eu – Mas eu sim! É melhor você ir pra casa.
A campainha toca novamente. Vou atender.
Assim que abro a porta Alexandre entra e me abraça com muita força.
Xande – Luke, me escuta por favor!
Diz ainda me abraçando.
Eric faz um barulho pra que Alexandre note sua presença.
Alexandre o olha sério.
Eric – Pelo desespero, você deve ser o ex.
Xande – Não. Eu sou o atual e você é?
Eric sorrir.
Xande – Quem é ele Luke?
Fala olhando pra mim.
Eu – Um... Cara que eu conheço. Eric, é melhor você ir nessa.
Eric – Por que? Eu não tenho medo dele...
Xande - Deveria...
Eu – PORQUE eu estou pedindo pra você ir. Eu to cansado, não quero brigar e não quero ver vocês dois brigando.
Eric – Tudo bem, tudo bem... Só porque você que está pedindo. Qualquer coisa, você sabe onde eu moro.
Ele saiu, mas antes fez questão de esbarrar no Alexandre.
Ficamos só Xande e eu nos encarando perto da entrada.
Eu - É melhor você ir também.
Xande – Quem é ele? Vocês não... Não...
Ele dizia com a voz tremula.
Eu – Fodemos? Mas não foi isso que você me mandou fazer dias atrás? Me foder? Então? Era isso que eu deveria estar fazendo, com o Junior, com Eric, com todo e qualquer macho que passe pela minha frente. Afinal, eu sou um puto não é mesmo?
Xande – Não...
Eu – Eu quero ficar sozinho Alexandre...
Disse indo à sala. Ele me segue.
Xande – Luke, eu não quis dizer aquilo.
Eu – Claro que queria. Queria e disse!
Xande – Desculpa. Eu fiquei com ciúmes, pirei e...
Eu - ...E preferiu acreditar no que quis ao invés de me escutar!
Xande – Eu sinto tanto sua falta Luke!
Eu - “Você só dar valor a algo depois que o perde”. Esse é o clichê mais verdadeiro que existe. Agora que você não tem mais ninguém pra conversar, ninguém rindo das suas piadas sem graça, agüentando as suas patadas gratuitas, se preocupando contigo, dizendo o quanto você é importante, fica fácil você vir atrás de mim e dizer que está arrependido...
Xande – Deixa eu falar!
Ele diz segurando minhas mãos bem onde estavam feridas.
Eu as puxo por reflexo.
Xande – O que foi isso?
Ele diz as segurando novamente.
Eu – Não foi nada, já disse!
Xande – Foi por minha causa?
Eu – O que? Não, isso...
Xande – Sua mãe me contou Luke. Contou que quando você está triste, você... Faz “isso”.
Eu – “Isso”?
Xande – Por que você fez isso? Por que?
Eu – Fiz “isso” porque precisava tirar essa dor de dentro de mim Alexandre! É mais fácil assim. Dor física é controlável... A emocional não...
Digo fazendo esforço pra não chorar.
Xande – Por favor, não faz mais isso. Não se machuque de propósito. Me bate ao invés disso, faz o que quiser comigo, mas não faça mais isso com você.
Fico envergonhado.
Xande – Vai. Faça de uma vez. Me bate Lucas!
Eu – Para...
Xande – Vai Lucas, desconta sua raiva, eu mereço. Vai!
Eu – PARA ALEXANDRE! EU NÃO POSSO FAZER ISSO CONTIGO!
Eu grito.
Eu – Eu não consigo... Por mais raiva, por mais magoado que eu esteja, não consigo me imaginar te machucando...
Eu sento no sofá. Ele senta em frente a mim, enxuga as lagrimas do rosto e começa a falar.
Xande – Eu te machuquei Lucas, muito e nunca vou m perdoar por isso... Por tudo aquilo que disse... e por ter duvidado do seu amor... É duro demais admitir isso, mas sei que perdi você. Sei que perdi a melhor coisa que aconteceu comigo, perdi a melhor pessoa que já conheci, perdi meu melhor amigo... Perdi o amor da minha vida. Eu te amo Lucas. Amo de verdade. Não estou dizendo isso só porque quero seu perdão, mas porque é o que sinto. Me desculpe por não ter te dito isso antes, mas eu tinha meus motivo. Eu te amo desde o nosso primeiro beijo, acho que mesmo antes disso eu já te amava...
Ele começa a chorar.
Xande – Sobre você o Junior... Ver vocês se abraçando e sabendo que você já gostou dele, me fez enlouquecer e dizer aquelas merdas... Mas é tão difícil pra mim... é mais fácil acreditar que você goste de outro... Eu não mereço você Luke... É fácil demais namorar você...
Eu – Você acha que isso é fácil?
Xande – Não, deixa eu explicar. Você seria capaz de mover montanhas pra me fazer feliz e eu... Não sou capaz de mover “minha própria montanha”. Eu sou problemático, eu sou ciumento... E sempre vou ser. Todo cara que se aproximar de você, vai trazer esse Alexandre a tona e vai acabar te fazendo sofrer...
Eu – Xande... Eu te amo, você sabe disso, mas será que vale a pena continuar insistindo nisso? Você me falou dos seus problemas, eu estava disposto a te ajudar a superá-los, mas você tem que tentar
Xande – Mas eu quero mudar Luke, por você. Eu vou mudar!
Eu – Até que consiga cumprir, suas palavras serão apenas promessas.
Xande – Me dá só mais uma chance Luke. Deixa eu te provar que posso ser uma pessoa melhor.
Eu – Xande, vamos voltar a ser o melhor que somos, amigos.
Xande – Não quero ser apenas seu amigo. Quero namorar você, quero te fazer feliz...
Eu – Eu também quero isso, quero muito, mas vamos ser amigos, pelo menos até que estivermos confortáveis com nos mesmos, com nosso relacionamento... Você acha que pode esperar?
Xande – Sim. Se essa for à única forma de não te perder, eu espero até o fim dos tempos.
Continua.
Bem, por hoje é isso, espero que tenham gostado. Votem, comentem, digam o que estão achando.
Grande abraço a todos vocês. Até sábado, talvez.