Cap.9
NARRADO POR GABRIEL
Fiquei extremamente preocupado ao saber daquele fato. Se estava com pneumonia, era quase certo que eu teria que ficar apenas de cama, tendo que tomar ainda mais cuidado do que os doentes comuns. A AIDS piora qualquer doença, e obriga a nos fazer dobrar os cuidados.
- Como você se sente filho ? - perguntava a minha mãe, medindo a minha temperatura.
- Cansado - dizia, tossindo mais uma vez.
- Pega, é hora de tomar o remédio - falou, me dando o comprimido. Prontamente tomei, e me joguei novamente na cama.
- Espero que essa doença passe logo...
- Ela vai passar filho. Com fé em Deus vai passar...
Durante dois dias seguintes, fiquei em casa. Durante este tempo, não recebi visita de ninguém além do médico. Diariamente olhava pra janela do lado e como sempre não encontrava ninguém. Pedro havia levado a Sério a questão de não ser mais meu amigo. E eu não fazia a mínima idéia do porquê...
- Oi ? - acordei imediatamente quando ouvi aquela voz.
- Ahhh... Quem é ?
- Sou eu, Michel - falou, fechando a porta logo em seguida. Em alguns poucos segundos, vi ele aparecer ao lado da cama - tá explicado porque você faltou dois dias seguidos - tossi novamente.
- Estou doente Michel... - falei
- Sua mãe me disse que é pneumonia, não é ? - passou a mão em meu rosto
- É... Aquele banho de chuva não me fez bem...
- Desculpa.
- Pelo Que ?
- Por ter te feito tomar banho de chuva, eu...
- Você não tem culpa de nada ! - falei, tossindo novamente - ninguém tem culpa de eu ter ficado doente. Agora é só eu me cuidar, até a doença passar - falei, sentindo a mão dele se aproximar da minha.
- Avisarei amanhã aos professores o motivo do seu sumiço.
- Obrigado - estava inquieto aquele dia. Não parava de olhar para a janela, como se rezasse para que pudesse ver a imagem de Pedro refletida nela.
- Porquê você olha tanto pra lá ?
- Não, por nada...
- Você tá sentindo falta dele ? - falou bem baixo, chorosamente.
- Um pouco... Você é um ótimo amigo... Mas ele foi meu amigo também por muito tempo. A amizade ficou marcada... - ergueu o olhar, olhou nos meus olhos.
- E acabou com a amizade da noite pro dia, não é ?
- Pelo jeito é... - vi sua feição mudar e ele respirar fundo.
- Eu já Vou...
- O que ? Mas pra onde ?
- Volto logo... - falou, saindo rapidamente do quarto, me deixando totalmente confuso com o que tinha acabado de acontecer ali
NARRADO POR PEDRO
Jogava basquete na calçada, extremamente cabisbaixo por não ter ninguém pra jogar. As vezes olhava para a janela de Gab, lembrando do quanto nos divertimos jogando basquete juntos... A quem estou querendo enganar, ele esta tomando conta de mim e dos meus pensamentos ! Continuei jogando até que vi um garoto se aproximar. Não era um garoto qualquer. Era aquele que estava fazendo meu coração fervilhar. De raiva.
- Porquê você fez aquilo ? - perguntou, assim que chegou e parou na minha frente.
- Do que está falando ? - Michel olhava nos meus olhos, tão raivoso quanto eu.
- Porquê deixou de ser amigo do Gabriel ? - me lançava um olhar quase mortal.
- Bem... Eu...
- Você tem medo do que sente, não e verdade ? - perguntou, me fazendo arregalar os olhos - ele está doente ! Precisando dos amigos, e você deixando ser vencido pelo medo.
- Doente, mas o que... ?
- Ele está com pneumonia ! Se eu pudesse mandar nos sentimentos dele, faria ele excluir você da memória. Porquê o que você fez com ele não tem perdão. Destruir uma amizade e não explicar o porquê...
- Eu... !
- Eu sei o porquê ! - falou, tão decidido quanto eu - você não assume, mas gosta dele tanto quanto eu. Pro meu azar, ele gosta de você e... Eu quero vê-lo feliz ! Escuta bem, eu vou dizer só uma vez ! Ou hoje mesmo você vai vê-lo e pedir desculpa ! Ou amanhã ele estará sendo o meu namorado ! Pois eu pedirei ele em namoro e sei que ele não vai negar - o Que ? Quando ouvi isso, tive a vontade de arrancar o pescoço de Michel. Virou de costas, saiu andando, e me deixou cheio de pensamentos... Confuso, cheio de dúvidas. Eu... Eu... Algo dentro de mim não conseguiria ve-lo com outro. Meu coração batia por ele. Não podia aceitar ! Ele não podia ser de outro ! Eu não ia afasta-lo ainda mais. Doente... Que tipo de amigo eu era ! Eu tinha que ir ve-lo. Já não podia mais negar, eu já não tinha forças pra me manter longe dele. Soltei a bola de basquete ali mesmo e sai correndo em direção a casa dele. Entrei, subi as escadas rapidamente e quando parei em frente ao seu quarto, todas aquelas aflições que eu vinha sentindo passaram em minha mente como se fossem flashs. Minha mão se aproximou da maçaneta, e quando ia gira-la, ela é girada pelo lado de dentro.
- Pedro ?
Continua
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