Depois de sair da casa do Miguel, entrei no carro e liguei inúmeras vezes para o celular do Rafael, que está desligado. Como sempre, deve estar descarregado. Então fiz o de sempre, ligar para sua casa. Disquei o número e esperei, talvez ele mesmo atenda.
- Alô. - disse Tia Sônia, mãe do Rafael.
- Oi, Tia Sônia. O Rafael está? - perguntei.
- Oi, querido, o Rafael não está em casa. - diz ela em um tom preocupado.
- Aconteceu alguma? - perguntei.
- Parece que ele e a Nathália terminaram, não sei bem. Depois que ela saiu, ele pegou o carro e saiu também. E pior, que ele nem me avisou pra onde estava indo. - respondeu ela.
Se eles realmente terminaram, o Rafael deve estar triste e precisa de mim como amigo. Por isso, eu não posso contar nada, não hoje pelo menos.
Agradeço a Tia Sônia e prometo que se tiver alguma notícia, ligo para ela e logo encerro a ligação. Dou partida no carro e vou em direção a minha casa. Pelo percurso ligo mais algumas vezes, mas dá sempre na caixa postal.
Em menos de vinte minutos, já estou em casa. Eu moro sozinho, faz alguns meses. Depois que minha mãe se casou de novo, as coisas ficaram estranhas dentro de casa. Então, meu pai conversou comigo e arranjou um apê pra mim e tem dado uma espécie de pensão. Não foi a minha primeira opção pegar o dinheiro do meu pai, mas com a faculdade de Direito, eu estou atolado e se eu fosse trabalhar, ia me sobrar muito pouco tempo para os estudos.
Quando já estou dentro de casa, tiro o tênis e a jaqueta. Deixo no aparador do lado da porta. Vou em direção a sala e levo um susto, quando me deparo com o Rafael ali, sentado no meu sofá. Seu cabelo cabelo castanho tem o comprimento até os ombros, como um "rock star", tem a pela branca, olhos castanhas claros, seu nariz e pequeno e fino, suas sobrancelhas parecem sido feitas recentemente, seus lábios são pequenos, mesmo não sendo finos. O corpo, é de uma pessoa viciado em esportes radicais, forte, porém não exagerado. Veste uma camiseta preta, bermuda camuflada e meias. Olho pros lados mais não acho seu tênis.
- Que susto Rafael!
- Desculpa. - diz ele.
Quando olho para ele, vejo que mesmo triste.
"Realmente ele gostava da Nathália"- penso.
E saber disso me deixa triste também. Sento ao seu lado no sofá.
- Agora me conta o que aconteceu. - falo.
- Nós terminamos, nunca ia dar certo. - ele diz sem olhar pra mim.
- Entendi, mas porque nunca dariam certo? - pergunto.
Ele se vira e olho nos meus olho, o que me deixa muito constrangido.
- Sabe, a Nathália me disse uma coisa e é por isso que eu estou aqui.
Meu coração gela, o que será que ela disse? Pelo jeito é sobre mim, mas o que? Que eu o amo? Não teria como ela saber, a não ser que ela tenha deduzido.
Ele continua me olhando, acho que ele espera que eu pergunte o que a Nathália disse, mas eu perdi minha voz. É agora, agora ele vai me perguntar se eu gosto dele e depois vai dizer que me odeia e que nunca mais quer me ver na vida.
- Lembra quando nós éramos pequenos? - pergunta ele.
Continuo olhando pra ele de forma assustada e ele sorri pra mim.
- Eu sempre te defendia. Quando estávamos no 5º ano, eu bati em dois meninos que estavam te chateando a um tempo. Meus pais me botaram de castigo por duas semanas. Depois disso você mudou, brigava constantemente, sempre estava machucado. Até os meninos mais velhos ficaram com medo de você. Você nunca me disse o que aconteceu. - diz.
Olho pras minhas mãos, não sei o que responder.Eu sempre achei que a resposta fosse óbvia, pelo menos era pra mim.
Eu nunca me importei muito em arranjar confusão, por que mesmo que minha mãe me botasse de castigo, eu nunca ficava. Eu sempre fugia, sempre para o mesmo lugar, a casa do Rafael.
- Eu... - tento falar mais as palavras me fogem. - Quando você ficou de castigo, ficamos duas semanas sem nos ver fora da escola e foi horrível. Então, eu resolvi brigar por mim mesmo e...
- Mas, você ficava sempre machucado. - interrompe ele.
- Eu não ligava, não doía. - "Sim, doía e muito". - Posso ter me machucado um pouco no começo, mas...
- E você sempre levava advertência ou ficava suspenso. - interrompe de novo.
Isso já estava me estressando.
- O que isso tem haver com o que a Nathália disse? - pergunto.
Ele olha meio surpreso.
- Só queria saber o por que de você fazer aquelas coisas. - diz olhando para baixo.
É agora ou nunca, eu preciso dizer. Mesmo que ele me odeie, guarda esse segredo está me matando aos poucos, como o Miguel disse.
- Você sabe, a Nathália te disse. - digo de uma vez.
Ele levanta a cabeça rapidamente e fica me encarando sem dizer uma palavra. Ficamos assim por algum tempo, mas eu não sei dizer quanto.
Não era essa reação que eu esperava. Mas, parece que ele está processando a informação ainda.
Me levanto.
- Agora que você sabe, fique a vontade para ir embora. - digo com uma voz de choro.
Ele se levanta e me abraça. Eu me aconchego em seus peito e sinto as lágrimas rolarem. Esse é o lugar que eu gostaria de ficar para o resto da vida.
- Diz, por favor. - ele fala e me abraça apertado.
"O que? Por que ele quer que eu diga isso? Isso é tão cruel.", penso.
Tento me soltar, mas ele me aperta mais contra si. Não quero que ele me abrace, não quero sentir seu toque.
- Eu também tinha um motivo para te defender. - diz ele.
- Qual seria esse motivo? - digo com raiva.
Ele me afasta um pouco para olhar nos meus olhos, mas continua me segurando. Seus olhos estão carregados de um sentimento doce. Sentimento o qual eu conheço muito bem. Minha raiva se esvai completamente.
Ele limpa com o polegar minhas lágrimas, que eu nem mesmo percebi que caiam em meus rosto.
- Eu te amo, sempre te amei. - ele diz.
Eu fico em choque. Ele sempre me amou e eu sempre o amei.
- Como? - pergunto com as últimas forças que me restam.
Ele rir, uma risada doce e sincera. Afaga o meu rosto com as costas da mão e eu fecho os olhos e saboreio o seu toque.
Eu devo ter morrido a caminho de casa e esse é o meu paraíso particular.
- Se eu soubesse... - ele diz tristemente. - Eu estava tão preocupado em esconder o que eu sentia para que você não me odiasse. Me diz, eu quero ouvir. - diz agora sorrindo.
- Eu te amo! - falo envergonhado.
Ele se aproxima bem devagar e beija. O beijo é suave, porém firme, um beijo que eu esperei toda a minha vida.
"Se isso for um sonho, eu não quero acordar nunca."
Demorei um pouco, mas ai está. Me digam o que acharam. Pode ser um pouco clichê, mas o Otávio vai continuar na história e eu senti que tinha que dar um "presente" a ele. Talvez, eu faça mais um capítulo, falando sobre o relacionamento do Otávio e do Rafael depois disso. Espero que gostem. (: