1.
O amor é uma doença. Sem cura, sem sintomas visíveis e quase sempre te pega de surpresa. Quando já está com você, ela te corroí, te destrói, não sobra mais nada do seu antigo eu. Agora o amor reina soberano sobre você e o objeto de adoração dele é a pessoa quem você ama. O causador da sua doença. No começo você até gosta de amar; é maravilhoso, lindo, brilhante e reluzente. Todas as manias do seu amado viram as suas manias, demônios compartilhados, e você se alegra com isso. Temos uma ligação especial, pensa, fala, grita e sussurra também. Depois vem a fase dos detalhes. Os olhos dele brilham demais, você diz para qualquer pessoa ao seu redor, bobo de amor, feliz ao extremo. A doença evoluindo. O sexo é algo idílico, quase transcendental de tão maravilhoso que é. A comunhão de dois corpos amados, doentes, num ato intimo e pessoal. O suor cheira, os aranhões nas peles são arte, as palavras sujas proferidas nesses atos são poesias perfeitas, divinas. E a doença evolui e se desenvolve. Quem é aquele que você estava conversando ontem, pergunta como quem não quer nada, depois da transa, languidos e arfantes e amados e doentes. Um amigo, responde e você sente uma pontada no interior. O ciúme é uma evolução do amor, o agravamento da doença, um câncer praticamente incurável. Você calcula os movimentos do seu amado, vigia, persegue porque você quer saber, descobrir e vai em frente ficando cada vez pior. Quem é aquele com quem você estava conversando ontem, você grita para seu amado com raiva, veias dilatadas, punhos cerrados e pele vermelha. Ele grita também, cansei de você! E o amor se destrói, explode como uma granada dentro do infectado e ele cai no chão agonizando porque está oco por dentro.
A pessoa amada vai embora e você fica lá estirado no chão arfando, buscando ar, soluçando por ajuda, mas ninguém vem. Volte, amado, volte, você pensa, fala, grita, sussurra também, mas agora não tem ninguém para escutar, ninguém além de você mesmo. Você mesmo preso em sua agonia amorosa. Pobre você, olhe lá, estirado no chão em pedaços, olhe lá. Pobre você. A porta da frente está fechada, mas você tem a impressão de quem tem alguém entrando (amado é você?), mas não é ninguém. Pobre você delirando com a perda, a doença já se alimentou bastante, levante-se! Não levanta, não consegue, não pode. Você sangra, seus pulsos estão abertos e por eles saem sangue misturado com os sonhos tenebrosos e os pesadelos brilhantes, o encanto e a luminescência também, você sangra luz, sangra trevas. Você sangra você todo, e sangra uma parte do amado também já que ele viveu com você, junto a você, por algum tempo. Sangue. E lágrimas, não se esqueça das lágrimas que tem gosto do suor dele, do suor depois do sexo. Agora você é uma massa que expele líquidos e vai murchando, murchando até ficar seco. Seco e oco. Sem amor.
Você se levanta e pensa: não preciso dele e, também, nunca mais vou amar de novo. Mas no fundo você sabe que não é verdade, você sabe (não sabe?). O amor, além de não ter sintomas visíveis, não tem cura e ninguém é imune a ele. Contraiu uma vez? Nada te impede de contrair novamente. E você segue sua vida, sangra as vezes, mas segue. As vezes vê seu ex-amado com outros e sangra em maior intensidade e amaldiçoa o amor e como ele, o amor, é uma doença traiçoeira ele se instala novamente dentro do seu corpo. Começa sem sintomas, depois os detalhes e o ciúme e por último a sangria desenfreada.
Um desdobamento do amor, a doença, é a obsessão. Esse sentimento é opressor, maior que o amor. Você não fala, não grita e nem sussurra também o quando você gosta da pessoa para os outros, você guarda para si, pensa mas não expressa, mantém em segredo. E a obsessão aumenta, se desenvolve e cresce dentro do infectado como uma árvore parasita, ela aperta seu coração, seu pulmão, seus órgãos e os espremem. Quando você vê seu objeto de obsessão você tem batimentos irregulares e respiração falha. Acalme-se pequeno enfermo. E você se acalma e age naturalmente, come, ri, estuda e convive, mas é obsessivo e isso te corroí dez vezes mais rápido do que o amor. Dilui seus pensamentos bons, os infecta e deixa sua mente turva e negra. Um obsessivo nunca sangra, ele explode. Bum!
Hugo e Elimax foram criados juntos como irmãos, de mesma idade e com o mesmo dia de nascimento eles cresceram juntos. Um nasceu dia 3 de março o outro, 3 de abril. Max, como todos o chamavam, era o mais velho; um mês mais velho. Constantemente nas suas brigas infantis Max gostava de acentuar isso para Hugo. Sou mais velho, gritava quando era contrariado. Sou mais velho, sussurrava quando impelia Hugo a fazer algo errado. Sou mais velho, pensava, raivoso, quando via Hugo tendo privilégios. Sou mais velho, virou o seu bordão, aposto que viraria seu epitáfio também. Aqui jaz O MAIS VELHO. Hugo era calmo, plácido até. Um amor de criança como os adultos falavam. Olha essa coisinha, diziam, sentadinho como um homenzinho. O garoto 'inho' era como ele se identificava. Olha que olhinhos, bochechinhas, roupinhas, inhos inhos inhos. Era louro, pálido e de compilação franzina. Pequeno. Não, pequenininho. Já Max, o mais velho, era o oposto: moreno, de pele queimada pelo sol e roliço. Cresceram juntos, se descobriram juntos, fizeram tudo juntos. Querem saber mais sobre essa história? Eu posso contar.
Então, pelo começo? A história de Max e Hugo começa antes mesmo de eles nascerem. Começa num parque, em uma sexta ensolarada e agradável. Lá! Olhe! Vê aquela garota loura de saia longa sentada no gramado? Vê como ela sorri para o garoto que está próximo a ela? O garoto é moreno e tem um sorriso charmoso, e ele tem covinhas. A garota, Lia, adora covinhas e toda vez que ela olha para o rosto do garoto Mario, ela fica vermelha e esconde seu embaraça sob seus cabelos dourados. Mario move a mão, como alguém que não quer nada, e encosta na mão de Lia, ela tem um sobressalto mas, mesmo assim, não afasta a mão. Dedos entrelaçados, sol nos cabelos, perfumes desconhecidos e embaraço. O dia se alonga, transforma-se em tarde e, finalmente, anoitece. E os jovens amantes hesitantes agora estão sobre um cobertor de estrelas brilhantes, embalados pela sinfonia dos sussurros das folhas e chiados dos bichos, rodeados pelo vento frio da noite. Oi, meu nome é Lia, ela diz como se eles estivessem acabado de se conhecer. Oi, meu nome é Mario, ele responde. Lia e Mario. Mario e Lia. Naquela noite eles não se beijam, não se abraçam, não falam quase nada. Mas eu lhes garanto que eles iram fazer tudo isso.
Aquela praça se torna ponto de encontro dos dois. Oi meu nome é lia; oi meu nome é mario é o usual comprimento deles. Ele gosta dos cabelos livres dela, gosta quando eles ficam revoltos no vento, gosta da cor, gosta dela. E ela gosta das covinhas dele, gostava de tocar na pele quente dele, de ouvir seu riso rouco, ela gostava dele. E sim! O amor estava nos dois, corroendo-os. Pobres coitados. No sexto encontro eles se abraçam na disperdida. No sétimo se abraçam no encontro e na disperdida. No oitavo se abraçam do encontro até a disperdida. Quando os dois estavam naquele lugar todos os problemas exteriores desapareciam e eles mergulhavam neles. Quando, por fim, se permitiram a usar as vozes nos encontros descobriram que eles adoravam as vozes um do outro. Louvavam quando um falava e, em expectativa, esperava pela próxima frase. Mas a mais espera de todas nunca era proferida. Acho que vocês sabem de qual eu estou falando. As famosas três palavrinhas. Ela só foi acontecer no quadragésimo sétimo encontro deles. Depois de terem se beijado (o primeiro beijo acontecera no vigésimo primeiro encontro) e estarem deitados no gramado, arfantes de felicidade e exultantes de amor, eles falaram as palavras juntos. Que fofo.
— Eu te amo.
Naquele mesmo dia, depois daquela pequena grande frase, eles transaram sob as estrelas. Pele contra pele, num furor mágico e poderoso. Os gemidos dela atravessavam o corpo dele e davam energia a ele. Fundo, mais fundo, ela pedia e ele obedecia. O suor caia, gotas de amor liquidas rolavam dos corpos amados para o chão e lá alimentavam a terra, a mãe. As mãos dele enterradas nos fios sedosos dos cabelos dela e ela nem sabia onde suas mãos estavam. Estava entorpecida, se sentia alta, amada. Olhe lá a Lia voando com as estrelas. Abaixe-se Lia! Cuidado com as pontas das estrelas, garota! Já Mario era tragado para dentro da moça, o centro úmido dela onde ele estava o sobrecarregava e ele derretia. Pele, músculos e depois ossos. Todos virando liquido e indo para dentro de Lia. Eles estavam quase lá. Lia, desça! Mario, fique inteiro! Antes de eles atingirem o ápice, o Shangri-La do prazer, ela sussurrou: fora, por favor. E ele fez isso. Mario jorrou uma parte de si no gramado, branco, denso e quase vivo. A terra o engoliu e amadureceu aquela semente.
Se Mario tivesse se derramado dentro de Lia hoje ou Max ou Hugo não existiriam. Ou ambos. Ainda bem que Lia teve esse pensamento. Eles continuaram a se encontrar diariamente. Do dia até a noite, apaixonados eles estavam. Mas, pobres coitados mentirosos, eles viviam aquela farsa ali como se fosse verdade. Mentirosos os amantes eram. Mario que aparecia sempre com a mesma camisa velha de flanela desbotada e a calça de lona rasgada era o herdeiro dos Antunes e ele nunca disse isso para Lia. E Lia, a adorável moça dos cabelos dourados, era casada a quase um ano com o Daniel. E falando no pobre homem, agora ele estava na fabrica onde trabalhava como auxiliar de maquinário. O galpão era abafado e barulhento, mas um sorriso estava estampado constantemente no seu rosto. Daniel tinha uma mulher maravilhosa. A maravilhosa Lia. Ela nunca disse nada a respeito de um para o outro, a maravilhosa Lia. A mentirosa garota de cabelos platinados. Ah, como o amor é lindo, não?
— Eu te amo – Sussurravam os amantes. Os guardadores de segredos.
Com aquele euteamo eles se separavam. Corações cheios e sorrisos exuberantes. Lia ia para sua casa, cozinhava, tomava banho, vestia-se e esperava pelo Daniel. Como foi seu dia, ela perguntava, educada, fingida. Foi ótimo, meu amor, o pobre homem respondia apaixonado, iludido. Mario, do outro lado da cidade, estava sentado no sofá da sua espaçosa sala pensando em Lia, na sua moça maravilhosa. Ele ria. E os pais percebiam. Quem é a moça, Mario? Perguntavam. Ninguém, ele respondia, distante. Lia se deitava na cama com Daniel toda noite, beijava-o e transava com ele também, afinal ela tinha que manter a farsa. Mais eu te amos eram desperdiçados. Peguem-nos! Não deixem que eles o mordam, o amor mata!
Meses se passaram e a relação do jovem casal de amantes mentirosos evoluía, a doença se agravava. Lia e Mario se amavam infinitas horas, a garotas de cabelos louros nem queria mais se deitar na mesma cama que Daniel. O pobre homem trabalhador se esforçava para agradá-la, mimá-la. Oh, meu amor, o que posso fazer por você? Ele perguntava todo noite quando os dois já estavam deitados, o quarto envolto na penumbra. Morra! Ela pensava mas o que ela realmente dizia, numa voz doce e aveludada, era: nada, meu amor, estou bem. Ele se calava, se virava e se dava por vencido. O pobre homem chorava. Oh, olhe as lágrimas correndo pelo seu jovem rosto maltratado devido ao trabalho, perceba a confusão nos seus olhos, sua boca rígida e expressão de 'o que foi que fiz de errado?' estampada no rosto. Lia nada fazia. Ela amava outro, essa era a sua justificativa. Mas um dia, por pena, ela se entregou para o seu próprio marido. O pobre homem apaixonado. Ela foi fria, rígida, não demonstrava nenhum sentimento. Era algo que ela tinha que fazer, uma obrigação. Naquela noite ele se derramou dentro dela, ela não percebera já que estava concentrada demais em não senti prazer. Depois que ele saiu de cima dela foi que ela se deu conta do ocorrido.
Ela não se encontrou com Mario por, aproximadamente, duas semanas. Ela tinha que saber. Tinha que saber. Precisava saber! Ela estava gravida. Homem burro! Homem estúpido e nojento! Te odeio! Esses eram os pensamentos que enxameavam sua cabeça quando ela deu a notícia ao pobre homem. Foi logo após ele chegar do trabalho estafante, ele abriu a porta e ela foi logo dizendo: estou gravida. As palavras caíram no meio dos dois como uma bomba e explodiu. O pobre homem gritou extasiado. Exultante. Pulava de felicidade, um homem apaixonado não poderia receber melhor presente. Revoltosa por dentro, fingindo felicidade por fora essa era a maravilhosa Lia. A mentirosa Lia. No dia seguinte, depois que o marido saiu, ela foi até o parque. Lá estava o Mario preocupado. O que aconteceu você está bem, lia me diga foi algo que eu fiz. Estou bem vou dizer não, ela respondeu. Tirou um minuto para respirar e, depois, disse:
— Estou gravida
Ele se afastou, assustado. E ela se arrependeu de ter dito isso. Por que ele não poderia agir como o idiota do seu marido? Fique exultante, Mario, eu te amo, isso não é muito? Ela pensava que sim. Mas não foi. Mario sabia que o filho não era dele, o garoto não era tolo. Sempre que eles transavam, ele gozava fora dela, no chão, na terra. Ficaram se encarando. Os cabelos louros dela que ele tanto adora flutuam com o vento, chicoteiam o rosto delicado dela. Ela queria ver as covinhas dele. Mostre-as Mario, dê um sorriso. Nada se concretiza, nenhum pensamento vira realidade. Eles estão começando a sangrar, os pulsos abertos, o coração trincando. Está próximo de acontecer, mas ele falou. Ele falou! E tudo parou por um momento.
— Me diga a verdade, Lia.
E ela disse. Tudo. E ele escutou. Tudo.
— Me perdoa? – Ela perguntou numa foz fanha e chorosa.
— Te perdoo – Respondeu o jovem moreno.
Agora olhem como o amor é traiçoeiro, venenoso. Ele possuía os dois jovens de corpo e alma, roubava-lhes o livre arbítrio e os guiavam como bonecos. O malvado amor. O tenebroso titereiro das vidas alheias. Mario relevou as confissões de Lia porque ele a amava e ela o amava e isso bastava para os dois. Tolos apaixonados, tenho pena de vocês. E a farsa, que não era mais farsa, continuou. Lia ainda morava e dividia a cama com Daniel, mas seu coração infectado pertencia ao outro, ao Mario. E eles se amavam muito, um amor que transcendia o espaço. A frase de três palavras era dita ao vento, caía no chão e lá ficava esquecida. Pobres palavras malditas. Mario convidava Lia para morar com ele, mas ela não ia, agora ela não conseguia mais ir. Lia estava nutrindo um tipo de afeição pelo seu marido e pai da sua futura filha.
A menina nasceu saudável, a poderosa Ângela, o anjo dos pais. Uma garotinha loura bonita como uma joia, brilhante também. Uma preciosidade. Ela era educada, a garota. Bonita e educada como ela era arranjaria um marido bom para ela. Mario e Lia já não se encontravam como antes, agora a mãe dedicava seu tempo àquela minúscula criatura enrolada em roupas fofas e confortáveis. O amor que eles sentiam entrou em repouso, mas ainda estava lá, corroendo-os. A menininha foi crescendo, linda como a mãe, educada como o pai. Quantos anos ela tem, perguntavam à Lia; três, a jovem mãe respondia. Foi nesse ano que Lia ficou sabendo que Mario tinha se casado também e que já tinha um filho recém-nascido. Quem disse para ela? A mãe do filho de Mario. Uma jovem moça de cabelos louros, bonita com o raio de sol e esguia como galho. Fora coincidência aquele encontro.
— Como é o nome dele? — Lia perguntou, ainda atordoada pela notícia.
— Roberto – A outra moça respondeu – Não é lindo?
Sim, é sim, Lia respondeu polida e mecanicamente. Ângela estava sentada próxima à mão, num banco de pedra que ficava no começo da praça onde ele costumava vir quando era um pouquinho mais moça. Quando a mãe do Roberto, Eline, se abaixou para verificar o que o filho tinha já que a criança começara a chorar de repente, Lia viu quem se aproximava delas. Mario ainda continuava lindo, continuava com as covinhas, continuava sendo o amor de Lia. Ele também ainda a amava, nunca deixou de amar. Ah o amor, doença mais maldita que essa não há! Os encontros recomeçaram a partir desse fatídico dia. No parque a sós eles poderiam ser quem quiserem, fingirem e atuarem. Amantes mentirosos e adúlteros que se completavam. Oi meu nome é lia oi meu nome é mario continuou, eles riam ao se relembra. Bons temos. Bons tempos. Se amavam no gramado, olhando para o céu, pensando em nada, apenas neles dois. Lia e Mario. Mario e Lia. Dois corpos que funcionavam perfeitamente juntos, como uma máquina bem lubrificada.
— Te amo – Diziam os amantes no fim de cada dia.
Eline e Daniel, dois pobres coitados apaixonados que acreditavam em tudo que seus respectivos cônjuges falavam. Tolos! Enquanto Daniel dava sua vida naquela fabrica para poder sustentar sua mulher e sua filha e Eline passava o dia todo trancafiada dentro daquela enorme casa com os pais de Mario. Lia e Mario passavam o dia juntos, amando, amando, amando como se não houvesse amanhã. Como se só eles existissem. Olha o que o amo faz, deixa as pessoas prepotentes e irracionais. Será que eles não percebiam que o parque já estava ficando publico demais? Que pessoas talvez conhecidas, talvez não, passavam por eles e paravam por uns segundos se perguntando que conhecia aquelas duas pessoas abraçadas ali. Não, eles não percebiam nada. Apenas sentiam o amor ardendo entre eles quente e sedutor.
As crianças foram crescendo, as adultos envelhecendo e o amor juvenil e deturpado que Lia e Mario sentiam ainda vingava, ainda estava vivo e florescia suas flores amorfas e fétidas. O parque já não era um bom local para os seus encontros, então o casal resolveu se amar dentro de quatro paredes. O motel era perfeito para eles, para se satisfazerem e pensarem que eram felizes. Lá, no quarto, depois de fazerem sexo, eles construíam um mundo perfeito para eles. Longe dos companheiros, longe das famílias eles fingiam. E fingiam bem os amantes. Ângela, a maravilhosa garotinha loura, ia com a mãe nesses encontros e Mario brincava com ela, a paparica. Ela parece com você, Lia, ele dizia, encantado com a beleza infantil da menina. E ela, a garota, gostava do amigo da mamãe. As vezes Mario trazia o seu filho, o Roberto para os encontro, mas quando as duas crianças se juntavam os adultos não tinham tempo para si. Então ele evitava de levá-lo.
A menininha cresceu numa família falsa, ela sabia que a mãe não amava o pai, a mãe amava o amigo do parque. Então a criança passou a fingir também, fingia que era comportada, fingia que era educada, fingia, fingia como adulto. Reparem como ela abraça a mãe, conseguem ver a verdade por detrás do sorriso em seu rosto infantil? Não conseguem perceber os pensamentos maduros rodando sua cabecinha? Ah, pobre criança. E ela cresceu fingindo, uma ótima atriz a garota era. Interprete o papel da boa moça! Ela ia lá e o fazia perfeitamente. Bravo! Bravo! Acho que essa garota foi a única pessoa que não foi contaminada pelo amor nessa família desestruturada. O pai amava cegamente, a mãe, um outro cara. A menina criou aversão ao amor, seguia em frente encenando e fingindo. Sorria, pisque, bata palmas, linda linda linda! Ela conheceu um rapaz quando tinha vinte e dois anos, não era amor, era atração. Dessa atração foi criado Hugo, um garotinho lindo, inteligente, plácido. Um clone da mãe e da avó. Lindos. E falsos também, não se esqueçam, por favor.
Lia e Mario ainda se encontravam. Se amavam. Oh casal que se ama. Estão adultos já, mas ainda se comportam como adolescentes fujões dominados pelos hormônios. A doença amor está tão profundamente arraigada nesses dois que se for cortado, os dois ficarão destruídos. Coitados. Quando Roberto, o filho de Mario, tinha cinco anos, ele ganhou um irmãozinho. Lia ficou incomodada com isso, mas não demonstrava. Eline, a jovem boba apaixonada, dera a luz a mais um menino. Um poderoso menino chorão e amado. Não existe família como essa, não existe amor maior do que essa família sente. Roberto se vê sem segundo plano, agora é o mais velho, é o responsável. Mas ele quer voltar a ser o caçula, quer a adulação dos pais, quer os mimos. Olhe como ele admira o irmãozinho. Que criaturinha repugnante, pensa o menino roberto e aperta a pele macia o bebê e o recém-nascido chora sentido. Grita. Uma sirene ecooa pela casa. Eline corre, acode o bebê. Nem olha para Roberto. Pare de chorar meu filho, a mulher sussurra, materna. E o ciúme corroí o outro garoto.
Com vinte anos ele, Roberto, se apaixona por Melissa. Uma encantadora menina de movimentos fluidos e espontânea. Ela é toda alegria e animação. Roberto namora com ela por, aproximadamente, dois anos; findando esse prazo eles descobrem que vão ser pais. Não é lindo? Não é maravilhoso? Elimax é um garotinho birrento, mandão e incontrolável. Cheio de respostas duras e movimentos energizados. Olhe! Lá está o garotinho trepado na árvore! Corra, mãe, corra! E a mãe corre e o pai também. Nunca mais faça isso, max, ele dizem, mas, segundos depois, ele está, novamente, na copa da árvore. Roberto ama o filho e ama a esposa também. Eles as amam, mas não ama o irmão, nunca amou. Praga, sussurrava cada vez que via o irmão, demônio. Mas enfim, não vou me alongar, até porque esses não são os personagens principais dessa trama. Max e Hugo se conheceram nos encontros dos avós. Sim, eles ainda se encontravam. Já faz quanto tempo? Vinte e cinco anos? Provavelmente sim.
E eles dois se completaram. Placidez e energia. Educação e arrogância. Amor? Amor! Ah, jovens coitados fadados a tragédias. Eis aqui a história deles.
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Espero que gostem, não sei se o que escrevi aqui ficou bom ou não, mas eu tentei. Se gostarem, ótimo, se não, ótimo também. As continuações devem ser publicadas apenas nos domingos, se tiverem um pouquinho de paciência eu prometo que essa historia será publicada, só demorará um pouco. Então é isso.