Cap.10
NARRADO POR GABRIEL
Estava necessitando me mexer um pouco, então decidi sair um pouquinho do quarto, em busca de um livro para ler. A surpresa aconteceu quando eu abri a porta.
- Pedro ?
Eu não acreditei quando o vi ali na frente do meu quarto. Ofegante, ligeiramente suado, parecia estar correndo a um bom tempo. Meu coração começou a saltitar como nunca antes. Algo que eu imaginei que nunca mais iria acontecer, estava novamente acontecendo.
NARRADO POR PEDRO
Tremi por completo quando ele abriu a porta. Senti meu rosto ruborizar, e a vergonha tomar conta da minha pessoa. O que eu tinha que ter naquele momento era coragem ! Coragem para reatar a nossa amizade.
- O que você está fazendo aqui ? - perguntou ele, fazendo eu desfocar o olhar.
- Vim ver você, me disseram que você estava doente - ela baixou a cabeça e em seguida ficou olhando sem direção
- Achei que não éramos mais amigos - falou, tentando passar por mim. Mas antes que ele pudesse ir muito longe, segurei seu braço.
- Me desculpa - as palavras escaparam da minha boca com a mesma facilidade com que os ventos se movem.
- Desculpar o que ?
- Tudo. Essa separação, esse gelo... Eu desfiz uma amizade que durava a tanto tempo por uma besteira...
- Porquê você fez aquilo ?
- Bem... Logo depois de sua mãe ter dito tudo a mim - ele arregalou os olhos - eu fiquei com medo e resolvi me afastar.
- O que ela disse a você ?
- Tudo... - ao ouvir aquilo, ele baixou a cabeça e começou a recuar.
- Vá embora então. Você deve estar com nojo de mim.
- Não... Eu... Não estou com nojo de você.
- Não ?
- Não... Olha... De início eu estava com os pensamentos todos embaralhados, ainda estou, mas vejo que foi um erro ter me separado de alguém que sempre me fez tão bem, de forma tão brusca. Você não merece isso...
- Acho que é compreensível, depois de tudo o que você descobriu...
- Não, não é. Eu só mostrei ser um preconceituoso qualquer. E a nossa longa amizade ? Eu tentei desfazer isso por uma enorme besteira. Eu... Não tive coragem de encarar a realidade.
- Que realidade ?
- Que você é gay ! E... Talvez tenha ficado com medo de ser também...
- Mas você não é ! - ele falou com certeza, como se em nenhum momento passasse pela mente dele que eu poderia simplesmente retribuir o sentimento dele.
- Eu não sei... - ele arregalou os olhos quando ouviu isso.
- O que ? O que foi que você disse ?
- Não sei tá bom ? Eu estou muito confuso, não consigo afirmar do nada que você não me afeta nenhum pouco. Eu... - sentia que meu rosto corava a cada palavra que eu dizia. O jeito foi ficar de costa para ele, escorado no corrimão do corredor.
- Você está sóbrio ?
- Sim... Desde que nos separamos, você não sai da minha cabeça. É como se eu precisasse de você para tudo. É como se minha felicidade dependesse de você. Acho que... - não conseguia completar aquela frase, algo me impedia. Virei e fiquei face a face com ele. Ele nem piscava, de tão surpreso que estava.
- Você está brincando ?
- Não... Eu juro... - começou a coçar a cabeça, enquanto se remexia, demonstrando o quão nervoso ficou.
- Eu... Eu não sei o que dizer... Eu... - de repente sua voz some, e vejo ele desabar como uma pena na minha frente.
- GABRIEL !
TEMPO DEPOIS
Estava prestes a dizer tudo de uma vez, quando ele desmaiou. Peguei ele no braço, e trouxe de volta a cama dele. Pelo jeito a doença era mais forte do que eu imaginava. O médico veio, e chegou quando ele acordou.
- Creio que sua pressão baixou Gabriel. Coma algo com um pouco a mais de sal, para crescer novamente a pressão... - falou, tirando o aparelho de pressão do braço dele.
- Tudo bem doutor... - não demorou muito e estávamos novamente sozinhos naquele quarto. Olhava para ele, que carregava um olhar pesado e ligeiramente sofrido.
- Essa doença e bem forte mesmo não é ? Não sabia que a pressão caia com ela - o acontecido havia até cortado o clima para que eu assumisse de vez o que sentia. Continuei tentando encontrar as palavras para continuar quando ele falou.
- A pressão não cai. É que no meu caso existe um agravante. Eu tenho AIDS.
Continua
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