CORAÇÃO DE TITÂNIO - 4

Um conto erótico de Leon
Categoria: Homossexual
Contém 2638 palavras
Data: 05/09/2015 12:56:57
Assuntos: Gay, Homossexual, Romance

CORAÇÃO DE TITÂNIO - 4

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O apartamento que aluguei era bom, para um começo. Particularmente barato, considerando que já vinha todo mobilhado. Eu já não exigia muito, também não precisava de tanto espaço.

Roupas, aparelhos que talvez precisasse, tudo deixado na casa que eu já não considerava mais minha. A casa onde habitava a encarnação do terrível... minha mãe.

Terceiro andar do prédio. Cozinha, sala, banheiro e um quarto. Esse era o apartamento. Havia uma sacada com uma vista para parte mais urbana da cidade. Nada bonito, mas nada desagradável. A parte boa é que ficava perto do restaurante.

A moça que atendia recebeu o primeiro pagamento do mês, assim como o contrato que assinei pra poder alugar o apartamento. Ela, em troca, me deu a chave e o controle do portão do estacionamento.

Assim que fiquei sozinho naquele lugar, tirei o pano que encobria o sofá e sentei-me ali. O lugar devia estar inutilizado a anos, apesar de limpo e bem conservado.

A hora marcava pra lá das duas da tarde. Eu precisava comprar um colchão, pois me recusava a dormir no que estava ali. Não sabia quem havia dormido antes de mim e, por pura paranóia, levantei-me do sofá num pulo.

No dia seguinte contrataria uma empregada e diria a ela pra limpar cada canto com maestria e afinco. Mesmo limpo, queria ter certeza!

Quando retornei da loja de colchões com o meu colchão sendo trazido pelos entregadores, já se passava das quatro e eu só queria tomar um banho. Então lembrei que não tinha roupas e que, provavelmente, se eu fosse comprar, não sobraria nem cem reais pra passar o resto do mês.

Tomei meu celular em mãos e disquei o número do meu pai. Ele saberia se o terreno estava seguro.

-Alô. -sua voz grave estava meio indiferente. Quase distraída.

-Pai, está em casa?

-Leon! -ele exclamou. Então baixou a voz. -O que aconteceu, filho? Sua mãe está soltando fogo pela boca.

-Te explico mais tarde. Apenas saiba que estou bem e que aluguei um apartamento, por enquanto. -troquei o celular de ouvido. -Está em casa?

-Oh! Bem, sim.

-Ela está aí?

-Marli? Não. Está fazendo compras! Sabe como ela só se acalma torrando o dinheiro do comitê e das verbas.

Revirei os olhos.

-Vou ir em casa pegar algumas coisas. Será que é seguro?

Ele riu, um pouco.

-Sim. Venha!

-Logo estarei aí.

Desliguei.

No meu carro havia umas peças de roupa que eu guardava pra emergências. Troquei-me ali mesmo, colocando algo bem confortável e surrado. Dirigi tranquilo.

Ao chegar na casa, meu pai me recepcionou com um abraço que não me dava fazia tempos. Sem dizer uma palavra! Me direcionou até meu quarto.

Eu era tão parecido com ele, em aparência. Homero e eu éramos parecidos com ele! Mas principalmente Homero. Pensar nos dois me fez sorrir. Meu pai e meu irmão, grandes homens! Começara a enxergar o valor deles.

-O que aconteceu? -ele perguntou. Sentou-se na minha cama e me fitou.

-Só estava cansado de ser malipulado por ela. -disse, enquanto pegava uma mala e jogava roupas dentro. -Dizendo quem tenho que ser o tempo todo! Já não aguentava mais.

-Você tem certeza do que está fazendo, Leon? Tem um plano B? Algum recurso?

-Ela não te contou que arrumei um emprego?

-Um emprego? -ele ofegou.

-Sim! E um bom emprego em um restaurante de gerente! Me pagam bem e trabalhar lá é ótimo!

Depois de ter arrumado todas as roupas que levaria em uma mala, peguei uma mochila e pus ali antitranspirantes, perfumes, meu notebook e algumas outras coisas.

-E você, pai? Por que ainda continua aqui? -encarei-o, longamente.

A pergunta pareceu uma facada em suas costas. Mas ele não deixava-se abalar.

-Não sei. Comodismo, talvez. -ele disse, parecendo meio tranquilo com isso.

-Sei que você provavelmente já pensou em se divorciar dela e não seguiu adiante. Mas estou falando como alguém que só quer seu bem! Divorcie-se dela! O quanto antes! Ela não merece alguém como você.

O olhar dele estava suave e ele sorriu largamente pra mim. Seu abraço me prendeu por minutos. Fiquei ali, abraçando-o de volta e me perguntando por que nunca havia dado um abraço tão caloroso e amoroso nele. A resposta era "Marli".

-Vá agora. -ele disse, quando nos separamos. -Vá, antes que a bruxa volte! Apenas me deixe seu endereço, pra que eu possa visitá-lo.

...

Antes das sete e meia da noite eu já estava no restaurante, devidamente vestido. Uma paz de espírito me cercava.

Estava instalado, sem preocupações descabidas e de bem com as pessoas que importavam.

Diretamente, antes de tudo, fui à cozinha onde os cozinheiros picavam alguns ingredientes e conversavam animadamente.

-Tudo certo, por aqui? -direcionei-lhes um sorriso. -Precisam de algo?

-Acredite ou não, estamos quase sem sal, Leon. -Ana, uma mulher baixinha e muita simpática, indicou o balcão aberto. Havia alguns pacotes de sal, mas poucos.

-Vou providenciar agora mesmo! Alguma coisa mais falta para vocês?

-Não. -eles disseram em unissono.

Alguns minutos depois eu depositava no balcão da cozinha os vários pacotes de sal. Aproveitei e questionei a eles sobre o vazamento e o encanador. Sufoquei um gemido. Eu deveria ter ido pessoalmente supervisionar o serviço!

Umberto disse que foi resolvido sem percalços. O homem passaria no dia seguinte pra cobrar.

Acenti, um tanto aliviado. Falaria com Xavier sobre isso... só não sabia quando voltaria a vê-lo.

Também não sabia se estava ansioso pra ter um outro encontro face à face com ele. Xavier era um mistério! Uma incógnita, um enigma. Tudo que sabia, realmente, sobre ele era o que eu via fisicamente ou o que ele me contava, ou seja, sabia pouco do muito que havia pra saber.

Ao estar indo de volta ao restaurante pra verificar se tudo estava em ordem, trombei com força na balconista que passava distraidamente.

Segurei-lhe antes que ela alcançasse o chão. Minhas mãos puxaram sua cintura e eu quase a abracei de tão surpreso que fiquei.

-Ei! -murmurei, meio ofegante, com um sorriso. -Quase que te derrubo, hein?!

Ela sorriu, com as faces corando. Como era o nome dela, mesmo? Alana? Aline! Isso!

-Parece que você me salvou de uma queda, isso sim! -sua voz era bem doce.

Uau! Ela era bonita. Não linda, mas bonita de um jeito meio retraído. Do tipo que é bela, mas não sabe. Não precisa forçar, simplesmente é.

-Que porra tá acontecendo aqui?! -pulei de susto, derrubando Aline no chão, ao ouvir aquele rugido.

Nem me dei conta que ainda a segurava em meus braços!

Virei-me na direção da porta e Xavier encarava-me com um olhar chamejante. Seus olhos coloridos estavam dezenas de vezes mais assustadores.

As bochechas rosadas dele estavam sem cor, naquele momento. Traços completamente tensos e raivosos.

-Estou esperando a resposta! -ele cruzou os braços.

Passou, aparentemente, alguns segundos e então ele perdeu aquela aura hostil muito antes de eu registrar. Se recompôs do seu surto muito rápido, deixando mais amedrontado ainda.

Olhos voltaram a um brilho menos psicopata, suas bochechas até retornaram com alguma cor. Mas ele não estava completamente recuperado... suas mãos estavam fechadas em punhos e sua posição corporal estava ainda raivosa.

-Temos um casal se formando aqui, é isso? -Xavier murmurou, meio rouco, enquanto Aline se levantava. -Que felicidade!

-Xavier, não é nada disso... -Aline começou a falar, mas parou subitamente ao receber um olhar de Xavier. Se afastou dali à passos largos, me deixando sozinho com o outro.

Xavier me encarou longamente antes de suspirar. Abriu a boca pra falar algo, mas mudou de ideia. Caminhou pra perto de mim, cada passo fazendo-me querer recuar, mas continuei parado firme e forte.

-Como estão as coisas com o restaurante? -questinou baixinho, um tanto distante de mim.

-Tudo certo. -pigareei. -Tudo certo! Paguei as contas, o encanador vem amanhã cobrar.

-Sabe quanto custou?

-Bem, não! Mas vou descobrir.

-Me avise mais tarde que deixo o dinheiro pra você dar a ele.

Começou a caminhar pro seu escritório, tomando um bloco de notas em mãos.

-Vem, Leon! Tenho alguns assuntos do restaurante pra discutir com você antes de abrirmos pro jantar.

Segurei-lhe o braço, fazendo-o o parar. Ele encarou meu braço de testa franzida e depois o peso do seu olhar colorido caiu sobre mim. Senti-me num dejà-vú.

-Xavier, o que você viu antes não foi nada demais. -murmurei, baixinho. -Ela apenas tropeçou em mim e eu a impedi de cair.

-Você tem uma mania muito estranha de me apertar. -ele disse, estreitando os olhos.

Soltei, lentamente, seu braço fortemente preso na minha mão. Não direcionei a ele meu pedido de desculpas, nem nada.

-Sobre você e Aline, não tenho nada a comentar... -ele disse. -A não ser de que não é da minha conta o que vocês fazem ou deixam de fazer. Não diz respeito a mim!

Seus olhos voltaram levemente ao brilho raivoso, mas ele logo o afastou.

-Vou fingir que não vi o que vi. -disse, por fim.

-Vai fingir que não viu? -balbuciei. -Por quê?

Ele sorriu, balançando a cabeça em negativa. Óbvio que não me contaria! Afinal, ele era quem era! Misterioso e taciturno... ao menos comigo.

Seguiu pro escritório e não precisou pedir que eu fosse atrás dele. Eu simplesmente fui.

Ele do outro lado da sua mesa de vidro e eu na sua frente.

-Estou com planos de expandir o restaurante. -disse.

Fiquei, encarando-o com a pergunta silenciosa pairando entre nós.

-Construir outros restaurante pelo estado. Essa aqui será nossa matriz. -ele explicou.

-Você tem dinheiro o suficiente pra manter tudo aqui funcionando e ainda investir numa construção desse porte?

-É! -ele maneou. -Tenho!

-Você tem alguma noção de preço de mão de obra e materiais?

-Pesquisei. Na verdade, pesquisei muito! Estou à meses fazendo isso. Você tem sugestões? Tipo, de pedreiros ou engenheiros? Arquitetos também serão úteis.

-Conheço alguns. -disse. Talvez os dias na alta sociedade tenha me dado alguns contatos.

Mas aquela conversa estava muito fora de contexto, pra mim.

-Xavier... -comecei, bem devagar. -Sou o gerente daqui. Consigo entender por que alguns assuntos têm de serem tratados comigo. Mas isso? Sinceramente não sei por que você está querendo discutir isso comigo. Não sou perito, não sou engenheiro e tão pouco entendo qualquer coisa sobre trabalhar. Posso te dar algumas poucas sugestões, mas são isso! Sugestões. Nada mais.

Ao terminar de falar, quis me dar um tiro por ser tão sincero. As palavras simplesmente começaram a sair e eu não pude conter o fluxo.

Xavier apenas me encarava pensativo, com seus dedos sobre seus lábios. Seu olho azul estava bem brilhante e vivo, seu castanho estava muito escuro. Era incrível aquela diferença.

-Leon, não quero um perito, um engenheiro ou qualquer coisa. -ele disse. -Quero conversar... conversar com você! Expor minhas ideias pra alguém, porque se eu continuar falando sozinho vou explodir.

Ele fez uma pausa.

-Posso estar dando um tiro no meu próprio pé em te dar tanto de mim, sendo que não faz nem um dia que te conheço. Mas estou arriscando e gosto dessa sensação.

Pisquei, pego completamente de surpresa.

-Então... -limpei a garganta com um meio sorriso. -Vou calar a boca e deixar você falar.

O sorriso que ele abriu chegou ofuscar qualquer coisa que eu pudesse ter definido como "lindo", antigamente. Era um sorriso verdadeiro e autêntico. Queria fotografar e revê-lo pra sempre.

Passamos um pouco menos de uma hora conversando sobre as ideias de Xavier. Ele mostrava-se animado com o que tinha planejado e mostrava sua própria agenda, onde estava mapas do estado, de cidades onde ele queria colocar os restaurantes.

Começou contando dos terrenos que ele comprou pra construção. Eu ofeguei quando ele me disse ter comprado dois, numa tacada. Ele riu baixinho da minha reação, mas logo ficou sério quando disse que a herança que ele tinha era exorbitante... não toquei mais no assunto.

Os dois primeiros restaurantes ficariam em cidades vizinhas e teriam aquele mesmo padrão. Um deles seria um prédio, onde teria salas comerciais pra alugar abaixo e acima o restaurante.

Assim ele ficou divagando sobre padrões de imóveis, estruturas prediais e coisas que ele havia pesquisado, sendo que eu acentia mas absorvia pouco.

Finalmente ele mostrava quem realmente ele era, naqueles momentos.

Lindo! Xavier tinha um aura tão brilhante e viva que não entendia por que escondia de mim. Sorriso fácil e olhos brilhantes. Bochechas no seu rosa natural e seus dentes seguravam constantemente seu lábio inferior de uma maneira que começava a me deixar mais atento aquela cavidade úmida.

Tinha que desviar os olhos dele algumas vezes porque minha cueca estava começando a ficar um tanto estufada.

-Então, é isso! -ele concluiu, fechando sua agenda.

-Não acredito que você planejou tudo isso sozinho. -ri e ele riu também.

-Te disse que havia pesquisado.

-Você fez um ótimo trabalho! Os engenheiros têm pouco a fazer agora. Você fez tudo!

Ele gargalhou, encolhendo os ombros.

-Não acha que fui muito ousado? Pensei que talvez devesse começar bem mais devagar.

-Acho que você foi ousado, realmente! -disse. -Mas não achei errado da sua parte. Você planejou, vai bancar sua ideia e, acredite, vou te ajudar como eu puder... até o fim!

Os olhos dele brilharam com algo que não captei a tempo.

-Obrigado, Leon. Obrigado.

Ele levantou-se e veio até mim. Puxou-me pela mão, fazendo-me levantar, e me abraçou.

Não posso definir quão surpreso fiquei. Fiquei muito, muito surpreso. Mas não reclamei, não me afastei, não ofeguei. Pelo contrário!

O rosto dele descansava tranquilo no meu ombro e seus braços circulavam meu pescoço. Rodeei sua cintura com os braços aproximando mais nosso contato. Um arrepiu de prazer atravessou meu corpo quando senti seu suspiro doce e quente contra minha pele.

Aproximei sem medo meu rosto do pescoço dele e cheirei-o de uma maneira primitiva que nem sei de onde veio. Simplesmente passei meu nariz em seu pescoço, com um rosnado de tesão pronto pra explodir da minha boca.

Cheguei embriagar-me com aquele cheiro. Tão característico dele. Era quase como... nem sei definir. Mas não era perfume! Um cheiro de pele, a essência dele. A coisa mais deliciosa que havia sentido.

Sabia que ele cheirava-me também. Senti! Só que ele era mais sutil. Reprimi uma vontade de rir ao pensar "Ainda bem que tomei banho!"

Ele afastou-se de mim, empurrando-me levemente para fitar-me nos olhos. Sorri a ele, mas ele não me correspondeu.

Ao invés disso avançou com volúpia esmagando meus lábios com um beijo.

Segurou fortemente meu pescoço beijando-me com fúria e desejo. Sua língua adentrava minha boca querendo provar-me de uma maneira quase desesperada.

Estava ainda no meu estopor. Tão surpreso quanto achei que fosse ficar algum dia. Quando eu ia retribuir seu beijo com todo o desejo que sentia por ele, que não era pouco, fui afastado brutamente por um empurrão que me jogou contra a mesa.

Achei que ele estava, sei lá, dando vez à algo mais luxurioso como empurrar-me pra depois subir em cima de mim... mas não! Xavier se afastou de mim como se eu tivesse uma doença nojenta e contagiosa.

Seus olhos transbordavam de arrependimento e lágrimas. Fiquei ali com a cabeça girando em confusão e dúvidas, vendo-o correr pra longe de mim. A cena não devia ter passado dos quinze segundos.

-Que diabos aconteceu? -sussurrei pra mim mesmo, tocando nos meus lábios inchados pelo beijo.

Não era bem daquela maneira que eu imaginava nosso primeiro beijo. Talvez não fosse algo romântico que eu pensasse, mas também não era algo tão frio e irreal como aquele beijo foi. Ele praticamente me beijou, não gostou e foi embora.

Mas eu sabia que havia algo mais! Ele estava de olhos marejados! Magoados! Tinha uma coisa de muito estranha naquele comportamento súbito.

Corri atrás dele, tentando ver se o achava em algum lugar do restaurante. Não tive êxito, pois todos o viram saindo às pressas dali.

Xavier fugiu de mim!

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Comentários

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Tô perdidinha meu povo!!! Que raio o Xavier têm, meu Deus!? O_O

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sua escrita e constante.

muito bom

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Continua logooooooo... morrendo aqui com essa demora ter

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Levei 3 horas pra ler kkkk mds esta muito lindo

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Uau... perfeito

estreia esperado as cenas dos próximos capítulos srs

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