Cap.8
Não sei o que aconteceu comigo naquele momento. Não sei se foi o nervosismo do momento, o medo, a tensão. Mas... Assim que ele se aproximou eu coloquei minha mão em seu ombro, como uma ordem para fazê-lo parar.
- Coloca isso ! - falei, colocando nele novamente o inalador. Virei o rosto e respirei fundo, buscando entender o que tinha acontecido ali. O que tinha acontecido comigo ! Eu estava mudando... Não podia negar... Ele estava trazendo os sonhos para a realidade. Eu estava me apaixonando por ele. É difícil de explicar. Mas não, eu não podia me apaixonar por ele. Isso não está permitido ! Eu não sou gay !
MINUTOS DEPOIS
Avisei o pai dele do que tinha acontecido. Lógico que não disse que ele havia saído. Disse apenas que havia passado mal e que eu havia o trazido até o hospital.
- Pronto, seu pai vai vir aqui daqui a pouco ! - continuei o observando. Não nego, tudo ficou estranho depois daquele momento. Parecia que a vergonha havia tomado conta de nós dois, sem pudor. Ele havia tentado me beijar. Eu havia recusado, por medo. E agora, o que aconteceria ? Ele olhava pro chão, sempre que olhava pra mim nós descruzavamos os olhares. Não dava mais pra mentir pra mim mesmo. Já não era apenas fachada. Estava aflorando um sentimento dentro de mim, por ele. Por incrível que isso pareça. Depois de alguns minutos, percebi que ele havia adormecido com o inalador no rosto. Estava perto de terminar o conteúdo indicado pelo médico. Foi o primeiro momento naquele dia em que fiquei calmo. Olhei em seu rosto, a cor voltava.
- Quem diria que alguns sonhos que me atormentaram por muito tempo estariam se tornando realidade agora... - a vontade que me consumia era tocar em seu rosto, e ver se era igual de quando eu fazia isso nos sonhos. Aproximei minha mão do rosto dele, e toquei. Um sorriso de canto de rosto se formou no meu. Não tinha mais dúvida, estava surgindo uma paixão por ele.
- Ah, Lucas !!! - me virei e vi o pai dele - o que foi que houve ?
- Ele teve uma crise de asma seu Paulo.
- Asma ? Mas eu nem sabia que ele tinha...
- O médico disse que ele tem. E parece que essa gripe muito forte fez ela aparecer.
- Entendo - quando olhamos para ele, já estava de olhos abertos - Oi filho, como se sente ?
- Bem melhor pai.
- Que ótimo. Então vamos logo, sua mãe está super preocupada. Você vem também Lucas ?
- Não... Eu vou pra casa - mais uma vez nossos olhares se cruzaram, novamente me trazendo uma sensação de vergonha.
- Tudo bem então, vamos Ghi ?
- Vamos pai - os acompanhei até a saída do hospital.
- Tchau Lucas...
- Tchau Seu Paulo - logo o carro fez o estrondo comum. De dentro do carro, Ghi acenou, se despedindo. Acenei de volta. Nossos olhares se acompanharam, até por fim sermos separados pelo horizonte - e agora ?
NO DIA SEGUINTE
Aquele dia entrei no colégio um pouco mais preocupado que o normal. Na verdade a maior parte dos alunos não estavam ali naquele dia, pois no dia seguinte haveria o torneio de futebol, portanto só quem participava do Grêmio ,do time de futebol e/ou estava envolvido com alguma atividade participante do Torneio, como música ou vendas estava ali. Meu trabalho seria longo, coordenar aquilo tudo iria me dar o maior trabalho.
- Ah, Lucas, que bom que você chegou ! Aonde devo colocar essa faixa ?
- Na entrada Flávio. Só não ponha muito alto.
- Tudo bem...
Estava bem empolgado quando começei a coordenar, mas agora estou meio pra baixo. Ele estava tomando conta dos meus pensamentos, dos meus sentimentos, e como sempre, me deixando tenso. Andei por toda a escola, inspecionando as tarefas.
- Isso está errado, este armário tem que ficar daquele lado - dizia, observando a organização do vestiário. Quando cheguei a frente da minha sala, mais de 10 representantes de bandas na minha frente.
- E então Lucas ?
- Quem ganhou ?
- Fala homem !
- Foi a gente ? - era tanta gente que eu estava pra golpear a todos
- Gente, Calma ! As bandas de Márcio, Gilberto e do Gustavo tocarão amanhã - foi gritaria de um lado, tristeza de outro... Mas enfim, só três tocariam, eu não podia fazer nada.
MINUTOS DEPOIS
- Então é isso, creio que vocês já estão ensaiando a um bom tempo. Portanto vocês irão escolher o repertório. Uma toca antes do jogo, a segunda no intervalo, e a terceira no fim.
- Tudo bem - falaram os três.
- Podem ir, e boa sorte - assim que eles viraram de costas, me joguei sobre a mesa. Aquele quase beijo não saía da minha mente. Estava grudando e não queria largar, de nenhuma forma. Isso estava me deixando nervoso, inquieto, preocupado. De repente sinto uma mão bagunçar o meu cabelo.
- O que está havendo com você ? - ergo minha cabeça, e vejo que Gustavo me olhava, preocupado.
- Não tenho mais certeza que sou hétero realmente...
- Porquê ?
- Bem... Depois de ter sido praticamente obrigado a fazer o que o Ghilherme queria... De uns tempos pra cá ele não sai da minha cabeça - ele riu.
- Então quer dizer que você realmente está se apaixonando por ele.
- Não ria. Eu não queria que isso acontecesse, mas estou vendo que não funciona como queremos... Ontem nós quase nos beijamos.
- O Que ? Sério ?
- Humrum. Ele tentou me beijar mas eu recuei.
- Ué, mas porquê ?
- Medo !
- Mas porquê você não diz de uma vez pra ele o que tá acontecendo.
- Porquê não sei o que se passa na mente dele... Eu não sei se só eu me sinto assim. Nem sei se é apenas curiosidade. E se for uma coisa de momento. É melhor não ! É melhor eu me guardar e não contar absolutamente nada a ninguém.
- Entendo. Você pode me fazer um favor ?
- Qual ?
- Tem como levar água pra mim antes e depois de a gente se apresentar ?
- Tudo bem kkkk
- Valeu migo. E pensa no que te falei. Ainda acho que é melhor você se abrir. Falar realmente o que sente a ele.
Será se era realmente o melhor ? Será se eu devia dizer que meu coração estava mudando e sentindo algo por ele ?
NO DIA SEGUINTE
Cheguei no colégio bem cedo. Tudo estava muito bem preparado. Faixas por todos os lados, os times já haviam chegado, as bandas também já estavam ali. A final do Torneio tinha tudo para ser inesquecível, da forma como eu havia planejado ser. Fui para a Sala de comando. Como presidente, eu devia inspecionar tudo o que aconteceria, com a ajuda de câmeras espalhadas, de diversos pontos eletrônicos e claro, do que eu conseguisse enxergar dali. Comecei a fazer o meu trabalho, vendo os convidados chegarem e sentarem na arquibancada. Tudo ia bem, até eu perceber que faltava uma pessoa ali. Meu vice presidente não estava no meu lado.
- Ué, aonde ele está ? - comecei a tentar ligar pra ele, quando de repente a porta se abre. Esperava ser ele, mas quando olho, vejo que se trata de Ghilherme.
- Lucas ?
- Sim Ghilherme - de repente tudo o que eu pensava e havia planejado até ali sumiu da minha mente. Era eu, ele e um vão enorme nos meus pensamentos.
- O seu vice presidente não vai poder vir.
- Porquê não ?
- Ele disse pra mim que ficou mal do estômago e não vai vir.
- Ai Meu Deus, como vou controlar esse pessoal sozinho ?
- Ele pediu pra que eu o substituísse - olhei pra ele, intrigado
- E você sabe o que tem que fazer.
- Manter tudo em ordem, não é isso ?
- É... Mas...
- Ah, não tenha medo. Eu dou conta do trabalho - falou, sentando na cadeira ao lado. Continuei o que estava fazendo, mas de repente, tudo sumiu da minha mente. Eu só conseguia pensar nele, meus olhos só iam em sua direção, eles pareciam não ter mais vontade própria.
- Você está melhor ?
- Sim. A gripe já me largou.
- Que ótimo - falei, me aliviando um pouco de toda a tensão que sentia. Continuei fazendo o meu trabalho, quando ele me chamou atenção novamente.
- Me Desculpa...
- Pelo Que ?
- Ter tentado te beijar... No hospital - corei naquele momento.
- Não foi nada... Eu... Não foi nada...
- Não vai mais acontecer. Agora estou namorando com a Flávia.
Continua
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