O que a vida me ensinou - Parte 2

Um conto erótico de Júlio Caio
Categoria: Homossexual
Contém 2347 palavras
Data: 09/09/2015 22:28:36
Última revisão: 01/11/2015 21:52:23

Boa noite gente, fiquei muito feliz com os comentários e também com o pessoal que apenas lê, vocês são muito importantes. O conto é fictício porém a evolução do personagem Júlio Caio é um autorretrato meu, eu realmente não me orgulho de quem era, mas sou feliz pela pessoa que estou construindo.

Para quem quer acompanhar irei postar nas segundas, quartas e sextas. um Bjo, muito obrigado e boa leitura.

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Passamos muito tempo naquele terraço, conversamos sobre a minha vida, contei tantas coisas sobre meu nome, a faculdade, meu trabalho e minha vida atual. Ele não me contou muito sobre sua vida, achava que todos os gays gostassem de falar sobre si mesmo.

- Mel você vai se ofender se eu te falar que achava que todos os gays eram meio oferecidos.

- Bem você já falou – ele riu e aquela sensação de paz retorna. – não Júlio eu não fico não. A maioria das pessoas tem em sua visão estereótipos dos gays e esquecem que somos pessoas normais com personalidades individuais. Somos pessoas com gostos diferentes, mas também normais e nos portamos diferente como qualquer outro homem ou mulher que seja heterossexual, podemos ser escandalosos ou retraídos e isso não é porque somos assim ou assados somos apenas humanos.

- Desculpa.

- Você não tem do que se desculpar, só precisa romper com essa visão retrograda, mas isso não será feito de uma vez só Júlio tem que ter paciência com você mesmo.

- Juca.

- O quê?

- Me chamam de Juca meus amigos e família, eu gosto.

E mais uma vez a risada que me acalma.

- Ok Juca, parece nome de criança, mas eu gosto Juca.

Passamos mais um tempo ali até Julinha nos chamar para o Jantar ela fez risoto de camarão acompanhado com tilapia e salada verde, eu não entendo nada desse lance de culinária de chefe o que me interessa no final é se fica gostoso, e estava muito bom Julinha arrebenta na cozinha. Sinto falta disso quando morava com eles eu sempre comia muito bem obrigado.

Na despedida descobri que Mel estava com o apê em reforma então perguntei se não queria ficar comigo antes que a Julia oferecesse a casa dela, e ele topou claro antes ficou falando que não queria ser um incomodo e todo aquele drama eu nem liguei e fui arrastando para o carro. Passamos pelo hotel em que ele estava e fechamos sua conta pegamos sua bagagem e caramba como aquele cara tinha coisas, ele ainda disso que o resto só chegaria daqui a três meses que é o tempo em que o apartamento dele ficaria pronto.

Uma coisa engraçada foi descobrir que ele era meu vizinho, só que ele chic como é viverá na cobertura. Ri muito afinal ele só precisará subir dois andares para mudar novamente, o bom é que ele poderá estar acompanhando a obra de perto.

Você pode estar se perguntando afinal porque eu chamei uma pessoa que eu mal conheço para morar no meu apartamento certo? Eu sei que parece estranho, mas tinha motivos para isso. Primeiro a Júlia confia cegamente nele e eu confio nas impressões dela, eu tinha uma namorada que a Júlia não aprovava e depois de uma confusão cabeluda a Julinha estava certa. Segundo eu fiquei muito errado com o jeito que eu tratei, sempre que faço uma pergunta soa muito grosso, mas mesmo assim ele sempre é doce ao responder posso dizer que o nome faz jus a sua personalidade e eu quero muito que ele me veja e me mostre quem eu sou.

Nunca tive muito contato com o mundo lgbt meu irmão tinha uma visão livre de preconceito e assim ele me passou, mas não é o suficiente, você pode se solidarizar com a fome das crianças na África quando o caso explode nas mídias, você sente mal por ter tanto e reclamar e elas que não tem ao menos o mais básico para sobreviver. Em momento inicial de euforia prometemos que vamos ajudar de alguma forma, mas com o passar dos dias esquecemos completamente. Com o mundo lgbt é igual, você sente repulsa quando é mostrado um caso de violência extrema até a morte de um ser humano que simplesmente morreu porque algum idiota demente da cabeça se importa demais com a vida de outra para aceitar a forma de amar que aquela pessoa tem.

Nesse momento da minha vida eu sou a pessoa que quer o assassino preso e que pague pela sua homofobia, que acha repugnante o fato de alguém interferir de forma tão brutal na vida de outro por simplesmente não aceitar a forma do outro de ser, mas também sou o cara que se diz livre de preconceito e, no entanto desrespeita chamando qualquer um que queira ofender de gay ou viado, como se ser gay fosse uma coisa muito ruim um xingamento ou uma ofensa, sou aquela pessoa que olha uma mulher que considero gostosa e digo na cara dura que o que eu tenho nenhuma mulher com consolo vai poder dá a ela e de forma tão grosseira não respeitando sua condição sexual e muito menos o amor que ela tem por outra mulher e pior ainda a tratando como inferior a mim por sua sexualidade.

Eu não me orgulho disso, pelo contrário tenho vergonha do que era, mas o Mel entrou na minha vida e sem mesmo ficar apontado me fez enxergar esse lado feio que habitava em mim. Então é por isso que decidi chama-lo, não seria para sempre e vai ser a primeira pessoa gay que eu conviveria assim bem de perto, então voltando de onde parei.

- O que achou? - disse quando chegamos.

- É espaçoso e tem uma iluminação ótima, mas muito mal decorado.

Olhei incrédulo, porra eu ofereço um lugar para ele ficar e ele chama minha casa de feia? Acho que ele percebeu minha cara de mal pra ele.

-Mel aqui é refugio dos machos cara, eu não deixei nenhuma mulher botar o dedo aqui não, eu sei que você não curte essas coisas, mas..

- Como assim não curto essas coisas?

- Você sabe coisas de macho eu – falei arrastando uma das malas dele para o quarto de hóspede – caralho – me viro para olha-lo e vejo no seu rosto uma expressão triste, mas ainda assim com certa compreensão.

- Você acha que por eu gostar de homens tenho que me portar como mulher?

- Não Mel, claro que não. Deixa eu te explicar – fiquei nervoso praticamente todas as vezes que abro a boca eu o ofendo, meu deus não imaginava que havia tanto preconceito assim enrustido em mim. - eu só, eu, eu não sei te explicar só me desculpa está bem cara?

- Só com uma condição?

- Qual? - já perguntei nervoso, não quero que ele saia daqui, já gosto da sua companhia e acho que seremos muito amigos, claro se eu não continuar um escroto.

- Me deixar redecorar sua casa? Prometo que gasto pouco - ele juntou às mãos a frente do rosto meio que implorando, solto o riso baixinho porque sei que parece viadagem da minha parte, mas é muito bonitinho ele fazendo isso.

-Eu não me importo que você gaste, só não quero que pareça casa de mulher porque aqui é...

- O refúgio dos machos – ele completou e eu sorri. - eu vou gostar de fazer isso e você vai vê que vai ficar muito másculo capaz até de escorrer testosterona da parede – e deu aquela gargalhada gostosa e tão leve, nem parece que foi ofendido há poucos minutos.

- O que você pretende mudar?

- Tudo!

- Eita até me arrependi de dizer que não me importava com os gastos

- Seu bobo – então ele coloca uma mão sobre meu ombro, e vale dizer que ele é de dez a quinze centímetros mais baixo do que eu – eu não digo tudo sobre móveis, eu quero mudar as cores você só tem bege e branco, e sinceramente Juca isso pra mim não são cores de macho.

O safado falou isso olhando dentro dos meus olhos e foi ali que tudo começou talvez naquele momento não tenha percebido que ele me prendeu com seu olhar.

- Ok você tem carta branca, só que apenas um lugar da casa quero que mantenha como está.

-Qual?

-Meu quarto.

- Por quê? Claro se eu não estiver me intrometendo...

Deu um riso, pois ele poderia me perguntar qualquer coisa que eu nunca o acharia intrometido, ele sempre busca os porquês e o melhor de tudo ele faz isso evoluir e dar sentido.

- Bem eu nunca trouxe nenhuma mulher pra mostrar a minha masculinidade – e ele revira os olhos agora com os braços cruzados.

- Hum, ok então não posso mexer lá porque você considera meus gostos de mulher e eu vou mexer na sua masculinidade, sinceramente Júlio achei que já tínhamos passado deste ponto.

- Não Mel, você não entendeu e não me chama de Júlio. O que quero dizer é que esse canto eu provavelmente vou dividir com a minha futura namorada ou mulher, então quero que em algum canto da casa ela possa montar algo do gosto dela, tudo o que você fizer aqui eu quero manter então só isso, desculpa se isso te passou outra ideia, mas desta vez sou totalmente inocente. – falei forçando o olhar para parecer ofendido e felizmente parece que o convenceu.

- Não eu que peço. Cara que chato a gente se conhece a algumas horas e acho que já pedimos desculpas um para o outro mais vezes do que em toda nossa vida.

- Mel vamos fazer o seguinte vou te levar ao seu quarto, você toma um banho e descansa que amanhã vou ter que te deixar um pouco só, mas vou arranjar um jeito de deixar tudo ok para passar o domingo e a segunda contigo certo? – ele vem e me abraça pelo pescoço, fico parado feito dois de paus.

- Você pode me abraçar Juca – e mais um risinho e sussurros no meu ouvido – acho que descobri minha missão enquanto estou aqui. Julia me falou do seu relacionamento com ela e com seu irmão e eu quero ser próximo de você assim como eles, vou te abraçar e te beijar – e deu beijo no meu rosto - até se acostumar e retribuir por vontade própria.

Ele se afasta um pouco de mim, mas suas mãos ainda estão em volta do meu pescoço entrelaçadas.

- Juca independente de eu ser gay sou seu amigo você que aceitou e amigos que se gostam não tem vergonha de expressar isso por medo do que a sociedade vai pensar. A vida com lembranças que vou ter só será uma e eu não vou desperdiça-la ou me privar de demostrar tudo o que eu sinto por conta de outros que realmente não tem o direito de opinar sobre ela, eu não preciso levar em consideração opiniões maldosas. E é isso que eu vou lhe mostrar.

Ele dá um beijo na minha bochecha e sai em direção ao seu quarto e me diz:

- Juca eu não quero você como homem, não se preocupe meu coração infelizmente pertence a outro, eu só quero sua amizade, ela me basta e é mais que o suficiente não tenha medo de mim.

E foi, e eu aqui feito um pateta. Esse momento me sinto tão envergonhado e humilhado.

Como pode ele ser tão altruísta? Eu que sempre achei que ligava o foda-se direitinho para o mundo e sua sociedade "correta" e agora vejo que vivi minha vida toda me privando. Lembro-me de alguns amigos que perdi, lembro-me de como poderia ter demonstrado mais como eram importantes na minha vida, mas não eu simplesmente deixei os ir por medo de ser taxado não só de gay, mas de muitos outros adjetivos.

Recolho o restante das malas que ele não levou e sigo para o seu quarto, não consigo busca-lo com os olhos, de alguma forma é como se ele já me conhecesse melhor do que eu mesmo e está me descascando como a uma cebola e eu sinto cada vez mais vergonha e medo do que eu descubro que sou, dos meus pensamentos que sempre achei tão originais e tão corretos para todos, eu sempre achei que estava por cima da maioria que estava sendo moderno, mas pelo contrário e pior não sei sou capaz de mudar assim como Mel me mostra, é fácil falar e difícil executar.

Não o vejo então provavelmente está no banho.

- Mel você vai encontrar tudo que precisa para o banho ai mesmo, e outra se precisar de mim meu quarto fica no fim do corredor, há e antes que eu esqueça a senha do wi-fi é Juca o mais gostoso tudo junto viu – e me viro de costa só para ouvir sua gargalhada. Eu sei que vocês vão enjoar de tanto eu repetir, mas o riso dele me faz feliz. É como se eu fosse um pai que escuta a risada de um filho muito querido que a muito tempo não ouvisse.

Depois de um banho para lavar a alma me deito e fico pensando no meu hóspede.

O Mel é um homem interessante é magro não definido é magro mesmo, mas não é esquelético, tem os cabelos num tom mais escuro do loiro, acho que ele pinta porque quando bate uma luz tem umas mechas do cabelo que parecem ligeiramente mais claras e tem mãos grandes, as percebi quando me abraçou, e a boca muito, mas muito macia e tenho que confessar que sim me arrepiei com sua boca tocando minha pele, mas no momento isso não me dizia muita coisas suas palavras sempre são mais impactantes, ao menos eu pensava assim até aquele momento.

Eu fiquei um bom tempo pensando no Mel, imaginando quando ele contaria sua história para mim. Fico imaginando pelas coisas que ele passou para ser tão sensível com as palavras só que, no entanto ele é forte consegue te fazer enxergar seu ponto de vista através dos olhos dele, mas como já haviam pensado antes não acho que será fácil para mim e também não pode ser tão difícil no máximo viraria um defensor dos direitos lgbt e não um gay, porque definitivamente minha praia não é homem.

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Comentários

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assim, não tô reclamando de nada não...! kk :P mas..., às vezes, fica até que bem óbvio que a tua história é fictícia, porque... tipo, o Júlio aceitou bem, bem, muito mesmo, muito rápido o Mel na casa dele... quero dizer, até "ontem" ele não se imaginaria perto de uma bixa, ainda mais se sentindo tão bem na presença de uma, e agora, chama pra ir morar junto...????????????? [só pra relembrar: não tô julgando nem reclamando de nada, viu! mas... na vida real, as pessoas não mudam tão rápido assim...]

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Gostando muito interessante como Mel faz ele repensar seus conceitos

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Não conhecia esse. Vou acompanhar. Abraços

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