Martines: Não, o conto não é verídico embora tenham acontecimentos baseados na minha vida.
AVISO: Pessoal, eu além deste estou escrevendo outro conto para a CDC mas deixo claro que não vou parar este. Fiquem tranquilosTalvez eu não fosse ficar na minha antiga casa por muito tempo, logo alguém iria aparecer para me levar de volta mas a caminhada até aqui acompanhado do meu cachorro foi algo que eu não me arrependo de ter feito.
Me jogo no pequeno sofá da sala e acabo apagando depois de ficar tanto tempo acordado e chorando.
Não sei por quanto tempo dormi, mas alguém bate no portão e Thor começa a latir indo em direção do mesmo. Antes de sair percebo que é alguém conhecido pois Thor se deita beirando o portão e começa a chorar e arranhá-lo para que eu o abra.
Tinha certeza que era Luis Otávio, Thor não conhece ninguém muito bem a ponto de fazer isso a não ser ele. Decido que não vou abrir o portão mas chego até ele e fico ali encostado.
- Gui, eu sei que você tá aí atrás! Abre a porta por favor. - A voz meio chorosa foi uma surpresa para mim pois eu nunca tinha o visto naquela situação.
- Vá embora Luis Otávio, uma hora me fala um monte de merda e depois vem até a minha casa? - Eu disse mas sem conseguir mostrar raiva. Porque eu era tão trouxa?
- Eu vou, mas quero ver se você está bem antes. - Ele disse ainda com o tom choroso mas eu não respondi.
Então ouço ele se sentando no chão encostado no portão, bem onde eu estava. Então deslizei até me sentar também e Thor começou a lamber minha mão.
O choro de Luis Otávio aumentou, ele soluçava e eu fiquei um pouco preocupado mas não estava disposto a vê-lo mesmo assim.
- Luis, vai embora! O tempo está fechado, vai chover. Me deixa em paz na minha casa vai... - Eu disse ríspido.
- Não! Vou ficar aqui, faça chuva ou sol. Enquanto não tiver certeza que não aconteceu nada com você eu não saio.
- Algo comigo? Você ficou louco mesmo...
- Eu não consigo me perdoar pelo que te disse e nem quero que você me perdoe porque sei que sou um monstro. Mas não tenho o direito de te fazer sair de casa assim, durante a noite.. Poderia ter sido assaltado. - Ele disse com um tom triste e entre suspiros.
Antes que eu pudesse responder senti algumas gotas de chuva, aparentemente não seria pouca pois mesmo neste começo os pingos eram grossos.
- Luis, vai embora porque tá chovendo. Quem sabe outro dia nos falamos.
Ele não se levantou, e continuou ali mesmo quando a chuva ficou forte e eu ouvia fortes relâmpagos dentro de casa. Thor também permanecera rente ao portão e era isso que me dava certeza de que ele ainda estava ali.
Eu queria não estar ligando e por apenas meu cachorro para dentro, mas não conseguia.... Eu sei que sou um trouxa mas abri o portão e em segundo estava encharcado observando o rapaz da faculdade, que fora tão generoso comigo quando todos não eram... Eu não conseguia ver o Otávio irado ali no chão, só via o meu Otávio, aquele que tinha sido bom comigo. O pego pela mão e levo para dentro de casa.
Embora ele fosse um cara forte, ninguém passa fácil por uma chuva daquela e mesmo depois de tanta água seus olhos condenam que ele estivera chorando por muito tempo.
Ele estava sem reação nenhuma, o deixei próximo ao banheiro e foi ali que ele permaneceu em pé e parado durante mais de dois minutos enquanto eu procurava uma toalha.
- Anda Otávio, vai tomar um banho! - Eu disse o empurrando para dentro mas ele ainda estava imóvel. Não sei o porque e nem ele sabia provavelmente.
Peguei nas mãos dele e estavam geladas, ele tremia muito mais que o normal. Eu não sabia se era seguro colocá-lo embaixo da água quente pois poderia dar algum problema e então tirei a camiseta dele e comecei a secá-lo enquanto ele olhava para mim.
Depois de seco e totalmente sem roupas ele parou um pouco de tremer e então eu o levei para baixo da água morna e fui molhando o corpo dele devagar.
Acabei tendo que tirar minhas roupas também e lentamente dei banho naquele garoto que aos poucos ficava menos inerte, me observava envergonhado enquanto eu estava preocupado em ajudá-lo mas abaixava a cabeça quando eu o encarava. Terminamos o banho, o sequei e preparei um monte de cobertores e deitei junto com ele.
ApagamosQuando acordei já era manhã e Otávio continuava dormindo, aproveitei que a chuva tinha parado e pude colocar as nossas roupas para secar, eu ainda pude pegar algumas peças que tinha deixado para trás e me vesti, comprei o café da manhã e quando cheguei ele estava enrolado num coberta sentado no sofá enquanto brincava com Thor.
Cheguei perto e coloquei a mão no rosto dele,
- Droga, você está ardendo em febre. - Eu disse me sentando ao lado dele.
- Me desc.. desculpa por te dar esse trabalho todo. É só o que eu sei fazer mesmo... Sou um idiota. - Ele disse cabisbaixo.
- Não posso negar que você seja um idiota... Fazer tudo o que faz comigo para depois ficar naquela chuva? Não foi nem um pouquinho inteligente.
Ele voltou a chorar e eu não podia acreditar que via um rapaz daquele tamanho em profundo desespero.
- Não acredito que te perdi para sempre. - Ele diz enquanto dá um murro na própria perna.
- Para, tá? Não se desespera, a vida continua. - Eu disse tentando não amolecer o coração e abraçá-lo.
- Eu vou te recompensar! Juro que vou. Você vai continuar e eu tomarei conta de você, mesmo você não sendo meu. Aquele seu namorado novo vai ter que andar na linha se quiser ficar vivo. Ninguém mexe com a minha vida e depois a abandona. Já basta eu tendo te magoado. - Ele disse desesperadamente rápido enquanto levantava e rodeava a sala.
Não consegui segurar um riso.
- Que namorado? - Eu disse. - Mexer com a sua vida? Ninguém mexeu com você Otávio.
- O da empresa, como é o nome dele, Thales? E mexeu sim Gui, você é minha vida. Deixa eu pelo menos ser seu amigo, eu juro que não vou tentar nada demais. Me perdoa vai.
- Ai Otávio, cala a boca vai! Vamos tomar café... - Eu disse perdendo o autocontrole e indo o abraçar e o puxar pra cozinha...