Meu coração batia forte. Nada havia sido mais difícil de realizar do que pronunciar aquelas palavras. Eu já havia me assumido para minhas amigas, primas e algumas tias, mas para meus amigos homens, aqueles que sempre me viram como hétero e me tratavam como irmão, era muito mais complicado. Procurei um por um pessoalmente para fazer minha confissão. Alguns trataram o caso com muita naturalidade, para minha alegria e até surpresa, enquanto outros, felizmente, menos próximos a mim, resolveram se afastar. Só faltava um amigo para contar. Não um amigo qualquer, meu melhor amigo. Devo confessar que ja havia gostado um pouco dele antes de assumir para mim mesmo que era gay. Em todo caso, achei que ele seria o meu maior apoio nesse momento, porém, infelizmente, não ocorreu bem assim.
"É bem complicado dizer essas palavras, mas não posso continuar escondendo isso. Você sempre foi meu grande amigo e... Bom, eu sou gay."
Minhas palavras pareciam ter o atingido de uma maneira muito rápida e profunda. Ele estava em choque. Depois de muitos segundos em silêncio, as palavras que ele pronunciava não faziam muito sentido:
"Éé... Hmm... Mas... Ahh..."
"Eu sei que é um susto grande, mas sempre que conversávamos sobre qualquer coisa relacionada a homossexualidade você tratava o assunto com tanta tranquilidade..." - eu disse, tentando arrancar palavras de sua boca.
"AAH... Ma-maa-mas é claro que sim! Eu so... Fiquei bem surpreso, afinal a gente falava sobre mulheres junto e coisas de homem... Opa, desculpa, eu só preciso de um tempo pra colocar minhas ideias em ordem. Depois a gente se fala."
Eu saí do quarto sem dizer mais nenhuma palavra e com um aperto enorme no peito. Ele não recebera a notícia como eu esperava, pior pela maneira seca como ele havia pronunciado suas palavras, eu sabia muito bem que ele não havia gostado nada de ouvir aquilo. Eu queria chorar. Já tinha ouvido coisas muito piores, mas não esperava isso logo dele. Logo o Eduardo, meu... Pois é, eu não só havia gostado dele antes, como ainda gostava. Isso piorava muito a minha situação.
Quando cheguei em casa, afoguei minha cabeça no travesseiro e chorava muito por dentro. Algumas lágrimas até chegaram a escorrer, mas calma nem tudo estava perdido. Ele ainda havia de pensar e... Eu já não me importava mais com o que ele pensava sobre aquilo. A sua reação despertou em mim um sentimento que eu acreditava não existir mais.
Desde que me assumi gay, só havia tido relacionamentos curtos e casuais. Paixão? Nunca! E agora o que eu faria? Era melhor que ele me condenasse! Me afastar dele curaria minhas feridas internas. A melhor coisa que eu poderia fazer naquele momento era dormir e esperar um amanhã melhor.