Amassei o meu copo e o joguei no chão.
- Esperem! – eu chamei rápido. – Eu também vou.
Tirei a camiseta e os sapatos. Victor ria sem parar encantado pelo Thiago. Os segui até a piscina. Os dois iam lado a lado sorrindo e se divertindo num universo só deles pelo visto.
Thiago entrou em meio a espuma no canto da piscina. Ao entrar e a água chegar ao seu peito ele levou as mãos pro ar como se fosse aparar o Victor. Me poupe... Pra quê aquilo? Victor segurou nas mãos dele e começou a descer. Entraram os dois de jeans.
Eu dei dois passos pra trás e me joguei perto de onde eles estavam. Ao sair da água as pessoas gritavam animadas e eles dois estavam mais juntos ainda sorrindo. Conclui que ia rolar de fato entre eles. Decidi então ir pra longe e só observar. Se algo saísse de controle eu então estaria alí. Afinal fui eu que indiquei o Thiago a ele e seria bom o Victor se soltar mais...
Eles dois continuavam sorrindo. Thiago brincava com a espuma com o Victor e eu continuava com meu copo de vodka num canto com um grupo de amigos meus. Thiago introduziu Victor num outro grupo de pessoas que a meu julgar estava tudo ok. Todas as pessoas eram legais. Victor me olhava de relance mas eu não demonstrava reprovação. Continuei bebendo da vodka e o observando.
Ele iria superar o Rômulo naquela noite. Muito provavelmente depois daquela noite ele não iria mais ser tão apegado ao meu irmão. Principalmente porque ele iria conhecer pessoas novas, iria ver que existem pessoas por aí e que ele não precisa sofrer pelo Rômulo. Nem por ele ou por ninguém.
Victor era meio ingênuo e tal... Mas ele era um cara legal. Independente de ele ser legal ou não, ninguém nasceu pra sofrer por ninguém. Aff... Eu nunca sofri por amor. Nunca! Eu sempre fui muito desapegado. Deus me livre de passar por isso alguma vez.
- Meu Deus! Meu Deus! – eu saí do meio do pessoal afastando a espuma pros lados sem ver o Victor nem o Thiago.
Eu me distraí por um segundo e eles sumiram! Sumiram! Meu Deus! Larguei o copo na piscina e meti o joelho na cabeça de alguém. Quem mergulha numa piscina de sabão?
- Ai! – uma menina submergiu.
- Saaaai! – eu a joguei pro lado e continuei avançando.
Os meninos haviam sumido do canto da piscina. Eu não fazia ideia de pra onde eles poderiam ter ido. A nossa mesa continuava com as camisas e calçados alí do lado. Eu saí da piscina e era muito difícil caminhar com o jeans encharcado. Deslizei na lateral e caí com a bunda de uma só vez no chão duro. Doeu muito e eu levantei mancando e com o braço ardendo.
Empurrei algumas pessoas e saí no gramado. O dj estava no fundo com a mesa de som. Eu olhei pros lados procurando pelos dois e nada.
- César, você tá bem? Eu vi que você caiu. – Beatriz disse vindo atrás de mim.
- Cadê a Wanessa?
- Tá na sala.
Eu saí correndo até a sala. Algumas pessoas que estavam na entrada da casa e estavam secas reclamaram comigo jogando água e sabão pra todo lado.
- Não pode entrar molhado. – Anderson, namorado da Wanessa disse na porta.
- Cadê a Wanessa?
- Tá na cozinha.
- O Thiago passou por aqui?
- Não vejo o Thiago há um bom tempo.
- Ele tava na piscina agora há pouco!
- Já procurou lá?
Eu rangi os dentes de raiva.
- WANESSA! – eu gritei da porta e ela veio rindo. - Você deu a chave dos quartos de cima pra alguém? Aqueles quartos?
- Dei sim.
- PRA QUEM?
- Pro Saulo se não me engano... Ele e a Gabi finalmente se acertaram... O que a bebida não faz né?
- Pra quem mais?
- Pra ninguém...
- Certeza?
- Sim.
Eu me virei e voltei pro gramado. Na piscina eu ainda não os vi, perto do dj nada. Meu Deus, o Rômulo ia me matar se eu devolvesse aquele menino faltando alguma coisa. Tipo, a virgindade. Ele era virgem, certo?
Perguntei sobre o Thiago pra algumas pessoas e apenas uma indicou o fundo da casa. Caminhei apressado com passos pesados até o fundo da casa e não vi nada. Não havia iluminação alí.
- VICTOR!!!
Um barulho de algo de metal caindo soou.
- VICTOOOR! – eu praticamente rugi.
Thiago saiu do escuro.
- O que que é?
- CADÊ O VICTOR!
- Tá passando mal... Sei lá...
- PASSANDO MAL?
Eu corri até o escuro e Victor estava sentado no gramado. Havia vomitado um pouco alí do lado. Apesar disso ele ria.
- Victor? – eu ajoelhei preocupado.
- Eu tô bem! Eu tô bem! – ele ria solto. – Foi só a bebida. Eu tô bem!
- O que vocês vieram fazer aqui? – eu perguntei e olhei pra trás encarando o Thiago.
Não acredito que o Thiago ia pegar o Victor no fundo de uma casa, no meio de uma festa como se ele fosse uma puta! O Thiago era um cara bacana! Não é possível que ele tivesse se tornado o pior cara da festa daquele jeito.
Ele me devolveu um olhar que dizia “Você sabe muito bem o que viemos fazer aqui”. Victor só ria me irritando.
- Tá tudo bem! Tá tudo bem! – Victor disse tentando levantar voltando a sentar no chão.
Eu o ergui e ele mal conseguia ficar de pé mesmo rindo.
- Eu vou indo... – Thiago disse saindo.
- Vai indo?? Vai deixar ele assim? – eu perguntei e ele não me escutou. – FILHO DA PUTA! FILHO DA PUTA!
Victor continuava rindo.
O levei de volta pra mesa que agora já não tinha os sapatos e camisa do Thiago e puxei uma cadeira pra ele.
- Victor... Ei... Victor... – eu bati no rosto dele. – Você tá bêbado.
- Eu? Bêbado? – ele riu.
- Por favor, não sai daqui. Eu vou pegar água. Me promete que não vai sair daqui.
- Eu prometo! Claro que prometo! Prometo ser super obediente a você sargento César! Fazer tudo o que você quiser. Só chama o Thiago pra mim.– ele fez sinal de reverência.
- Não sai daqui!
- Chama o Thiago! Chama o Thiago! THIAGOO!
Eu corri até a porta da casa e dei graças a Deus pelo Anderson não estar a postos. Na cozinha peguei uma garrafa d’água e voltei.
- Toma. Bebe.
- Não quero mais.
- É água!
- Não!
- BEBE CARALHO! – empurrei a garrafa na boca dele e ele bebeu um pouco. – A partir de agora você só bebe água. Nada de experimentar nada! Onde foi que já se viu a pessoa embebedar com dois copos de vodka?
- Cadê o Thiago?
- QUE PORRA DE THIAGO!! VOCÊ AINDA QUER SABER DELE?
Victor me olhou com a garrafa na boca e seus olhos marejaram. Ele fez uma cara estranha com a boca curvada pra baixo e soltou um soluço. Começou a chorar.
- Você só briga comigo... – ele começou a chorar.
- Veste sua camisa Victor.
- Não... Você só briga comigo. Você não gosta de mim. Você... – ele virou a água na boca – Você... Você só quer ser e me trata mal por eu ser pobre. Agora vem gritar comigo porque eu tô me divertindo numa festa legal. Foi você quem me trouxe!
- Péssima ideia pelo visto!
- Você... Você me trouxe! Você disse que era pra eu conhecer mais gente e esquecer o Rômulo.
- Aí você foi dar pra um cara no fundo da casa. Que volta por cima, parabéns!
Ele chorou mais.
- Eu ia ficar com o Thiago mas eu passei mal. Eu passei mal e vomitei. Ele me largou... Foi um desastre. Eu sou um desastre. – ele chorou e bebeu mais água.
- Você ia mesmo ficar com ele no fundo da casa?
- Eu só quero esquecer o Rômulo! Não foi isso que você me mandou fazer? Você disse que ele era legal.
- Victor, se fosse pra ser assim eu te levava num puteiro seu porra!
Ele chorou.
- Para de falar assim comigo! O Rômulo não fala assim comigo!
- Desculpa... Bebe a água, anda...
- Eu tenho que beber toda essa água?
Era uma garrafa de um litro. Por via das dúvidas...
- Sim. Toda. Bebe. – ele continuou bebendo.
- Acho que tô melhor.
- Se veste. – eu entreguei a camisa e ele vestiu.
Ele suspirou e voltou a chorar.
- O Rômulo que não é gay? Ele é gay sim!
- Ham?
- Ele é gay! Pode não ser a fim de mim mas é!
- Victor, eu já te falei. O Rômulo não é gay.
- Porquê ele não me quer? Eu pensei que...
- Meu Deus... Que porra de feitiço que o Rômulo tem? Ele não é gay. Ele só é solteiro e pronto. Só estuda, não curte e tal... É o jeito dele. Desencana do Rômulo... Pela amor de Deus. Haja paciência...
- Foi tão bom beijar ele. Tão bom!
- Victor... Bebe a água.
- Mas eu vou dar a volta por cima.
- Vai...
- Eu vou esquecer o Rômulo. Vou seguir adiante! Vou deixar ele pra trás! Vamos ser só amigos e eu nem vou lembrar mais dele.
- Vai... – eu ri do jeito dele de falar.
Ele finalmente sorriu.
- Você é tão bonito quando sorri...
- Bebeu mesmo.
- Tão bonito! Olha, se o Rômulo não tivesse me dito que você era adotado eu jamais suspeitaria! Jamais! Você é tão bonito quanto ele. Só o seu cabelo que não é preto.
- Meu cabelo é preto sim.
- Não. Como o dele não. O dele é mais preto. Maaaais preto...
- Você roda roda e volta a falar no Rômulo.
- Ele é meu grande amor!
- Corta essa... Você nem sabe o que é amor.
- Pois ele é o que chega mais perto. Ele me salvou do assaltante!
Eu ri daquilo. Só podia ser piada...
- Você não foi salvo por ninguém... Para com isso. Bebe a água.
Ele bebeu e continuou.
- Olha... Você e o Rômulo são as piores pessoas do mundo pra alguém se apaixonar.
- Porquê? – eu perguntei esperando aquele momento de insanidade dele passar.
- Porque você é um bruto... Chato. Meu Deus... Você é horrível. Metido!
- E o Rômulo? – eu perguntei me divertindo.
- O Rômulo despreza todo o meu amor por ele. Mas ele é lindo e me trata bem!
- Grande vantagem... Nossa...
Ele terminou de beber a água e eu esperei ele aparentar estar melhor.
- E aí? – eu perguntei.
- O que foi?
- Tá melhor?
- Sim... Acho que sim.
- Você não pode chegar em casa assim. Você tá encharcado, com cheiro de bebida. Sua mãe não vai gostar.
- Ela vai me matar. Posso dormir na sua casa?
Se o Rômulo visse o Victor naquele estado ele me mataria. A não ser que eu desse um jeito do Victor entrar, dormir e ele só o encontrar no dia seguinte já melhorado.
- Pode ser... Vamo?
- Vamo.
Ele levantou. Peguei minha camisa e coloquei no ombro. Enquanto íamos pro carro conseguíamos ver que mais pessoas ainda estavam na piscina. Alguns caídos pela bebida.
Saímos com o Victor passado o braço do meu pescoço tentando se equilibrar. Chegamos no carro e ele passou os dois braços ao redor do meu pescoço rindo. Eu desequilibrei e ele bateu as costas no carro comigo em sua frente e seus braços no meu pescoço. Nossos rostos estavam há milímetros.
- Eu tô com muito sono... – ele disse repousando o rosto no meu peito.
- Só mais um pouco pra você entrar no carro. – eu disse desconfortável olhando pros lados. O corpo dele colado ao meu me fez ter uma leve ereção. Comecei a me concentrar pra que passasse.
- Obrigado.
- Victor, me solta.
- Obrigado por tudo! Você se preocupou tanto comigo... Me trouxe pra festa e eu me diverti taaaanto! – ele dizia ainda agarrado em mim.
- Ok. Me solta.
- Não. Vou ficar agarrado em você. – ele riu.
- Victor, as pessoas estão começando a olhar. – eu estiquei a mão e abri a porta. – E seu hálito está horrível. Nem todo mundo gosta de bafo de cachaça, sabia?
- Você é um grosso.
- Você não viu nada. – eu ri.
- Huum... Você tá fazendo piada de duplo sentido comigo? Engraçadinho. – ele riu e me olhando ainda agarrado no meu pescoço.
Eu ri mais. Se no dia seguinte ele lembrasse de algo, iria sentir muita vergonha.
- Você está completamente bêbado. – eu disse enquanto me soltava.
Coloquei a camisa no banco pra que a calça dele não molhasse o assento.
Ele entrou e saímos pra casa. Eram mais ou menos 3h da manhã. Rômulo com certeza estaria dormindo.
- Manda uma mensagem pra sua mãe avisando que vai dormir lá em casa.
- Vou mandar. – ele levou a mão ao bolso.
- Você não tirou seu celular do bolso?
Ele tirou o aparelho do bolso que, óbvio, não ligava.
- César, meu celular... Meu celular... Meu celular... De novo. Quebrei de novo...
- Manda do meu. – tirei do porta luvas e entreguei.
Ele mandou a mensagem enquanto eu dirigia.
Ele baixou o vidro e arremessou o celular pela janela.
- VOCÊ TÁ LOUCO? MEU CELULAR!
- Calma... – ele disse massageando a testa – eu joguei o meu... Não vai consertar mesmo...
- Ah... Menos mal... E você não quer mais o chip?
- Eu retireeeeeei!! – ele gritou parecendo que tinha ganho um prêmio enquanto exibia o chip na mão.
No percurso ele sentiu sono e começou a cambalear.
- Passa o cinto. – eu falei. Ele não escutou.
Continuou cambaleando.
- Victor, não dorme! Passa o cinto!
Eu dei uma leve freada no carro de propósito. Ele foi pra frente e bateu a cabeça no porta luvas.
- Aaai.... – ele choramingou.
- Viu? Passa o cinto!
Ele passou o cinto massageando a testa agora pela dor da batida.
- Não dorme! – eu disse quando ele jogou a cabeça pra trás.
Liguei o som alto numa música do Linkin Park. Ele se assustou.
Ao chegarmos em casa eu desliguei o som. Consegui mantê-lo acordado por isso. Observei e a luz do quarto do Rômulo estava apagada. Ótimo. Deixei o carro no jardim mesmo. Abri a porta do carro e fui entrando com o Victor que agora caminhava sozinho.
- Cadê o Rômulo? – ele perguntou na sala.
- Cala a boca! Quer morrer?
- Eu só quero dar um abraço nele.
- Você sabe que horas são?
- Você tá com ciúme! – ele riu. Eu ignorei.
Continuamos subindo as escadas e entramos no meu quarto. Chequei a mensagem que ele havia enviado e estava ok.
- Você tem que tomar um banho.
- Eu quero dormir... Vamos dormir juntos? – ele disse já indo pra cama. Eu o segurei pelo braço.
- Nem chegue perto da minha cama com esse cheiro. Vá tomar um banho.
Ele começou a tirar a roupa enquanto eu o levava pro banheiro. Fechei a porta do banheiro e saí do quarto. Fui até a porta do Rômulo e pus o ouvido nela. Tudo quieto. Que bom.
Voltei pro meu quarto. Peguei uma toalha nova e joguei dentro do banheiro. Lá no box o chuveiro estava ligado com toda força.
Eu me livrei do jeans molhado e me enrolei na toalha esperando ele sair.
- Terminei! Ah que alívio! – ele gritou do banheiro.
Eu corri até o banheiro e abri a porta.
- Cala a boca! Que dificuldade de ficar quieto é essa?
- Desculpa... – ele disse baixinho. – A gente tá escondido é? Tem que falar baixinho?
- Mais ou menos. Pega no closet uma cueca seca, uma camiseta e um short pra você dormir. Não faça barulho, por favor!
Ele passou e eu entrei no banheiro. Aquele moleque deixou as roupas molhadas dentro do box! Eu as chutei pro lado e tomei meu banho. Quando saí do banheiro ele já estava na cama. Pegou roupas secas no closet e se jogou na cama todo de mau jeito. Eu liguei o ar condicionado e também fui me deitar. Joguei um edredom encima dele e também me cobri.
Eu adormeci rindo olhando o rosto do Victor e lembrando de tudo que aconteceu nas últimas três horas. Sabe... A noite até que não foi exatamente a planejada. Deu muito trabalho e eu não esperava que ele tivesse ficado bêbado. Mas que foi divertido pra caramba ver tudo o que aconteceu foi.
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Levemente menor que o de ontem o capítulo de hoje encerra a noite dos dois. Eu volto antes de sexta a qualquer instante pra postar mais um capítulo.
Matt sousa: Obrigado pela fidelidade do tempo!
Sr.Chris: Gente, mais pessoas disseram isso, sobre ser fácil de entender. Que bom!
LUCKASs: Ah, eu acho que aquele foi o único com 16 páginas. Esse de hoje tem 9.
loirinha25, esperança: Obrigado!
tavinhoo e iuribrx: No mínimo intrigante!
Monster: Sal sal e sal!
Yan700: Tá todo mundo aí se derretendo pelo César agora... kkkk
Hiding: O Victor precisa aprender a fazer isso. Todo mundo precisa aliás. Ele não pode terminar o conto sem evoluir como pessoa. E sobre o shipo eu não sei, não sou bom nessas combinações. SObre seu comentário anterior, você descreveu o César de uma maneira perfeita. Exatamente como eu queria que vocês o vissem. Ele é cru e objetivo com as coisas. É exatamente isso!
Yami: Obrigado! Que bom que é de fácil compreensão. As vezes eu tenho medo nessa troca de personagens narrando se fica ou não fácil de entender mas pelo visto o pessoal acompanha certinho.
Obrigado e abraço a todos pelos comentários e emails da semana. Até breve! Abraço especial aos leitores do meu estado que estão subindo de número. Tchau! :)
kazevedocdc@gmail.com