DETALHES E COMENTÁRIOS
Boa noite novamente ao pessoal da casa, gostaria de a todo conto explicar um pouco do que me o escrever me fez sentir e o que eu senti para começar a escrever.
Bom, se há uma coisa que gosto é de me aprofundar nas coisas, seja uma música qualquer ou numa leitura. Ontem a Adele lançou Hello e eu acabei lendo um texto no instagram dela que me inspirou muito, afinal como diz Xiavier Dolan, os grandes artistas nos inspiram.
E o mais grandioso do momento em que li o texto foi que ele me tocou e me fez refletir muito. Cometemos erros o tempo todo e estamos sempre em construção de alguma parte, mas existe um momento onde parte importante de nós se completa e precisamos olhar para trás e nos desculpar pelos erros, principalmente por aqueles que cometemos com nós mesmos. Se há alguém que eu amo muito e devo desculpar sou eu mesmo, seja por não ter sido quem queria ser, seja pelos medos que eu deixei de superar, seja por ter magoado alguém.... Quando tu magoas alguém não está errado só com a pessoa, mas principalmente erra com você mesmo também, e venho cometendo erros, dos quais devo pedir desculpa, com muita frequência embora eu tenha desde os dezessete deixado claro que eu iria me construir como uma pessoa cada vez melhor e amorosa.
Se eu escrevi isso hoje foi por precisar me desculpar comigo mesmo, e escrever sobre meus erros é uma coisa importante, e esse texto me ajudou muito a refletir. Vos agradeço por acompanhar a história e me permitirem ter esse momento de reflexão, pois escrever esse capítulo contribuiu para que eu percebesse coisas em mim que me fazem mal e que devo resolver e me perdoar por ter as deixado existir.
Helloo: me lembrou da mais uma vez.
Tay Chris: É a minha história no fim das contas, só que estruturada como uma reflexão própria e não uma narração sobre exatamente o que ocorreu. Aos poucos vou explicando quem e o que representa os personagens.
Martines: Respeitar e não segregar é o que basta.
J.Braz: Obrigado!
Ah, pessoal eu queria poder escrever mais rápido, mas meio que não tenho tanto tempo. Principalmente na segunda feira, acho que segunda não posto. Tento publicar nos outros dias regularmente.
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CAPÍTULO 3 – AMOR DE VERDADE
Eu acabei ficando bastante chateado por saber que Miguel planeava ir embora, tanto que fiquei um pouco incomunicável durante uns dois dias. Só falava o necessário com Sabrina, que já havia começado a ficar puta por causa disso e embora minha vontade fosse falar com o Miguel e preguntar o porquê daquilo tudo, eu percebi que ele me evitava também.
A oportunidade de entender o motivo da decisão surgiu no terceiro dia, estávamos os dois sozinhos em casa e decidi puxar assunto.
– Você está meio estranho ultimamente! – Eu disse enquanto pegava algumas coisas no armário da cozinha para colocar na pipoca.
– É, eu sei! Só estou preocupado com umas coisas aí.
– Quer me falar o que é? Você sabe.... Somos amigos e talvez eu possa ajudar.
Ele ficou quieto por alguns instantes, depois se sentou calado e parecia pensativo. Enquanto ele permanecia calado continuei os preparativos da minha pipoca em silêncio também e é muito estranho, mas o silêncio às vezes nos dá mais clareza que uma conversa.
– Tem a ver comigo, não é? – Eu disse me sentando na cadeira ao lado.
– Estou pensando em ir embora Maurício – Miguel disse sério e continuou – sabe, depois daquele dia vendo você se metendo em briga por causa de mim eu fiquei meio preocupado. Eu estou fadado a enfrentar esse tipo de coisa pelo resto da vida, mas não posso deixar pessoas que gostam de mim sofrerem também.
– Te defender naquela hora foi escolha minha! Você não pode se culpar por nada!! – Falei um pouco irritado, mas sem demonstrar muito na voz.
Ele não me respondeu de imediato, ficamos em silêncio por um bom tempo. Eu não me sentia bem o vendo ser maltratado, não gostava de ver um amigo naquela situação. Eu devia desculpas a ele, mas principalmente a mim mesmo, eu me feri sendo a pessoa que fui nos últimos anos, eu errei comigo mesmo e consequentemente com ele por não ter oferecido o ombro quando ele precisou. Eu estava numa fase onde embora eu devesse, não estava pedindo desculpas a Miguel e sim tentando me perdoar. Era como se eu tivesse que concertar os erros de um eu do passado.
– Miguel, eu entendo que você não queira que eu me envolva em briga por sua causa, mas não estou fazendo isso apenas por você e sim por nós dois. Eu me sinto muito mal pela pessoa que fui, pelos erros que cometi no passado e sinto que mudei e preciso concertar muitas coisas. Não quero fazer isso só por você, mas sim ser uma pessoa que defenderia qualquer outra quando fosse necessário. Hoje eu sinto que sei quem eu sou e devo desculpas a minha identidade por ter fugido dela durante aquele tempo que estávamos afastados. Eu não vou parar de te defender quando for preciso assim como não quero deixar de defender todo mundo quando eu ver que posso. Eu sei que você aprendeu a lidar com essas situações, mas ora, o que esses caras fazem é errado. Juro que não vou surtar tanto na próxima vez.
Miguel me abraçou e era tão bom ter acesso a um Miguel sensível pois era algo quase exclusivo. Se você falasse com a Laura por exemplo ela saberia lhe dizer que ele é uma pessoa incrível, preocupada e muito inteligente, mas ainda que ela soubesse disso tudo, ninguém além de mim estava tendo acesso a essa pessoa como eu estava.
– Queria que o mundo fosse como você. Que mudasse a aprendesse tanto quanto você! – Ele disse.
Acabou que a pipoca serviu para os dois e passamos mais um bom tempo ligados no Netflix vendo filme, e depois começamos a falar da vida e de coisas que aconteciam quando estávamos longe. Falamos sobre tudo, desde uma vez que ele dissipou alguns boatos sobre mim que eu nem sabia que existiam (gente espalhando que eu usava drogas, outra mentira, é claro) até aos relacionamentos conturbados e sofridos de Miguel. Entendi a causa de ele descartar qualquer possibilidade de ser amado, ele me explicou a forma com que a sociedade e a mídia impões um tipo certo as pessoas, acabei concordando que você é bastante mais aceito, mesmo quando hétero, sendo aquele tipo sarado, alto e com padrão europeu. Ele disse que o mesmo ocorre no mundo gay, e por dizerem que gays são mais ligados ao visual (de acordo ele nem sempre verdade) é muito comum ficar as margens quando não se é o padrão sarado europeu. Existe uma hipersexualização das pessoas, e boa parte obedece a regra de que o certo é alguém mais masculinizados, ele até me mostrou aplicativos gays (que ele não tinha conta justamente por esses motivos) onde os caras falam de afeminados como se tivessem nojo, ou que diziam que não gostavam de negros (sempre usando o nada contra, mas não curto), ou deixando gordos de lado.
Eu entendi que não é errado ter um tipo certo de pessoa, mas é errado segregar outro tipo sem nem mesmo conhecer o indivíduo. Em alguns ‘namoros’ Miguel disse que acabava sofrendo apenas uma hipersexualização, pois os o queriam para sexo, mas não tinham coragem de assumir que estava com um cara afeminado. Em outro ele disse que descobriu que o cara em público pregava ódio contra qualquer um que fosse afeminado, para manter a pose de que era ‘macho’. Por fim, acabou percebendo que era objetificado e o próprio prazer não era importante, só estava sendo usado para o prazer de alguém.
Eu não saberia lidar com situação semelhante, mas Miguel segue de cabeça erguida e continua buscando o que sempre quis na vida, mas diz que aos poucos vem aprendendo a viver sem sonhar com alguém junto com ele, mas acaba sendo enganado por um ou outro que aparece fingindo ser o príncipe encantado, sem preconceitos e politizado, mas que no fim é machista, misógino e prega ódio gratuito. Por isso Miguel nunca teve um relacionamento longo, ninguém nunca conheceu um de seus namorados, nunca foi apresentado para a família de ninguém e por aí vai. Estávamos quase para completar vinte anos e era doloroso perceber que ele acreditava que essa situação fosse permanecer assim.
Ele decidiu não ir embora e nessa nossa aproximação ele começou a me contar muita coisa e era bom, e passei a contar muita coisa para ele. Falávamos de tudo como antes, ele sabia do meu relacionamento e começara a me contar sobre seus projetos (brilhantes e tão grandiosos quanto ele). Numa das conversas ele confessou estar gostando de alguém, mas que estava inseguro como todas as outras vezes, pois sempre começava assim, ele se apaixonava rápido e em um mês ou pouco mais era decepcionado. Depois ficava algum tempo sofrendo até guardar aquilo como uma cicatriz sentimental.
Mas ele teria que enfrentar aquilo, afinal Miguel nunca fugia de nada e então ele começou a me contar de suas conversas com o cara (o nome era Rafael), que inicialmente era uma pessoa perfeita, interessante, interessada em namoro e tudo mais.
Miguel sempre inseguro me contava as coisas que o deixava meio chateados, eu sabia que ele estava machucado com aquilo mas usava a positividade de pensar que era só uma impressão. Rafael não o encontrava em público, ficavam mais em casa ao invés de irem ao cinema e etc. Rafael não demonstrava interesse de conhecer os amigos de Miguel embora é de nós que ele falava o tempo todo (Miguel ama os amigos e está sempre falando de Laura, Gustavo e de mim).
Meu coração doía por saber que aos poucos Rafael rejeitava meu amigo, e tentava criar um relacionamento abusivo, pois pensem: o que mais ele queria? Ele estava saindo com um garoto frágil e deixando esse garoto inseguro, aos poucos Miguel ficava paranoico com certas situações como o fato de Rafael demorar horas ou um dia todo para responder suas mensagens, mas por outro lado Rafael ficava puto quando chamava Miguel para sair e ele não tinha tempo. Miguel estava sendo de Rafael quando ele quisesse, mas Rafael não era de Miguel momento algum. E assim acontecia mais um abuso, por meio de um relacionamento. E isso era constante, Miguel saia rápido dessas situações mas acabava sempre caindo em outros relacionamentos assim alguns meses depois. Até o momento nunca tivera um relacionamento diferente disso.
– Ai mulher, acabou! Eu estava cansado já. – Ele disse triste, irritado e aliviado ao mesmo tempo.
Rafael estava há dois dias sem responder e talvez tivesse achado outro garoto com quem brincar.
– O que você fez Miguel? – Eu disse deitado no colo dele, no sofá da sala.
– Só bloqueei no whatsapp. Se eu não fizer isso ele vai voltar num momento com uma desculpa qualquer e vai me ter nas mãos mais uma vez. Não quero mais isso, preciso ser forte e me afastar.
– É sempre assim? – Eu disse curioso e calmo. Ele concordou com a cabeça. – Mas nunca foi diferente? Você nunca viveu um amor de verdade ou beijou alguém sabendo que os dois se amam na mesma intensidade?
– Eu nunca fui amado. Nunca senti que alguém se preocupava com meus sentimentos e nunca muitas outras coisas. – Ele disse e continuou olhando para a TV, onde assistíamos Agents of Shield.
Me levantei do colo dele preocupado. Ele me olhou como se o que tivesse dito fosse óbvio e normal, que era como ele se sentia com aquela situação.
Eu não sei se eu amava Miguel como um namorado ou algo do tipo, mas o que sentia por ele enfrentaria qualquer tensão e era muito, mas muito maior do que qualquer outro homem tenha sentido por ele e então eu resolvi dar ao meu melhor amigo o primeiro beijo de quem realmente o amava, afinal existem diversos amores e Miguel era carente da maioria deles.
Não foi um beijo de teor sexual, não foi desesperado, não existiu arrependimento depois do ocorrido. Eu me senti tão feliz quanto ele se sentiu, tão realizado quanto ele também. E não houve também vergonha quando acabou, não nos distanciamos quando meus lábios se distanciaram dos dele, e nem mesmo quando fiquei diversos segundos olhando nos olhos dele, olhos que brilhavam como o de uma criança.
Lembrei novamente da infância, na qual nos sentimos felizes por pouca coisa. Era uma enorme vitória quando zerávamos jogos que exigiam muita estratégia mesmo quando éramos bem mais novos do que seria necessário para os jogar. Eu sei que ganhava devido a inteligência do superdesenvolvido Miguel, mas eu ficava feliz daquela forma e ele também porque havia me ajudado a ter aquela felicidade. Quando conseguíamos uma vitória honrosa nos abraçávamos e foi o que fizemos e depois deitei de novo no seu colo e acabamos terminando toda a temporada da séria que estávamos assistindo. Dormi no sofá do quarto dele de novo.