Obrigado a vocês que estão comentando e a quem apenas lê também, como disse, é uma história muito especial pra mim, espero que consigam sentir o mesmo que o personagem e compreender o todo. Esse é o antepenúltimo capítulo, está pequeno como disse, mas talvez poste logo o penúltimo, quem sabe. Boa leitura.
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Na Ordem do Caos
Capítulo 11 - Ordenando o Amor.
===== Casa da Mãe 25 de Dezembro 05h30min =====
https://youtu.be/s2xZ6Y0DLKk
Acordei cedo como eu planejara, estava ansioso e certo de que voltaria para cidade grande. Precisava resolver as coisas, não fugir. Arrumei-me o máximo que pude, minhas malas não foram desfeitas, então seria mais fácil. Consegui tomar um café da minha infância na casa da minha mãe, feito por ela, pouco me importava, iria passar mal mesmo durante a viagem eu deveria aproveitar. Guardei a pelúcia no meu bolso. Não arrumei meu antigo quarto, estava em sua essência suja e antiga daquele jeito, mas me despedi dele especialmente. Era parte de quem eu era e sou.
— Filho, pega esse dinheiro, pra te ajudar a completar a viagem – oferecia ela singelamente.
— Mas mãe... – dizia eu surpreso com minha mãe até ser inferido.
— Pega logo! – ordenava ela. — Eu não preciso tanto agora. – explicava pensativa com aquele dinheiro em mãos — Você precisa mais agora. – falava ela carinhosamente pra mim.
Eu realmente precisava de mais de dinheiro para completar minha viagem, mas não pensava muito nisso, du daria um jeito de chegar seja como fosse até a cidade grande. Porém fiquei muito emocionado com atitude da minha mãe, eu não sabia ainda se aceitaria.
— Eu não acho certo. – respondi indeciso. — Eu que te dei esse dinheiro, pra ajudar a senhora. – complementava eu intransigente.
— Eu ainda tenho alguns remédios, posso usar ainda. – respondia ela atenta. — Tenho algum dinheiro da aposentaria e seus irmãos podem me ajudar também. – explicava confiante. — Então pega logo esses dinheiro que é seu!
Eu refleti sobre tudo que acabara de ouvir, eu não sabia mesmo o que fazer, decidi aceitar o generoso ato de minha mãe.
— Tá bom, mãe. – disse me dando por vencido e pegando o dinheiro de suas mãos. — Muito obrigado mesmo. – disse mais sinceramente possível olhando para ela.
Então me preparava pra sair com minhas malas, era chegado a hora.
— Boa viagem, filho. – dizia minha mãe se aproximando de mim na porta com as malas. – Vê se procura ao menos tomar um Dramin, não seja teimoso. – dava ela seu sermão tão rotineiro ao me abraçar.
— Vou pensar nisso – dizia eu certo que não tomaria.
Eu odiava remédios, pelo menos não os naturais. A verdade que remédios eram ruins para caramba, evitava tomar, sim, muito descuido com minha saúde.
— Sei que não fui uma boa mãe Claus... – dizia ela no meu ouvido ainda naquele abraço. — Tu era difícil e eu não procurei te compreender. – continuava ela com a voz turva e sofrida. — Mas quando tá tão velho como estou agora, a gente passa a maior parte do resto da vida lembrando do passado e se arrependendo das coisas que fez...
— Eu sei, mãe. Eu também não fui um bom filho para senhora. – sussurrei em seu ouvido. — E sei que a senhora viverá muito ainda. – disse eu entusiasmado.
Acho que desde muito pequeno não sentia um abraço dela, era reconfortante, mesmo naquela idade, sentia que tinha minha mãe novamente, como sentira que tive quando sorria quando criança. E era muito bom, era uma família.
— Eu te amo, filho. – sussurrou ela ainda entre meu abraço.
— Também te amo, mãe. – respondi sinceramente emocionado.
— Sei que num pareceu quando tu era criança e adolescente, mas quem ama tem diferentes formas de amar, por mais estranhas que pareça para nós. – disse ela por fim.
— Eu sei, mãe. Eu sei melhor do que ninguém. – falei olhando vagamente para atrás e me soltando do seu abraço. – Adeus, mãe.
– Tchau, Claus...
Aquela senhora provecta, que era minha mãe, com quem tive tantos momentos conturbados, com quem briguei, odiei, senti dó, eu a amava também. Sentia que a idade trouxera sabedoria a ela também, a minha criança interior não morreu aos 10. Mas estava escondida com medo do meu eu. Sim, era hora de pôr tudo em ordem, na minha ordem.
===== Cidade Grande 14h58min =====
Como de praxe e podem imaginar, cheguei quase morrendo em 8 horas de viagem, se acreditasse em deus, eu o louvaria assim que eu pusesse meus pés no chão firme, bem sólido e estático. Desta vez tinha vomitado menos, foram umas 5 vezes, particularmente eu estava cansado dessas situações escatológicas. Talvez devesse ter tomado algum tipo de remédio. Meu celular estava descarregado, acabou durante a viagem, mas não poderia carregá-lo tão cedo, nem mesmo naquele local, por causa do local em si mesmo. Cheguei numa estação onde havia um povaréu, dia de natal é sempre um aglomerado em quase toda parte, mas eu era só mais um ali, eu fazia parte da confusão. Contudo, ao observar todo contexto que eu estava inserido, eu não entendia como estava tão iludido em encontrar uma panacéia, que por sinal era bastante utópica, para todos os problemas da minha vida, era muita fé.
Finalmente tinha conseguido um táxi no horário com minhas malas lá mesmo, mas eu não iria para minha casa, mesmo que pra ser despejado, queria muito ver meus gatos, mas tinha que passar em um lugar antes, então pedi para o taxista se dirigir para uma parte nobre da cidade, então quando estávamos perto, havia um tremendo engarrafamento, o destino era só alguns quarteirões, então decidi sair e chegar correndo o mai rápido que podia pra chegar ao meu destino.
— Arf!! – chegava eu arquejando no local. — Por favor, o Senhor Maurício está aqui? – Indaguei ao recepcionista devidamente uniformizado.
— Desculpa senhor, eu não posso fornecer esse tipo de informação. – disse o recepcionista padronizado.
O meu táxi estava próximo, consegui fazê-lo me esperar, mas gastaria muito com aquele taxímetro ligado se ficasse muito tempo. Tive que correr alguns quarteirões para chegar naquele grande hotel, tinha um salão enorme. Era difícil para eu aspirar o ar poluído da cidade grande cheio de monóxido de carbono e outros dióxidos resultantes da queima de outros combustíveis, a cidade era de concreto e com poucas árvores, diferente da minha pequena cidade, que tinha ar puro, então correndo em pleno verão com baixa umidade de ar, era para acabar comigo, cheguei no hotel de alta classe com apenas uma camisa branca e uma calça preta todo suado, ofegante, meus cabelos todos desarrumados. Um estado deplorável.
— Senhor, foi o próprio Maurício que me deu esse endereço, só quero saber se ele está e pode vim falar comigo. – expliquei o mais pacientemente possível.
— Você é o senhor Claus Rossi Moreira? – indagou ele apontando pra mim e visualizando algo no balcão.
— Sim, sou eu. Arf! – respondia confirmando.
— Ah, sim. O Senhor Maurício Lima me avisou que o senhor poderia vir. – o recepcionista explicava.
— Sim, sim, chama ele por favor! – pedia impacientemente.
— Espere uns segundos, preciso confirmar sua identidade, porta algum documento? – o recepcionista agia categoricamente.
— Tenho sim, aqui no meu bolso... – disse enquanto já procurava.
Atrapalhei-me um pouco, joguei alguns documentos sem querer no chão, meu RG simplesmente caiu, fiquei muito nervoso, muita pressa me deixa assim, rapidamente me abaixei para pegá-los.
— Merda... – cochichei irritadiço de joelhos no chão. — Pronto! – disse subitamente me levantando e entregando minha identidade ao recepcionista. Cuidei de guardar o resto no meu bolso.
Ele ficou a analisar meu documento com cautela, às vezes tinha um olhar fulminante de como me julgasse, mas tava me fudendo pra isso.
— Certo, senhor Claus Rossi. – disse ele depois de uns instantes de silêncio no balcão. — Apenas espere uns segundo para eu ligar para o quarto do senhor Maurício – explicava ele gesticulando pegando aquele telefone vintage.
— Ótimo. – disse eu muito apreensivo.
Fiquei a ouvir o recepcionista no telefone, ora trocava olhar pra mim, ora para o balcão concentrado. "Senhor Maurício Lima, a pessoa que disse que poderia vir te procurar está aqui" [...] "Certo, certo" [...] "Okay, vou avisá-lo", dizia o recepcionista.
— Senhor, espere uns minutos que logo o senhor Maurício desce aqui pra te ver – o recepcionista me avisava após desligar a ligação.
— Entendido. – foi só o que rebati.
https://youtu.be/HFhRWUHGM8s
Depois de toda burocracia do hotel, finalmente poderia ver Maurício, estava muito ansioso e preocupado com tudo, nunca estive numa situação tão emocionante. Tive que esperar alguns minutos naquele enorme saguão com decorações douradas e vermelhas em alusão ao ouro e o natal, claro com os típicos enfeites natalinos. Olhava fixamente para o elevador e as escadas em sua espera. Exatamente, ele apareceu do jeito dele de sempre, nada formal ou fino, era uma pessoa comum, apesar do tamanho de jogador de NBA.
— Olá, Claus, que bom que veio. – cumprimentava ele com a mão e eu inconscientemente apertei.
— Oi Maurício... – arfava eu tenso e cansado.
— Por que está desse jeito? – questionou ele espantado com meu estado.
— Viagem, muita viagem. – respondi lembrando cada momento horroroso.
Respirava e expirava tentando manter uma sintonia perto dele, tinha que me acalmar para falar o que eu tinha que falar, apertei o que eu trouxe no bolso desde a viagem pensativo.
— Acho que posso entender... – comentou ele confuso. — Claus, se você veio quer dizer que tomou uma decisão. – inferiu ele ciente da situação.
— Sim, vim por isso e para te trazer uma coisa. – disse eu pegando a pelúcia que ele me dara de presente dias atrás.
— Mas Claus... – expressou ele impressionado com o que vira.
— Eu gostei muito do presente, Maurício, de verdade. – eu segurava a pelúcia com a mão direita. — Sabe, era uma das coisas que eu mais queria. – disse olhando para pelúcia. — Talvez o momento pode não ter sido oportuno, mas... – respirei fundo fitando o ursinho. — Me ajudou muito quando precisei tomar decisões em momentos difíceis. – disse com um sorriso.
— Então por que está devolvendo pra mim? – indagou ele abalado.
Eu podia ficar com aquela pelúcia para sempre, enquanto eu a olhava, admirava em como era bonita e perfeita por ser simples, em seus peluches de colorização de mel, olhos negros e brilhantes de plástico. Algo que eu queria ter ganhado de alguém especial, alguém como Maurício, eram lembranças boas com ele, eu fiquei emocionado, mo entanto, precisava concluir isso tudo.
— Bem... – suspirei. — Eu te disse que somos feitos de passado e arrependimentos, só que não é isso. – iniciei olhando para o lado, estava perto da entrada. — É o que passado não existe, está tudo aqui na nossa cabeça. – dizia tocando na minha cabeça. — Eu sei que existe o presente, o aqui e o agora. E esperanças em construir nosso futuro. — voltei a olhar o bicho. — E é por isso que não posso aceitar isso, eu sei que sou aquele que sempre fui, que muitos conheceram, mas eu também tive algumas mudanças, prefiro acreditar que eu evolui. – disse olhando para ele confuso.
Peguei a mão grande dele e pus a pequena pelúcia que era como bolinho de chuva na sua mão segurei a sua mão sobre as minhas mãos.
— Maurício... Eu não posso e nem devo participar do seu futuro. – sussurrei olhando para a pelúcia em sua mão.
— Por que Claus? – questionou ele tristonho. — Eu te prometi me dedicar a você, a nunca mais te fazer sofrer... – rebatia ele intolerante.
— Promessas são perigosas. – sussurrei cabisbaixo. — Eu já prometi tanta coisa que não pude cumprir a você... – Lamentava.
— É complicado de entender você, Claus. – comentou ele indelicado.
— De fato, mas então... – arfava reflexivo. — Desde que você sumiu da minha vida, eu sei que não temos porque insistir nisso, eu só não queria aceitar. – revelava introspectivo fitando a pelúcia. — E você não precisa de mim, Maurício. – suspirei.
Então pus minha mão direita sobre a dele junto da pelúcia, e minha esquerda embaixo da sua. Maurício parecia refletir sobre o que eu acabara de lhe dizer.
— Você é um ser independente e livre, Maurício. – afirmei olhando para baixo e olhando para seu rosto lindo e sereno. — Você não precisa de mim para ser seu ou eu de você, nunca precisamos. – comentava sincero. — Tenho certeza que construirá um futuro feliz só você e vai poder escolher quem vai participar dele...
— Claus, eu não sei se está certo. – ele estava com os olhos marejados. — Mas respeito o que você disser e escolher. – dizia ele emocionado. — Acho que nunca percebi o quanto você era maduro e um ótimo amigo... – confessou ele.
Meus olhos marejavam junto aos deles, nossas mãos coladas à pelúcia que significara tanto a mim, era um momento lindo, meu coração explodia sem fim. Queria que aquilo não fosse uma despedida. Então quis abraçá-lo, eu andei para perto de umas malas que estavam no chão, ele foi me seguindo junto com nossas mãos unidas e confuso. Subi em umas das malas, não sabia e não me importava de quem era, Maurício quando percebeu deu uma leve risada. Pude abraçá-lo melhor, pude sentir seu cheiro doce, seu calor intrínseco, seus cabelos perto aos meus, sua grande barba roçando minha pele.
— Eu te disse que te amava incondicionalmente, não te disse? – sussurrei de olhos fechados.
— Sim, você disse Claus... – suspirou ele choroso.
— É assim desde que te conheci e é assim que vai continuar sendo. – pude sentir uma lágrima escorrer dos meus olhos.
— Obrigado, Claus. – agradeceu ele e sentindo sua lágrima também.
Ah Maurício, puderas acreditar que éramos almas nascidas para ficarmos juntas, entretanto, não podíamos simplesmente sentir nunca o mesmo um pelo o outro. És uma das armadilhas da vida, o amor que eu tanto tinha não poder mais caber em outro alguém.
— Precisa de um banho – disse ele rindo e sorrindo pra mim de olhos marejados tentando se limpar.
— Desculpa, eu sei... – disse eu constrangido.
Depois disso, ficamos nos entreolhando arduamente, mas singelos, como se quiséssemos dizer algo a mais. Estava corado com seu último comentário e me olhava me admirando ou algo assim. A esse passo, eu já o tinha deixado com o ursinho de pelúcia.
— Sentia muito sua falta desde que se foi.... – interrompi o silêncio. — Vou sentir muito sua falta, Pequeno Urso – disse eu com semblante triste e me afastando.
— Também sempre senti sua falta, Claus e vou continuar sentindo. – Rebateu ele sorrindo pra mim e eu sorri de volta me direcionando para saída do hotel.
— Eu tenho que ir... adeus... – suspirava triste.
— Espera! Queria um tempo a mais com você. – ele pedia piedosamente, apenas continuei saindo.
Andei rapidamente para sair do local, não poderia ficar mais, havia muita coisa pra fazer, ainda mais que eu ficasse por mais tempo, haveria de eu beijá-lo.
— MAURÍCIO! – gritei enquanto me afastava. — Se eu tiver que ouvir você tocar minha música, que seja eu indo até você em Moscou, ENTENDEU!? – esbravejava correndo rápido para ele.
«Se um dia você tiver algum sonho, eu gostaria de fazer parte dele, mesmo não sendo real»
Ele parecia dizer algo, mas eu não sei se ele chegou a dizer algo, não pude ouvir, não sei dizer se ele estava feliz ou triste, talvez os dois como eu. Contudo, vi ele acenar para mim lá de dentro enquanto eu estava na calçada do prédio do hotel. Acho que daquele momento em diante, as feridas finalmente se curaram, eu podia ser quem eu queria sem restrições.
Entretanto, nem tudo estava acabado, tinha que voltar para casa, ao menos para tomar um banho e reencontrar meus gatos, o taxímetro com certeza acabaria com todo meu dinheiro se não voltasse logo e principalmente, eu tinha que me resolver com Lourenço, ele era meu amigo acima de tudo, meu melhor amigo.