MAURITSSTAD: SEXO E CARNIFICINA - Parte 01
P R Ó L O G O
No começo, foram os rolezinhos. Grupos de jovens invadiram shoppings para roubar, aterrorizando a população. Como tudo de bom ou de ruim vira moda neste País, logo essa onda chegou à Mauritsstad. Bandidos tomaram a ideia para si e instigaram quadrilhas a promover quebra-quebras e vários atos de vandalismos, enfrentando a Polícia e cometendo crimes. Ônibus foram incendiados, crianças inocentes foram mortas e policiais alvejados. Houve represálias. Em pouco tempo, o País inteiro virou um caos. As ordens para infernizar a Polícia e os cidadãos de bem vinham dos presídios. O povo exigiu providências. Chefes de quadrilhas, que se supunha comandar a onda de violência, começaram a aparecer mortos dentro das celas. A bandidagem clamou por vingança. Num ataque sincronizado e ousado, invadiram os maiores presídios do País, libertando presos e executando carcereiros. Traficantes invadiram centenas de delegacias de Polícia, matando policiais e confiscando armas, além de tomar o prédio da Secretaria de Segurança Pública e o tornar quartel do narcotráfico. Grandes números de policiais eram mortos diariamente, em confrontos ou à traição. O Exército foi chamado às ruas. Em contrapartida, bandidos fizeram um enorme arrastão nos bairros mais ricos do País, assassinando milhares de pessoas nas ruas ou invadindo seus apartamentos. Então, a Classe Média foi à luta. Armada até os dentes. Preconceituosos, invadiram favelas, afirmando que todos os seus moradores eram marginais, e chacinaram mulheres, velhos, crianças e adultos, principalmente pessoas negras, em nome da Paz. Os bandidos retaliaram. O tráfico de armas de fogo cresceu absurdamente. Bancos, lojas e supermercados foram atacados por bandidos e logo passaram a ser também saqueados pela população. Sem segurança, o Comércio foi fechando as portas, loja por loja, causando um grande índice de desemprego. Decretou-se o toque de recolher geral. Quem fosse pego nas ruas era preso para averiguação do Exército. A crise aumentou por conta dos enfrentamentos das quadrilhas com as forças federais. Finalmente, foi decretada a Pena de Morte no País: quem fosse encontrado portando armas de fogo, e não pertencesse a nenhuma força policial, era sumariamente assassinado por soldados. Armas brancas, no entanto, eram consideradas instrumentos de autodefesa.
********************
- Acha que estão nos seguindo? - perguntou o motorista do carro-forte ao parceiro que estava sentado ao seu lado.
O sujeito de rosto másculo, mas de expressão vivaz e simpática no olhar, portando uma arma robusta denotadamente de fabricação caseira, respondeu de forma curta:
- Sim.
Ele olhava através do retrovisor para dois carros que mantinham distância do veículo de transporte de valores já havia algum tempo. Como quase ninguém se aventurava a sair de carro (menos, ainda, a pé) de casa, havia pouquíssimos automóveis nas ruas. Os pouco que trafegavam, supunha-se ser dirigidos por soldados ou pessoas bem armadas, sobreviventes da Polícia Militar ou soldados do Exército. A Polícia Federal agora cuidava da identificação de quem era preso desarmado pelos soldados. Faziam uma devassa em seu passado e, bastante ter um parente fichado na Polícia, a pessoa era condenada à morte. Para o Exército, ter parente marginal significava ser marginal também. Pressupunha-se, portanto, já haver cometido algum crime de morte também.
- Estão esperando esses carros passarem para poder pegar nosso veículo em assalto. Pensam que transportamos dinheiro - disse o carona, falando baixo, como se falasse consigo mesmo.
- Não está na hora da gente agir? - perguntou o motorista, torcendo pelo momento e enfrentar os perseguidores.
- Vejamos se as linhas telefônicas ainda estão funcionando - falou o carona, retirando um celular do bolso.
Fez uma ligação e esperou pouco para ser atendido. Do outro lado da linha, ouviu-se uma voz sem mesmo ter sido questionada:
- Continuem em frente, depois dobrem na terceira rua à direita. É uma curva fechada. E os caras aí detrás vão ter uma enorme surpresa.
O sujeito de feições másculas guardou o celular e instruiu o motorista:
- Acelere. Se eles também o fizerem, entre na terceira rua à direita. Cuidado, pois é uma curva bem fechada. Lá, segundo Cérebro, uma surpresa os espera.
O motorista fez o que lhe fora pedido. Meteu o pé no acelerador e depois olhou pelo retrovisor. Os dois carros que vinham atrás deram uma guinada e empreenderam maior velocidade. Quando o motorista dobrou a rua indicada, deparou-se com uma barreira do Exército. Uns quinze soldados, fortemente armados, eram liderados por um tenente jovem e carrancudo. O motorista freou bruscamente. Depois saltou agilmente do veículo, sendo imitado pelo companheiro. Nem bem plantaram os pés no chão, ambos levantaram bem os braços, fazendo sinal com os polegares apontados para trás.
- Estamos sendo perseguidos. Acho que estão bem armados. - disse, em tom médio de voz, o sujeito de traços másculos.
O tenente não se impressionou. Esperou os perseguidores aparecerem na curva. Os dois carros, no entanto, quando se depararam de repente com a barreira de soldados, deram meia volta imediatamente, cantando pneus no asfalto. O tenente fez sinal com uma das mãos e um caminhão saiu da formação. Tinha em sua carroceria um pequeno, mas potente, canhão de artilharia. Todos, inclusive os que haviam saltado do carro-forte, levaram as mãos aos ouvidos. Apesar disso, o primeiro estrondo se fez ouvir. O carro fugitivo que ia atrás vou pelos ares, despedaçado pelo tiro. O segundo rabeou, tentando tornar-se um alvo menos fácil, mas também foi lançado ao ar pelo segundo disparo. Em seguida, ouviu-se urros e salvas de palmas.
- Dezesseis armas de fogo a menos - disse ainda sisudo o jovem tenente. E, virando-se para os dois civis, perguntou - E vocês dois, quem são?
- Na verdade, somos quatro, tenente. Eu sou Virgulino e este é o motorista, Miguel. Dentro do carro estão mais dois companheiros nossos.
O tenente fez sinal e cinco soldados se postaram na parte de trás do carro-forte. Um deles bateu na pesada porta, com o cabo de uma metralhadora, mas esta não se abriu. Virgulino novamente tirou o celular do bolso da calça e fez uma ligação:
- Podem abrir. É do bem - e desligou o celular.
No mesmo instante, as pesadas portas de trás do veículo se abriram em bandas. Um cheiro de sangue invadiu o ar. Os soldados se retesaram, apontando suas armas, mas logo descobriram que o carro estava cheio de peças de carnes, dependuradas como num frigorífico. Dois homens pularam do veículo, levantando imediatamente as mãos.
Um era bem alto e forte. Devia ter mais de dois metros e ostentava músculos de halterofilista. Era risonho, apesar de não demonstrar muita inteligência. Porém, não parecia um retardado.
- Esse é Antônio, mas nós o chamamos de Tonho ou de Gorila - apresentou-o Virgulino.
O outro tinha traços nipônicos, mas também se destacava pela altura. Possuía um corpo atlético, mas sem exagero.
- E quem é o japonês? - quis saber o tenente.
- Nissei - corrigiu Virgulino - Chama-se João, sabe-se lá porque os pais lhe botaram esse nome, e é o mais invocado do nosso grupo.
- São ladrões de carne? - perguntou o tenente, enquanto seus comandados revistavam minuciosamente o carro-forte.
- Não, senhor tenente - afirmou Virgulino pedindo licença para tirar uns papéis do casaco jeans que vestia - fazemos transporte de carne para um supermercado. Está aqui toda a documentação. Pode averiguar, se quiser.
- E por que um carro-forte para o transporte? - mais uma vez questionou o tenente.
- Carne é mercadoria valiosa por estar em falta no comércio. Se os bandidos conseguirem nos parar, o carro-forte dificulta o saque. Para ganharmos um contrato de transporte de mercadoria, arcamos com o prejuízo, caso ela nos seja roubada. É com essa condição que ganhamos a concorrência.
- Fazem isso desarmados?
A pergunta do tenente foi respondida por soldados que vieram até ele. Mostraram várias armas de fabricação caseira ao militar.
- Encontramos essas armas dentro do carro, senhor. Apesar de serem poderosas, nenhuma é arma de fogo, como recrimina o Decreto da presidenta.
O tenente examinou arma por arma. Uma era uma besta medieval, mas num estilo bem moderno. A corda de aço, que tensionava o arco também metálico, era esticada por um mecanismo movido por um motor a pilha, dessas usadas em eletrodomésticos. Outra, parecia uma submetralhadora, também movida a motor. Projetava pequenas setas metálicas e não utilizava pólvora para disparo. Punhais, facas, facões e machetes completavam os "utensílios".
- Nenhuma arma de fogo. Vocês são espertos e corajosos, admito. E estão dentro da Lei. Fazem um trabalho muito perigoso. Em que posso ajudá-los - perguntou o tenente.
- Já nos ajudou bastante, tirando aquela turma de nossa cola. Mas, se quer nos ajudar mais, gostaria que nos conseguisse uma autorização para porte de armas de fogo. Seriam úteis no nosso trabalho...
- Para isso, eu teria que entrar com uma petição junto ao Exército. E isso demora, principalmente nesses tempos de desordens. Mais alguma coisa?
- Sim, mate-me uma curiosidade - respondeu Virgulino - Como tinha certeza de que nossos perseguidores estavam armados? Ateu-se somente às nossas palavras?
Finalmente o tenente riu. E riu gostosamente. Depois convidou os quatro a subir em um dos caminhões do Exército, estacionado em formação de barreira. Mostrou um equipamento esquisito e afirmou:
- Essa é a mais nova aquisição das Forças Armadas: uma espécie de radar que detecta arma de fogo à distância. Mostra-nos, inclusive, o número de registro da arma, seu calibre e proprietário. Se for portada por gente autorizada, acende uma luzinha verde. Senão, pisca uma luz vermelha e decreta a pena de morte imediata do seu usuário.
Os quatro civis estavam impressionados. Um aparelho daqueles facilitaria, e muito, o trabalho de transporte de carga deles. Virgulino perguntou se o que sobrara das polícias Militar e Civil tinha instrumentos idênticos.
- Não. No momento, só algumas unidades do Exército e da Aeronáutica possuem tal artifício. Mas logo todos estarão paramentados com esse equipamento. Foi uma das exigências que fizemos à Presidenta. Não queremos correr o risco de executar gente inocente - afirmou o militar.
Quando o carro-forte estava de partida, o tenente falou para Virgulino:
- Depois que entregar a carga, passe à noite na minha unidade. Procure pelo tenente Arcoverde. Vou ver se lhes consigo um salvo-conduto, enquanto não forneço uma autorização de porte de arma para vocês.
***************
Virgulino bateu com os nós dos dedos na porta de um casebre, localizado numa favela da zona portuária de Mauritsstad. Ninguém atendeu. Insistiu, batendo novamente, dessa vez com mais força. A porta se abriu e uma figura carrancuda mostrou o rosto.
- O que é que tu quer, cara? Desaparece daqui. A mulher deixou de ser tua - e fechou novamente a porta.
Virgulino esperou cerca de dois minutos e tornou a bater. Dessa vez o cara apareceu nu, de revólver na mão, mais irritado do que antes.
- Porra, eu já não disse pra tu sumir daqui, bundão? Confisquei a tua puta. Ela agora não trepa com mais ninguém a não ser eu! - rosnou alto o sujeito com toda a pinta de traficante - Mexa esse teu rabo daqui e dê-se por satisfeito por eu não dar um tiro na tua cara.
Virgulino deu-lhe as costas e não disse nada. Afastou-se do barraco, ouvindo risadas. Contou três vozes diferentes. Teve a certeza de que havia interrompido uma suruba. Ou, talvez, um estupro. Conhecia a puta Israella. Ela não era mulher de aceitar sexo grupal. Então, ela estava correndo perigo. Portanto, voltou minutos depois e tornou a bater na porta fechada.
- Porra, eu já não mandei tu dar lavrando, seu puto? - gritou a voz do sujeito, antes mesmo de abrir a porta - Agora eu vou te dar...
O homem estancou, ao deparar-se com a besta artesanal armada e apontada para o seu peito. Abriu a boca para alertar os cúmplices que estavam dentro do casebre, mas uma flecha de aço varou-lhe o coração e atingiu um outro sujeito nu, de pistola na mão, que estava por trás dele. O terceiro, também nu mas desarmado, tentou escapulir por uma janela. A mulher alertou:
- Não deixe ele fugir, amor. Os amigos deles estão por perto e...
Outra flecha atingiu o fugitivo nas costas, trespassando seu corpo. Virgulino puxou seu cadáver para dentro, antes que fosse visto por quem estivesse de fora do barraco. Depois abraçou-se com a mulher, que tremia que só vara verde.
- Eles te estupraram?
- Não posso dizer que sim, pois não ofereci resistência. Mas tive muito medo que descobrissem meu segredo - choramingou a mulher em seus braços. E eu rezei para que você não aparecesse. Agora, vai ter a vida complicada por minha causa.
- Não, minha linda. Apenas cortei o mal pela raiz. Esses caras iriam esculhambar a vida de gente inocente. Estuprariam outras mulheres. Foi bom que isso parou por aqui.
- Como vamos fazer para nos livrar desses corpos? - perguntou Israella.
- Deixe comigo. Lá pela madrugada, cavo um buraco no quintal e enterro-os.
- Eles não eram seus amigos? - perguntou a moça - Lembro-me que já os vi bebendo com você, em algumas vezes que esteve nesta comunidade.
- Antes de começar esse caos todo, éramos amigos, sim. Mas essa guerra urbana mudou as pessoas.
A mulher puxou Virgulino pelas mãos, levando-o para um pequeno cubículo que fazia de quarto. Quase não havia móveis no barraco. E os que havia eram tão velhos e danificados que quase não tinham utilidade. Era visível a pobreza da proprietária.
- Você tem se sentido melhor? - perguntou o homem.
- Sim, graças a você. E cada vez agradeço mais a Deus por cada dia que passo viva. Você continua trabalhando no açougue?
- O açougue fechou. Mataram o dono, num assalto. Fiquei uns tempos desempregado, mas agora faço transporte de carne das fazendas para supermercados.
- Ainda existe algum aberto? Não saio mais de casa, desde que você passou a me ajudar financeiramente.
- Sim, há vários supermercados ainda abertos. Bancos e algumas lojas do Centro da cidade são guardadas pelas tropas militares. Mas para quem precisa fazer compras, o percurso para casa fica por sua própria conta e risco. Muita gente é assaltada e até morta quando sai dos bancos ou supermercados. O comércio do subúrbio acabou, pois pequenos negociantes não têm a mesma atenção das Forças Armadas. A situação está muito séria. É cada um por si - explicou ele.
- Você trouxe? - perguntou, finalmente, ela.
- Não, minha linda. Não consegui nenhuma farmácia aberta para comprar camisinhas. Seus proprietários têm medo de abrir, temendo serem assaltados. É a primeira coisa que os traficantes de drogas procuram para saquear: as farmácias.
Israella ficou triste. Deitou-se na rústica cama e ficou olhando para o vazio, pensativa. Depois falou quase num sopro de voz:
- Então, não poderemos fazer amor hoje?
- Podemos, sim - disse ele - mas só tenho uma única peça.
Ela sorriu contente, pedindo para que ele mostrasse a embalagem. Abriu-a com suas mãos ansiosas e depois procurou o zíper da calça dele. Libertou seu membro da cueca. Manuseou-o até conseguir a ereção e vestiu-lhe a camisinha. Meteu a boca no falo envolto pelo preservativo. Quando percebeu que Virgulino estava ansioso, perguntou:
- Você se importa de vir por trás? Estou toda dolorida na xoxota. Esses imbecis me machucaram muito. Acho que já não estou tão apertadinha como você gosta...
Mesmo ansioso por meter, ele virou-a com carinho. Ficou roçando a pica na regada da bunda dela, até sentir seu ânus umedecido. Ela empinou as nádegas, facilitando-lhe a penetração. Depois abriu bem as pernas, pedindo que ele metesse com carinho. Ele fez o que lhe foi pedido. Movimentou-se devagar, fodendo seu rabo apertadinho. Passado um instante, ela já gemia alucinada, adorando ter dentro de si o pau pulsante e escorregadio dele.
FIM DO EPISÓDIO