Escrito em Azul - Capítulo 7

Um conto erótico de Gatinha 007
Categoria: Homossexual
Contém 1756 palavras
Data: 05/10/2015 16:59:12

(É bom olhar no espelho de vez em quando)

Os olhos de Carol se encheram de lágrimas enquanto ela observava a filha através do vidro de separação da UTI onde Alicia estava, após 2h de cirurgia. Machucada e cheia de fios ligados do seu corpo para os aparelhos hospitalares, todo aquele ambiente com paredes pintadas de um branco infinito era o retrato de quão vazia e impotente Carol se sentia. O bipe constante vindo dos aparelhos só traziam a nítida lembrança da agonia de algumas horas atrás no momento em que recebeu o telefonema do pronto-socorro, Carol quase não pode acreditar no que ouvia.

A senhora Vandré, por favor! – disse o atendente.

Sim é ela – respondeu ofegante e desnorteada.

Aqui é do pronto-socorro estadual, no centro da cidade, estamos ligando para informar que a senhorita Alicia Vandré de Albuquerque sofreu um acidente de carro e deu entrada nesta unidade de pronto atendimento às 20h.

O QUÊ?! – gritou Carol perplexa e angustiada.

Solicitamos sua presença com a máxima urgência, obrigada pela atenção – continuou o atendente sem se importar com o espanto de Carol e desligou.

Sim, claro, já estou indo! – respondeu desolada.

Anna-Lú que apenas observava esperando alguma resposta já que o terror nos olhos de Carol só aumentava a cada minuto daquele telefonema.

Eu...eu...preciso...preciso ir – disse Carol passando as mãos pelos longos cabelos loiros.

O que houve Carolina?! – inquiriu Anna-Lú percebendo o estado assustado em que Carol estava. E sentiu-se totalmente aturdida quando Carol, entre lágrimas, falou o motivo que a deixara tão pálida e sem chão. Desesperada e quase cega pelas lágrimas Carol correu para pegar a bolsa.

Espera Carolina, eu te levo fica calma – falou Anna-Lú.

Não...não precisa se incomodar – respondeu jogando a bolsa nos ombros e tentando limpar as lágrimas que insistentemente desciam, sentia seu coração tão apertado e o medo crescente de perder a filha intensificava seu desespero.

Anna-Lú se aproximou tentando toma-la nos braços, pois Carol agora chorava convulsivamente tremia tanto que precisou apoiar-se em Anna-Lú para não cair.

Por favor, se acalma tá? Shss... Vai ficar tudo bem! – disse Anna-Lú a abraçando com carinho.

Mas, o que você pensa que está fazendo? Me solta! Não está tudo bem! Eu...eu tenho...tenho que ir – grunhiu tentando empurrar e se desvencilhar dos braços de Anna-Lú, empurrou-a tão forte que acabou caindo sobre o sofá.

Ei! Carolina presta atenção, por favor – disse Anna-Lú ajoelhando-se na frente de Carol, tomando seu rosto entre as mãos, sem se importar com mais nada – Você está muito abalada e não tem a menor condição de dirigir, então, eu vou levar você e ponto final – Carol apenas assentiu deixando-se levar por Anna-Lú, sentindo uma dor intensa que só se multiplicava tão perto estavam do pronto-socorro.

Encostada no vidro e com lágrimas descendo sem parar deixando sua visão turva, só o que Carol conseguia enxergar era seu próprio espelho da alma, então preencheu sua mente com cada lembrança guardada em sua memória. Lembranças de quando Alicia era apenas uma garotinha que precisava de Carol para tudo. Pensou em cada momento, cada brincadeira, cada expressão naqueles olhinhos tão verdes quanto o do pai, cada machucado que ela mesma era capaz de tratar. Cada traço de um amor esquecido no tempo, mas que era tão profundo quanto era sincero. Pensou com amargura nos muitos sorrisos que deixou de ver na filha, simplesmente porque estava longe, e agora era muito mais dilacerante sentir que ainda demoraria muito tempo para que Alicia conseguisse sorrir pra ela com tanta facilidade.

Quando chegaram à emergência Anna-Lú deixou Carol na UTI e seguiu para recepção onde um aglomerado de pessoas se amontoava nos guichês de atendimento de internação, pegou os formulários que Carol precisava preencher e voltou para onde ela estava e se dependesse dela, não sairia tão cedo do lado de Carol. No corredor Anna-Lú encontrou o médico responsável pelo caso de Alicia que também seguia para falar com Carol. Ao vê-los Carol apressou-se em ir encontra-los, ainda com lágrimas escorrendo pela face.

Como ela está Doutor?! - perguntou Carol aflita, o rosto totalmente tenso de medo.

A batida foi muito forte e ela está inconsciente, tem uma fratura no braço esquerdo e muitos hematomas, e uma das ferragens atingiu a coluna. Mas, não podemos tirar conclusões precipitadas, o que temos a fazer é esperar ela acordar para termos noção de como está a lesão. Fique tranquila, pois o pior já passou! Eu sugiro que a senhora vá descansar, pois não é necessário acompanhante na UTI, agora se me dão licença, eu preciso atender outros pacientes - explicou o médico com cuidado e retirou-se.

Oi! - disse Anna-Lú sentando-se ao lado de Carol que estava com o rosto entre as mãos.

Oi Anna-Lú, obrigada por ter vindo comigo - respondeu olhando-a desanimada.

Eu trouxe a papelada pra você preencher e assinar - disse Anna-Lú estendendo algumas folhas de papel para Carol.

Obrigada mais uma vez, eu nem havia me lembrado disso - respondeu.

Não precisas de agradecer, é um prazer lhe ser útil – disse Anna-Lú com um meio sorriso tentando aliviar a tensão.

Obrigada, mas se você quiser ir, você pode, não quero tomar mais do seu tempo – objetou Carol.

Você devia ir descansar e eu ficarei com você o tempo que for preciso.

Hm, você me surpreende cada vez mais, sabia?! – disse Carol.

Ah é, por quê?! – questionou Anna-Lú.

Primeiro, pela personalidade que você demonstrou ter e depois, por estar ao meu lado em um dos momentos mais difíceis da minha vida, isso é mesmo surpreendente e muito bom. Não estar sozinha, quero dizer.

É. Eu costumo causar isso nas mulheres, sou mesmo surpreendente – caçoou Anna-Lú dando de ombros.

E divertida também, além de muito convencida – respondeu Carol com um sorriso triste.

Foi você mesma quem admitiu – apontou Anna-Lú levantando as mãos, zombeteira.

Tens razão, é a ultima vez que admito coisas para você, dona convencida! – riu e suspirou tristemente.

Ei, ela vai ficar bem, tenho certeza. Ela se parece muito com você, digo, tirando os cabelos pretos – Anna-Lú tentou apaziguar o animo de Carol ao perceber que ela pensava na filha.

É. Pena que ela não queira parecer tanto, por isso tinge os cabelos – respondeu primeiro olhando para o nada e depois, para Anna-Lú e continuou – posso te pedir um abraço? Prometo não te empurrar com tanta violência desta vez! – pediu Carol ruborizada, ao lembrar o que acontecera no apartamento de Anna-Lú.

Claro que sim – respondeu Anna-Lú se aproximando e a envolvendo em seus braços, um pouco sem jeito no começo, mas sentindo seu coração acelerar como se fosse a largada de uma corrida de formula um.

Carol nada disse apenas se deixou envolver naquele abraço que almejava já há algum tempo, demoram-se longos minutos neste abraço. Quando se desvencilharam Anna-Lú já não podia mais conter sua vontade em ter Carol tão perto de si e não poder tomar aqueles lábios que tanto invadiam seus sonhos e pensamentos nos últimos dias. Ao se olharem foi como se os olhos azuis tivessem se transformado em um campo magnético capturando o olhar de Anna-Lú e impedindo que se desviasse para qualquer lado, a intensidade daquele momento fez o coração de Carol desacertar o compasso de suas batidas. Sentiram que o ar faltava na medida em que o espaço entre elas diminuía, Carol sentia-se flutuar e não pensando em mais nada passou os braços em volta do pescoço de Anna-Lú, ao passo que Anna-Lú apertou-a contra si segurando-a pela cintura. E então os lábios finalmente se tocaram de forma suave e espontânea, os corações palpitando na mesma sincronia. Beijaram-se. As línguas conhecendo-se demoradamente. Exploraram-se, as mãos de Anna-Lú apertando levemente a cintura de Carol, os dedos de Carol pressionando a nuca de Anna-Lú, toques sutis que as deixaram em chamas, as mãos já querendo tomar outros rumos. Pararam. Quando se separaram, a respiração quente, o odor inebriante as cegando fazia tudo quase desaparecer. Quase.

Sorriram sem jeito.

Desculpe! Sei que não é o momento – Anna-Lú apressou-se em dizer.

Você não tem culpa de nada, eu quis – respondeu Carol.

Quis?! – questionou.

Você não percebeu? – devolveu Carol com outra pergunta.

O que quero dizer é que...quer dizer, por quê você quis? – Anna-Lú indagou outra vez.

Pra ser sincera, não sei – respondeu depois de analisar Anna-Lú com cuidado, visualizou um lampejo de decepção no olhar de Anna-Lú por conta de tão vaga resposta, e então, continuou – sinto coisas estranhas quando estou com você, coisas que nunca havia sentido, quero dizer. Mas, ainda não sei bem o que é - concluiu.

Quando Carol terminou de falar Miguel apareceu no começo do corredor vindo em direção a elas, a presença dele ali colocara um ponto final na conversa, ao menos até aquele momento.

Oi Cá, o que aconteceu?! Eu vim assim, que ouvi teu recado. Alicia está bem?! – falou Miguel assim que se aproximou.

O médico disse que o pior já passou, mas ela ainda está inconsciente. Ah! Meu amigo eu tive tanto medo – respondeu Carol abraçando Miguel.

Hmhm – Anna-Lú clareou a garganta – Olá Miguel?

Boa Noite senhorita Garcia – respondeu.

Então, sem querer interromper, mas Carolina, você já foi ver a outra moça que estava no carro com a Alicia? Ela também está internada aqui – perguntou Anna-Lú.

Claro que não! – respondeu resignada.

E por que não, ela não é namorada da Alicia? – questionou Miguel.

E você ainda pergunta por quê?! A culpa de Alicia está naquela maca é toda daquela sapatão irresponsável! – respondeu se desvencilhando do abraço de Miguel indignada.

Como é que é Carolina? Bom saber. Você não me pareceu tão cheia de preconceito assim, quando beijou uma sapatão agora a pouco – respondeu Anna-Lú visivelmente ferida.

Ah, por favor, Anna-Lú, com você é diferente!

Não, não é Carolina, mas, não sou eu quem vai fazer você entender isso. Você deveria se olhar no espelho, só pra variar – bufou – Vou até a lanchonete tomar um café. Ah! E outra coisa, eu acho bom você engoli esse preconceito e ir ver a moça, pois quando a Alicia acordar ela vai com certeza querer saber da namorada e não é ignorando a pessoa que ela ama que vais conseguir a aproximação de sua filha. Com licença – disse e saiu. O rosto decepcionado.

Você entendeu tudo errado, espera Anna-Lú – tentou ir atrás dela, mas Miguel a impediu.

Não vai adiantar Cá, depois você conversa com ela a prioridade aqui é a Alicia e eu tenho que concordar com a senhorita Garcia você precisa ir ver a Flávia, eu vou contigo. Vem. Mas, me conta vocês se beijaram?! – perguntou espantado.

É uma longa história Mig – suspirou.

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Comentários

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Putz estou viajando no seu conto anjo predeu minha total atenção. ....Parabéns

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Ótimo *-* cadê o próximo que ainda não publicou? u.u kkkkk ansiosa :)

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BOM DEMAIS! Beijar a Ana Lú é diferente,a filha ter uma namorada não pode...bem complicada essa situação viu!!!

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