Max narrando
Eu estava com muito ódio. Meu corpo chegava a tremer. Depois de ter caído na real sobre as minhas atitudes para com o meu irmão, é claro que eu não iria deixar uma coisa daquelas acontecer com ele. confesso que antes eu até via esse tipo de brincadeira e fingia "não ver", mas agora? Não. Nada nem ninguém ia machucar ele, eu não ia permitir. Tinha prometido pra mim mesmo e pra ele que iria cuida-lo e protegê-lo. A partir de hoje ele sentiria orgulho de mim.
- Qual é Max, você nunca ligou pra esse trouxa, quer dizer que agora de uma hora pra outra você se preocupa com esse otário? Inclusive o rosto dele está assim graças a você né?- Falou o Diego, um garoto da minha sala, com um sorrisinho de canto de boca- Além do mais você uma vez me falou que achava o seu irmão muito estranho e que se ele morresse não faria diferença alguma em sua vid...
- CALA. ESSA. BOCA. SEU IDIOTAAA- Parti com tudo pra cima dele. Eu não queria que o Gabe ouvisse que um dia eu ja pensei uma besteira dessas e a nossa situação que ja não era nada boa, ficasse ainda pior. O Diego caiu no chão e eu montei em cima dele, socando o seu rosto com o máximo de força que eu pudi e logo os outros que estavam com ele começaram a me tirar de cima dele.
-Me larguem, me soltem! Eu vou acabar com a raça desse idiota, quem ele pensa que é?- Eu estava enfurecido.
- Bom você não é melhor que ele pra julgar, ja que até outro dia você tratava seu irmão da mesma forma- falou outro menino da minha sala. Eu comecei a andar lentamente em sua direção e ele foi recuando de costas. O gabe estava quase levantando, quando esse garoto que andava de costas tropeçou e caiu com o corpo em cima da cabeça do meu irmão. Corri pra tirar aquele moleque de cima dele e O Gabriel tinha desmaiado com o peso do garoto que com certeza fez sua cabeça bater no chão. O curativo do nariz saiu e começou a sair sangue dele. Eu me desesperei. Eu não podia deixar mais nada acontece com ele. Carreguei ele como se carrega uma criança. Coloquei sua cabeça em meu ombro, suas mãos em volta do meu pescoço e puxei suas pernas colocando-as em volta da minha cintura e sustentando elas assim, corri para a enfermaria.
Chegando la, o coloquei na cama e a enfermeira começou a cuidar dele. Primeiro limpou o seu nariz e refez o curativo, depois limpou seu braço que tinha terra e sangue e tambem fez curativo e por último viu se não tinha mais nenhum ferimento na cabeça por causa do impacto. Graças a Deus não tinha mais nada. Ela me aconselhou a voltar pra sala e assistir as ultimas aulas, disse que não pois não teria cabeça para prestar atenção em nada e queria ficar ali perto dele, até que ele acordasse. Ela me deu um calmante e eu fiquei ali sentado ao lado da cama, segurando sua mão e pensando no quão horrivel deveria ser passar por aquilo. Comecei a me colocar no lugar dele... poxa, o cara só tem um amigo, os irmãos dele que deveriam ser seus melhores amigos se tornaram uma espécie de carrascos e ainda por cima aguenta esses manés... na verdade ele era muito mais forte do que eu pensava. Talvez eu em seu lugar ja tivesse, sei la... tentado me mat... NÃO, é melhor nem pensar nessa possibilidade. Se isso acontecesse com ele eu não iria conseguir conviver com a culpa. De repente ele aperta minha mão com um pouco mais de força e abre os seus olhos lentamente, me encarando com a face séria.
Gabriel narrando
Acordei na enfermaria com a minha cabeça doendo muito, a dor era tão forte que apertei a mão de quem estava segurando a minha mão. Mas espera ai, quem ta segurando minha mão? abri os olhos lentamente e comecei a encarar o Max. Por mais que eu odiasse admitir ele tinha mudado sim. Em outras circunstâncias ele simplesmente ignoraria o que estava acontecendo, mas ele foi la e me salvou, me ajudou, me protegeu. Ele tentou puxar sua mão da minha mas eu não deixei, fazia tanto tempo que nem isso ele fazia e eu preferi aproveitar o momento.
- Você me ajudou, por quê?- perguntei
- Olha eu te prometi que a parti de hoje eu ia ser o irmão que eu nunca fui pra você, e que não iria deixar nada de ruim te acontecer. Eu sei que você nao acredita em mim...
- Eu acredito- falei no meio de sua frase, mas parece que ele não me ouviu e continuou falando.
-... mas mesmo não acreditando eu vou estar sempre aqui e...
- EI!- chamei sua atenção, fazendo-o parar de falar- eu ja disse que acredito em você. Hoje eu comprovei que você realmente mudou.- Seus olhos ficaram marejados.
- Obrigado. Obrigado Gabe, obrigado por me perdoar, cara depois de tudo o que eu te fiz e você ainda me perdoa assim, muito obrigado- Ele falava bem rapido e meio enrolado, me abraçou e encheu o meu rosto de beijos, o que me fez rir e logo após soltar um gemidinho de dor, pois ele estava encostando no meu braço ferido.- O que foi? Eu te machuquei? Me desculpa gabe, cara eu sou muito lerdo mesmo, não faço nada certo eu, eu...- ele continuou falando atrapalhado, o que me fez rir.
- Calma Max, ta tudo bem, não foi nada demais.- falei sorrindo pra que ele visse que era verdade.
- Ta bom, tudo bem então. Agora vem cá, deita aqui. Eu vou cuidar de você até o Gus chegar.- ele sentou na cama com as costas apoiadas na parede e colocou minha cabeça em seu colo, alisando os meus cabelos. Nossa, quando eu imaginaria que algum dos meus irmãos estaria me tratando daquela maneira? Aquela era uma das melhores sensações que eu ja tive. estar sendo cuidado. Eu me sentia protegido daquela forma. Sabia que com ele ali comigo ninguem viria me artazanar. Que engraçado a vida fazer com que eu me sinta protegido por alguem que até o dia anterior não gostava de mim e me bateu. A enfermeira entrou, perguntou como eu estava me sentindo e eu disse que minha cabeça doía. Logo ela me deu um analgésico e saiu. Deitei de novo no colo do meu irmão só que agora o encarava.
- Ô Max, falando sério agora, por que vocês faziam isso comigo?- perguntei e percebi que ele ficou sério.
- Gabe você sabe que hoje em dia existe um padrão em que as pessoas têm que se encaixar. Ou elas estão nesse padrão ou elas são massacradas. Eu e o Gus atingimos esse padrão de adolescentes perfeitinhos, pelo qual as meninas são loucas, ja você continuou só sendo quem você é e eu sendo induzido pelos meus amigos a me comportar colocando quem não faz parte desse padrão cada vez mais para baixo... Só que isso tomou proporções tão grandes que eu acabei atacando até quem não devia.- falou ele olhando para o vazio.- Mas foda-se esse padrão, eu não vou trocar a minha família por algo tão futil.-Fiquei feliz em ouvir aquilo, foi algo que me acalmou. Ficamos um pouco em silêncio e logo escuto ele me chamar.
- Gabe?
- Oi.
- Você pensou mesmo em ir morar com a nossa tia?- Ele perguntou mesmo apreensivo.
- Sim. Na verdade ainda penso. Você pode ter mudado, mas o Gus não e tudo só vai piorar, pois ele deve ter ficado chateado de levar bronca. Você sabe que ele se acha "o adulto" e pra ele deve ter sido vergonhoso.- Acabei sorrindo lembrando da cena.
- Cara, eu vou conversar com o Gus pra ver se ele cai na real, mas ja te digo que vai ser complicado. Você sabe que aquele ali não perde a pose de machão nem por um segundo. Ainda mais agora que ele está na faculdade, onde muitos vão mais pelo status, pela popularidade e pelos padrões, do que pelo caráter da pessoa. E não esqueça que hoje ele vai levar um amigo pra estudar la em casa... com certeza é alguém que tem a mesma mentalidade que ele, logo ele vai querer se mostrar o dono do pedaço e vai usar você pra demonstrar que é ele quem manda. Eu só te peço, por favor não vai. Agora que nós fizemos as pazes, eu não quero ficar longe de você...
- Tá. Tá bom, eu fico.- Falei e ele deu um sorrisinho. Mais um tempo em silêncio até que eu puxo assunto.
- Sabe o que eu não entendo? Essa necessidade que vocês tem de mostrar que são melhores que os outros.
- Mano, esse nosso jeito de ser pode até ser errado e exagerado, mas admitia que você tem que se impor mais. Cara você deixa fazer o que quiserem com você! Hoje foi a primeira vez que vi você responder a alguém e olha que essas provocações ja duram faz tempo. por que você é assim? por que você deixa que te façam de gato e sapato?- Ele perguntou meio revoltado por não entender a minha personalidade.
- Cara eu sinceramente não sei. Eu só sou assim e pronto. Não gosto de me meter em brigas nem em confusões. E outra, nós fomos criados na igreja. Você sabe que nós como cristãos não podemos espalhar o ódio e nem o mal testemunho... temos que dar exemplo, Max.
- Gabe eu sei de tudo isso. Não tô falando pra você sair por ai batendo em todo mundo, mesmo porque, do jeito que você é, apanharia mais do que bateria. Mas se defenda, mesmo que seja com palavras. Pare de ser tão sangue de barata. Você não é pior que ninguém pra deixar que os outros pisem em você. Me promete uma coisa?
- O que?- Falei meio curioso.
- A partir de hoje você vai começar a se defender das pessoas, independente de quem for. Menos nossos pais, claro, a eles você deve respeito. Mas se tratando de outras pessoas, você não vai deixar ninguem te tratar mal. Promete?
- Olha eu não sei se isso é uma boa ideia. E se...- Ele me interrompe.
- Promete?
- Olha eu prometo que vou tentar, ta bom?
Já é um começo né?- ele responde com um sorriso amarelo.
virei de lado e fiquei com o rosto bem próximo da sua barriga. Estava com muito sono. Abracei sua cintura e acabei dormindo.
Acordei com ele me chamando e dizendo que ja estava na hora da saída e que o Gus ja tinha ligado avisando que estava na porta da escola. Me levantei e ele saiu para pegar nossas mochilas enquanto eu o esperava voltar, pois estava meio tonto para andar sozinho. Ele voltou com sua bolsa nas costas e com a minha em uma das mãos. A mão livre ele passou em volta do meu pescoço, enquanto eu abraçava sua cintura com uma de minhas mãos também, andando abraçados de lado em direção à saída. Era uma sensação boa e ruim ao mesmo tempo. Eu por um lado odiava chamar atenção e ja da pra imaginar que a escola toda nos olhava passar. Meu irmão com aquela cara de "quem manda aqui sou eu! Algum problema?" encarava a todos de volta. Por outro lado eu me sentia bem, pois sabia que ele não tinha vergonha de mim.
Chegamos na porta da escola e logo avisto o Gus fora do carro conversando com um cara que estava de costas pra gente, fomos nos aproximando dele e escuto ele falar:
- Olha aí mano, meus irmãos chegaram.
O cara, que eu acredito ser o seu amigo de estudos, se vira para nos olhar. Foi naquele momento, ali naquela porta de escola que eu o vi pela primeira vez e nossa, fazia muito tempo que eu não via uma obra de arte tão bem feita como aquele garoto.